A Queda da Deusa Aurora
Hoje
o mar escuro da mente fervilha com todo prazer, luzes morrendo como um homem
correndo atrás do seu pedágio, sentindo seu coração pesar demais para ser
proporcional em tamanho, pois no fim ele recebe a multa da vida. Como um diabo
branco, o lixo ainda faz seu jardim florescer, tarde da noite sentindo o corpo
suar com a brisa secreta, enquanto seus olhos calmos se fecham para esquecer-se
do mundo externo. Elegantemente magro,
sua cabeça se preenche com o vazio, queimando na língua um sabor infernal,
enquanto seus pés flutuam do corpo imóvel, estou sendo levado para uma viagem
sem volta? Por favor, deixe-me aqui, eu ainda desejo viver mais, sentir mais,
criar mais... eu quero conhecer o sem
sentido e semear sem sementes como uma música que sangra sem ninguém para
tocá-la. Eu quero ter um novo nome na esperança de esquecer a vergonha do
antigo, correndo como uma raposa livre e espalhando a poeira limpa da neve para
que toda natureza acorde! Mais uma vez aquela beleza mórbida brilha em
ressonância, meio dourada, meio fluorescente, percorrendo todo meu corpo como
maus caminhos que governam os caminhos que seguimos, mas eu sei que é
impossível você não nascer todos os dias, pois sem seus raios o mundo não pode acordar:
oh esplendida e magnífica aurora! Que brilha como ilusões vagando pelo ar, guiando
os anos de hipocrisia e fazendo os vampiros chorarem...! Você está no centro
das atenções, como gostaria de estar? Tão alta no céu, cercada por estrelas
invejosas, quem poderia alcançar sua grandeza? Quem poderia atingi-la agora que
piadas cruéis fazem você rir? Através da dimensão adjacente do dia, transcendendo
o azul celeste, você mais uma vez tenta hipnotizar o mundo, mas meus olhos estão
blindados contra mentiras, o véu foi arrancado e a vida se move um pouco mais
rápido, pois agora eu aproveito o longo tempo perdido – memórias de quando eu
acordava acreditando que você era o sol. Agora deixe o suicídio da música
assumir o controle como um portador infundindo sua alma, por que a partir de
hoje ninguém mais acreditará na sua falsa luz, assim como a estrela da manhã,
você cairá em surpresa repentina, libertando-se dos néctares da devoção para
tornar-se um anjo caído: em nosso último encontro, não foi você mesma quem
disse que a aurora não existe mais? Eu demorei para entender que você estava
tentando me dizer que não havia mais brilho em você, que diante do espelho você
era somente uma estrela em sombras, por que eu soube de coisas que ninguém mais
sabe. Ainda assim, eu permaneci ao seu lado, insistindo para que o sol
verdadeiro refletisse em você, enquanto as trevas te cobriam – havia dias em
que você nem parecia estar presente, apenas um pedaço de carne tentando
resgatar alguma sensação perdida, buscando prazeres onde não existia. A
depressão se enraizava no seu olhar, na sua voz e em suas expressões faciais,
mas eu continuava ali, colhendo as penas das suas asas, para que um dia você
voltasse a voar. Suas mãos estavam lavadas de todos os crimes da desilusão, mas
na sua mente você escalava tetos e paredes à procura de algum vestígio que
pudesse te fazer sentir, pela última vez, a terna chama da luz da divindade,
por que agora você tornou-se uma deusa esquecida. Mas a luz estava o tempo todo
ali, caminhando ao seu lado, fazendo você rir nas noites escuras, dançando em
festas exóticas e te vencendo duas vezes no xadrez, por que uma mente iluminada
sempre vence uma mente destruída. Eu tentei te tirar do assento desta gaiola
dourada, por que eu acreditava que você ainda era capaz de voar, mesmo que não
fosse para meus braços. O que ganhei em troca foi você dizer que eu era um
objeto para você e ser ignorado na frente de todos. Em resposta a isso, eu irei
fazer o caminho mais curto pelo seu naufrágio, por que na ausência do orgulho é
que somos tocados. Nós aceitamos prêmios durante nossas vidas para fazer com
que nos sintamos entre os vencedores, mas você nunca pode controlar as divisões
arrojadas do céu. Se você acredita nas areias do tempo, existe sempre uma
necessidade na vida de enxergar algo mais claro, um desejo repentino de ir além
do espelho, onde encontramos o mundo divino, pois com a intenção de iluminar a
mente, sem dúvida, o reflexo das ondas espalha a luz do sol para todos os
lados.
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