segunda-feira, 7 de março de 2016
Obsessão
sábado, 27 de fevereiro de 2016
Transcendência
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Um Sonho de Inverno
Sensual carta anônima
“Amada minha,
É sempre tarde da noite quando penso em você, num momento antes do sono, imaginá-la transforma minha noite em dia e tristeza em corações mornos.
Em minha pele eu sinto sua respiração, muito frio para viver no amanhã, você se torna uma rosa cinzenta congelada, esfriando todos que passam por você como um hálito que congela corpos e mentes cansadas, muito dormente para sentir sua presença semelhante ao toque da neve.
Você não pode sentir este surreal e inacabado desejo sangrando em seu coração, por que antes de lembrar-se do seu jeito quente e cruel, profundamente como um sonho dos seus lábios se movendo para criar uma música sem lamentos, você se esquece de abastecer sua fogueira de esperanças quando sua luxúria é perdida em angústia.
Para os outros você permite que sua falsa luz brilhe como um sol negro escondendo o amanhã, esperando que suas palavras de consolo lhe puxem de volta antes que o rio da escuridão a cubra, mas enquanto você chora, os ventos negros sopram e um destino negro cresce, trazendo noturnos sentimentos que alisam sua inofensiva desgraça para saciá-la com um futuro incerto.
Congelando ao seu lado, eu não vim aqui para mudar seus pensamentos, pois seus olhos ficaram brancos e cegos e a luz está desaparecendo muito rápido, ainda assim, você precisa recuperar suas memórias das cinzas, onde em algum lugar você se deixou para trás queimando...
Você não entende o que está acontecendo?
Você tem a bondade de um tolo e a beleza de uma virgem, tem o ouro que necessita e está sempre implorando por mais, mas quem precisa amadurecer não são aqueles que seguem a sua brisa.
Olhe para mim: eu falsifico meu nome com um pouco de assombração para deixar escorrer pelos meus dedos o veneno que afasta as pessoas do meu coração indiferente, mas eu não estou fugindo de quem eu sou, estou afastando as pessoas daquilo que eu não sou.
O pior até agora foi nunca ter conseguido obter o seu perdão, e espero que um dia você entenda que tudo que fiz foi por amor, quando suas rotas desertas forem esmagadas por algo irracional.
Eu sou o sentimento que transforma seu corpo em pecado, sou uma saída para tudo que você teme, sou a alma presa em suas mãos.
Na escuridão, não há luz, no pôr-do-sol, não há nascer do sol, mas quando há eu e você, as trevas e a luz se fundem como mãos dadas que nunca se desprendem.
Em seus braços é tão fácil fazer amor, quando a noite vem e o vento captura nossos corações apaixonados, nós dançamos até que nossos corpos débeis virem neve derretida.”
sábado, 30 de janeiro de 2016
Um Sonho de Primavera
Olhando pela janela, pequenos monstros manchados com fuligem
rastejam para dentro do meu quarto. Esses monstros são meus medos dançando na
escuridão com pequenas mãos e pequenos rostos me assistindo. Em todos os
lugares que vou, eles me ensinam a ser puro em pensamento, palavra e ação, não
importa quando, onde ou com quem, tudo o que eu já fiz ou faço, são meus medos
que me guiam. Então eu olho para trás na minha vida sempre com um sentimento de
vergonha por tudo que fiz ou deixei de fazer, sempre virando uma folha nova, em
seguida, rasgando-se através dela. Os sons de ontem ainda ecoam na minha
cabeça, conflitos distantes sem solução, de quando eu era jovem no amor e a
felicidade me procurou. Eu vejo meus anjos presos sob o gelo e estranhos na
minha cama à noite: o céu nublado encobrindo os sentimentos enterrados no
escuro. A noite é silenciosa em minhas mãos, e a tristeza sussurra suas
condolências, estendendo-se ao longo da minha alma como orações mergulhadas em
um fogo negro. Esta é a razão pela qual, tempos depois, um vento soprou de uma
nuvem esfriando minha fé, mas para encerrá-la em um sepulcro seria preciso matar
você, pois assim como a lua brilha sem trazer-me sonhos ou as estrelas nascem
com olhos para me observar, nada pode me separar do amor que sinto por você. Minha
intenção é um estranho momento à parte do mundo que dividimos, e todos nossos
devaneios encantadores passeiam por esse momento, onde as palavras soam
confusas e o ritmo fraco repete os mesmos versos, dormindo um milhão de noites
debaixo dos mesmos vislumbres que dividem a linha da realidade. Levante-se e olhe
no espelho, você vai perceber o quão tranquila é por não fazer nem um som. Olhe
para sua vida, quem você quer ser antes de morrer? Quem deseja ver antes do
último suspiro? E me conte o que realmente importa, se é o dinheiro e a fama ou
quantas pessoas eventualmente podem saber o seu nome? Algumas pessoas chamam isso
de carma, outras de destino, mas eu sempre continuo esperando que o tempo mostre
o que realmente é, pois esses pensamentos mortais nos prendem e nos algemam em
algo que não podemos fugir. Esta noite eu lhe contarei um segredo, então preste
muita atenção, não nas minhas palavras, mas na minha voz. Onde a luz brilha um
pouco mais forte, onde as sombras dançam nas paredes ou onde os santos homens
escondem seus segredos, o sagrado da vida é vendido, mas nunca perdido. Estando
debaixo do ouro e da prata a procissão nasce, porém a verdade prossegue como um
rio interminável – esta é uma simulação perfeita do que eu quero lhe dizer.
Como um homem que enxerga o vale e finge bebericar seu próprio sangue para que
se sinta mais forte, assim eu consigo juntar um pouco aqui e ali para formar o
muito, acreditando que tudo me pertence, mas esse silêncio ainda consome a
ponta dos meus dedos, todas aquelas cartas submissas sem resposta como lábios
que rezam em silêncio. Cada palavra soa sua promessa vazia, embora persistente,
pois enquanto o tempo se esvai num sonho estilhaçado e o silêncio substitui o
som do riso, num sopro de hesitação, minha vida dura apenas um momento antes da
sua ida. Assim meu coração dorme em sua ausência, fazendo dos meus olhos
templos congelados como conchas secas respirando um amor esquecido. Eu danço vagarosamente
na elegante poesia de suas asseclas rimas frágeis, implorando por conforto em
um verso inadequado, para desconsiderar coisas que sinto quando me afundo na
auto-piedade. A tristeza canta seus cantos, lágrimas ajustando as frestas dos
olhos para manter a luz, mas este lugar está gritando o vazio desde que meu
sangue e suor se tornaram água lamacenta. Eu me aventurei no submundo para
provar que esse amor é verdadeiro, ouvindo uma voz focalizada me chamar de
volta aos sacrifícios da luz e ousar uma mudança de padrões internos para provar
a sabedoria da divindade e o horror da sua picada. Mas tudo tem seu preço: as
silhuetas do pecado sempre se oferecem sem cobrar nada, ecoando o mistério de
uma teia viciosa que corrompe todos que a tocam, essa chuva deslizando sobre
nós... você consegue sentir? Caindo em nossas cabeças como uma memória, andando
exposta ao vento, falando como amantes falam, fazendo nossos corações baterem
como beijos de saudade. Quão perto ou quão distante estamos um do outro para
saber que nada pode ser substituído? Aquelas escolhas que antes pareciam ter
tanto significado agora se mostram apenas ilusões em nossa direção como faróis se
aproximando para se apagar num lampejo silencioso. Ainda assim, eu me pergunto,
será que perdemos algo ao longo do caminho? Um sorriso, uma palavra não dita,
um segundo beijo? Eu só peço que você se lembre num pensamento de vigília o que realmente significou nosso amor verdadeiro, antes de retornar ao sono e cair em um
sonho infinito.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
Xeque-mate
Como
línguas flamejantes secando as lágrimas traídas pela luz da manhã, eu olho
fixamente o céu de um ano que se passou lentamente enquanto meu corpo inerte agarrava-se
a ilusões e mentiras. Esperando pela serenata e vagando por um jardim de
fantasmas silenciosos, de mãos dadas com a canção do tempo, a pintura do mundo
se torna apenas uma mancha escura e borrada, alimentando os escravos com suas
doutrinas demoníacas e tradições que nada mais são do que o espelho de suas
imaginações devassas. Eu sinto algo
transbordando em meus olhos como uma neve que nunca desvanece, momentaneamente
tentado a mudar ou alterar os fluxos dimensionais dessa realidade, eu caminho
por entre pessoas depravadas como vultos de rostos rindo na minha cara. Elas
empalidecem de alguma forma e gritam hipnotizadas como marionetes quebradas
cultivando uma razão enfadonha interiormente, mas a doença se espalha muito
antes que possam enxergar aquilo em que se tornaram, pois o veneno é passado de
uma geração para a próxima. Rastejando em minha cama para fugir dessas teias desarmoniosas,
eu percebo que sou apenas um frágil peão prosseguindo em um jogo celeste, vendo
pessoas dormindo dentro de um sonho de pintor enquanto nos mantém na linha como
guerreiros preparados para morrer numa batalha mortal. Mas, contra quem estamos
lutando? O que é a escolha para o escolhido? Nossas almas se dividem e lutam
através de pensamentos que transcendem o tempo, porém o roteiro já foi escrito,
então pacientemente nós esperamos por um amanhã que está mais distante do que
os anos que nossos corpos sobrevivem. Assim, sabendo que o futuro é a morte, o
que significam nossas orações? Do outro lado do tabuleiro, o jogo do diabo se
arrasta na escuridão, onde demônios brincam vestidos de bispos e cavaleiros esmagam
a humanidade com peste, guerra, fome e morte. O horror se torna a dor de um só
fôlego suspirando por salvação, mas o ar está cheio de pretensão, a esperança
se desfaz como um retrato velho desvanecendo ou como uma noite sem sono em uma
casa vazia esperando por alguém para reescrever o sentido da vida. De repente,
o tempo para com a imagem de uma árvore nua apaixonada pelo inverno, seus
galhos secos abraçam o vento e impedem que seu coração se congele no vazio,
pois se não houvesse toda sua individualidade, então isso não dava significado
para sua existência. A árvore mostra que tristeza e alegria são duas palavras,
mas apenas um nome, por que a polaridade de suas estações é o que realmente importa.
Sendo assim, a verdade está muito além daquilo que somos condicionados a crer? Eu
penso que o mundo poderia acabar hoje e todas as coisas que eu poderia obter
dele com minhas ambições e desejos do meu coração em busca de um sentido real
para minha existência, ainda não seria o bastante. Parece que as coisas que eu
posso ter apenas para silenciar meus pensamentos e consumir a dor não me
fazem ganhar nada além de poeira nos olhos. A verdade é
que sou eu quem diz onde estão meus limites e onde é que eu devo parar, sentindo
toda essa perfuração ameaçadora fechando meus olhos para a escuridão do mundo,
imaginando que tudo se foi e que tudo a minha volta é apenas um sonho dividindo
meus pensamentos enquanto escorrego para a loucura. Eu não consigo vencer esse
jogo, nem parar estas palavras dolorosas, pois o chão está se abrindo sob meus
pés e estou caindo no abismo da descrença. Eu sinto as palavras de deus
rasgando minha mente, porém não consigo ouvi-las, tremendo de frio sem nada
para segurar, eu carrego um aperto que desconheço, sabendo que algo está muito
errado... estou nu entre esplendores vidros vazios, refletindo um pacto silencioso
tão conveniente e fora de vista, onde a única coisa da qual estou certo é de minha
vontade em alcançar a evolução como uma criança enternecendo num sorriso eterno.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
A Dança Secreta da Chuva
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Prelúdio Inditoso
Numa tarde cinzenta as palavras não faladas caem como chuvas macias
encharcando uma cama de mentiras para todos verem, a transparência se espalha e
nada mais é ocultado, pois em silêncio uma loucura frívola releva o veneno de
suas mandíbulas. O vento traz constantes calafrios e a lua irradia sua imagem
mais bonita da luz, numa beleza estonteante e poética, de alguma forma me
conforta quando o dia se vai, lembrando-me sem nenhum motivo de belas flores
mortas ao sol enquanto meu corpo voa para cima sem entender por que os outros
não podem ver. Esvaziado de qualquer sentimento, a verdade vem como uma canção
de ninar aos meus ouvidos, despejando brilhos e recordações que florescem de
todo meu ser como lentos movimentos de luz seguindo o curso do entardecer, um caminho
sem volta e contagioso, emanando a energia daqueles hipnotizados pela chaga
escondida através de uma morte indolor. Coisas que eu pensei terem sido postas
para trás, se conectam profundamente com as minhas emoções, uma ligação tão
profunda que enlaça meus pensamentos numa realidade descarada, cada momento,
cada sussurro, cada traço escondido pelo vento gélido da minha pele, cada
silhueta que meu olhar deixou passar despercebido e cada lugar que meus dedos
tocaram... eu fecho os olhos, assim o mundo não pode me ver, mas minha mente me
trai e confessa minha cegueira, esperando pela minha cadeia diária – aquela que
me espera pacientemente todos os dias – correndo tão longe para chegar ao mesmo
lugar, sentindo todo o desperdício corroendo minhas entranhas, enchendo meus
pulmões com todas as lágrimas que eu não chorei, com todas as ruínas da minha
alma quando os retratos do meu passado me engaiolaram em uma pintura de culpa,
vendo faces quebradas no chão, aquelas máscaras que não servem mais. Agora eu
me vejo em um mundo de raiva e espada, além do sono e do que é real, eu encaro
a verdade mentida lá fora através do que as árvores escondem em suas sombras,
ouvindo uma voz que não sabe para onde quer ser guiada, um som que flutua sob
suaves brisas geladas e flui em serenas nuvens chorosas enquanto o sol ainda
está dormindo, mas quando o dia clareia, eu me escondo dos espelhos para não
ver a nítida luz que me seda completamente acordado para encurtar o dia. Como
páginas a queimar, eu atento minha sorte para baixo dos joelhos, uma prece de
costas contra a parede quando o caçador se torna a presa, lembrando-me de quem
eu realmente sou num naufrágio dentro da piscina de éter onde todo meu ser é
lavado, rasgando o mundo... palavra por palavra, como fumaça que enche o quarto
e logo traz uma melancolia pesada. Esta brevidade de respiração entre
nascimento e sepultura é como uma mancha cromática escalando as veias do meu
coração, atravessando meu medo mudo e desconhecido com esperanças agonizantes
de um dia melhor, essa guerra silenciosa que me fixa no círculo vicioso do
ódio: olhos mortos que já não veem o futuro, um alvo inútil para feder no
desespero manchando a estrada que anda até seu abrigo no inferno... e me faz
perguntar... onde está você, ó minha alma? Onde está você, ó minha amada? Ambas vendidas e despedaçadas, sufocando-me numa agonia espiritual que
eu poderia escolher não ver, mas se curvando e adorando o altar da vergonha, a
fraqueza humana encarnou em meu corpo, alimentando o medo da própria vida sem
entender as psico-portas trancadas que sucumbem minha mente, a besta que
respira fogo e liberdade e explode-me com pensamentos negros, me devorando num
vórtice em espiral, então eu percebo que o meu pior inimigo vive no meu
interior, lambendo minha carne e rindo de mim, dizendo: “você é fraco e não
pode me matar, pois estou vivendo dentro de você. Eu venho a você todas as
noites e sou seu subconsciente obscuro, aquele que o mantém acordado”. Ele tece
uma rede de mentiras e numa concha vazia apodrece a fachada da minha vida,
fazendo correr pelos meus dedos essa energia escura que bebe meu sangue até
tornar-se negro, e no final do arco-íris da minha essência encontrar o amargo
mundo da perdição e da loucura. A véspera da alma assassina me possuir está
chegando, e montados em cima de chamas, nós entraremos no inferno onde reside o
mal apaixonado, amar se tornará ódio e calor se tornará gelo, não haverá mais
nada entre o meu pecado mortal e você, ó bela face da morte, abrace-me e
beije-me, e eu me esticarei para alcançá-la, pois quando o amor morre, tão
sozinho... na multidão, ele ecoa num esquecimento eterno.
domingo, 11 de outubro de 2015
A Morte da Aurora
Num
pomar abatido uma flor murcha dormindo se espalha por uma brisa suave de ventos
cansados, suas pétalas se desvanecem em sombrios fluxos de prata como um
retrato abandonado vestindo as cores da perda. Numa tragédia pintada eu me
maravilho de olhos vazios, vendo este lúgubre estado mental da minha alma
aflita engolindo o seu pesar, onde flores morrem em suas horas mais exaustas e
são cobertas pelo desespero cinzento da morte fria e branca. Entoante como os ares silenciosos da noite, eu ouço um eco
delicadamente sussurrando o seu nome, um vislumbre final do seu sorriso com
características de alguma forma familiar, num corpo ferido e uma mente despedaçada,
gritando sem fazer ruído sobre memórias que se deitam nuas e tristes numa selvageria
de fragmentos dominando um corpo de mentiras e pecados. A luz do dia é deixada com
um grande adeus, a radiação de uma derrota amarga entrando em profundo colapso
com os espinhos que crescem em seu ventre cercado por cortinas negras, cores
agonizantes desfazendo o sorriso da sua boca com um beijo congelante, roubando
os lagos verdes dos seus olhos com toda a sua inocência: o medo da morte ou da
podridão que se espalha pelo seu interior desabrochando. O que você tem de mais
precioso... sua beleza decadente, os lábios cor de rosa, a pele de ouro branco,
para mim são como tons de um paraíso esquecido, escondendo uma alma feia com
flores envenenadas para sua presa. Você destruiu nosso destino com o seu
orgulho e preconceito, e às vezes eu me pergunto se você apenas não ansiava por
um beijo mortífero, querendo escapar do fardo que te assola para se estender um
pouco mais por um momento de paz, desamparada e exausta de perseguir a sua própria
luz estranha, eu percebo que você era como uma imaginação ausente me empurrando
por estradas e rios para no fim enxergar que nada é como parece ser. Como o sol
que nasce e cai, o tempo nunca significou nada para mim, mas percebo que perdi
muitos anos perseguindo a sua canção, enfeitiçado pelas águas mornas e verdes
dos seus olhos, não notei quando fui lançado para fora da sua carapaça morta. Você nunca conseguiu ver seus
traços em muitos rostos? Nunca sentiu-se menor do que a vida tem a oferecer? Por
que eu não podia estar lá, para receber mais um lindo dia e provar o doce mel
da vida, sorrindo para tudo o que foi concedido a nós? Eu sei que essas
perguntas nunca serão respondidas, pois agora eu me deito sobre seu cadáver frio... seus olhos
estão secos e negros por dentro, com fungos de gelo acariciando sua testa, o
granito toca sua pele onde as veias estão se fechando e roubando o calor, seu corpo deforma-se como dedos debaixo d’água... este é o seu fim, intensa
aurora, mas o fato dessa sensação não ter um nome, não muda o que sinto por
você. Com um olho fechado para antecipar o seu medo, você deverá sentir o
punhal da sombra lhe trespassar com a dor mais doce das hereges do silêncio, e
com olhos roxos eu assistirei você sofrer até que o seu sucesso tenha
evaporado. O nosso elo espiritual será selado, e com pesadelos você sentirá isto
corroer sua alma como vermes insaciáveis se fartando com o seu sangue, todos os demônios que te assombram retornarão para congelarem sua pele pálida com um último beijo eterno. Atrás dos feixes
ensolarados que te fazem aparecer, era uma vez um sorriso enterrado debaixo de
uma máscara sem vida, escondendo seus destroços incapazes de ver o próprio
amanhã destinado a desaparecer.
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Onde quer que Você Esteja
Lá
embaixo, no conforto dos estranhos, uma figura sem forma esconde seu rosto
entre frascos de memórias perdidas. Dentro de seus olhos os dias passam como um
furacão a perseguindo debaixo da terra, acordando com o som da chuva e vivendo entre
granizos de uma pele clara, ela vagueia no ar frio da neblina e numa montanha
se senta, não de ouro, mas de pecados, pois enquanto vende seus segredos ela
sabe que nunca foram conhecidos. Suas promessas são mentiras, sua
honestidade como as costas que escondem uma faca. Um poder oculto ela esconde,
mas por dentro um estranho mundo elástico se estende, murmurando suavemente abaixo
das gotas minúsculas que caem do véu do seu passado o lado que ela mantém
apesar de todos os outros. Tomada em pensamentos e habituada a se importar, com
roupas de baixo ela sai pela varanda para clarear a mente, tão faminta por
oxigênio, observa as tremulas folhas e luzes interrompidas da inconstante luz
da manhã, mas não demora muito para começar a assistir o farol escurecer, sentindo
o vento de uma vespa soprar entre cada luz presa do seu olho ou em cada poste
que costumava colocar sua fé, onde todos os olhos cinza
no metrô diziam que ela simplesmente não existia. Quando eu a vi da janela, fui guiado
a atravessá-la como uma adaga flutuante direto em seu coração, vendo suas esperanças
derreterem como cubos de gelo no oceano, mas pouco antes de seu corpo se dissolver,
eu escureci o sol, para que o jardim voltasse a crescer por ele mesmo. Você é
esse jardim e este é o seu dia, aqueça suas mãos e deixe-me saber se você está pronta para me receber, pois minhas palavras não são algo que você toma, mas algo que lhe
é dado como uma poção venenosa: você deve beber o que é limpo e cuspir o que é
sujo. Não há medição além disto e nada além disto é amor, pois o calor solene
que você sente por dentro é o mesmo que corre em minhas veias, desde que não
tenhamos tempo nem mente para entender como versos infantis dão sentido a
nossas vidas. Quando as linhas de nossas pipas se cruzarem ou a casca de nossos
corpos não suportarem a silhueta do nosso interior, ainda assim desejarei
sentir o perfume da sua pele ou o frio de uma brisa temperada pela grama úmida
emanando seu cheiro, doce como uma canção sussurrada pela sua voz e flutuante
como frágeis pétalas de um sonho me levando às nuances do seu sangue brilhando...
quando secretamente lhe enviei uma parte do meu fôlego. Veja, o futuro está chamando
e eu sou a sua resposta, salte de um livro, pois você não é obrigada a engolir
tudo o que você despreza. Esses urubus desarrependidos querem sua vida, encurralando
você por um desejo natural enquanto as coisas que te atormentam fazem
fila para te assombrar. Entre um milhão de chamas você conseguirá se lembrar de
um momento em que a chave da sua vida correu livre entre seus dedos? Você tem
dito que o tempo nunca irá enxaguar todas as feridas, mas eu sei que o gosto
pelo seu passado está enfraquecendo e que onde quer que você esteja eu irei te resgatar. Seu coração nunca mais será um lugar escuro e sozinho, leva um tempo, mas podemos entender essa coisa, e transformar de
volta em como era.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
O Lugar Onde Pertenço
Sensual
carta anônima
“Amada minha,
Durante a noite os meus olhos filmam você dormir,
esquecendo-se de te amar, eles adoram seu corpo pintando as cores mais belas da
sua nudez.
Como uma virgem aquecendo seu amante sua voz se move lentamente me chamando, cenas de azul escuro e marcas de garras nas minhas costas, o sangue se alojando na minha cabeça...
Nós tivemos nomes mais íntimos, nomes profundos e
verdadeiros, mas que nunca nos permitimos desfrutar, pois eles eram sangue para
mim e poeira para você.
Quando você chegava muito perto de se sentir a salvo,
eu me tornava a sombra debaixo da sua cama, ouvindo seus gemidos e palavras
sonolentas, enquanto minha boca saboreava o vinho que a brisa dos seus
sentimentos trazia.
Você sempre foi tão interessada em correr na frente
deixando lascas do tempo e espaço para trás, mas a grama que cresce rápido e
cobre suas pegadas uma hora se fecha em silêncio e suas rotas desertas são apagadas.
Não há luz e nem caminho de volta, apenas a beleza da
sua juventude te fazendo rir como uma mulher apaixonada, vivendo numa
ilusão vazia naturalmente como o vento – a viagem construída no interior dos seus
sonhos – sabendo que não importa o que aconteça, eu sou o seu câncer, sua praga
e sua cura.
Eu sou o lugar e o motivo no qual, eu e você temos
que morrer, pois enquanto você encara seus medos e finge ver seu rosto
verdadeiro, você sabe que há uma figura que se esconde na escuridão.
Esta figura dorme dentro do seu útero e vive dentro
da sua pele, esperando pelo dia que você despertará para sermos levados ao lugar onde pertencemos. ”
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