segunda-feira, 1 de maio de 2017

Vivendo Uma Prece

    Lá fora, o assobio dos pássaros me convida para um passeio como vozes que manipulam o vento numa prece silenciosa. A febre tenaz do amanhecer pousa sobre minha pele como neve derretida, flutuando acima da grama, um poder latente que a luz esconde para manter alguma esperança viva. Com gosto de saliva das nuvens, esse amanhecer parece mascarar meu desdém, enterrando na beirada dos escombros as lembranças de uma existência marcada. Antes que desça pela minha garganta, eu preciso dizer um misto lúcido de palavras para esses pássaros barulhentos invadindo minha remota quietude. Sobre a pintura de um céu violeta, este segredo guardado é algo que eu nunca poderia revelar, mas tome seu último fôlego e mergulhe, pois esta noite será feito o meu sacrifício final em uma cova sem nome. O meu pecado está sobre meus lábios, fingindo números felizes em um mundo com promessas de amor eterno, porém através da estação os fantasmas estão dançando a serenata das lágrimas vermelhas, onde qualquer coisa que leve a dor embora valha mais do que descartar o tempo com espiritualidade. Escondido por trás de doutrinas, as vozes de ídolos cantam em códigos e louvam uma imaginação devassa, com círculos infinitos de uma doença que se espalha e esconde o grande hierofante, uma verdade além dos fluxos dimensionais da nossa realidade distorcida, com mudanças que poderiam alterar sua superfície embebida no sangue das igrejas. Esta máquina fantasma que cultivamos interiormente é o mesmo mistério que está seguro entre os mortos, bebendo suas lágrimas como olhos estremecidos de uma boneca sem vida, mas assim como há falsas lições de um professor, também há coisas que ninguém ainda sabe se não aquele que tudo sabe. Você acha que sabe muito? As revelações ponderadas que podemos ter são apenas poeiras silenciosas nos olhos de deus, e mesmo que legiões avancem rapidamente sobre os campos para perseguir seus pensamentos, quem poderia enfrentar os limites da sabedoria? O saber é como um frio punho de metal que dilacera os ossos, por que aquele que observa sem nada fazer apenas dorme em um sonho de pintor, mas o seu vazio sempre será como antes, ouvindo bem o que os demônios pregam como vultos de cabeças rindo na sua cara. O mal não tem descanso, ele prossegue contra os frágeis peões deste jogo celeste condicionados por suas horas cinzentas. Eu aposto que no seu último suspiro você reclamaria para mim, não é verdade, minha doce pequena coisa? Portanto, o que nos mantém andando em linha? Quando nos olhamos por um longo tempo diante do espelho, percebemos que as reflexões começam a mentir quando o espelho sabe demais, pois nossas feições se fragmentam através de realidades distorcidas, então pacientemente esperamos pelas formas que trazem o rosto que estamos acostumados a ver, mas assim que viramos nos esquecemos do que vimos, por que a reflexão da beleza ou da feiura não existe. Da mesma forma, as religiões lutam uma contra outra por que possuem o mesmo pai e a mesma mãe: elas desejam o mesmo, mas a arrogância as faz esquecer-se do que estavam buscando, inventando mentiras para que uma única e simples verdade seja embrulhada em plástico e vendida. Não há tal coisa chamada morte, não há fim para você, não há fim para mim. Aqueles que não aceitam essa verdade são reencarnados, repetidas e repetidas vezes, como um homem teimoso que só aprende depois de estar no fundo do poço sem uma corda para se salvar. Mas chega um dia em que não é mais preciso encarnar – é quando o espírito atingiu o cume da evolução, quando não precisa mais da matéria para evoluir. Sendo assim, até que se torne espírito puro, a criatura humana precisa da matéria para aprender e adquirir os valores intelectuais e morais que se incorporarão ao ser imortal. Por essa razão são necessárias muitas e muitas encarnações para terminar o aprendizado. Não é isso o que nos mantém em órbita? Ora, se as premissas são verdadeiras, você não pode negar as conclusões, para que não se encontre irracionalidade, por que as conclusões seguem com necessidade lógica das premissas. Então, a única maneira de negar a conclusão é você mostrar qual das premissas é falsa. Portanto, os homens reencarnam porque é da lei de progresso que exista o aperfeiçoamento constante, isto é, a necessidade de nos tornarmos melhores. E de que outra maneira isto seria possível, se não através da vida após a morte? É por isso que as religiões presam tanto o espírito sobre a matéria, por que a matéria é passageira e todos sabem disso. Como o sentimento de uma criança, é tempo da humanidade viver em plenitude com aquele que nos criou... venha comigo e deixe o seu ontem para trás... ou tudo que você encontrará no final é o recomeço de um passo gigantesco fora da sua mente. Eu vou te mostrar onde o sabor da vida está esperando, pois sempre que acordamos não há o mesmo percentual para se lembrar do que se passou. Deixe-me vestir o seu traje de felicidade graciosa com um toque suave de ternura, com asas de arco-íris te levando para o paraíso, o lugar onde os iluminados vivem e ensinam que o céu está numa caravana pulando de uma existência para outra. Eis a fonte da especiosidade, o removedor do mal e a extremidade benevolente, suas sentenças são a essência do conhecimento, onde os animais selvagens guardam seu mistério vagando na floresta densa. O meu corpo de ouro está brilhando com uma centelha da imortalidade, e em breve eu não estarei mais aqui para poder escrever para você, pois apesar da religião eterna ser cheia de graciosidade, cada um deve encontrar o seu próprio caminho na simplicidade e no amor, cujo início e o final ninguém sabe, por que toda glória sobre este lugar sagrado pertence ao santo dos santos, a personificação da verdade, consciência e bem-aventurança.