quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O Lugar Onde Pertenço

Sensual carta anônima

“Amada minha,
Durante a noite os meus olhos filmam você dormir, esquecendo-se de te amar, eles adoram seu corpo pintando as cores mais belas da sua nudez.
Como uma virgem aquecendo seu amante sua voz se move lentamente me chamando, cenas de azul escuro e marcas de garras nas minhas costas, o sangue se alojando na minha cabeça...
Nós tivemos nomes mais íntimos, nomes profundos e verdadeiros, mas que nunca nos permitimos desfrutar, pois eles eram sangue para mim e poeira para você.
Quando você chegava muito perto de se sentir a salvo, eu me tornava a sombra debaixo da sua cama, ouvindo seus gemidos e palavras sonolentas, enquanto minha boca saboreava o vinho que a brisa dos seus sentimentos trazia.
Você sempre foi tão interessada em correr na frente deixando lascas do tempo e espaço para trás, mas a grama que cresce rápido e cobre suas pegadas uma hora se fecha em silêncio e suas rotas desertas são apagadas.
Não há luz e nem caminho de volta, apenas a beleza da sua juventude te fazendo rir como uma mulher apaixonada, vivendo numa ilusão vazia naturalmente como o vento – a viagem construída no interior dos seus sonhos – sabendo que não importa o que aconteça, eu sou o seu câncer, sua praga e sua cura.
Eu sou o lugar e o motivo no qual, eu e você temos que morrer, pois enquanto você encara seus medos e finge ver seu rosto verdadeiro, você sabe que há uma figura que se esconde na escuridão.
Esta figura dorme dentro do seu útero e vive dentro da sua pele, esperando pelo dia que você despertará para sermos levados ao lugar onde pertencemos. ”