quinta-feira, 1 de junho de 2017

Volúpias da Estrela Rutilante

     Tentado a se mover ao anoitecer, eu olho para o relógio das sombras, mas meu corpo está frio e enrolado como um feto, sendo regado por um filtro de sangue que excita minha carne. Minhas cordas vocais são arrancadas e o único som que eu ouço é de advertência, uma voz fraca que diz para eu parar de fugir do meu destino até que o destemido dia venha e o ato esteja completo, pois a expressão da minha vida é uma blasfêmia. Quão engenhosos foram todos aqueles anos de mentira? Escondendo da minha família a verdade, àquelas horas esperando encontrar uma centelha da sua luz boreal, por que o sofrimento de um homem sempre recria o processo da dor novamente, vendo a consciência como uma maldição, porquanto mais você abre os olhos, mais você despreza o formato da criação. Eu posso ouvir meu coração chorando, lembrando-se do sol batendo nas costas, enquanto o gosto de azeitonas e prazeres se congela na minha memória. Agora a grama nunca foi tão verde, acordando em algum lugar lá fora, eu tento encontrar qualquer sentido para toda essa miséria, torcendo minha cabeça e empurrando-me de volta aos eixos da luz azul, estou vagando debaixo das águas e nenhum som me atormenta como chuva caindo no meu rosto e lavando toda minha tristeza. Eu só preciso de uma palavra do homem lá de cima, antes que você me veja caindo, atravessando tão fácil essa onda gigantesca que nos separa, para que eu possa ficar mais perto de você. Vamos querida, diga as palavras novamente, não guarde essa mágoa como conchas preciosas, pois esse sentimento que você esconde sempre gritou pelo meu nome. Talvez você não saiba o que significa estar só, mas quando você está acompanhada o vazio preenche seus olhos, uma sensação que nunca te deixa triste, por que minhas palavras sempre caem em seus ouvidos surdos. Enquanto o sol mostrava uma sombra cansada, meus lábios se encobriam de mistério, tentando lhe dizer a verdade sobre este sentimento que te persegue, pois o nosso amor está muito acima das emoções humanas. Não importa quantos séculos se passem em um segundo, o caminho estreito e sinuoso sempre nos levará para o mesmo lugar, embora estejamos sempre nos desviando dele. Eu não possuo palavras sempre feitas, exceto por você, esse enxame de inspiração que transborda com a lembrança do seu rosto, puxando minhas terminações nervosas como uma música que se repete na minha cabeça, escrito na minha pele, correndo pelas minhas veias, expelindo por meus poros abertos... minha eterna amada aurora, com tantas terras e novos horizontes, onde foi que eu errei para que você partisse? Surfando em meio às ondas e tentando encontrá-la através delas, o vento me levou para o golfo do desespero, onde o redemoinho continua me puxando para baixo, enquanto vejo um pássaro dourado abrindo suas asas no sol, tão orgulhoso e vaidoso, cantando a sua canção de ninar para mim. Esse pássaro é você? Então, por que não posso ser como você, voando tão alto como uma pipa? Não seria melhor do que você descer para um mergulho? Venha viver comigo e me ame na escuridão, tão profundo e escuro quanto um eclipse solar, coberto por águas de um espiral eterno. Você acha que o céu é mais alto do que a terra? Eu te daria todas as estrelas do céu, até que a lua estivesse completamente só, apenas para sentir seu beijo novamente, por que seus lábios transbordam todo o amor das constelações do universo e toda harmonia selvagem da natureza, acima de qualquer sensação que eu possa descrever, uma canção que me despe de corpo e alma, aumentando a temperatura do meu ser, enquanto flutuo acima das águas para lhe dar um abraço e cobri-la numa montanha de cristal. Como uma estrela caindo por vontade própria, a sua luz reluz na escuridão, enquanto dançamos no salão aquático do mar negro da mente. Aos poucos eu vou cobrindo sua cabeça, esfriando no silêncio, à procura de um refrão inovador, mas a sua canção se resume a versos que ninguém ouve lá de cima.

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