sábado, 30 de janeiro de 2016

Um Sonho de Primavera

   Olhando pela janela, pequenos monstros manchados com fuligem rastejam para dentro do meu quarto. Esses monstros são meus medos dançando na escuridão com pequenas mãos e pequenos rostos me assistindo. Em todos os lugares que vou, eles me ensinam a ser puro em pensamento, palavra e ação, não importa quando, onde ou com quem, tudo o que eu já fiz ou faço, são meus medos que me guiam. Então eu olho para trás na minha vida sempre com um sentimento de vergonha por tudo que fiz ou deixei de fazer, sempre virando uma folha nova, em seguida, rasgando-se através dela. Os sons de ontem ainda ecoam na minha cabeça, conflitos distantes sem solução, de quando eu era jovem no amor e a felicidade me procurou. Eu vejo meus anjos presos sob o gelo e estranhos na minha cama à noite: o céu nublado encobrindo os sentimentos enterrados no escuro. A noite é silenciosa em minhas mãos, e a tristeza sussurra suas condolências, estendendo-se ao longo da minha alma como orações mergulhadas em um fogo negro. Esta é a razão pela qual, tempos depois, um vento soprou de uma nuvem esfriando minha fé, mas para encerrá-la em um sepulcro seria preciso matar você, pois assim como a lua brilha sem trazer-me sonhos ou as estrelas nascem com olhos para me observar, nada pode me separar do amor que sinto por você. Minha intenção é um estranho momento à parte do mundo que dividimos, e todos nossos devaneios encantadores passeiam por esse momento, onde as palavras soam confusas e o ritmo fraco repete os mesmos versos, dormindo um milhão de noites debaixo dos mesmos vislumbres que dividem a linha da realidade. Levante-se e olhe no espelho, você vai perceber o quão tranquila é por não fazer nem um som. Olhe para sua vida, quem você quer ser antes de morrer? Quem deseja ver antes do último suspiro? E me conte o que realmente importa, se é o dinheiro e a fama ou quantas pessoas eventualmente podem saber o seu nome? Algumas pessoas chamam isso de carma, outras de destino, mas eu sempre continuo esperando que o tempo mostre o que realmente é, pois esses pensamentos mortais nos prendem e nos algemam em algo que não podemos fugir. Esta noite eu lhe contarei um segredo, então preste muita atenção, não nas minhas palavras, mas na minha voz. Onde a luz brilha um pouco mais forte, onde as sombras dançam nas paredes ou onde os santos homens escondem seus segredos, o sagrado da vida é vendido, mas nunca perdido. Estando debaixo do ouro e da prata a procissão nasce, porém a verdade prossegue como um rio interminável – esta é uma simulação perfeita do que eu quero lhe dizer. Como um homem que enxerga o vale e finge bebericar seu próprio sangue para que se sinta mais forte, assim eu consigo juntar um pouco aqui e ali para formar o muito, acreditando que tudo me pertence, mas esse silêncio ainda consome a ponta dos meus dedos, todas aquelas cartas submissas sem resposta como lábios que rezam em silêncio. Cada palavra soa sua promessa vazia, embora persistente, pois enquanto o tempo se esvai num sonho estilhaçado e o silêncio substitui o som do riso, num sopro de hesitação, minha vida dura apenas um momento antes da sua ida. Assim meu coração dorme em sua ausência, fazendo dos meus olhos templos congelados como conchas secas respirando um amor esquecido. Eu danço vagarosamente na elegante poesia de suas asseclas rimas frágeis, implorando por conforto em um verso inadequado, para desconsiderar coisas que sinto quando me afundo na auto-piedade. A tristeza canta seus cantos, lágrimas ajustando as frestas dos olhos para manter a luz, mas este lugar está gritando o vazio desde que meu sangue e suor se tornaram água lamacenta. Eu me aventurei no submundo para provar que esse amor é verdadeiro, ouvindo uma voz focalizada me chamar de volta aos sacrifícios da luz e ousar uma mudança de padrões internos para provar a sabedoria da divindade e o horror da sua picada. Mas tudo tem seu preço: as silhuetas do pecado sempre se oferecem sem cobrar nada, ecoando o mistério de uma teia viciosa que corrompe todos que a tocam, essa chuva deslizando sobre nós... você consegue sentir? Caindo em nossas cabeças como uma memória, andando exposta ao vento, falando como amantes falam, fazendo nossos corações baterem como beijos de saudade. Quão perto ou quão distante estamos um do outro para saber que nada pode ser substituído? Aquelas escolhas que antes pareciam ter tanto significado agora se mostram apenas ilusões em nossa direção como faróis se aproximando para se apagar num lampejo silencioso. Ainda assim, eu me pergunto, será que perdemos algo ao longo do caminho? Um sorriso, uma palavra não dita, um segundo beijo? Eu só peço que você se lembre num pensamento de vigília o que realmente significou nosso amor verdadeiro, antes de retornar ao sono e cair em um sonho infinito.

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