quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Esperanças Esquecidas

   Na beleza dourada do amanhecer ou nas sombras que atravessam as árvores, eu vejo um rosto sereno com tons sussurrantes de clareiras como a visão de um abraço agonizante. As luzes veladas como diamantes me fazem flutuar através do céu, vendo a vida muito abaixo da minha mente, respirando a serenidade e a verdade, encontrando meu caminho para voar livre dos confinamentos do tempo. Como a alvorada que emerge eu ouço ecos e vozes me chamando, mas não permito que a obscuridade me engula: eu levito, fitando meu cadáver inanimado à deriva em direção ao que agarra minha sanidade, escondendo-me desta terrível realidade... receios de memórias que voltam a me inundar, embora haja uma teimosa mente atrás destes olhos frios buscando o sentido da canção da vida lentamente enquanto tropeça no tempo estendido. Olhando para este mundo através dos meus olhos, eu procuro sentir algum fervor que me leve para longe do que estou acostumado a ver, mas as rodas da vida giram sem mim, o sonho continua me carregando em momentos perdidos que se foram. Entre fantasmas, alucinado em minha consciência, o intenso pulso estrangulador da morte aperta-se sobre mim, em meus ossos eu já não sinto frio, meu sofrimento cresce com o aumento da culpa afundando-me no solo úmido em sintonia com a terra. Desaparecendo até que o espelho da morte reflita o significado da minha vida, caminho sem destino e hipnotizado, essas mensagens masoquistas que vão para dentro da minha alma, chorando através de anos sem defesas subconscientes, em frações de segundos me fazendo acreditar numa pacifista e satisfatória realidade, quando a verdade pode ser tão cruel quanto à natureza corrompida da minha liberdade. Assim, como cheguei até aqui? Flutuando em lugar nenhum para se esconder, sinto como se a vida nunca tivesse sido o que realmente é. Minha tristeza é fria, mas isso não me impede de respirar, tentando encontrar um caminho para o exterior conversando com uma parede da minha mente, uma viagem no interior onde os elos se rompem e me levam à outra realidade astral, numa harmonia serena, sonhando e acordado, os ventos ficam silenciosos, a respiração mais lenta, os lábios se movem, mas não consigo ouvir o que estão dizendo – a escuridão arranca as cinzas da minha alma pelo mais profundo amor dissolvido em emoções construídas por um silêncio eterno... aquele rosto de verão, confortavelmente entorpecido, da aurora em chamas ardentes. Bem fundo ansiando, eu sinto meu coração queimando por ela, esse belo sentimento que navega pelas nuvens do meu corpo como uma sombra. Lá, olhe, o carvalho se inclina sobre o rio como uma pessoa que se curva, chorando pelo amado... você pode polir sua alma mas não pode ver como nós sempre passamos dentro e fora para um pouco de infinidade do espaço em branco. Enxugue as lágrimas de ontem, suas lembranças congeladas, deixe a criança autônoma dentro de você retomar, uma fria brisa abaixo dos seus pés lhe levando ao entusiasmo das cicatrizes secretas, sonhando com a luz do nascer do sol, e de repente... tudo se encaixa, o céu... o mar... as folhas que desprendem das árvores e o vento espalha, então você percebe que a luz nunca esteve tão distante. Aqueles momentos desperdiçados não voltarão e nós nunca os sentiremos novamente, mas sempre comigo, você aparece diante dos meus olhos, um suspiro enfraquecido do que algum dia o pôr-do-sol deixou em nossos corações.

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