segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ruínas do Anoitecer Rubro

    Luzes fracas me levavam pelas sombras dos flashes azuis, o encanto da noite me persuadia em olhares estranhos, na sensação de que a veria em meio ao desconhecido. A lua parecia infeliz e seu frio, por não sentido, o calor descia por minhas roupas negras e não sabia quando me depararia com a intensa aurora, vestida de prata, adentro as clareiras de luzes agitadas, uma estrela liberta através do céu na plenitude da noite. Naquele festival, eu sabia que a encontraria, atravessando ao invisível toque como uma sombra entre a perdição, escondendo seu olhar com uma longa mancha vermelha, sem notar minha presença. Sua alma frágil e pura se misturava entre a partida e a tristeza, as palavras que saiam eram desarmadas e desesperadas, mas lá estava sua verdadeira aparência na escuridão, os olhos que não podem esconder a dor, fingindo o amanhã enquanto encharcava-se em brasas com inflamáveis anseios. Profunda como o mar, sua raiva era expressa através de declarações de um passado acortinado por céus funerários, atravessando o pôr-do-sol como jamais fizera antes. As palmas da indiferença eclodiam provocantes, os ventos assombravam os céus vermelho-sangue numa corrente inspiradora de ascendência ao gênesis, em devaneios elísios, queimando com o brilho confuso das almas, dançando com os ventos sobre pecados tenebrosos – onde fica escondido um segredo pálido – liberalmente em um vasto crepúsculo debaixo de toda vergonha, e todos eram suas próprias veias de obscuridade. Minha aparência cinzenta, minha pele branca e meus olhos frios, apenas observava, um isolamento perfeito e transparente, tremendo, balançando e emocionado, desabando numa terra maravilhosa de drogas, incapaz de se mexer ou falar, incapaz de se preocupar, apenas por desejar tomá-la pela mão e desaparecer daquela valsa negra do ocaso.
    Ao redor da lua, ela vinha com seu vestido flutuando em seu precioso éden, onde jaz profundamente seu amado, amarrado e perdido no seu encanto, um cadáver como eu, girando sob a cadeira à espera do seu sereno e áspero corpo com o véu retirado, para deleitar seus assíduos gêmeos do prazer, sua respiração abafada em um grito, caindo... profundamente, em sua teia, os fios se emaranhando conforme sua vontade: paralisada e entorpecida, as palavras como arrepios, crescendo em uma frenética intimidade. Seu perfume como a neve, derretendo meu inverno interior e encontrando purezas nos intensos desejos, mas a noite é maldita e ainda chove, e ela não está aqui... apenas vozes gritantes soando em meus ouvidos, barulhentas e nubladas... fazem-me ver que manter o silêncio trouxe-me um longo alívio, atrás de mim a raiz de um passado em poeiras e cinzas, onde a dança das estátuas congeladas unem-se em lágrimas, faces inexpressivas estagnadas no vazio, apenas esperando uma gota de sangue na correnteza para lavar a dor e aceitar os arrepios do horizonte sombrio como palavras profundas que ferem através de um vidro translúcido. Na luz da alvorada, quando a manhã chora e suas teias brilham como fios de prata, o passado é esquecido sob o túmulo abaixo das flores e minha alma é liberta de sua aurora. Este é o meu lado piedoso, “uma sombra lançada sobre meu coração”, escurecendo nossas gélidas lamentações, serenas como um córrego congelado desejando uma luz prateada, com o anoitecer em meus olhos, levando escritas sangrentas sobre tua beleza pálida que flui através da escuridão indesejada.