domingo, 3 de dezembro de 2023

A Laguna do Esquecimento

      Apoiado sob o luar da janela, eu tento dormir sem ópios, mas de repente estou transbordando em suaves recordações de um mundo vindouro: uma folha cai e uma fruta murcha, mas o caminho está forrado de árvores, parece somente um suave sussurro me chamando como palavras murmuradas da minha própria mente. Exigindo um prisioneiro, meu corpo tenta me arrebatar da loucura de um ideal, no entanto, a eternidade passa por um vão, uma pequena fresta que ressoa meu renascimento, uma voz silenciosa que grita para eu continuar seguindo meus instintos e viver esse momento de inspiração até seu desfecho. Atravessando essa elevação espiritual, eu abro os olhos e olho para mim mesmo, a verdade que estava guardada na palma da minha mão – eu encaro as memórias que flutuam no firmamento, todas aquelas coisas que eu abracei durante a vida, todos os lugares que eu visitei, todas as palavras que eu repetia... tudo parece menos doloroso, eu encaro a realidade como um homem que aceita a história que lhe foi narrada pelos céus. Como tinta derretida, todas as máscaras que usei caem do meu rosto, todas as correntes que me prendiam são quebradas, e com um piscar das minhas pálpebras meu espírito transcende a carne, expulsando o passado através dos raios pálidos da lua que me observam como olhos inocentes. Na lagoa fria da minha mente, um mundo novo se abre, as flores desabrocham tocadas pela minha esperança... eu sou atraído pelo calor dos anjos, pela linhagem que se expande nas lindas veias que transitam debaixo da terra, uma dança de luz que me reconecta com a pureza da criação. Desde que eu nunca esqueça que estive aqui, eu posso finalmente acordar sendo quem estou destinado a ser? Eu fecho os olhos e vejo asas invisíveis na minha imaginação, de repente, estou voando para longe dessa falsa prisão, engolido pelo silêncio que me entorna, a mente escura finalmente desmorona – este é o fim da agonia? – e toda tristeza que eu carregava nos ombros se torna um fardo mais leve, as sombras se tornam luz como se duas vozes se cruzassem, mas só uma fosse ouvida. As celas tremem, as lembranças desaparecem, os amores perdem sua tentação, a voz constrangedora se cala: eu não me tornei um corpo sem sentimentos, eu estou ressonando meus batimentos cardíacos! Agora estou dentro do infinito, desencadeando a luz que estava oculta como olhos que piscam diante do espelho, uma linha mental de movimentos que não reflete ninguém, apenas o vácuo da fantasia. A realidade brilha dançante, tão espantosa e chorosa, tão caprichosa e lamuriosa, como ondas que oscilam e me agridem com pedaços de vidro, desconstruindo uma mente arruinada e devassa. Nos confins da escuridão, a penetrante chama reacende, a eternidade do tempo permanece imparável, a infinidade das águas me preenche como um mergulho em lágrimas brancas, refletindo um último desejo... as lágrimas são palavras de despedida, essa clara e pulsante sensação de dizer adeus como as orações repetidas de quem reza: esse é o momento façanhoso, o fim tragado pelo lado escuro da lua, oferecendo essas preces como um último suspiro de quem eu era.