domingo, 11 de outubro de 2015

A Morte da Aurora

    Num pomar abatido uma flor murcha dormindo se espalha por uma brisa suave de ventos cansados, suas pétalas se desvanecem em sombrios fluxos de prata como um retrato abandonado vestindo as cores da perda. Numa tragédia pintada eu me maravilho de olhos vazios, vendo este lúgubre estado mental da minha alma aflita engolindo o seu pesar, onde flores morrem em suas horas mais exaustas e são cobertas pelo desespero cinzento da morte fria e branca. Entoante como os ares silenciosos da noite, eu ouço um eco delicadamente sussurrando o seu nome, um vislumbre final do seu sorriso com características de alguma forma familiar, num corpo ferido e uma mente despedaçada, gritando sem fazer ruído sobre memórias que se deitam nuas e tristes numa selvageria de fragmentos dominando um corpo de mentiras e pecados. A luz do dia é deixada com um grande adeus, a radiação de uma derrota amarga entrando em profundo colapso com os espinhos que crescem em seu ventre cercado por cortinas negras, cores agonizantes desfazendo o sorriso da sua boca com um beijo congelante, roubando os lagos verdes dos seus olhos com toda a sua inocência: o medo da morte ou da podridão que se espalha pelo seu interior desabrochando. O que você tem de mais precioso... sua beleza decadente, os lábios cor de rosa, a pele de ouro branco, para mim são como tons de um paraíso esquecido, escondendo uma alma feia com flores envenenadas para sua presa. Você destruiu nosso destino com o seu orgulho e preconceito, e às vezes eu me pergunto se você apenas não ansiava por um beijo mortífero, querendo escapar do fardo que te assola para se estender um pouco mais por um momento de paz, desamparada e exausta de perseguir a sua própria luz estranha, eu percebo que você era como uma imaginação ausente me empurrando por estradas e rios para no fim enxergar que nada é como parece ser. Como o sol que nasce e cai, o tempo nunca significou nada para mim, mas percebo que perdi muitos anos perseguindo a sua canção, enfeitiçado pelas águas mornas e verdes dos seus olhos, não notei quando fui lançado para fora da sua carapaça morta. Você nunca conseguiu ver seus traços em muitos rostos? Nunca sentiu-se menor do que a vida tem a oferecer? Por que eu não podia estar lá, para receber mais um lindo dia e provar o doce mel da vida, sorrindo para tudo o que foi concedido a nós? Eu sei que essas perguntas nunca serão respondidas, pois agora eu me deito sobre seu cadáver frio... seus olhos estão secos e negros por dentro, com fungos de gelo acariciando sua testa, o granito toca sua pele onde as veias estão se fechando e roubando o calor, seu corpo deforma-se como dedos debaixo d’água... este é o seu fim, intensa aurora, mas o fato dessa sensação não ter um nome, não muda o que sinto por você. Com um olho fechado para antecipar o seu medo, você deverá sentir o punhal da sombra lhe trespassar com a dor mais doce das hereges do silêncio, e com olhos roxos eu assistirei você sofrer até que o seu sucesso tenha evaporado. O nosso elo espiritual será selado, e com pesadelos você sentirá isto corroer sua alma como vermes insaciáveis se fartando com o seu sangue, todos os demônios que te assombram retornarão para congelarem sua pele pálida com um último beijo eterno. Atrás dos feixes ensolarados que te fazem aparecer, era uma vez um sorriso enterrado debaixo de uma máscara sem vida, escondendo seus destroços incapazes de ver o próprio amanhã destinado a desaparecer.

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