terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Fantasma da Incerteza

   O espectro do inverno começa abrangido pelo silêncio. A lua cheia me observa com olhos ardendo em chamas brancas, mas seu brilho é hera venenosa, lançando o elixir vermelho mais doce que minhas veias possuem... o vinho das intensas sensações para descongelar o passado como o gosto que acaricia minha língua. O perigo escondido na névoa mais uma vez se revela como um suspiro que emana serenidade, trazendo uma alma feita de vidro, olhos como lagoas verdes e cabelos lápis-lazúli. Os ventos sopram dentro e fora dos caminhos onde ela cruzou suas dores e ilusões, tão sozinha, cercada e movida por sombras, quando o vento canta sua música triste ela sente o gosto das lágrimas que sufocam sua garganta. Seu corpo descansa no escuro entre a dura verdade e desilusão, porém além de um poema glacial suas palavras expressam a dor que carrega em cada pétala que desprende da sua vida efêmera. Ainda assim, é em seus olhos vazios o meu abrigo, eu sempre estive ao seu lado como um espectro esperando seu retorno para levá-la ao sonho incandescente do amor. O fio vermelho do destino nos puxa para os abismos do prazer e nos lança de volta para sentir os leves aromas escondidos na pureza da alma... intensa aurora, você pode não ver, mas minhas palavras chegaram até você com a força de um milhão de sóis nesta realidade mística através de delírios, poemas e cultos nebulosos. Em todos os cantos indizíveis onde as sombras tentaram me cobrir, eu senti seus lábios frios caindo entre minhas mãos como grãos de areia, mas para cada grão foi escrito uma palavra, condenando as ilusões da perfeição sobre as ruínas do meu pensamento, dias e noites, temendo o que poderia encontrar, com a única certeza de que não desistiria de você em um futuro incerto. Dentro da suja realidade, eu estou tão exausto quanto você que se deixa afligir pela impureza que a perturba, no entanto, a divergência secreta te consome a cada instante. Eu poderia ouvi-la gritar: "imagino se há algum significado para o que estou fazendo desde o início, pois tudo parece não passar de uma ilusão", então, por favor... não cometa o mesmo erro, nossas vidas são como uma pedra lançada... a incerteza em um último beijo, a dor por dentro, que nos faz queimar, os pensamentos afligidos de uma noite sem fim, a promessa de amor eterno... tudo descansa agora em seu sono, pois a pedra que não acerta o alvo é esquecida na mesma velocidade que foi lançada. Abra seus olhos e me veja uma única vez, pelos seus olhos, eu poderia escapar de mim. A sua ausência me fez sentir o sol do paraíso, mas eu sabia que era um sol nascente caído, aquele que brilha no inferno da noite majestosa. Minha única amada, eu poderia forjar um sorriso apenas para fazer você sorrir, mas não consigo entender por que em minhas mentiras lamentáveis o seu sorriso é sempre agradável. Eu fui seu escravo enquanto estava constrangido, mas agora eu poderia sorrir ao ver você chorar, por que como poderia aceitar ser atacado por seus desejos e vencido pela vaidade permanecendo ao seu lado? Disto não tiro proveito algum, pois você é como a brancura de um vale coberto de neve, com os olhos fechados eu posso ouvir o seu chamado, a dor dentro deste seu maçante coração é escura como as trevas que te enviei com o meu beijo, mas mesmo na morte, eu ainda posso sentir você. E de joelhos, eu oro pela piedade divina, vendo o mundo consumido por chamas de decepção, lamentando quando pus meu coração no mais fundo dos abismos e provei o sangue da besta.

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