Olhando pela janela, pequenos monstros manchados com fuligem
rastejam para dentro do meu quarto. Esses monstros são meus medos dançando na
escuridão com pequenas mãos e pequenos rostos me assistindo. Em todos os
lugares que vou, eles me ensinam a ser puro em pensamento, palavra e ação, não
importa quando, onde ou com quem, tudo o que eu já fiz ou faço, são meus medos
que me guiam. Então eu olho para trás na minha vida sempre com um sentimento de
vergonha por tudo que fiz ou deixei de fazer, sempre virando uma folha nova, em
seguida, rasgando-se através dela. Os sons de ontem ainda ecoam na minha
cabeça, conflitos distantes sem solução, de quando eu era jovem no amor e a
felicidade me procurou. Eu vejo meus anjos presos sob o gelo e estranhos na
minha cama à noite: o céu nublado encobrindo os sentimentos enterrados no
escuro. A noite é silenciosa em minhas mãos, e a tristeza sussurra suas
condolências, estendendo-se ao longo da minha alma como orações mergulhadas em
um fogo negro. Esta é a razão pela qual, tempos depois, um vento soprou de uma
nuvem esfriando minha fé, mas para encerrá-la em um sepulcro seria preciso matar
você, pois assim como a lua brilha sem trazer-me sonhos ou as estrelas nascem
com olhos para me observar, nada pode me separar do amor que sinto por você. Minha
intenção é um estranho momento à parte do mundo que dividimos, e todos nossos
devaneios encantadores passeiam por esse momento, onde as palavras soam
confusas e o ritmo fraco repete os mesmos versos, dormindo um milhão de noites
debaixo dos mesmos vislumbres que dividem a linha da realidade. Levante-se e olhe
no espelho, você vai perceber o quão tranquila é por não fazer nem um som. Olhe
para sua vida, quem você quer ser antes de morrer? Quem deseja ver antes do
último suspiro? E me conte o que realmente importa, se é o dinheiro e a fama ou
quantas pessoas eventualmente podem saber o seu nome? Algumas pessoas chamam isso
de carma, outras de destino, mas eu sempre continuo esperando que o tempo mostre
o que realmente é, pois esses pensamentos mortais nos prendem e nos algemam em
algo que não podemos fugir. Esta noite eu lhe contarei um segredo, então preste
muita atenção, não nas minhas palavras, mas na minha voz. Onde a luz brilha um
pouco mais forte, onde as sombras dançam nas paredes ou onde os santos homens
escondem seus segredos, o sagrado da vida é vendido, mas nunca perdido. Estando
debaixo do ouro e da prata a procissão nasce, porém a verdade prossegue como um
rio interminável – esta é uma simulação perfeita do que eu quero lhe dizer.
Como um homem que enxerga o vale e finge bebericar seu próprio sangue para que
se sinta mais forte, assim eu consigo juntar um pouco aqui e ali para formar o
muito, acreditando que tudo me pertence, mas esse silêncio ainda consome a
ponta dos meus dedos, todas aquelas cartas submissas sem resposta como lábios
que rezam em silêncio. Cada palavra soa sua promessa vazia, embora persistente,
pois enquanto o tempo se esvai num sonho estilhaçado e o silêncio substitui o
som do riso, num sopro de hesitação, minha vida dura apenas um momento antes da
sua ida. Assim meu coração dorme em sua ausência, fazendo dos meus olhos
templos congelados como conchas secas respirando um amor esquecido. Eu danço vagarosamente
na elegante poesia de suas asseclas rimas frágeis, implorando por conforto em
um verso inadequado, para desconsiderar coisas que sinto quando me afundo na
auto-piedade. A tristeza canta seus cantos, lágrimas ajustando as frestas dos
olhos para manter a luz, mas este lugar está gritando o vazio desde que meu
sangue e suor se tornaram água lamacenta. Eu me aventurei no submundo para
provar que esse amor é verdadeiro, ouvindo uma voz focalizada me chamar de
volta aos sacrifícios da luz e ousar uma mudança de padrões internos para provar
a sabedoria da divindade e o horror da sua picada. Mas tudo tem seu preço: as
silhuetas do pecado sempre se oferecem sem cobrar nada, ecoando o mistério de
uma teia viciosa que corrompe todos que a tocam, essa chuva deslizando sobre
nós... você consegue sentir? Caindo em nossas cabeças como uma memória, andando
exposta ao vento, falando como amantes falam, fazendo nossos corações baterem
como beijos de saudade. Quão perto ou quão distante estamos um do outro para
saber que nada pode ser substituído? Aquelas escolhas que antes pareciam ter
tanto significado agora se mostram apenas ilusões em nossa direção como faróis se
aproximando para se apagar num lampejo silencioso. Ainda assim, eu me pergunto,
será que perdemos algo ao longo do caminho? Um sorriso, uma palavra não dita,
um segundo beijo? Eu só peço que você se lembre num pensamento de vigília o que realmente significou nosso amor verdadeiro, antes de retornar ao sono e cair em um
sonho infinito.
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