O Fantasma da Incerteza
O espectro do inverno começa abrangido pelo
silêncio. A lua cheia me observa com olhos ardendo em chamas brancas, mas seu
brilho é hera venenosa, lançando o elixir vermelho mais doce que minhas veias
possuem... o vinho das intensas sensações para descongelar o passado como o
gosto que acaricia minha língua. O perigo escondido na névoa mais uma vez se
revela como um suspiro que emana serenidade, trazendo uma alma feita de vidro,
olhos como lagoas verdes e cabelos lápis-lazúli. Os ventos sopram dentro e fora
dos caminhos onde ela cruzou suas dores e ilusões, tão sozinha, cercada e
movida por sombras, quando o vento canta sua música triste ela sente o gosto
das lágrimas que sufocam sua garganta. Seu corpo descansa no escuro entre a
dura verdade e desilusão, porém além de um poema glacial suas palavras
expressam a dor que carrega em cada pétala que desprende da sua vida efêmera. Ainda
assim, é em seus olhos vazios o meu abrigo, eu sempre estive ao seu lado como
um espectro esperando seu retorno para levá-la ao sonho incandescente do amor. O
fio vermelho do destino nos puxa para os abismos do prazer e nos lança de volta
para sentir os leves aromas escondidos na pureza da alma... intensa aurora,
você pode não ver, mas minhas palavras chegaram até você com a força de um
milhão de sóis nesta realidade mística através de delírios, poemas e cultos
nebulosos. Em todos os cantos indizíveis onde as sombras tentaram me cobrir, eu
senti seus lábios frios caindo entre minhas mãos como grãos de areia, mas para
cada grão foi escrito uma palavra, condenando as ilusões da perfeição sobre as
ruínas do meu pensamento, dias e noites, temendo o que poderia encontrar, com a
única certeza de que não desistiria de você em um futuro incerto. Dentro da
suja realidade, eu estou tão exausto quanto você que se deixa afligir pela
impureza que a perturba, no entanto, a divergência secreta te consome a cada
instante. Eu poderia ouvi-la gritar: "imagino se há algum significado para o que estou fazendo desde o início, pois tudo parece não passar de uma ilusão", então, por favor... não cometa o mesmo erro, nossas vidas são como uma pedra
lançada... a incerteza em um último beijo, a dor por dentro, que nos faz queimar,
os pensamentos afligidos de uma noite sem fim, a promessa de amor eterno... tudo
descansa agora em seu sono, pois a pedra que não acerta o alvo é esquecida na
mesma velocidade que foi lançada. Abra seus olhos e me veja uma única vez,
pelos seus olhos, eu poderia escapar de mim. A sua ausência me fez sentir o sol
do paraíso, mas eu sabia que era um sol nascente caído, aquele que brilha no
inferno da noite majestosa. Minha única amada, eu poderia forjar um sorriso
apenas para fazer você sorrir, mas não consigo entender por que em minhas
mentiras lamentáveis o seu sorriso é sempre agradável. Eu fui seu escravo
enquanto estava constrangido, mas agora eu poderia sorrir ao ver você chorar,
por que como poderia aceitar ser atacado por seus desejos e vencido pela
vaidade permanecendo ao seu lado? Disto não tiro proveito algum, pois você é
como a brancura de um vale coberto de neve, com os olhos fechados eu posso ouvir
o seu chamado, a dor dentro deste seu maçante coração é escura como as trevas
que te enviei com o meu beijo, mas mesmo na morte, eu ainda posso sentir você.
E de joelhos, eu oro pela piedade divina, vendo o mundo consumido por chamas de
decepção, lamentando quando pus meu coração no mais fundo dos abismos e provei o
sangue da besta.
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