quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Sob o Mesmo Céu

    À medida que o tempo passa, meu caminho parece menos definido, cada fachada é desunida, cada aspecto da alma muda diante das vozes que se mantém gritando, mas como sonhos de alguém que nomearam com o meu nome, eu pareço atravessar sólidas âncoras de um sentimento humano, tentado a olhar para trás, porém os caminhos pisoteados parecem ultrapassados, enquanto olhos vazios me vigiam dizendo por qual caminho eu devo seguir. Assim, eu sento ao redor da margem desse sentimento, assistindo meu orgulho sendo espalhado pela areia entre os reluzentes raios do sol, com meus pensamentos abraçados pelo nada, tão inocente como a fresca neve jovial. Para fugir dos meus vícios, eu sigo esses passos evanescentes, livre da fúria e da preocupação, refletindo sobre como poderia ser uma vida cheia de amor e magia. Como terras proibidas que sempre desejei ir, eu ouço as árvores falando comigo e todas elas carregam a sua voz, movendo-se adiante ou escondendo as consequências, apenas uma nova vida e um novo jeito de recomeçar. Eu coloquei toda minha confiança em você, para que pudesse me bisbilhotar por dentro no abismo que eu tento esconder. Mas por que a escuridão foi embora? Por que eu não morri? Eu sinto como se todos os meus desejos profundos estivessem se tornando realidade, um mundo no qual só nós dois teríamos ouvido falar. As batidas do meu acalentado e esquizofrênico coração permanecem em silêncio, escondendo o que está por trás dessa sensação de que tudo irá se encaixar quando eu estiver ao seu lado. Nesses momentos, eu me pergunto se serei aceito por vocês, como quando ingressamos para uma prestigiosa faculdade e adentramos um mundo completamente diferente daquilo que um dia imaginamos. Mas a dor é única, uma chama que incinera e ameaça queimar tudo, sem ilusões ou seduções, quando chega o momento certo: eu preciso estar aonde fui destinado a estar, acreditando que vocês são os únicos quem poderiam me levar para este lugar longe da neblina que assombra minha mente, com estrelas sobre um céu escuro curvando-se à vontade de deus, este lírico que confirma minha rendição. O mundo ao meu redor está desaparecendo por sonhar ter uma nova família como um homem mudo e cego pelo desejo. Para mim não resta outro recurso a não ser fugir e um dia retornar para ser reconhecido, pois este é o meu epitáfio, a hora de despertar e conhecer as maravilhas que os olhos comuns não podem ver, desde o momento que vi pela primeira vez como um presente disfarçado, implorando para ter o que estava longe do meu alcance. Agora você está aqui e tudo parece fazer sentido novamente, eu ouço ecos do tempo que já passou, mas que me levaram para longe do hoje.  Veja, sua linda e negra pele possui a cor do pecado, mas seus olhos brilham com a luz que me leva para o paraíso. Todos os segundos eu busco uma resposta para nenhuma pergunta, pois quando estou com você somente o momento importa. De sua boca sai um som amargo, mas que se adocica toda vez que eu me aproximo. Parece que estou almejando alívio desta certeza escura, que haverá algo pelo qual tudo isso valerá a pena. Eu divago pela noite e estou pronto para dar um último passo, seja do penhasco que dissipará minha vida ou do recomeço que suas mãos me carregam para o grande desconhecido.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Abdução

     Mais rápido do que a presença do ceifeiro, minha vida fútil está a ponto de terminar, mas para matar a arte é realizada pela lâmina. Eu abro a porta do terror e ouço a multidão exigindo por um herói, as lendas nascendo como sussurros que preenchem o ar, em busca de glória e fama, enquanto o olho do mal brilha no escuro. Com as mãos agarradas no crucifixo, a luz da minha tocha lança sombras na parede, vendo uma criatura sem nome esperando pelo falecimento da raça profana. A noite fria e enluarada não consegue mais esconder o seu sangue negro escorrendo pela minha face, pois como uma espada de fumo me cortando, o negro desce e me separa em um espelho fragmentado, ouvindo sons frágeis de ódio ecoando na minha mente perversa. À deriva nas sombras, o focinho da madrugada funga seu vento congelante, sentindo meu crânio condensar as mensagens do mundo vindouro: a porta do além está aberta, mas quando olho para trás os lapsos do tempo revelam outros mundos secretos, puxando minha alma por um vento repentino que aumenta as chamas do meu testamento férreo. Então eu me pergunto, com esta faca envenenada em minhas costas, minha vida está por um triz? O toque do pecado sempre é doce como os sonhos que se tornam realidade, mas eu vejo tantos pássaros voando por cima de mim e penso em quantas coisas se passaram em minha direção sem que eu enxergasse o quão maravilhosa é a criação, pois cada passo é uma dança na borda da mandíbula gelada, uma realidade à flor da pele que sentimos quando estamos despertos. Eu tenho saudade do calor frio que corre pelas veias quando o perigo se aproxima, cada polegada encharcada de sangue que me arrepia através da interminável sensação de que o pesadelo nunca termina. Mas na manhã seguinte o sol acorda silenciosamente como um exemplo brilhante para todos, transformando o céu nublado em olhos observadores, uma nuvem de neblina lentamente acalmando meu coração e afastando a escuridão, enquanto tudo ainda está dormindo. Até os vermes que comem meu rosto se escondem nos escombros para que a luz realinhe minhas feições como um sopro gelado rasgando a podridão da minha decadência. O meu peito esquenta e as lágrimas quentes jorram em minha face sem permissão, afinal tudo parecia acabado, mas a própria criação me trouxe de volta à fonte da consciência, onde os pensamentos são reorganizados para encontrar uma solução do problema. Portanto, por que eu desistiria de viver, se a própria vida deseja que eu viva?  Assim, não importa quantos olhos escuros estejam mirados em mim, nem quantos predadores desejem o meu sangue fresco, eu posso correr para qualquer lugar e ninguém poderá me impedir, pois a única coisa que me separa da verdadeira felicidade é o medo de viver intensamente. Quando as tempestades da loucura chegam gritando no ar, uma erupção vociferante tenta destroçar os portões da mente, porém quanto mais consciente da minha dor eu estiver, menos chances eu terei de ser penetrado pelo furor da chama do desespero, por que eu sinto que o circulo das escolhas está delimitado por um sinal, uma união de almas ensombrecendo a vela acesa, numa profundidade subaquática que se delineia na cera para incinerar o combustível que alimenta a vida. Ora, talvez você que está lendo nunca consiga entender a razão pela qual eu escrevo estas palavras, mas quero que saiba que quando eu as leio, elas me lembram de quem eu sou. Como um bobo se perdendo em suas risadas, eu atravesso o véu destas linhas para encontrar um lugar secreto no vento através dos limites do espaço-tempo, onde verdadeiro e falso são somente os lados invisíveis de uma mesma verdade voando sobre minha cabeça como um tormento forte, para tocar na magia que ilumina o momento e ouvir o significado da voz que sussurra o meu nome.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Volúpias da Estrela Rutilante

     Tentado a se mover ao anoitecer, eu olho para o relógio das sombras, mas meu corpo está frio e enrolado como um feto, sendo regado por um filtro de sangue que excita minha carne. Minhas cordas vocais são arrancadas e o único som que eu ouço é de advertência, uma voz fraca que diz para eu parar de fugir do meu destino até que o destemido dia venha e o ato esteja completo, pois a expressão da minha vida é uma blasfêmia. Quão engenhosos foram todos aqueles anos de mentira? Escondendo da minha família a verdade, àquelas horas esperando encontrar uma centelha da sua luz boreal, por que o sofrimento de um homem sempre recria o processo da dor novamente, vendo a consciência como uma maldição, porquanto mais você abre os olhos, mais você despreza o formato da criação. Eu posso ouvir meu coração chorando, lembrando-se do sol batendo nas costas, enquanto o gosto de azeitonas e prazeres se congela na minha memória. Agora a grama nunca foi tão verde, acordando em algum lugar lá fora, eu tento encontrar qualquer sentido para toda essa miséria, torcendo minha cabeça e empurrando-me de volta aos eixos da luz azul, estou vagando debaixo das águas e nenhum som me atormenta como chuva caindo no meu rosto e lavando toda minha tristeza. Eu só preciso de uma palavra do homem lá de cima, antes que você me veja caindo, atravessando tão fácil essa onda gigantesca que nos separa, para que eu possa ficar mais perto de você. Vamos querida, diga as palavras novamente, não guarde essa mágoa como conchas preciosas, pois esse sentimento que você esconde sempre gritou pelo meu nome. Talvez você não saiba o que significa estar só, mas quando você está acompanhada o vazio preenche seus olhos, uma sensação que nunca te deixa triste, por que minhas palavras sempre caem em seus ouvidos surdos. Enquanto o sol mostrava uma sombra cansada, meus lábios se encobriam de mistério, tentando lhe dizer a verdade sobre este sentimento que te persegue, pois o nosso amor está muito acima das emoções humanas. Não importa quantos séculos se passem em um segundo, o caminho estreito e sinuoso sempre nos levará para o mesmo lugar, embora estejamos sempre nos desviando dele. Eu não possuo palavras sempre feitas, exceto por você, esse enxame de inspiração que transborda com a lembrança do seu rosto, puxando minhas terminações nervosas como uma música que se repete na minha cabeça, escrito na minha pele, correndo pelas minhas veias, expelindo por meus poros abertos... minha eterna amada aurora, com tantas terras e novos horizontes, onde foi que eu errei para que você partisse? Surfando em meio às ondas e tentando encontrá-la através delas, o vento me levou para o golfo do desespero, onde o redemoinho continua me puxando para baixo, enquanto vejo um pássaro dourado abrindo suas asas no sol, tão orgulhoso e vaidoso, cantando a sua canção de ninar para mim. Esse pássaro é você? Então, por que não posso ser como você, voando tão alto como uma pipa? Não seria melhor do que você descer para um mergulho? Venha viver comigo e me ame na escuridão, tão profundo e escuro quanto um eclipse solar, coberto por águas de um espiral eterno. Você acha que o céu é mais alto do que a terra? Eu te daria todas as estrelas do céu, até que a lua estivesse completamente só, apenas para sentir seu beijo novamente, por que seus lábios transbordam todo o amor das constelações do universo e toda harmonia selvagem da natureza, acima de qualquer sensação que eu possa descrever, uma canção que me despe de corpo e alma, aumentando a temperatura do meu ser, enquanto flutuo acima das águas para lhe dar um abraço e cobri-la numa montanha de cristal. Como uma estrela caindo por vontade própria, a sua luz reluz na escuridão, enquanto dançamos no salão aquático do mar negro da mente. Aos poucos eu vou cobrindo sua cabeça, esfriando no silêncio, à procura de um refrão inovador, mas a sua canção se resume a versos que ninguém ouve lá de cima.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Vivendo Uma Prece

    Lá fora, o assobio dos pássaros me convida para um passeio como vozes que manipulam o vento numa prece silenciosa. A febre tenaz do amanhecer pousa sobre minha pele como neve derretida, flutuando acima da grama, um poder latente que a luz esconde para manter alguma esperança viva. Com gosto de saliva das nuvens, esse amanhecer parece mascarar meu desdém, enterrando na beirada dos escombros as lembranças de uma existência marcada. Antes que desça pela minha garganta, eu preciso dizer um misto lúcido de palavras para esses pássaros barulhentos invadindo minha remota quietude. Sobre a pintura de um céu violeta, este segredo guardado é algo que eu nunca poderia revelar, mas tome seu último fôlego e mergulhe, pois esta noite será feito o meu sacrifício final em uma cova sem nome. O meu pecado está sobre meus lábios, fingindo números felizes em um mundo com promessas de amor eterno, porém através da estação os fantasmas estão dançando a serenata das lágrimas vermelhas, onde qualquer coisa que leve a dor embora valha mais do que descartar o tempo com espiritualidade. Escondido por trás de doutrinas, as vozes de ídolos cantam em códigos e louvam uma imaginação devassa, com círculos infinitos de uma doença que se espalha e esconde o grande hierofante, uma verdade além dos fluxos dimensionais da nossa realidade distorcida, com mudanças que poderiam alterar sua superfície embebida no sangue das igrejas. Esta máquina fantasma que cultivamos interiormente é o mesmo mistério que está seguro entre os mortos, bebendo suas lágrimas como olhos estremecidos de uma boneca sem vida, mas assim como há falsas lições de um professor, também há coisas que ninguém ainda sabe se não aquele que tudo sabe. Você acha que sabe muito? As revelações ponderadas que podemos ter são apenas poeiras silenciosas nos olhos de deus, e mesmo que legiões avancem rapidamente sobre os campos para perseguir seus pensamentos, quem poderia enfrentar os limites da sabedoria? O saber é como um frio punho de metal que dilacera os ossos, por que aquele que observa sem nada fazer apenas dorme em um sonho de pintor, mas o seu vazio sempre será como antes, ouvindo bem o que os demônios pregam como vultos de cabeças rindo na sua cara. O mal não tem descanso, ele prossegue contra os frágeis peões deste jogo celeste condicionados por suas horas cinzentas. Eu aposto que no seu último suspiro você reclamaria para mim, não é verdade, minha doce pequena coisa? Portanto, o que nos mantém andando em linha? Quando nos olhamos por um longo tempo diante do espelho, percebemos que as reflexões começam a mentir quando o espelho sabe demais, pois nossas feições se fragmentam através de realidades distorcidas, então pacientemente esperamos pelas formas que trazem o rosto que estamos acostumados a ver, mas assim que viramos nos esquecemos do que vimos, por que a reflexão da beleza ou da feiura não existe. Da mesma forma, as religiões lutam uma contra outra por que possuem o mesmo pai e a mesma mãe: elas desejam o mesmo, mas a arrogância as faz esquecer-se do que estavam buscando, inventando mentiras para que uma única e simples verdade seja embrulhada em plástico e vendida. Não há tal coisa chamada morte, não há fim para você, não há fim para mim. Aqueles que não aceitam essa verdade são reencarnados, repetidas e repetidas vezes, como um homem teimoso que só aprende depois de estar no fundo do poço sem uma corda para se salvar. Mas chega um dia em que não é mais preciso encarnar – é quando o espírito atingiu o cume da evolução, quando não precisa mais da matéria para evoluir. Sendo assim, até que se torne espírito puro, a criatura humana precisa da matéria para aprender e adquirir os valores intelectuais e morais que se incorporarão ao ser imortal. Por essa razão são necessárias muitas e muitas encarnações para terminar o aprendizado. Não é isso o que nos mantém em órbita? Ora, se as premissas são verdadeiras, você não pode negar as conclusões, para que não se encontre irracionalidade, por que as conclusões seguem com necessidade lógica das premissas. Então, a única maneira de negar a conclusão é você mostrar qual das premissas é falsa. Portanto, os homens reencarnam porque é da lei de progresso que exista o aperfeiçoamento constante, isto é, a necessidade de nos tornarmos melhores. E de que outra maneira isto seria possível, se não através da vida após a morte? É por isso que as religiões presam tanto o espírito sobre a matéria, por que a matéria é passageira e todos sabem disso. Como o sentimento de uma criança, é tempo da humanidade viver em plenitude com aquele que nos criou... venha comigo e deixe o seu ontem para trás... ou tudo que você encontrará no final é o recomeço de um passo gigantesco fora da sua mente. Eu vou te mostrar onde o sabor da vida está esperando, pois sempre que acordamos não há o mesmo percentual para se lembrar do que se passou. Deixe-me vestir o seu traje de felicidade graciosa com um toque suave de ternura, com asas de arco-íris te levando para o paraíso, o lugar onde os iluminados vivem e ensinam que o céu está numa caravana pulando de uma existência para outra. Eis a fonte da especiosidade, o removedor do mal e a extremidade benevolente, suas sentenças são a essência do conhecimento, onde os animais selvagens guardam seu mistério vagando na floresta densa. O meu corpo de ouro está brilhando com uma centelha da imortalidade, e em breve eu não estarei mais aqui para poder escrever para você, pois apesar da religião eterna ser cheia de graciosidade, cada um deve encontrar o seu próprio caminho na simplicidade e no amor, cujo início e o final ninguém sabe, por que toda glória sobre este lugar sagrado pertence ao santo dos santos, a personificação da verdade, consciência e bem-aventurança.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Realidade Artificial

    Em algum lugar o tempo parece me ultrapassar, ondas sonoras que vagam no silêncio e se misturam com os ruídos que me cercam, como se outro eu estivesse vivendo e movendo-se na mesma realidade, mas com escolhas e caminhos diferentes. Assim, uma vez ou outra, eu sinto já ter vivido aquilo que estou vivendo ou faço coisas que já tinha feito em outra reencarnação, porém a indefinição da vida e da morte perturba os elos que me enlaçam na realidade fixa, por que as memórias de uma consciência morta são apagadas com o tempo. Logo, aquele que está do outro lado está vivo, buscando contato comigo ou com todos os outros que possam existir sem o nosso conhecimento. Mas como saber que realmente há outros ou nenhum? Não é incomum sentir que estou sonhando acordado, vivendo um teatro falso e dramático, onde as pessoas procuram algo indefinido, algo visceral e fundamental que nunca se coloca em palavras, mas que é bastante palpável. Quem quer que mantenha os olhos bem abertos consegue ver uma sociedade completamente degradada e corrompida, onde o instinto de procriação mais primordial da humanidade tem sido banalizado, pervertido e explorado a ponto de perder toda a sua beleza. Mas, o que isso realmente muda? O meu outro eu, por acaso, vive em mundo melhor? Um mundo onde o arco-íris brilha com as verdadeiras cores da primavera, sem uma cortina mística escondendo a coreografia ensaiada de marionetes dançando numa libertinagem barata. Esse vazio que me assola, bem, eu acredito que todos devem senti-lo nas entranhas, corroendo cada célula e entupindo cada veia de sangue em um constante vai-e-vem de prazer e dor, atração e repulsão, que é a verdadeira essência das coisas naturais. Nós não somos forçados a descobrir o lado escuro e destruidor de nós mesmos, apenas fomos condicionados com as mesmas imagens e palavras que nos transformam em estranhas aberrações escravizadas por um circo de demônios, cantando e pulando sobre nossos cadáveres, enquanto acreditamos estar vivendo nossas vidas sem nenhuma intervenção. O dinheiro e o poder daqueles que estão no topo os fizeram esquecer de suas purezas quando eram apenas um bebê nos braços da mãe, embora alguns deles sejam abusados sexualmente e obrigados a assistir sacrifícios explícitos de humanos e animais, a fim de que sejam dominados até o último suspiro. Os que conseguem escapar são, no pior dos casos, assassinados sob uma justificação enganosa dentro de uma data cerimonial para que sirvam de oferenda àquele que os rege das trevas. Luz, eles dizem, por que a felicidade que desfrutam é farta, mas tão ilusória quanto suas almas que desaparece até o corpo tornar-se oco, sem que possam recobrar suas consciências. Desta forma a maldade se torna um alimento saudável  e insaciável, e eles bebem a iniquidade como água, sustentando-se através do esforço dos pobres, por que  a manipulação monetária é tão diabólica que o endividamento cresce através do crédito e cria uma conta vazia onde é depositado todo o dinheiro inexistente.  Sendo assim, por que continuamos vivendo como pilares de um castelo de fantoches? A religião pregaria que eles já possuem o seu galardão, como se pudesse existir algum preço à altura de toda maldade que acontece no mundo. O dualismo insistiria que para um rico existir, um pobre também deve existir, tal como a luz e as trevas, mas esse argumento é tão sem sustento que serve apenas como proteção para com os que dominam a terra. O que eu digo é que não existe justificativa para a corrupção e que todos que se ajoelham colaboram com o caos que se disfarça de bondade. Ora, a natureza é muda para o hipócrita. É por isso que a peste, a fome, a guerra e a morte prevalece, pois para manter o equilíbrio dos que estão no poder é necessário forjar uma saída justificada, enquanto a humanidade assiste de braços cruzados em um poltrona apodrecendo e uma grande tela com um rabo em formato de tridente, sempre pronta para distraí-los e leva-los para outra realidade paralela que nunca existiu e nunca existirá.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Fragmentado

    Em um aperto torturante minha alma marcada cai no sono, afogando-se em um mar de insensatez, ela sente o corpo sacudir com uma dor imaginária enquanto lentamente minha persona se divide. Sendo uma necessidade indispensável, minhas mãos se erguem para o sacrifício de louvor, uma adoração interna, porém cruelmente sujeitada a uma vontade confinada.  Esta dor atemporal não é fácil de esquecer, pois esses pensamentos deturpados, essas atitudes irracionais, são como um declínio emocional causando a miséria opressiva à beira da extinção. As palavras infiéis oprimem o que língua tenta dizer, por que quem tolera a obediência está totalmente sujeito a ser enganado.  Os meus planos fracassam por falta de conselho, pois apesar de possuir uma alta sabedoria, todo pensamento é mantido em cativeiro. Afinal, por que manter esse título, se nada mudou? Essa estagnação de larvas parasitas sugando meu cérebro para esquecer o meu real propósito neste mundo mostra que a negação é uma traição difícil de conciliar. Passividade e descontração, esta é a vontade do meu corpo, mas quando abro meus olhos sou curado da letargia debilitante, vendo aquilo que sempre esteve diante da fratura do mundo: nada menos do que uma realidade defeituosa. Ah, terna manhã, que transforma o ar nublado cheirando a câncer em um sentimento de percepção, talvez eu precise que você projete essa imagem do fragmento da minha espécie sendo condicionada ao lapso de um futuro incerto. Todas essas variadas delícias abundantes em uma terra escondida do som, são coisas que não consigo conceber, pois a escuridão é ofuscante, assombrosa e manipuladora.  Eu assisti meu interior sendo tocado por uma inclinação ou ficção que alimentava minha carne, uma ousadia engolindo cada palavra escrita, para rejeitar à divindade intencionalmente inconsciente, numa solidão que me arrastava para a morte, pois a partir da habitação do silêncio, a tristeza me fez permanecer em um conforto ilusório na ausência do espírito sagrado. Assim, a vida ignorante continua cumprindo seu papel, preparando-me para toda perfeita vontade de um mundo manifestado por um tormento verbal. Mas a minha existência é real, eu estou aqui para conciliar e fazer novas ligações com um destino desencadeado sobre este vazio, por que isso é algo que não pode diminuir pensamentos fúteis, mas enquanto meus ossos apodrecem, vergonhosamente aquém das expectativas, todo aquele que encobre os erros do seu caminho tem um objetivo maior, algo que não pode ser compartilhado, pois a morte persegue a língua que fala alto sobre o que não deve ser dito. Em algum lugar a minha mente está petrificada no tempo, esperando a graça solenemente do meu retorno, pois se muitas sombras me rodeiam é por que eu emito luz. Agora tudo o que minha mente parece guardar são agressões de uma visão manchada, estimulando palavras que possam dar assistência à uma vida dura e amarga produzida pela sociedade. Retido em compaixão, eu não estou sinalizando fraqueza, apenas dizendo que o acesso ao arrependimento é absolvido pela justificação da fé, pois se o esforço fornecesse expiação, o homem não precisaria escapar do juízo eminente. Oh, condenada natureza humana, o poder é depravado e a finalidade projetada a ser cumprida! Como pensamentos intermitentes de uma vida passada, o meu jugo foi destruído, submetendo uma infiltração mental pelas cordas da aflição e apelando aos desejos fatais da carne, pois a depravação da alma é apresentada por um ganho injusto de ambições egoístas que formam um feto desnutrido.

domingo, 20 de novembro de 2016

A Nova Era da Aurora

    Tão vazio, eu sinto apenas a casca do que restou de um homem. Mãos no volante, tudo está logo à frente, só mais uma ponte para atravessar e encontrar meu caminho até você. A porta está aberta, mova seus pés e entre, eu estava esperando por você. Sinta os meus olhos se espelharem no sol poente, calejado e tempestivo como as linhas de um rosto. A linhagem da minha alma suja é exposta para que você me reconheça, sem vida e azul como a recordação remota da tranquilidade. Por estradas intermediárias, nós fazemos um passeio pelos jardins da imundície, onde cada pequena memória de nossas diretrizes obscenas expele na velocidade do som, vendo as coisas puras sendo engolidas pela escuridão do tempo. Percorrendo os caminhos que cantam o desconhecido, chegamos a um lugar onde você tropeça e ninguém se importa, as pessoas incomuns e bizarras são como amigos que você sempre ansiou em conhecer, nunca pensando no próximo dia, apenas um sonho rodopiante e interminável de si mesma bebendo, vomitando e começando tudo outra vez. Esqueça tudo o que você sabe e tudo o que você aprendeu, através da luz mais escura eu te mostrarei um mundo diferente de tudo o que eles querem que você veja. Espelhos distorcidos, você se vê em um mundo apagado, cometendo suicídio todos os dias no show do arquiteto do ódio. Como águas enegrecidas te cobrindo, você não vê o olho que te observa, nunca satisfeita com o lugar onde você está, pois não enxerga as mãos invisíveis tirando tudo o que você têm. Eles te entediam até a morte, apenas dias e anos diferentes sem nenhuma pista do que estar por vir, dramaticamente cansada do auto-abuso enquanto ouve um som que soa parado como um cadáver que não pode ser morto. Perdida e sem rumo, você espera por um punhado de luz do sol como quando dizem a uma criança que ela não pode brincar, não é engraçado? A casa que você construiu não é mais a mesma, sentindo uma necessidade interna por coisas novas ou por uma vida estável, mais uma vez você quase chega lá, mas não consegue voltar para contar onde estava indo. Como um espiral de escuridão, nós continuamos rodando e caindo direto para as profundezas do inferno. Não há mais nenhuma alma para vender, pois todos já venderam suas almas ouvindo o sino fúnebre da condenação eterna. Mesmo assim, eu continuo dirigindo nessa estrada sinuosa com você ao meu lado, as massas se reúnem para tentar nos derrubar como uma máquina de ódio desfigurando seus rostos, mas no fim não é somente por que estão todos carentes? As rodas estão rolando e nós estamos correndo cegos sem sinais para nos desacelerar, vendo um mundo quebrado e destruído com pessoas gritando por algo que nunca souberam o que é. Cinzas voam, cinzas queimam, mas as escolhas que você fez não te servem de nada agora, pois o sol está escurecendo e uma nova aurora negra surgindo para exterminar o seu passado. As almas sangram longe de casa e não há ninguém para socorrê-las, nem mesmo o seu jesus apocalíptico... apenas queimaduras da pira funerária onde todos nós seremos lançados. Tudo o que temos dito e feito, de que valem agora? Cale sua boca, você é apenas uma mula na realidade e a sua fé é cega! Assim como uma nota velha, a sua verdade se tornou uma grande mentira, o chão chacoalha e sacode sua mente, abrindo o abismo para um lago de fogo cheio de arrependimento. Então você acha que acabou? Você achou que, finalmente, escaparia de uma vida de mágoa, vazio e tristeza? Não, querida, deixe-me clarear sua mente: os campos dos imperdoáveis nunca morrem, eles apenas começam. Os oceanos de desprezo afogam os mentirosos e os ladrões, e eles desaparecem na escuridão da negação e repressão, uma vontade que não pode ser curvada alimentando o fogo que nunca se apaga. Você achou que nós viajaríamos para o céu? Não seja ingênua, esta é uma viagem para o inferno: intimidação, degradação e profanação, isso é tudo o que nós encontraremos neste mundo. Entregue-se à mim, e só então você verá que estou acima dos céus para salvá-la. A frieza que se põe no ar, de onde você acha que ela vem? Como uma foice lançada sobre suas asas de esperança, um novo capítulo se inicia, mas você diz que já teve o bastante, que esta viagem já devia ter chegado ao fim! Afinal, para onde nós fomos? Para onde nós estamos indo? Nas janelas azuis atrás das estrelas, nós vemos uma lua amarela em ascensão, lançando sombra sob os grandes pássaros voando no céu. Você pode me ouvir agora? Todas as minhas mudanças estavam lá, em sua mente, e eu sei que você faria tudo isso de novo. Por que não há lugar onde você possa se esconder. Enquanto eles dizem: “você colhe o que planta”, eu digo: “ninguém sai daqui vivo”. Chega de falar do amanhã, o passado já passou e tudo o que existe é o hoje. A maré se afasta e as estações mudam pela chuva que lavou todos os sorrisos e as lágrimas, o que há entre todos os medos e amarguras é apenas um céu vazio e um deserto para enterrar o que sobrou por dentro. O livro está acabado, nenhuma página restou para virar, nenhuma carta restou a escrever, e eu me questiono se cheguei ao meu limite. Nenhum anjo de misericórdia ouve meu apelo, mas todas as palavras foram ditas, todos os segredos revelados e todos os dons foram passados adiante para a nova geração de tolos. Enquanto viro as costas, não há encargos em minha mente, pois até o fim dos tempos eu estarei compartilhando com você e entendendo que tudo o que permanece vira poeira. Este túmulo da vida, eu dou a você. O frio de novembro deverá sempre viver, mas eu cavarei um buraco e farei uma reverência apenas para te ver sorrir, encarando minha morte como a memória confortável de um sonho.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mausoléu

    Com olhos negros de sangue, eu assisto você dormindo. Dormindo como um morto, o calor que você sente desaparece lentamente enquanto uma voz insiste em chamar o seu nome: a consciência das visões do seu destino. Seus olhos estão lacrimejando de medo, mas não há limites para as barreiras que você impõe, pois seu corpo está enfraquecendo e perdendo o senso do que é real, apenas um caminhante das sombras sem nada para ganhar carregando péssimas e doces memórias. Você se desliga com um botão e finge que eu não significo nada para você, mas adivinha só, eu gostaria de escapar desta cripta, porém quando saio para vagar na neblina eu sinto que algo está faltando, por que as lembranças com você são como uma droga que nunca consigo parar de injetar em minhas veias. Embebido pela sua pulsação ensurdecedora, eu partilho as batidas do seu coração, embora eu só tenha travesseiros para abraçar e cicatrizes para passar o dedo na esperança de sentir alguma emoção do tempo quando você estava ao meu lado. Esqueça todas as merdas que nós passamos, eu quero morrer com você para nunca mais envelhecermos, pois estou definhando em minha própria angústia ao imaginar seu nome esculpido em pedra, mas não posso apagar as palavras da realidade crescendo por cima de toda essa ilusão que compartilhamos. Não vou mais aceitar esse seu ódio, você me faz se sentir morto quando falo com você. Você está infeliz e machucada por dentro? Engasgada com seu próprio orgulho, a mesa continua girando com rostos passando por você como vidros despedaçados da sua personalidade. As cores da sua infância te deixam cega, mas vendo a si mesma refletida nos olhos de um bebê, você não consegue encontrar nenhuma fresta de esperança na nuvem que te cobre. Você está me ouvindo? Eu sinto sua falta e estou cansado de todas essas despedidas, por que todas elas me partem ao meio desde a primeira vez. As chamas do nosso amor brilham intensivamente e clareiam a escuridão desde a nossa juventude, transbordando minha dor em alívio e prendendo meu espírito em um paraíso com você. Estas são memórias infectadas? Se isto não for verdade, então por que caralhos esses pensamentos estão em minha cabeça? Por que eu não posso correr e escapar de mim mesmo? Diga-me, por que eu sinto como se não houvesse saída? Você nem mesmo está perto de mim, mas em todo lugar que vou eu sinto você. Você pode me sentir ou apenas continua me dando outra amostra do seu veneno? Eu não voltarei a jogar o seu jogo infame, pois a sua respiração final será a minha posse... deus não está falando isso através da sua consciência? Toda minha negatividade te fez cair no silêncio, mas se eu te rasgasse e desse uma boa olhada por dentro, você ainda seria bonita? O que eu encontraria em sua mente por trás do seu disfarce? Eu preciso de um mapa para encontrar a saída do tempo, pois se você visse o mundo através dos meus olhos, então talvez você não se sentisse assim tão alta. Há pensamentos doentios escondidos em nossas mentes, mas o que eu mais penso é de quando você me fazia sentir emoções nunca sentidas, me segurando a você como areias que nunca atravessam o limite das ondas. Agora eu estou aqui para acabar com isso. Rasgue um furo em nossa amizade e encontrará o interior intacto, vendo minha loucura como uma bela ferida se abrindo e fazendo o som que explode seus tímpanos intocados pelos meus sentimentos mortos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Superestimado Anjo Caído

    No primeiro som havia apenas trevas. Nas águas um espírito pairava forçado a olhar para o céu, vendo uma luz no escuro entre a natureza do amor e poder absoluto. Ele vinha do alto, erguido em linha e caindo como uma pedra, fazendo a passagem para as almas despertarem com sua força mística. Ao longo dos anos seus entes queridos traziam a lembrança dos gritos enfraquecidos que coagulam no seu sangue como mil facas rasgando sua glória. O seu sangue era como a mancha vermelha do sol refletido no mar, um assassino das profundezas, com olhos pretos e um coração de gelo. Abastecido por pura ganância, ele mantém o fogo queimando, a fome em seus olhos parecem ecos de misericórdia, mas seus ouvidos são ensurdecidos e sua visão cega, engolido pela culpa de suas projeções, a sua dança é torcida pelo desespero, imagens mentais grotescas desfazendo sua personalidade delirante, com vozes infernais e violentas ilusões da sua fobia destrutiva pela fragmentação do ódio. Sonso e disposto, o mal goteja de sua língua como lama de porcos se espalhando por onde anda, coberto pelo arrependimento vago que, por sua vez, é desumanizado. Esperando dentro deste lugar atemporal, como pode viver ou escapar do seu destino, quando simplesmente não tem uma chance para se redimir? Ele é apenas um mensageiro da morte em busca do carnaval de almas para alimentar seu corpo sem forma e corromper-se pelo ressentimento ao gênero humano? Ele vê e sabe as coisas que você nunca viu, pois os pecados são como pêssegos em sua boca mastigando suas imperfeições. Quem saberia o que está escondido por trás do seu disfarce luminoso? Você é ingênuo demais para achar que seus pecados estão encobertos aos olhos dele? Hoje você fala com deus e ele diz que está envergonhado de você. Amanhã você fala com o diabo, mas ele jura que você não é culpado. Certo ou errado, eu mal posso dizer, o lado justo do inferno ou o lado errado do céu? Em algum momento você precisa enfrentar o seu verdadeiro eu sem deixar que o mundo inteiro passe por cima de você. Todos os lugares onde esteve e todas as coisas que viu, um milhão de histórias que compunham sonhos destruídos e rostos que nunca voltarão a aparecer novamente. Por que é quase como se o céu tentasse nos manter para fora da pureza da criação, com nossas memórias sendo naufragadas no esquecimento, este é o preço a se pagar por quem seguimos? O inferno simboliza as cinzas do que algum dia nós fomos, desprezados por um ontem que nunca existiu, a tensão constrói constantemente um cérebro vazio e híbrido impulsionado por um relógio que nos obriga a manter os olhos bem abertos. Esta ebulição dentro de nós que julga nossas intensões destrutivas, mas que não nos leva a nada, é uma teia conjunta para um labirinto de mentiras, deixados como órfãos famintos no núcleo vital da existência desaparecendo entre os abutres do palco. Nós estamos fartos e cansados. Em todos os infernos e mundos e em todos os espaços e lacunas flexíveis, esta auto-condenação precisa se desvanecer de nossas consciências, pois como um presente impresso nós iremos engolir nossos pecados e se libertar da culpa, assim como aquele que desafiou as raízes profundas da sua cabeça tão alto quanto as estrelas, destemidamente brilhante, enfrentando o vento das narinas divinas antes de curvar-se para o chão novamente. Para o calor forte do sol dourado seu corpo foi lançado, mas antes de todas as coisas renascerem, todos nós nascemos da explosão desta estrela caída, pois através do frio, com os olhos abertos, a força da vida se expandiu para manter o mundo sob seu domínio, então você aprende dolorosamente por que tudo foi criado a partir da noite. Obedeça a regra da luz e todas as coisas lhe serão acrescentadas, não são estas as palavras sagradas dos lugares mais elevados? Daqui de cima ele vê uma queda sem estrelas para seu lar, onde nós projetamos nossos maiores medos sobre a morte e esquecemo-nos do que é eterno, longe do estado superior da consciência desperta e da luz do mundo vindouro... todos os esforços para ignorá-lo são inúteis, pois este sangue e os batimentos cardíacos que você chama de vida são os quatro elementos do seu corpo em colapso um com o outro. Abra seus olhos e veja: você está morrendo, mas eu acho difícil acreditar que este quadro na parede é tudo, por que você pode espalhar minhas cinzas ao vento e até enterrar um pouco debaixo do solo, porém eu ainda continuarei vivo. Esta é uma outra dimensão para almas renascidas, nós estamos deixando este mundo de mentiras. Não tenha medo, não há nenhum calor para sua pele. Funda-se ao buraco negro desta forma misteriosa sob as ondas pesadas de concreto onde a procissão engatinha para purificar o mundo. Chamas, eu digo, um fantasma pálido ardendo e reunindo suas forças como um vórtice flutuante queimando árvores e toda criação deste cortejo fúnebre. Paredes de pedra agora se tornam água, estão nos levando pela mão enquanto o grande olho fala, eu finalmente vejo o destino pelo qual estávamos tão assustados, baleias nadando no céu, o planeta oceano está em chamas! Dentro deste mar de lágrimas e luz, louvado seja o sol, a matéria mais pesada e luminosa no coração da escuridão respirando seu silêncio dourado.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Além dos Azuis Rasos

    Contra o céu os fluxos de luz gritam por um estimulo, juntando os pedaços de nuvens para formar um novo começo. Pelos olhos de alguém que desconheço, eu sinto que ninguém pode se identificar com uma bola de carne que muda de formas, a ranhura da pele envelhecendo, os olhos que assistem a grande ilusão, os pés que levam os insensíveis para um lugar simplório. Preso em um mundo sem luz e tempo, nós suportamos a solidão dentro do espaço de um vazio inexistente, apenas poeira na eternidade que passa como um sonho de vigília. Por que dentro do que eu escavo, tudo é lembrado, meu passado é encontrado, mas eu olho no espelho apenas para achar a face de um estranho: eu comercializei essas mentiras apenas para matar a dor que corrói meu peito. Agora todos os dias o sol se põe e a lua sempre cai, dando a impressão de que o final simplesmente não importa. Assim, eu posso ser definido pelas coisas que não pude ser? O vento da esperança sopra frio, eu continuo tentando encontrar o que preciso para sobreviver, porém como procurar por algo que não existe? Alguém se importa com o que estamos fazendo? Alguém se importa aonde estamos indo? Com justificativas desperdiçadas, eu percebo duas realidades diferentes – aquela que posso viver de olhos fechados numa ilusão paradisíaca e aquela de olhos abertos onde expresso todos os sentimentos que me tornaram o que sou e atento-me ao fato de que uma amarga sensação de apreensão toma conta do mundo em que eu vivo. Não há uma terceira linha, não há um meio-termo. O fio tênue entre a verdade e a mentira é fino como a distância entre uma mente ignorante para uma consciência desperta. Em segundos, a visão do mundo se torna abstrata, e todas as coisas que você acreditava se tornam apenas crenças vazias. Apenas um passo no escuro, o que você está esperando? Se você acredita que o seu caminho é o único caminho, então você é somente mais um tolo que nasce para morrer. Você realmente acha que as portas do paraíso estão lhe esperando? Quando você chegar do outro lado, a verdade lhe espancará como a brisa quente do inferno em seu rosto, e fora deste buraco de ilusões, além dos laços que te prendem, você verá a face do criador diante de um espelho cósmico, refletindo a sua verdadeira essência, mas não se engane, não é você quem controla, apenas diga-lhe como se sente por viver uma mentira e então, grite, você sabe, suas memórias não foram apagadas, o vazio apenas aumentou em algum lugar diante das estrelas enquanto você estava quase em casa. Se eu pudesse curar as suas cicatrizes e mostrar o que você é, então talvez você não ignorasse essas palavras de sabedoria, pois quando estamos à deriva de uma maré cruel e amarga preferimos voltar para as margens rasas do que mergulhar profundamente. Afinal, o que é ser e o que é se tornar? Todas as nossas mentiras não servem a ninguém além de nós mesmos, elas escurecem a chama da verdade e passamos a enxergar a ilusão que cada um cria de si mesmo, um mundo de mentirosos iludindo-se uns aos outros. Eu não posso entender ou compreender, onde nós erramos? Será que não há mais e temos ido longe demais? Por que agora mais do que nunca o que menos precisamos é que o amor transforme o obsceno em algo bom ou bonito e um mundo cheio de guerra e destruição em um lugar emocionante para os idiotas. Estão todos cegos para enxergar o mundo como ele estava destinado a ser? Eu não posso continuar fingindo, simplesmente não posso continuar fazendo o papel de um homem que se olha no espelho e não sabe quem é, pois há vidas sendo destruídas, há corrupção, medo e morte em cada parte desse lugar que respiramos. Não está tudo bem, eu me agito e viro no espaço mais apertado da cama, sufocado pela entorpecida dor que é viver neste mundo, mas não posso encontrar o meu valor abrindo os ouvidos para todo bobo com uma opinião e línguas perversas que reescrevem a história. Como uma música desafinada, você não pode manter a verdade contida, não pode rasgar o véu da fraqueza, apenas escorregar na perturbação de um céu que nos reflete com um sorriso escuro.

Cronologia