PRÓLOGOS
Memórias cor-do-céu |
A julgar por sua vida ser um sonho imperfeito, seus segredos ainda estão em minha mente, na noite perdido, eu vi um caminho escuro e nele você estava chorando. Seu coração está a ficar frio e seu brilho da cor do gelo. De acordo com a história, você é a amante de pele jovem e bonita e sua mão se excita com a morte.
O choro dos pássaros |
Esqueça as vozes que você escuta, elas não são nada agora, mas você ainda pode reconhecer as feições do meu rosto. Sua imagem está fragmentada em minha mente, você sempre pareceu dizer que para convalescer a partir da mágoa vazia, alguém tinha de gritar profundamente, mas acho que sou um homem louco como o fio em torno dos meus ossos, construindo paredes de sonhos solitários em pinturas sobre o chão.
Fria primavera |
O meu poder está voltando e as aureolas das minhas mãos congelam em um profundo azul... sinto tão claramente a sua pele branca e os seus lábios vermelhos cantando como uma sereia do anoitecer, nadando em escuridão.
Esperanças esquecidas |
Entre fantasmas, alucinado em minha consciência, o intenso pulso estrangulador da morte aperta-se sobre mim, em meus ossos eu já não sinto frio, meu sofrimento cresce com o aumento da culpa afundando-me no solo úmido em sintonia com a terra.
O fantasma da incerteza |
Em todos os cantos indizíveis onde as sombras tentaram me cobrir, eu senti seus lábios frios caindo entre minhas mãos como grãos de areia, mas para cada grão foi escrito uma palavra, condenando as ilusões da perfeição sobre as ruínas do meu pensamento, dias e noites, temendo o que poderia encontrar, com a única certeza de que não desistiria de você em um futuro incerto.
PRESSÁGIOS
Ondas sereias de inverno |
Queria fluir da sua boca e saborear os sentimentos que traz na sua canção, enxergar sua essência na mais intensa psique das emoções que surgem nos gemidos inexprimíveis da sua vontade, movendo meu corpo nos mistérios profundos da sua alma, na velocidade de emergir para dentro sem medo de afogar-me na sua intensa agonia. Sua voz é para mim como um brilho através de um véu com o vento tornando as imagens lindas sombras descortinadas, desenhos da sua imaginação transcendendo a opus melancólico de sua essência que experimentei nos teus lábios em um passado dimensional esquecido.
Fração absoluta |
Uma vinda da escuridão |
Posso sentir a presença fria que respira o cansado som do meu coração, mantendo meu sono em velhas épocas ascendentes, onde o desejo de que a vida seria boa algum dia ainda se mantinha permanente, mas quando as imagens estão se movendo entre as memórias, as coisas que parecem resistir se congelam e depois se quebram como uma pedra de vidro lançada ao mar, mergulhando na vacuidade da escuridão.
Ruínas do anoitecer rubro |
Profunda como o mar, sua raiva era expressa através de declarações de um passado acortinado por céus funerários, atravessando o pôr-do-sol como jamais fizera antes. As palmas da indiferença eclodiam provocantes, os ventos assombravam os céus vermelho-sangue numa corrente inspiradora de ascendência ao gênesis, em devaneios elísios, queimando com o brilho confuso das almas, dançando com os ventos sobre pecados tenebrosos – onde fica escondido um segredo pálido – liberalmente em um vasto crepúsculo debaixo de toda vergonha, e todos eram suas próprias veias de obscuridade.
A maldição do paraíso |
Quando enxerguei-me desalmado e inclinado à destruição, também vi as boas razões da minha vida sendo arrancadas pelas raízes – um olhar lamentável além do medo e do terror, preso numa jaula e rendido no mais violento desequilíbrio, movendo-se sob a reação do meu próprio carretel a medita que me aproximava da borda inescapável. O amanhecer era como um véu que trazia consigo uma angústia queimando, derramando do céu a essência do remorso, lágrimas e tormentos, sem cicatrizar as feridas.
No fim do silêncio |
No espelho eu mal consigo enxergar quem eu sou, todas as manhãs está faltando uma parte de mim e eu levo apenas o que ainda posso levar adiante, eu me esforço por um pouco da vida que nunca encontrei, mas quanto mais perto chego mais o sumo da minha vida é exprimido, tudo se torna estranho e passageiro como se minha mente fosse preservada na liquidez do tempo. Vagarosamente morrendo, tudo que sinto em meu coração é esta bela nuance de dor como uma promessa nunca cumprida.
INDUÇÃO
Raízes da sombra |
Desde que meus dedos tocaram-te os lábios, sua boca se fechou, quando minha sombra tampou-te a visão, seus olhos cegaram. Seria eu como uma criança perdida na escuridão e amamentada pela mãe dos demônios, como um espírito atormentado pela canção muda de uma estrela vinda do desconhecido?
Coração manchado |
Tão esquecido como águas geladas de um córrego, sou apenas metade em meu corpo e posso sentir, a alma assassina morrendo... eu suponho que não há ninguém igual a ela, mas não posso deixar que controle o meu corpo, nem a minha mente, nem a minha língua, como você esteve perto de mim a vida inteira.
Atração perigosa |
Esta noite a razão da luz é novamente recuperada, um despertar onde o gelo brilhará numa grande explosão de sentimentos despedaçados em nuvens de chuva. Nesta tão sonhada noite nossas correntes se partirão e livremente voaremos como pássaros felizes, resgatando os nossos dias escuros e frios, os dias em que a nossa essência era manifestada com um único sorriso inalcançável, tão verdadeiro, assim por muito tempo esperando através da possessão.
ROMANTISMO
O lamento do amante |
É através desse lugar obscuro, o qual chamo de solidão, que as folhas vermelhas cobrem meu corpo e pintam com o gelo os tons decorativos da minha angústia, viajando pelos sonhos infindáveis onde um pássaro noturno canta seu lamento, voando numa chuva gentil de lágrimas que continuam a cair quando a noite chama pelo seu nome.
ESPIRITUAL
Sons da natureza escura |
Esta noite o céu está coberto como braços que se abrem espalhando a escuridão, um mundo adormecido no escuro onde poucos conseguem sentir a lenta batida do avanço fúnebre das forças das trevas, lambendo os rios onde o ar frio e arrepiante propaga seu odor lentamente nas planícies desertas e geladas em uma nuvem de poeira, recobrindo a terra com mares de sangue num som abafado de sinos chorando pelas almas escurecidas.
A ilusão do subconsciente |
A cidade me envolve no vento que sopra da tempestade com cores que derretem dentro de amarrações esbeltas, apalpando a névoa bem acima da minha mente, esperando que uma autoconsciência me salve, mas eu percebo que nós vivemos como baratas empilhadas num bueiro sujo e imundo, como pilhas que sobem até o céu em busca de respostas que possam exaltar nossos cadáveres com uma música dançante enquanto a escuridão fúnebre nos rodeia refletindo nossa carne que sangra até que nada reste, os ossos derretendo em um líquido quente e os corações cansados de viver em um mundo de densas trevas.
Libélula |
Como macias asas de uma libélula soprando aos confins do céu, eu estou envolvido nesta amnésia, voando ao som de vagas nuvens cinzentas numa geada onde seu reflexo é lançado em meus olhos delineados com o negror da meia-noite, espantando pensamentos cinzas e adentrando diálogos melancólicos, porém a sensação que tenho é a de que uma bomba-relógio está prestes a explodir, tão escura quanto a voz do inverno e tão silenciosa quanto a chuva, sua explosão nos lançará em ventos deslizantes da mais cinzenta paixão, onde mãos pálidas oscilam em ritmo com a escuridão gotejante e sussurros depois da meia-noite ecoam até o azul alvorecer espalhando-se entre as brancas nuvens fragilizadas.
EPÍLOGOS
Coração de gelo |
Abandonado em uma consciência imóvel, as trevas preenchem meu olhar no alvorecer das estações, centenas de pensamentos sendo esquecidos e sinais perdendo seus significados, sem lembrar-se de onde estou nem da vida que passou diante dos meus olhos, descobrindo o quão pouco eu realizei por todos os meus planos negados e sofridos nas nuances de um segredo guardado em minhas recordações. A todos os meus amigos eu digo, essas são as últimas palavras que irei dizer e elas irão me libertar: vocês sabem, quem já está dormindo não sente mais dor.
Quando as luzes se apagam |
Eu sento sobre estas rochas mais altas e observo as ondas se chocarem contra a costa, desejando poder abraçar o mar e olhar para seus olhos esperando por uma resposta, mas ninguém poderia entender esse sonho tão infantil, a dor e o sofrimento, a vontade de negociar outra assinatura, pois ele fala em enigmas e rimas, e suas palavras são como um alimento que nunca sacia. Como eu cheguei a querer você, assim como o solo anseia pela chuva, você nunca saberá o quanto sinto sua falta, ou o quanto eu temi... encontrando um caminho que criei à minha própria maneira, mas este é o preço que paguei pela minha escolha: você se tornou a prisão da minha mente para que eu aguardasse pela aparição das rosas selvagens.
Um banquete para o vaidoso |
É hora de pegar tudo o que eu deixei dentro do seu coração, a força que decide o curso do seu próprio destino, a fortuna, glória e triunfo... faça um pedido e adote uma posição, e eu prometo o mundo para você, o sol pintará em seu rosto como ouro dizendo que você não deve ter medo de viver. Pese o amanhã em suas mãos para acordar no ontem e atravesse as fronteiras do hoje adormecido, por que todos nós partiremos em breve, num momento de sobriedade, nós aprendemos a ver que não fomos feitos para durar pela eternidade.
Mil olhos e mais um |
Ao meu redor, sinto os vestígios do esplendor enviado pelos tenebrosos olhos que brilham como o raiar do sol, uma energia infinita e imensurável, crepitando sobre o telhado, mas isso não é a chuva, embora para mim deveria ser como uma encharcada e sombria cortina aveludada que pendura-se sobre mim, guiando meus sentimentos para longe desse mundo ignorante. Eu assistia a neve caindo de olhos fechados, esperando por uma chance para me redimir dos dias em que a negação se tornou como a cova de toda esperança, não obstante, um doce néctar sob meus lábios, dançando a valsa da escuridão enquanto provava minha amarga existência.
A mente por trás de tudo |
Vagando no espaço e no tempo, eu continuo catando os pedaços de luz da minha consciência escura, mas agora eu sei que para ver eu devo fechar meus olhos, assim cessar a dor e meus medos para imergir longe das escuras correntes de um propósito obscuro. Num piscar de olhos eu me encontro em um lugar cheio de esperanças, com meus velhos amigos ao meu redor, cantando a velha canção da minha mente retorcida... embora eu não possa mais viver neste sonho místico e retornar para as terras áridas, em algum lugar desta ruína de realidade, eu apenas vejo as pessoas sendo engolidas por uma masmorra de angústia, onde a paz é tudo que procuramos e a guerra é tudo que encontramos.