terça-feira, 18 de abril de 2017

Realidade Artificial

    Em algum lugar o tempo parece me ultrapassar, ondas sonoras que vagam no silêncio e se misturam com os ruídos que me cercam, como se outro eu estivesse vivendo e movendo-se na mesma realidade, mas com escolhas e caminhos diferentes. Assim, uma vez ou outra, eu sinto já ter vivido aquilo que estou vivendo ou faço coisas que já tinha feito em outra reencarnação, porém a indefinição da vida e da morte perturba os elos que me enlaçam na realidade fixa, por que as memórias de uma consciência morta são apagadas com o tempo. Logo, aquele que está do outro lado está vivo, buscando contato comigo ou com todos os outros que possam existir sem o nosso conhecimento. Mas como saber que realmente há outros ou nenhum? Não é incomum sentir que estou sonhando acordado, vivendo um teatro falso e dramático, onde as pessoas procuram algo indefinido, algo visceral e fundamental que nunca se coloca em palavras, mas que é bastante palpável. Quem quer que mantenha os olhos bem abertos consegue ver uma sociedade completamente degradada e corrompida, onde o instinto de procriação mais primordial da humanidade tem sido banalizado, pervertido e explorado a ponto de perder toda a sua beleza. Mas, o que isso realmente muda? O meu outro eu, por acaso, vive em mundo melhor? Um mundo onde o arco-íris brilha com as verdadeiras cores da primavera, sem uma cortina mística escondendo a coreografia ensaiada de marionetes dançando numa libertinagem barata. Esse vazio que me assola, bem, eu acredito que todos devem senti-lo nas entranhas, corroendo cada célula e entupindo cada veia de sangue em um constante vai-e-vem de prazer e dor, atração e repulsão, que é a verdadeira essência das coisas naturais. Nós não somos forçados a descobrir o lado escuro e destruidor de nós mesmos, apenas fomos condicionados com as mesmas imagens e palavras que nos transformam em estranhas aberrações escravizadas por um circo de demônios, cantando e pulando sobre nossos cadáveres, enquanto acreditamos estar vivendo nossas vidas sem nenhuma intervenção. O dinheiro e o poder daqueles que estão no topo os fizeram esquecer de suas purezas quando eram apenas um bebê nos braços da mãe, embora alguns deles sejam abusados sexualmente e obrigados a assistir sacrifícios explícitos de humanos e animais, a fim de que sejam dominados até o último suspiro. Os que conseguem escapar são, no pior dos casos, assassinados sob uma justificação enganosa dentro de uma data cerimonial para que sirvam de oferenda àquele que os rege das trevas. Luz, eles dizem, por que a felicidade que desfrutam é farta, mas tão ilusória quanto suas almas que desaparece até o corpo tornar-se oco, sem que possam recobrar suas consciências. Desta forma a maldade se torna um alimento saudável  e insaciável, e eles bebem a iniquidade como água, sustentando-se através do esforço dos pobres, por que  a manipulação monetária é tão diabólica que o endividamento cresce através do crédito e cria uma conta vazia onde é depositado todo o dinheiro inexistente.  Sendo assim, por que continuamos vivendo como pilares de um castelo de fantoches? A religião pregaria que eles já possuem o seu galardão, como se pudesse existir algum preço à altura de toda maldade que acontece no mundo. O dualismo insistiria que para um rico existir, um pobre também deve existir, tal como a luz e as trevas, mas esse argumento é tão sem sustento que serve apenas como proteção para com os que dominam a terra. O que eu digo é que não existe justificativa para a corrupção e que todos que se ajoelham colaboram com o caos que se disfarça de bondade. Ora, a natureza é muda para o hipócrita. É por isso que a peste, a fome, a guerra e a morte prevalece, pois para manter o equilíbrio dos que estão no poder é necessário forjar uma saída justificada, enquanto a humanidade assiste de braços cruzados em um poltrona apodrecendo e uma grande tela com um rabo em formato de tridente, sempre pronta para distraí-los e leva-los para outra realidade paralela que nunca existiu e nunca existirá.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Fragmentado

    Em um aperto torturante minha alma marcada cai no sono, afogando-se em um mar de insensatez, ela sente o corpo sacudir com uma dor imaginária enquanto lentamente minha persona se divide. Sendo uma necessidade indispensável, minhas mãos se erguem para o sacrifício de louvor, uma adoração interna, porém cruelmente sujeitada a uma vontade confinada.  Esta dor atemporal não é fácil de esquecer, pois esses pensamentos deturpados, essas atitudes irracionais, são como um declínio emocional causando a miséria opressiva à beira da extinção. As palavras infiéis oprimem o que língua tenta dizer, por que quem tolera a obediência está totalmente sujeito a ser enganado.  Os meus planos fracassam por falta de conselho, pois apesar de possuir uma alta sabedoria, todo pensamento é mantido em cativeiro. Afinal, por que manter esse título, se nada mudou? Essa estagnação de larvas parasitas sugando meu cérebro para esquecer o meu real propósito neste mundo mostra que a negação é uma traição difícil de conciliar. Passividade e descontração, esta é a vontade do meu corpo, mas quando abro meus olhos sou curado da letargia debilitante, vendo aquilo que sempre esteve diante da fratura do mundo: nada menos do que uma realidade defeituosa. Ah, terna manhã, que transforma o ar nublado cheirando a câncer em um sentimento de percepção, talvez eu precise que você projete essa imagem do fragmento da minha espécie sendo condicionada ao lapso de um futuro incerto. Todas essas variadas delícias abundantes em uma terra escondida do som, são coisas que não consigo conceber, pois a escuridão é ofuscante, assombrosa e manipuladora.  Eu assisti meu interior sendo tocado por uma inclinação ou ficção que alimentava minha carne, uma ousadia engolindo cada palavra escrita, para rejeitar à divindade intencionalmente inconsciente, numa solidão que me arrastava para a morte, pois a partir da habitação do silêncio, a tristeza me fez permanecer em um conforto ilusório na ausência do espírito sagrado. Assim, a vida ignorante continua cumprindo seu papel, preparando-me para toda perfeita vontade de um mundo manifestado por um tormento verbal. Mas a minha existência é real, eu estou aqui para conciliar e fazer novas ligações com um destino desencadeado sobre este vazio, por que isso é algo que não pode diminuir pensamentos fúteis, mas enquanto meus ossos apodrecem, vergonhosamente aquém das expectativas, todo aquele que encobre os erros do seu caminho tem um objetivo maior, algo que não pode ser compartilhado, pois a morte persegue a língua que fala alto sobre o que não deve ser dito. Em algum lugar a minha mente está petrificada no tempo, esperando a graça solenemente do meu retorno, pois se muitas sombras me rodeiam é por que eu emito luz. Agora tudo o que minha mente parece guardar são agressões de uma visão manchada, estimulando palavras que possam dar assistência à uma vida dura e amarga produzida pela sociedade. Retido em compaixão, eu não estou sinalizando fraqueza, apenas dizendo que o acesso ao arrependimento é absolvido pela justificação da fé, pois se o esforço fornecesse expiação, o homem não precisaria escapar do juízo eminente. Oh, condenada natureza humana, o poder é depravado e a finalidade projetada a ser cumprida! Como pensamentos intermitentes de uma vida passada, o meu jugo foi destruído, submetendo uma infiltração mental pelas cordas da aflição e apelando aos desejos fatais da carne, pois a depravação da alma é apresentada por um ganho injusto de ambições egoístas que formam um feto desnutrido.

domingo, 20 de novembro de 2016

A Nova Era da Aurora

    Tão vazio, eu sinto apenas a casca do que restou de um homem. Mãos no volante, tudo está logo à frente, só mais uma ponte para atravessar e encontrar meu caminho até você. A porta está aberta, mova seus pés e entre, eu estava esperando por você. Sinta os meus olhos se espelharem no sol poente, calejado e tempestivo como as linhas de um rosto. A linhagem da minha alma suja é exposta para que você me reconheça, sem vida e azul como a recordação remota da tranquilidade. Por estradas intermediárias, nós fazemos um passeio pelos jardins da imundície, onde cada pequena memória de nossas diretrizes obscenas expele na velocidade do som, vendo as coisas puras sendo engolidas pela escuridão do tempo. Percorrendo os caminhos que cantam o desconhecido, chegamos a um lugar onde você tropeça e ninguém se importa, as pessoas incomuns e bizarras são como amigos que você sempre ansiou em conhecer, nunca pensando no próximo dia, apenas um sonho rodopiante e interminável de si mesma bebendo, vomitando e começando tudo outra vez. Esqueça tudo o que você sabe e tudo o que você aprendeu, através da luz mais escura eu te mostrarei um mundo diferente de tudo o que eles querem que você veja. Espelhos distorcidos, você se vê em um mundo apagado, cometendo suicídio todos os dias no show do arquiteto do ódio. Como águas enegrecidas te cobrindo, você não vê o olho que te observa, nunca satisfeita com o lugar onde você está, pois não enxerga as mãos invisíveis tirando tudo o que você têm. Eles te entediam até a morte, apenas dias e anos diferentes sem nenhuma pista do que estar por vir, dramaticamente cansada do auto-abuso enquanto ouve um som que soa parado como um cadáver que não pode ser morto. Perdida e sem rumo, você espera por um punhado de luz do sol como quando dizem a uma criança que ela não pode brincar, não é engraçado? A casa que você construiu não é mais a mesma, sentindo uma necessidade interna por coisas novas ou por uma vida estável, mais uma vez você quase chega lá, mas não consegue voltar para contar onde estava indo. Como um espiral de escuridão, nós continuamos rodando e caindo direto para as profundezas do inferno. Não há mais nenhuma alma para vender, pois todos já venderam suas almas ouvindo o sino fúnebre da condenação eterna. Mesmo assim, eu continuo dirigindo nessa estrada sinuosa com você ao meu lado, as massas se reúnem para tentar nos derrubar como uma máquina de ódio desfigurando seus rostos, mas no fim não é somente por que estão todos carentes? As rodas estão rolando e nós estamos correndo cegos sem sinais para nos desacelerar, vendo um mundo quebrado e destruído com pessoas gritando por algo que nunca souberam o que é. Cinzas voam, cinzas queimam, mas as escolhas que você fez não te servem de nada agora, pois o sol está escurecendo e uma nova aurora negra surgindo para exterminar o seu passado. As almas sangram longe de casa e não há ninguém para socorrê-las, nem mesmo o seu jesus apocalíptico... apenas queimaduras da pira funerária onde todos nós seremos lançados. Tudo o que temos dito e feito, de que valem agora? Cale sua boca, você é apenas uma mula na realidade e a sua fé é cega! Assim como uma nota velha, a sua verdade se tornou uma grande mentira, o chão chacoalha e sacode sua mente, abrindo o abismo para um lago de fogo cheio de arrependimento. Então você acha que acabou? Você achou que, finalmente, escaparia de uma vida de mágoa, vazio e tristeza? Não, querida, deixe-me clarear sua mente: os campos dos imperdoáveis nunca morrem, eles apenas começam. Os oceanos de desprezo afogam os mentirosos e os ladrões, e eles desaparecem na escuridão da negação e repressão, uma vontade que não pode ser curvada alimentando o fogo que nunca se apaga. Você achou que nós viajaríamos para o céu? Não seja ingênua, esta é uma viagem para o inferno: intimidação, degradação e profanação, isso é tudo o que nós encontraremos neste mundo. Entregue-se à mim, e só então você verá que estou acima dos céus para salvá-la. A frieza que se põe no ar, de onde você acha que ela vem? Como uma foice lançada sobre suas asas de esperança, um novo capítulo se inicia, mas você diz que já teve o bastante, que esta viagem já devia ter chegado ao fim! Afinal, para onde nós fomos? Para onde nós estamos indo? Nas janelas azuis atrás das estrelas, nós vemos uma lua amarela em ascensão, lançando sombra sob os grandes pássaros voando no céu. Você pode me ouvir agora? Todas as minhas mudanças estavam lá, em sua mente, e eu sei que você faria tudo isso de novo. Por que não há lugar onde você possa se esconder. Enquanto eles dizem: “você colhe o que planta”, eu digo: “ninguém sai daqui vivo”. Chega de falar do amanhã, o passado já passou e tudo o que existe é o hoje. A maré se afasta e as estações mudam pela chuva que lavou todos os sorrisos e as lágrimas, o que há entre todos os medos e amarguras é apenas um céu vazio e um deserto para enterrar o que sobrou por dentro. O livro está acabado, nenhuma página restou para virar, nenhuma carta restou a escrever, e eu me questiono se cheguei ao meu limite. Nenhum anjo de misericórdia ouve meu apelo, mas todas as palavras foram ditas, todos os segredos revelados e todos os dons foram passados adiante para a nova geração de tolos. Enquanto viro as costas, não há encargos em minha mente, pois até o fim dos tempos eu estarei compartilhando com você e entendendo que tudo o que permanece vira poeira. Este túmulo da vida, eu dou a você. O frio de novembro deverá sempre viver, mas eu cavarei um buraco e farei uma reverência apenas para te ver sorrir, encarando minha morte como a memória confortável de um sonho.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mausoléu

    Com olhos negros de sangue, eu assisto você dormindo. Dormindo como um morto, o calor que você sente desaparece lentamente enquanto uma voz insiste em chamar o seu nome: a consciência das visões do seu destino. Seus olhos estão lacrimejando de medo, mas não há limites para as barreiras que você impõe, pois seu corpo está enfraquecendo e perdendo o senso do que é real, apenas um caminhante das sombras sem nada para ganhar carregando péssimas e doces memórias. Você se desliga com um botão e finge que eu não significo nada para você, mas adivinha só, eu gostaria de escapar desta cripta, porém quando saio para vagar na neblina eu sinto que algo está faltando, por que as lembranças com você são como uma droga que nunca consigo parar de injetar em minhas veias. Embebido pela sua pulsação ensurdecedora, eu partilho as batidas do seu coração, embora eu só tenha travesseiros para abraçar e cicatrizes para passar o dedo na esperança de sentir alguma emoção do tempo quando você estava ao meu lado. Esqueça todas as merdas que nós passamos, eu quero morrer com você para nunca mais envelhecermos, pois estou definhando em minha própria angústia ao imaginar seu nome esculpido em pedra, mas não posso apagar as palavras da realidade crescendo por cima de toda essa ilusão que compartilhamos. Não vou mais aceitar esse seu ódio, você me faz se sentir morto quando falo com você. Você está infeliz e machucada por dentro? Engasgada com seu próprio orgulho, a mesa continua girando com rostos passando por você como vidros despedaçados da sua personalidade. As cores da sua infância te deixam cega, mas vendo a si mesma refletida nos olhos de um bebê, você não consegue encontrar nenhuma fresta de esperança na nuvem que te cobre. Você está me ouvindo? Eu sinto sua falta e estou cansado de todas essas despedidas, por que todas elas me partem ao meio desde a primeira vez. As chamas do nosso amor brilham intensivamente e clareiam a escuridão desde a nossa juventude, transbordando minha dor em alívio e prendendo meu espírito em um paraíso com você. Estas são memórias infectadas? Se isto não for verdade, então por que caralhos esses pensamentos estão em minha cabeça? Por que eu não posso correr e escapar de mim mesmo? Diga-me, por que eu sinto como se não houvesse saída? Você nem mesmo está perto de mim, mas em todo lugar que vou eu sinto você. Você pode me sentir ou apenas continua me dando outra amostra do seu veneno? Eu não voltarei a jogar o seu jogo infame, pois a sua respiração final será a minha posse... deus não está falando isso através da sua consciência? Toda minha negatividade te fez cair no silêncio, mas se eu te rasgasse e desse uma boa olhada por dentro, você ainda seria bonita? O que eu encontraria em sua mente por trás do seu disfarce? Eu preciso de um mapa para encontrar a saída do tempo, pois se você visse o mundo através dos meus olhos, então talvez você não se sentisse assim tão alta. Há pensamentos doentios escondidos em nossas mentes, mas o que eu mais penso é de quando você me fazia sentir emoções nunca sentidas, me segurando a você como areias que nunca atravessam o limite das ondas. Agora eu estou aqui para acabar com isso. Rasgue um furo em nossa amizade e encontrará o interior intacto, vendo minha loucura como uma bela ferida se abrindo e fazendo o som que explode seus tímpanos intocados pelos meus sentimentos mortos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Superestimado Anjo Caído

    No primeiro som havia apenas trevas. Nas águas um espírito pairava forçado a olhar para o céu, vendo uma luz no escuro entre a natureza do amor e poder absoluto. Ele vinha do alto, erguido em linha e caindo como uma pedra, fazendo a passagem para as almas despertarem com sua força mística. Ao longo dos anos seus entes queridos traziam a lembrança dos gritos enfraquecidos que coagulam no seu sangue como mil facas rasgando sua glória. O seu sangue era como a mancha vermelha do sol refletido no mar, um assassino das profundezas, com olhos pretos e um coração de gelo. Abastecido por pura ganância, ele mantém o fogo queimando, a fome em seus olhos parecem ecos de misericórdia, mas seus ouvidos são ensurdecidos e sua visão cega, engolido pela culpa de suas projeções, a sua dança é torcida pelo desespero, imagens mentais grotescas desfazendo sua personalidade delirante, com vozes infernais e violentas ilusões da sua fobia destrutiva pela fragmentação do ódio. Sonso e disposto, o mal goteja de sua língua como lama de porcos se espalhando por onde anda, coberto pelo arrependimento vago que, por sua vez, é desumanizado. Esperando dentro deste lugar atemporal, como pode viver ou escapar do seu destino, quando simplesmente não tem uma chance para se redimir? Ele é apenas um mensageiro da morte em busca do carnaval de almas para alimentar seu corpo sem forma e corromper-se pelo ressentimento ao gênero humano? Ele vê e sabe as coisas que você nunca viu, pois os pecados são como pêssegos em sua boca mastigando suas imperfeições. Quem saberia o que está escondido por trás do seu disfarce luminoso? Você é ingênuo demais para achar que seus pecados estão encobertos aos olhos dele? Hoje você fala com deus e ele diz que está envergonhado de você. Amanhã você fala com o diabo, mas ele jura que você não é culpado. Certo ou errado, eu mal posso dizer, o lado justo do inferno ou o lado errado do céu? Em algum momento você precisa enfrentar o seu verdadeiro eu sem deixar que o mundo inteiro passe por cima de você. Todos os lugares onde esteve e todas as coisas que viu, um milhão de histórias que compunham sonhos destruídos e rostos que nunca voltarão a aparecer novamente. Por que é quase como se o céu tentasse nos manter para fora da pureza da criação, com nossas memórias sendo naufragadas no esquecimento, este é o preço a se pagar por quem seguimos? O inferno simboliza as cinzas do que algum dia nós fomos, desprezados por um ontem que nunca existiu, a tensão constrói constantemente um cérebro vazio e híbrido impulsionado por um relógio que nos obriga a manter os olhos bem abertos. Esta ebulição dentro de nós que julga nossas intensões destrutivas, mas que não nos leva a nada, é uma teia conjunta para um labirinto de mentiras, deixados como órfãos famintos no núcleo vital da existência desaparecendo entre os abutres do palco. Nós estamos fartos e cansados. Em todos os infernos e mundos e em todos os espaços e lacunas flexíveis, esta auto-condenação precisa se desvanecer de nossas consciências, pois como um presente impresso nós iremos engolir nossos pecados e se libertar da culpa, assim como aquele que desafiou as raízes profundas da sua cabeça tão alto quanto as estrelas, destemidamente brilhante, enfrentando o vento das narinas divinas antes de curvar-se para o chão novamente. Para o calor forte do sol dourado seu corpo foi lançado, mas antes de todas as coisas renascerem, todos nós nascemos da explosão desta estrela caída, pois através do frio, com os olhos abertos, a força da vida se expandiu para manter o mundo sob seu domínio, então você aprende dolorosamente por que tudo foi criado a partir da noite. Obedeça a regra da luz e todas as coisas lhe serão acrescentadas, não são estas as palavras sagradas dos lugares mais elevados? Daqui de cima ele vê uma queda sem estrelas para seu lar, onde nós projetamos nossos maiores medos sobre a morte e esquecemo-nos do que é eterno, longe do estado superior da consciência desperta e da luz do mundo vindouro... todos os esforços para ignorá-lo são inúteis, pois este sangue e os batimentos cardíacos que você chama de vida são os quatro elementos do seu corpo em colapso um com o outro. Abra seus olhos e veja: você está morrendo, mas eu acho difícil acreditar que este quadro na parede é tudo, por que você pode espalhar minhas cinzas ao vento e até enterrar um pouco debaixo do solo, porém eu ainda continuarei vivo. Esta é uma outra dimensão para almas renascidas, nós estamos deixando este mundo de mentiras. Não tenha medo, não há nenhum calor para sua pele. Funda-se ao buraco negro desta forma misteriosa sob as ondas pesadas de concreto onde a procissão engatinha para purificar o mundo. Chamas, eu digo, um fantasma pálido ardendo e reunindo suas forças como um vórtice flutuante queimando árvores e toda criação deste cortejo fúnebre. Paredes de pedra agora se tornam água, estão nos levando pela mão enquanto o grande olho fala, eu finalmente vejo o destino pelo qual estávamos tão assustados, baleias nadando no céu, o planeta oceano está em chamas! Dentro deste mar de lágrimas e luz, louvado seja o sol, a matéria mais pesada e luminosa no coração da escuridão respirando seu silêncio dourado.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Além dos Azuis Rasos

    Contra o céu os fluxos de luz gritam por um estimulo, juntando os pedaços de nuvens para formar um novo começo. Pelos olhos de alguém que desconheço, eu sinto que ninguém pode se identificar com uma bola de carne que muda de formas, a ranhura da pele envelhecendo, os olhos que assistem a grande ilusão, os pés que levam os insensíveis para um lugar simplório. Preso em um mundo sem luz e tempo, nós suportamos a solidão dentro do espaço de um vazio inexistente, apenas poeira na eternidade que passa como um sonho de vigília. Por que dentro do que eu escavo, tudo é lembrado, meu passado é encontrado, mas eu olho no espelho apenas para achar a face de um estranho: eu comercializei essas mentiras apenas para matar a dor que corrói meu peito. Agora todos os dias o sol se põe e a lua sempre cai, dando a impressão de que o final simplesmente não importa. Assim, eu posso ser definido pelas coisas que não pude ser? O vento da esperança sopra frio, eu continuo tentando encontrar o que preciso para sobreviver, porém como procurar por algo que não existe? Alguém se importa com o que estamos fazendo? Alguém se importa aonde estamos indo? Com justificativas desperdiçadas, eu percebo duas realidades diferentes – aquela que posso viver de olhos fechados numa ilusão paradisíaca e aquela de olhos abertos onde expresso todos os sentimentos que me tornaram o que sou e atento-me ao fato de que uma amarga sensação de apreensão toma conta do mundo em que eu vivo. Não há uma terceira linha, não há um meio-termo. O fio tênue entre a verdade e a mentira é fino como a distância entre uma mente ignorante para uma consciência desperta. Em segundos, a visão do mundo se torna abstrata, e todas as coisas que você acreditava se tornam apenas crenças vazias. Apenas um passo no escuro, o que você está esperando? Se você acredita que o seu caminho é o único caminho, então você é somente mais um tolo que nasce para morrer. Você realmente acha que as portas do paraíso estão lhe esperando? Quando você chegar do outro lado, a verdade lhe espancará como a brisa quente do inferno em seu rosto, e fora deste buraco de ilusões, além dos laços que te prendem, você verá a face do criador diante de um espelho cósmico, refletindo a sua verdadeira essência, mas não se engane, não é você quem controla, apenas diga-lhe como se sente por viver uma mentira e então, grite, você sabe, suas memórias não foram apagadas, o vazio apenas aumentou em algum lugar diante das estrelas enquanto você estava quase em casa. Se eu pudesse curar as suas cicatrizes e mostrar o que você é, então talvez você não ignorasse essas palavras de sabedoria, pois quando estamos à deriva de uma maré cruel e amarga preferimos voltar para as margens rasas do que mergulhar profundamente. Afinal, o que é ser e o que é se tornar? Todas as nossas mentiras não servem a ninguém além de nós mesmos, elas escurecem a chama da verdade e passamos a enxergar a ilusão que cada um cria de si mesmo, um mundo de mentirosos iludindo-se uns aos outros. Eu não posso entender ou compreender, onde nós erramos? Será que não há mais e temos ido longe demais? Por que agora mais do que nunca o que menos precisamos é que o amor transforme o obsceno em algo bom ou bonito e um mundo cheio de guerra e destruição em um lugar emocionante para os idiotas. Estão todos cegos para enxergar o mundo como ele estava destinado a ser? Eu não posso continuar fingindo, simplesmente não posso continuar fazendo o papel de um homem que se olha no espelho e não sabe quem é, pois há vidas sendo destruídas, há corrupção, medo e morte em cada parte desse lugar que respiramos. Não está tudo bem, eu me agito e viro no espaço mais apertado da cama, sufocado pela entorpecida dor que é viver neste mundo, mas não posso encontrar o meu valor abrindo os ouvidos para todo bobo com uma opinião e línguas perversas que reescrevem a história. Como uma música desafinada, você não pode manter a verdade contida, não pode rasgar o véu da fraqueza, apenas escorregar na perturbação de um céu que nos reflete com um sorriso escuro.

sábado, 1 de outubro de 2016

O Grande Final: A ascensão da Alma Assassina

    Quando o mundo está quieto, nossos corpos inalam o perfume profano como uma penugem elétrica oscilando para aflorar a pele, celebrando uma mística ascensão enquanto os corações batem rápidos e fazem o momento durar. Hoje é a noite em que você deve ficar em casa e trancar suas portas, rindo em negação quando sabe que o fim está próximo, pois as testemunhas caladas nunca alcançam os sussurros da justiça. Este surreal fardo são como velas pretas escancaradas diante do espelho, refletindo cada pintura preservada em um olhar desanimado e revelando verdades por meio de mentiras como hinos fúnebres de mortos-vivos. A mancha obscura é incarnada, vozes escuras vindo da floresta, ligando sua alma com o azedo prazer do ninho dos ímpios: seus cânticos enegrecem seu coração, enluarando de prata os tons negros que vestem o céu e moldando sua carne seca para acasalar com um fantasma espúrio. As formas do seu ventre são como cálices cheios de sangue impuro, espalhando um veneno permanente como um efeito de droga anestesiando sua mente, mas a inesquecível e amarga lembrança da vida preservada é desmanchada com um sombrio deleite, repetindo a rima que revela o seu disfarce e reflete de volta seus arrependimentos. Como uma rosa moribunda num vaso de ouro, vagarosamente os pedaços restantes da sua história são riscados do livro da vida e a intenção de renascer apenas demonstra que o fogo reescreve suas linhas. A sombra da lua brilha sobre você, declinando sua alma para o desprezo e cedendo às tentações do senhor assassino, mas você é uma criança religiosa, dimensionando seu mundo sobre uma pedra que rasteja para o abismo bíblico, onde a verdade que você inala te sufoca com a escuridão desse mundo. Adeus grande ilusão, como acima, assim abaixo – uma pária de graças aos banidos e exilados, empalados na superfície da completa abominação. Como as impressões de um sonho, o sedutor cortesão noturno traça o feitiço na sua mente, banhando-se com seu suor enquanto os demônios rasgam sua carne até os ossos, com frios, mortos e secos dentes alimentando-se da sua carne mortal. Em êxtase diabólico, a saliva do seu beijo úmido goteja sobre o que resta da sua pele desnuda, um olhar tristonho e um sorriso maldoso, contemplando sua verdadeira aparência espiritual, pois é melhor ser odiado pelo que você é do que amado pelo que não é. As sombras tem crescido lentamente entorno de você, mas todos os dias você convida o sol ardente, esperando por sua preciosa aurora como um brilho profético do céu... se continuar insistindo nisso, eu sinto dizer que nunca viverá esta promessa vazia, pois amanhã será o dia em que abriremos uma nova porta e eu te arrastarei para dentro do desconhecido desejo de amor que fez você vender sua alma, conduzindo-o para a realização da sua glacial liberdade fraternal. Assim, eu derramo meus rasgos sobre seu coração. O inverno está se aproximando como da última vez, mas o anseio pela presença do amanhecer é maior do que todos os novembros tingidos de preto. Nossa busca chegou ao fim ou apenas começou? Ao longo dos próximos anos, a névoa da manhã irá acariciá-lo com os sons estáticos de uma amante à beira-rio como beijos suaves da natureza, lembrando-lhe que nada dura para sempre. As árvores respiram pesadamente, transportando seus crimes negros e consumindo cada momento da sua juventude infeliz, mas suas feridas continuam expostas para que todos vejam a sua vergonha.

Confissões Profanas

Sensual e Última Carta Anônima
Fim das Cartas Anônimas, Novas Cartas Anônimas, Secretas e Especiais Cartas Anônimas

Amada minha,
Antes de começar essa história, permita-me contar os sussurros que não foram ditos nas antigas cartas.
A vida é tão fria, uma estrada solitária com um objetivo difícil de encontrar ou um lugar surreal para se ver quando penso em todos os lugares que não pertenço.
Quando as estrelas da noite me emprestam sua luz, as cartas me mantêm aquecido, uma onda de calor que acompanha o clima cantando essas palavras imortais para você.
Às vezes, eu olho em direção ao céu buscando por respostas, mas tudo que eu ouço é a voz do silêncio, uma ressonância invisível que vibra através do som inexistente, sangrando pelos ouvidos e mordendo a mão que me alimenta: o segredo dessas palavras obscuras.
Elas nunca me pertenceram, pois elas não saem de mim, apenas refletem meus sentimentos através do que suas canções expressam.
Então, qual é a sensação de saber que as minhas palavras são música para seus ouvidos?
Eu percebo que o espelho nunca tenta esconder de mim quem eu realmente sou, mas a vergonha pulsa no meu peito, essa sensação de que estou sendo condenado sozinho.
Uma parte de você ainda me ama?
Por você, eu tenho o meu próprio livro de histórias, então para que minhas intenções sejam conhecidas deixe-me dispor de um breve momento para que você conheça-me pelo nome.
Essa tristeza mergulhada profundamente no meu sangue me abriga nas sombras, sentindo o peso do pecado me conduzir à perdição e levar-me para um holocausto mental.
Braços inertes, essa sensação me satisfaz, envolvendo-me numa clemência indesejada, com sentimentos animalescos despertando minha carne enquanto vivo reprimindo meus instintos.
Livrando-me de toda dor que é ser um homem, estes olhos não verão o mesmo depois do dia da profecia.
O amanhã pode não chegar, mas está tudo bem, eu sempre fui verdadeiro e sempre esperei tanto apenas para vir lhe abraçar como as raízes de uma árvore eterna.
Antes de acabar essa história, eu poderia arrancar meu coração bem em frente aos seus olhos, para que você comesse enquanto eu lambia o fio de sangue que escorre pela sua alma.
Pois a minha maior tragédia foi dar mais valor as minhas palavras do que àquela que me inspirou a escrevê-las.”

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Mundo Flutuante

    Olhando para fora desse mundo, meus olhos são obscurecidos pela neblina e eu sinto que há algo lá fora me esperando como uma respiração desconhecida ecoando dentro do meu coração cálido. Em súbito lampejo, uma imagem reveladora surge diante dos meus olhos: em toda terra e em cada nação, uma força invisível é criada por seu próprio povo, sem perceberem que o sonho que procuram é o que controla suas mentes. Acordando para um dia de nada, suas mentes se definem para trabalhar atrás de algo que acham que vão ganhar com uma esperança enfeitada, mas como todas essas coisas que sabemos são consideras permitidas ou forçadas a cada dia? Suas escolhas feitas são decisões vazias e forçadas de suas mentes, pois na escuridão eles vagueiam, procurando por uma luz na ilusão da infinita noite guiada por passos de angústia enquanto acreditam na felicidade que os tolos pregam. Existe a chance de fazer as pazes com nosso arrependimento? Veja bem, se tudo consiste em um estado de pensamento, então eu posso escolher entre ser feliz ou triste, cego ou desperto, por que o preço da felicidade é a ignorância e o da tristeza, a sabedoria. Por isso, toda luz que esmorece está se acendendo em outro lugar, um ponto de sequência dos dois lados extraviados que seguem um curso chamado de sistema. Em outras palavras, estamos sendo manipulados por nós mesmos? Olhe com uma real dureza para si mesmo e veja se pode encontrar a luz que queima no interior luminoso, você perceberá que estamos sempre a andar no mesmo demasiado percurso, travados por um sonho de longo prazo, cada um de nós e todos que fazem parte da sua vida, perseguem uma auto-realização para se sentirem abençoados, mas é sempre tarde demais para corrigir o destino do ontem. Hipnotizados pela canção da neblina, procuram por uma resposta, mas seus corações já estão cansados dos jogos que todo mundo joga. No fundo da sua mente, vive uma força que você não pode sempre encontrar, mas que te chama incansavelmente, o que é profundamente interno para você saber que é uma chamada verdadeira. Mas você não pode pará-lo, pois sua voz é clara e tem suas mãos em tudo o que você faz, tomando seu poder em um piscar de olhos todas as vezes que você abre a boca para falar, afinal ele vê o que você pensa e sabe exatamente o que você vai fazer, o seu tempo está em suas mãos e a estrada para o seu céu é alinhada com arame farpado. São apenas histórias que lhe contaram? Nós somos o vento e a chuva dos céus, nós lançamos as sombras para enfrentarmos o sol e temos as respostas para tudo o que seremos eternamente, porém para despertar e enxergar a verdade, é preciso pagar o preço da morte e sair do mundo terreno para o mundo flutuante: o lugar invisível que nos cerca desde que éramos um bebê afogado no útero, onde as percepções do mundo real são refletidas de acordo com as dimensões dos planos superiores. Existem pontos na terra onde é dito existir uma concentração de energia diferente, e sendo a energia uma habilidade de produzir um efeito, logo nossos sentimentos, pensamentos e vitalidade são energias. Entretanto, para que alguém possa passar para outra dimensão, é preciso que portais sejam abertos. Os portais são, em suma, uma lacuna ou ruptura entre duas ou mais dimensões paralelas. Em alguns lugares estratégicos no globo, onde monumentos foram erguidos seguindo um certo rigor geométrico para que houvesse uma concentração e liberação de energia diferente, os portais foram abertos para a livre passagem de seres de outra dimensão. De acordo com grupos ocultos, tais entidades teriam feito alianças com homens do passado para que fossem abertos vários portais em todo mundo, isto é, uma conexão entre os dois mundos. Possivelmente o conhecimento para a construção dos portais dimensionais e o procedimento dos rituais foram seguidos sob as condições exatas de tempo e espaço. Uma vez aberto o portal, os seres espirituais podiam ter livre acesso sob a região. Ao longo dos séculos, mais e mais alianças foram estabelecidas por homens ou povos para que novos portais fossem abertos, mas hoje em dia, os grupos ocultos já aprenderam a realizar tais efeitos sem a necessidade de megalíticos. Mas qual o objetivo da abertura dos portais? A astrologia foi passada para quase todas as civilizações antigas e teve um importante papel na formação das culturas. Os povos do mundo antigo não dispunham de certas técnicas ou de uma matemática avançada para conhecer o movimento e as posições dos corpos celestes com tanta precisão. Nas grandes pirâmides, por exemplo, somos defrontados com a verdade de que quem quer que tenha feito o monumento, apesar de na época a humanidade acreditar que a terra fosse plana, sabia calcular a longitude e a latitude da terra como uma esfera. A história também mostra que muitas culturas tiveram visitantes celestiais que se relacionaram com humanos para produzir uma super-espécie. Existem lendas semelhantes a essa em diversas civilizações e culturas antigas. A própria bíblia sagrada conta um relato sobre isso, quando nos revela sobre os primórdios da criação e a queda dos anjos caídos. Esses anjos teriam ensinado homens habilidades avançadas, mas visto que desobedeceram a deus, pecando por orgulho, como se pudessem tornar iguais ao criador, foram, por esse motivo, lançados para fora do céu à terra. Posteriormente, conhecidos por demônios, esses anjos caídos procurariam induzir o homem ao mal e arrastar o maior número possível de almas humanas para o inferno. Portanto, os portais servem para que esses “seres espirituais” tenham acesso ao nosso plano dimensional, mas é difícil saber o real significado ou o objetivo para que eles possam ter o direito de governar sobre nós como deuses. Por essa razão é preciso despertar do sono existencial para enxergar além do que nossos olhos comuns podem ver: a verdade para os seres humanos é aquilo que for repetido várias vezes. A grosso modo, eu ainda estou no meio do caminho, com abraços abertos para um novo recomeço, mas a razão está muito além do que o amanhã vai me mostrar, pois tudo volta a partir do que temos aprendido e tudo será o que nunca veremos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O Castigo da Glória

    Nosso sol está se pondo, nosso dia já se foi, mas o vento frio sopra o riso das crianças ecoando através das paredes. Quando olho para cima, o silêncio das estrelas esconde tudo, e pergunto-me: onde está a luz que brilha tão clara? As sensações mudam, mas nós continuamos os mesmos, com nenhum dos nossos feitos em vão, pois todo momento solene é guardado na memória como um vento silencioso apagando uma vela. Ajoelhado, eu rezo coragem para essas almas vivendo em corações destemidos, deixando a dor vendada com a neve chorando suas lágrimas de inverno e enfraquecendo a luz muito além daquela estrela brilhante. Nós sentimos a escuridão enfraquecer o sol da manhã nascendo, os sentidos se entorpecem e enervam as mentiras que contam para nós, um flash de luz clamando pelos escolhidos, o coração celeste, a sabedoria, a voz que chama de dentro, mas poucos são os que dão ouvidos. Logo o tempo esquecido vem outra vez, trazendo o rastro da tristeza marcado na memória, andando sozinho em sonhos amorfos, pois cada pequeno instante é um milagre nessa terra devastada onde o calor do sol parece tão longe. Sem destinatário para dar sentindo ao que estou dizendo, eu estou andando como uma bomba relógio sem fusível, apenas tripas e sangue coagulando, com poderes fantasmagóricos controlando o meu novo gênese espiritual, onde os espíritos voam livres e escolhem seus próprios destinos, unos com o vento e defensores da criação. Voar alto, para amenizar a dor ardente, com as cores borrando através da chuva no fim do arco-íris, onde um clarão na noite e uma viagem pelo tempo nos guarda na proeza e vontade de sobreviver para sermos liderados pela luz guia que nos acorrenta na chama eterna. Unidos, ficamos juntos. Cumprindo nosso destino, estamos atendendo ao chamado da grande obra de deus: os portões de sombras marfim se abrem e nós caímos em devaneios, onde tudo que você vê são seus sonhos realizados e as palavras faladas em um momento sóbrio, pois a liberdade não vem daquilo que você possui, mas do conhecimento e da confiança em si mesmo para recomeçar novamente. Veja o bandido sozinho sob o sol ardente, você acha que ele sabe o que está fazendo? As terras hostis agora são o seu lar e não há nenhum sinal de vitória, pois ele perdeu a sua liberdade. O perseguidor de todos os perigos veio cobrar seu pedágio, e na calada da noite ele surge como um fora-da-lei fugindo da lua radiante, renegando seu pecado e andando na terra da sombra sem som como um impressionante réptil feroz e traiçoeiro. Arrastando-se através do vale de chuva e trovoada, o dragão, isto é, a serpente jaz sangrando, com o castelo do éden a observando silenciosamente de cima, enquanto a escuridão a cerca. Nós olhamos através dos olhos do mundo, e sabemos que há um estranho entre nós, aguardando um sinal de cima para conquistar o seu poder e a sua glória. Venha, feche seus olhos e aproxime-se de mim, sinta minha respiração sob sua pele e seja puxada pela mão assassina para quebrar essas correntes e voar, pois ninguém pode negar que o nosso futuro está definido a chegar além dos céus. Acima da glória nós vamos continuar, mas o campo de batalha está brilhando vermelho com o sol iluminando os mortos. Enquanto eu cubro a trilha atrás de mim para ficar fora da luz, eu sei que há algo vivo na escuridão, eu posso sentir o seu poder e a sua força: não há lugar para ele no céu, condenado a cavalgar aqui para sempre, este será o seu último lugar para morar. Com vulgares moscas e corvos a chorar, sem estrelas brilhando no céu escuro, seus olhos vermelhos se transformam em preto, e ele é abandonado pela criação perfeita. Como uma luz num beco vagarosamente indo embora, ele se torna uma lembrança despedaçada, e se antes brilhava com todo seu esplendor, agora as trevas o aprisionam em cadeias eternas. Orgulhoso de seu reino por intervenção divina, o gosto do sangue e doce vingança parecem amargos na sua boca, então, o morcego acorda de seu sono profundo. Rendendo sua alma, rendendo seu orgulho, você quer que eu volte e lute por quem eu sou? Nós não sabemos, nós não sentimos, nós não vemos, nós não falamos, nós não ouvimos. Estas são as suas três tentações escritas: a luxúria da carne, a luxúria dos olhos e finalmente, o orgulho da vida. Possuindo sua alma, essas tentações encobrem os demônios que influenciam, atirando sombras na luz para construir uma terra de caos trazida do abismo que reflete aquele que nos governa. Há somente puro mal e indiferença sobre seu nascimento, mas na tumba dos mortos, um homem respira sozinho, escurecendo seu trono na espera do grande dia final.

Cronologia