segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Além dos Azuis Rasos

    Contra o céu os fluxos de luz gritam por um estimulo, juntando os pedaços de nuvens para formar um novo começo. Pelos olhos de alguém que desconheço, eu sinto que ninguém pode se identificar com uma bola de carne que muda de formas, a ranhura da pele envelhecendo, os olhos que assistem a grande ilusão, os pés que levam os insensíveis para um lugar simplório. Preso em um mundo sem luz e tempo, nós suportamos a solidão dentro do espaço de um vazio inexistente, apenas poeira na eternidade que passa como um sonho de vigília. Por que dentro do que eu escavo, tudo é lembrado, meu passado é encontrado, mas eu olho no espelho apenas para achar a face de um estranho: eu comercializei essas mentiras apenas para matar a dor que corrói meu peito. Agora todos os dias o sol se põe e a lua sempre cai, dando a impressão de que o final simplesmente não importa. Assim, eu posso ser definido pelas coisas que não pude ser? O vento da esperança sopra frio, eu continuo tentando encontrar o que preciso para sobreviver, porém como procurar por algo que não existe? Alguém se importa com o que estamos fazendo? Alguém se importa aonde estamos indo? Com justificativas desperdiçadas, eu percebo duas realidades diferentes – aquela que posso viver de olhos fechados numa ilusão paradisíaca e aquela de olhos abertos onde expresso todos os sentimentos que me tornaram o que sou e atento-me ao fato de que uma amarga sensação de apreensão toma conta do mundo em que eu vivo. Não há uma terceira linha, não há um meio-termo. O fio tênue entre a verdade e a mentira é fino como a distância entre uma mente ignorante para uma consciência desperta. Em segundos, a visão do mundo se torna abstrata, e todas as coisas que você acreditava se tornam apenas crenças vazias. Apenas um passo no escuro, o que você está esperando? Se você acredita que o seu caminho é o único caminho, então você é somente mais um tolo que nasce para morrer. Você realmente acha que as portas do paraíso estão lhe esperando? Quando você chegar do outro lado, a verdade lhe espancará como a brisa quente do inferno em seu rosto, e fora deste buraco de ilusões, além dos laços que te prendem, você verá a face do criador diante de um espelho cósmico, refletindo a sua verdadeira essência, mas não se engane, não é você quem controla, apenas diga-lhe como se sente por viver uma mentira e então, grite, você sabe, suas memórias não foram apagadas, o vazio apenas aumentou em algum lugar diante das estrelas enquanto você estava quase em casa. Se eu pudesse curar as suas cicatrizes e mostrar o que você é, então talvez você não ignorasse essas palavras de sabedoria, pois quando estamos à deriva de uma maré cruel e amarga preferimos voltar para as margens rasas do que mergulhar profundamente. Afinal, o que é ser e o que é se tornar? Todas as nossas mentiras não servem a ninguém além de nós mesmos, elas escurecem a chama da verdade e passamos a enxergar a ilusão que cada um cria de si mesmo, um mundo de mentirosos iludindo-se uns aos outros. Eu não posso entender ou compreender, onde nós erramos? Será que não há mais e temos ido longe demais? Por que agora mais do que nunca o que menos precisamos é que o amor transforme o obsceno em algo bom ou bonito e um mundo cheio de guerra e destruição em um lugar emocionante para os idiotas. Estão todos cegos para enxergar o mundo como ele estava destinado a ser? Eu não posso continuar fingindo, simplesmente não posso continuar fazendo o papel de um homem que se olha no espelho e não sabe quem é, pois há vidas sendo destruídas, há corrupção, medo e morte em cada parte desse lugar que respiramos. Não está tudo bem, eu me agito e viro no espaço mais apertado da cama, sufocado pela entorpecida dor que é viver neste mundo, mas não posso encontrar o meu valor abrindo os ouvidos para todo bobo com uma opinião e línguas perversas que reescrevem a história. Como uma música desafinada, você não pode manter a verdade contida, não pode rasgar o véu da fraqueza, apenas escorregar na perturbação de um céu que nos reflete com um sorriso escuro.

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