sábado, 4 de outubro de 2014
Fria Primavera
Em meus templos pingam orvalho negro, lentamente,
os meus lábios bebem o frescor da pedra azul em obscuras interpretações. À
noite, quando ando nos caminhos escuros, minha figura parece pálida, quando
tenho sede, bebo a água branca da lagoa, o gosto da minha triste infância. As
nuvens escuras formam um céu perfeito, a chuva começa a cair e sinto o vento
tempestuoso em meu rosto, correndo num relâmpago brilhante em sua direção. Amada
minha, veja, eu estou chegando, e espero que você esteja sabendo. Esse é apenas
o começo de uma nova promessa que nos unirá para sempre, mas por mais que eu
escreva mentiras obscuras como o mar da meia-noite, você não conseguirá
enxergar a verdade. O meu poder está voltando e as aureolas das minhas mãos
congelam em um profundo azul... sinto tão claramente a sua pele branca e os
seus lábios vermelhos cantando como uma sereia do anoitecer, nadando em
escuridão. Na noite profunda, eu a roubarei e sumirei da sua consciência como
poeira, falando suavemente na sua mente, minhas suaves e escuras asas flutuarão
cobrindo-a com a minha sombra, então você olhará para cima, dizendo: “ó, belas
trevas, o meu amante me espera”, mas aqueles que estão à sua volta não te
ouvirão, eu serei os teus ouvidos, os teus olhos e o teu deleite, sentindo o ar
quente da luxúria preenchendo o seu ser, chamando tão amavelmente os débeis
sonhos que tecem a noite em um mundo onde a alma se movimenta livremente...
esta é a escuridão de que tanto falo, não são os demônios que você acha que me
perseguem, garota tola, o que sabes tu dos que cobrem a praça às três horas da
madrugada? Ou dos que selam o coração em uma sintonia com o ódio? Pergunto, por
que não vê o humano que há em mim ao invés do diabo? Agonizado, não há ninguém
ao meu lado na hora da minha queda, pois eu não sou o que você procura, antes,
você dizia: “sou apaixonada pelas trevas que há em você”, mas não há trevas em
mim, as trevas estão ao nosso redor esperando escurecer seus olhos, esperando
que as esperanças se percam e abandonem o seu destino como um vento sonoro em
becos escuros, por favor, você consegue entender minha profunda dor? Consegue
ver o quão real é a luz fraca que queima em meus olhos? Você fugiu da minha
vida como cartas escritas na areia, mas sequer me conhecia, sequer se importou
com o que carrego em meu coração, com um sorriso falso dizia que tínhamos um
laço, com um sentimento vazio clamava pelas minhas palavras, mas tão instável
quanto o céu que se torna claro e negro, os seus desejos desapareceram, o seu
amor murchou-se e você tornou-se leviana, dançando com sua alma em um enxame de
vaga-lumes. O que posso fazer? Eu fecho meus olhos, abrangendo o poder da vida,
sempre acreditando que somos mais do que podemos ver, que os limites invisíveis
jazem dentro de nossas mentes... o passado me assombra, fragmentos de memórias
que perturbam o meu espírito, tristezas tão profundas como os oceanos cinzentos
dos meus olhos, ainda assim, um raio de luz queima através da minha insanidade
como uma esperança ardente, esperando que o seu retorno transcenda a lúgubre aurora.
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