domingo, 20 de novembro de 2016

A Nova Era da Aurora

    Tão vazio, eu sinto apenas a casca do que restou de um homem. Mãos no volante, tudo está logo à frente, só mais uma ponte para atravessar e encontrar meu caminho até você. A porta está aberta, mova seus pés e entre, eu estava esperando por você. Sinta os meus olhos se espelharem no sol poente, calejado e tempestivo como as linhas de um rosto. A linhagem da minha alma suja é exposta para que você me reconheça, sem vida e azul como a recordação remota da tranquilidade. Por estradas intermediárias, nós fazemos um passeio pelos jardins da imundície, onde cada pequena memória de nossas diretrizes obscenas expele na velocidade do som, vendo as coisas puras sendo engolidas pela escuridão do tempo. Percorrendo os caminhos que cantam o desconhecido, chegamos a um lugar onde você tropeça e ninguém se importa, as pessoas incomuns e bizarras são como amigos que você sempre ansiou em conhecer, nunca pensando no próximo dia, apenas um sonho rodopiante e interminável de si mesma bebendo, vomitando e começando tudo outra vez. Esqueça tudo o que você sabe e tudo o que você aprendeu, através da luz mais escura eu te mostrarei um mundo diferente de tudo o que eles querem que você veja. Espelhos distorcidos, você se vê em um mundo apagado, cometendo suicídio todos os dias no show do arquiteto do ódio. Como águas enegrecidas te cobrindo, você não vê o olho que te observa, nunca satisfeita com o lugar onde você está, pois não enxerga as mãos invisíveis tirando tudo o que você têm. Eles te entediam até a morte, apenas dias e anos diferentes sem nenhuma pista do que estar por vir, dramaticamente cansada do auto-abuso enquanto ouve um som que soa parado como um cadáver que não pode ser morto. Perdida e sem rumo, você espera por um punhado de luz do sol como quando dizem a uma criança que ela não pode brincar, não é engraçado? A casa que você construiu não é mais a mesma, sentindo uma necessidade interna por coisas novas ou por uma vida estável, mais uma vez você quase chega lá, mas não consegue voltar para contar onde estava indo. Como um espiral de escuridão, nós continuamos rodando e caindo direto para as profundezas do inferno. Não há mais nenhuma alma para vender, pois todos já venderam suas almas ouvindo o sino fúnebre da condenação eterna. Mesmo assim, eu continuo dirigindo nessa estrada sinuosa com você ao meu lado, as massas se reúnem para tentar nos derrubar como uma máquina de ódio desfigurando seus rostos, mas no fim não é somente por que estão todos carentes? As rodas estão rolando e nós estamos correndo cegos sem sinais para nos desacelerar, vendo um mundo quebrado e destruído com pessoas gritando por algo que nunca souberam o que é. Cinzas voam, cinzas queimam, mas as escolhas que você fez não te servem de nada agora, pois o sol está escurecendo e uma nova aurora negra surgindo para exterminar o seu passado. As almas sangram longe de casa e não há ninguém para socorrê-las, nem mesmo o seu jesus apocalíptico... apenas queimaduras da pira funerária onde todos nós seremos lançados. Tudo o que temos dito e feito, de que valem agora? Cale sua boca, você é apenas uma mula na realidade e a sua fé é cega! Assim como uma nota velha, a sua verdade se tornou uma grande mentira, o chão chacoalha e sacode sua mente, abrindo o abismo para um lago de fogo cheio de arrependimento. Então você acha que acabou? Você achou que, finalmente, escaparia de uma vida de mágoa, vazio e tristeza? Não, querida, deixe-me clarear sua mente: os campos dos imperdoáveis nunca morrem, eles apenas começam. Os oceanos de desprezo afogam os mentirosos e os ladrões, e eles desaparecem na escuridão da negação e repressão, uma vontade que não pode ser curvada alimentando o fogo que nunca se apaga. Você achou que nós viajaríamos para o céu? Não seja ingênua, esta é uma viagem para o inferno: intimidação, degradação e profanação, isso é tudo o que nós encontraremos neste mundo. Entregue-se à mim, e só então você verá que estou acima dos céus para salvá-la. A frieza que se põe no ar, de onde você acha que ela vem? Como uma foice lançada sobre suas asas de esperança, um novo capítulo se inicia, mas você diz que já teve o bastante, que esta viagem já devia ter chegado ao fim! Afinal, para onde nós fomos? Para onde nós estamos indo? Nas janelas azuis atrás das estrelas, nós vemos uma lua amarela em ascensão, lançando sombra sob os grandes pássaros voando no céu. Você pode me ouvir agora? Todas as minhas mudanças estavam lá, em sua mente, e eu sei que você faria tudo isso de novo. Por que não há lugar onde você possa se esconder. Enquanto eles dizem: “você colhe o que planta”, eu digo: “ninguém sai daqui vivo”. Chega de falar do amanhã, o passado já passou e tudo o que existe é o hoje. A maré se afasta e as estações mudam pela chuva que lavou todos os sorrisos e as lágrimas, o que há entre todos os medos e amarguras é apenas um céu vazio e um deserto para enterrar o que sobrou por dentro. O livro está acabado, nenhuma página restou para virar, nenhuma carta restou a escrever, e eu me questiono se cheguei ao meu limite. Nenhum anjo de misericórdia ouve meu apelo, mas todas as palavras foram ditas, todos os segredos revelados e todos os dons foram passados adiante para a nova geração de tolos. Enquanto viro as costas, não há encargos em minha mente, pois até o fim dos tempos eu estarei compartilhando com você e entendendo que tudo o que permanece vira poeira. Este túmulo da vida, eu dou a você. O frio de novembro deverá sempre viver, mas eu cavarei um buraco e farei uma reverência apenas para te ver sorrir, encarando minha morte como a memória confortável de um sonho.

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