sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
O Lamento do Amante
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
Descanso no Suicídio
Sensual
carta anônima
“Amada minha,
Por um longo tempo eu tive o sentimento de que você
estava despertando meus sentidos, mas agora quando estou muito longe para
conseguir pensar, eu continuo encontrando apenas a outra parte de mim.
Debilmente como alguém que assume o controle, a alma
mestre está assinando com a mão egoísta o contrato para possuir minha mente,
inteira.
Olhe para as sombras nas paredes, o sopro que foge
para fora do candelabro queimando até as cinzas, assim como essa vela eu
estou perdendo minha vida.
Nos dias claros observei o nascer do sol e as cores
que ele trazia, esperando pelo pássaro negro que era meu anjo por dentro, mas ele
nunca retornou.
Assim, aqui estou, mas não posso explicar-me, pois
penso que escrevi mil palavras e nenhuma delas poderia dizer o que eu sinto.
Durante a madrugada eu enxergo rosas pretas e folhas
brancas, tão pálidas quanto seu rosto, e suas pétalas sobem à luz, desvanecendo
profundamente em meus sonhos, balançando minhas memórias como a água gelada que
corre em seus olhos.
Neste naufrágio, com minha alma tempestuosa possuída
pela vontade de lhe encontrar, eu espalho sementes para desenrolar meu próprio
desfecho.
Mas embora eu saiba que tudo isto seja em vão, o
tempo passa e ainda estou respirando através dessa caverna sem a intervenção da
luz.
Todos parecem tão distantes de mim agora, todo esse
tempo eu estive me escondendo no escuro?
Minha alma se transformou em cinzas e o meu otimismo,
em dor, desenhando a cortina com a lâmina nascente.
Quando a noite abraça a orla com suas mãos frias e
escuras, ó, não se desespere, eu sou a tua luz na alegria e na tristeza, eu sou
a tua fantasia, diz a alma mestre, cante por todos os amores que você perdeu,
por todos os amigos em que você costumava confiar!
Na beleza de uma
realidade distorcida, eu continuo dançando com as sombras em um caos tranquilo,
vendo em meus olhos apenas o rígido pesar da obscuridade.”
domingo, 18 de janeiro de 2015
A Maldição do Paraíso
Num retrato manchado uma chance de observar quem eu
era pareceu ser a única paisagem à vista. O fundo da memória borrou todas
aquelas luzes em excesso, uma coleção sem valor de esperanças e antigos anseios
desaparecendo pelos cantos de um destino desvendado: um futuro onde não havia
absolutamente nada. Por um instante pareceu que uma nuvem de amargura simpatizaria
comigo, mas meus olhos não desgrudavam daquela imagem com a minha verdade
pintada, conduzindo-me para desconhecidos sentimentos e sons, onde meu reflexo
como pessoa já não era o que eu estava acostumado a ver. O retrato revelou os
segredos do meu passado, mas eu não podia banir aquele fantasma estranho, vendo-me
cair num abismo enquanto rostos felizes desapareciam e vozes silenciavam num
lugar escuro onde eu não conhecia. Quando enxerguei-me desalmado e inclinado à
destruição, também vi as boas razões da minha vida sendo arrancadas pelas
raízes – um olhar lamentável além do medo e do terror, preso numa jaula e
rendido no mais violento desequilíbrio, movendo-se sob a reação do meu próprio
carretel a medita que me aproximava da borda inescapável. O amanhecer era como
um véu que trazia consigo uma angústia queimando, derramando do céu a essência
do remorso, lágrimas e tormentos, sem cicatrizar as feridas. Talvez eu sonhasse
apenas com uma vida ao invés de uma simples sobrevivência, com o reconhecimento
do meu trabalho, sem enxergar a luz do mundo que chega para as marionetes, pois
qual a diferença quando mudamos o caminho que sustenta o começo? Eu sinto como
se estivesse escorregando na confusão do esclarecimento interno do animal, imóvel,
dentro da minha mente, enquanto fecho os meus olhos e o mundo da fantasia se
despedaça, rasgando as costuras das escolhas que me levaram a este epílogo.
Esta noite
eu recebo o guardião da marca da besta com um “bem-vindo” caloroso, embrulhado
em frieza, com o toque dos ventos refrescantes, vagando por lugares bonitos do
meu passado. Nos bosques as mais antigas histórias voam entre os ecos da
ventania, levando um pouco do cheiro e das vozes para cada árvore que carrega
as memórias dos que passaram por ali, como as estrelas se escondendo do
amanhecer, assim os ancestrais desaparecem deixando suas heranças. Assim como
há muito tempo um deus foi sacrificado. Venham, corram amadas, a celebração já começou,
tomem seus assentos nos melhores lugares e vejam como o herege queima, eu digo,
ele sentirá a morte, chegando devagar e aos risos, quando as filhas do demônio cortarem
o fio da sua vida com a foice severa. Olhem para as cinzas do que ele foi
quando contou aquelas mentiras e quando seu último grito morreu, as chamas o consumiram.
Enquanto falo, eu tremo por causa da ira de deus, para o meu deus – um sacrifício
– sangue foi derramado, aprendendo a sabedoria proibida, onde mentes e estrelas
se unem nos segredos da astronomia. A fúria em seus olhos são como tochas em
minhas mãos, deixando o medo sobre a procissão sombria de cada ato cometido, e profundo
é a tristeza dos seus gritos quando ecoam na brisa noturna. A verdade dói, mas
o olho de deus brilha como um sinal escuro que enobrece a mente, sua respiração
aquece o ar de inverno e sua ira cintila como uma punição para os pecadores. A
luz da vela brilha palidamente quando as trevas acordam a besta, pois a demência
sofrível está crescendo com um sabor amargo, eles estão chegando mais perto... você consegue sentir? Consegue ouvir os ecos dos que estão morrendo lentamente?
Em sonhos eu vi coisas que acontecerão: cadáveres no chão, crianças chocando em
explosões de sangue, a besta feroz nadando através dos rios e arrastando a
humanidade, mas tudo isso já não foi escrito no livro do senhor demônio? O que
estou tentando dizer é que um dos capítulos mais escuros do homem está apenas
começando, uma época onde a paisagem mostrará cinzas como o retrato da minha
alma, nuvens escuras que escondem os ocultos olhos do poderoso deus. Coisas,
ainda não vistas pelos olhos humanos, oh, minha vida, meu sangue, minhas
lágrimas, minha dor, de que servirão todas essas coisas quando o fogo divino julgar
o mundo? A trombeta soará e a tempestade descerá dos céus como os sinos que tocam os
gritos da geada, o solo, vermelho como folhas de outono, se tornará em carne e
ferro... a vibração das aves se tornará um com os sussurros dos moribundos, e dos
milhares de nós que haviam, restará apenas os que tomaram a mãe morte como noiva, os risos ecoarão de jubilo na escuridão! Quieto, quieto, alma assassina, o
que você está dizendo? Essas mensagens de morte e ressurreição já não nos
aterrorizam. Ao soar da meia-noite tudo isso passará e um brilho dourado onde
estrelas cintilam vigorosamente a celebração da nova era, será aceso para todos
verem e ouvirem a doce melodia da morte de deus! O murmúrio crescerá até que a
raiva se torne um cenário, centenas de tochas acenderão junto à sua luz
silhueta e todas as pessoas da terra farão um funeral nesta praça da
meia-noite. Quando as duas luas se unirem, lágrimas silenciosas cairão e a
chuva vermelha despertará a criança da besta, dormindo. Não haverá punição, nem fogo, nem peste, nem dor, apenas uma oração... o choro das crianças perdendo o próprio
pai, tornando o mundo liberto por suas frias emoções, em uma ilusão que vivíamos para livrar a mente das trevas,
nosso sangue e lágrima fluindo através do filho de deus. Enquanto entardece, a noite
acorda e a terra é pesarosamente envolvida em silêncio, vendo a beleza de um
novo século. Com o tempo a duvida desaparecerá e teremos uma fraca reflexão do universo que nos rodeia.
domingo, 11 de janeiro de 2015
O Festim da Mestiça
Sensual
carta anônima
“Amada minha,
Os raios vermelhos e púrpuras arranham os céus como
dedos crescendo em diferentes direções, movendo-se incessantemente
através da noite esperada.
Sob um luar de nuvens violetas dançamos envoltos de
vestes nobres com pedras de ametista e sardônico, com máscaras escondendo nossas expressões
de amor, ódio e esperança.
Nos quatro cantos você será amarrada, mas seus gritos
serão de luxúria e desejo, pois você será o meu altar.
Nossos corpos se moverão numa energia sinistra e
vigiada pela sombra do senhor da noite, em prazeres doces como o gosto do suor
ou nos banhos de êxtase da sua presença fria...
Com um único golpe o punhal descerá pelas falésias do
seu útero de sangue, porém você não sentirá dor alguma quando o beijo da
escuridão cobrir sua mente.
Seus olhos serão abertos para ver minha verdadeira aparência
e as correntes do amor não te impedirão de me tocar, saciando sua vontade enquanto
a lua cheia ilumina seus seios entregues ao desejo da minha língua.
Aos poucos sua pele será desvelada e sua carne
afundada no lago fumegante, mas apenas os seus ossos flutuarão.
Nas profundezas das águas eu estarei com você,
prendendo nossas respirações no interior das densas trevas enquanto seus olhos verdes
escurecem como opalas negras rachadas.
Seremos sugados para o mais fundo dos sentimentos, onde as vendas dos teus olhos serão arrancadas, vendo-me como realmente sou.
Da minha semente nascerá uma criança fantasmagórica,
que é aquela que vive em seu ventre, dizendo: esta noite fui libertada!
E, na calada da primeira luz que rasga os céus, nós
veremos juntos a intensa aurora nascer.
Seu nome será um rugido aos meus ouvidos e uma nuvem
negra que paira sobre a minha alma.”
sábado, 10 de janeiro de 2015
Herdando o Vazio Gelado
Sensual
carta anônima
“Amada minha,
Frias são as promessas que fiz ao teu espírito, pois
é com ele que eu converso na madrugada.
Os teus olhos carnais não veem, mas dentro de você há
uma criança encarcerada pedindo para ver um último amanhecer.
Os demônios que você tanto despreza, são os seus
guias, e a garota que você não ouve chorar, são os seus pensamentos ocultos.
A sua mente foi extirpada por chuvas malignas que
cegaram a sua visão, fazendo com que sua essência fosse dizimada e lançada fora
como um sentimento vazio por alguém.
Essa energia que te consome quando você se encontra consigo mesma,
são os gritos de desespero, as vozes que sopram pelos templos lunares, onde
reside a sua magnifica esfera branca do amor.
Mas para deixá-la você precisa saber como libertar-se
daquilo que inutiliza sua espiritualidade e cessa o contrato com o seu colar
sagrado, pois a chave para sua liberdade não está nela.
Entenda que existem elos espirituais que se desfazem
quando escolhemos um caminho oposto àquele que nos foi destinado, mas o que é o
destino, se não uma esperança ardente?
Você já parou para pensar por que eu continuo
presente na sua vida?
Ou por que os mares não atravessam o limite das
margens e os céus não permitem que o universo nos congele?
A verdade parece está sempre estampada diante dos
nossos olhos, mas aquilo que vemos é uma ilusão dela, uma mentira que se faz de
verdade.
Portanto o que digo não é o que quero dizer, e o que
faço não é o que desejo fazer, são apenas distrações para o que realmente está
sendo dito e feito.
Assim como uma tempestade chega sem avisar, assim são as palavras da alma assassina quando me são reveladas.
O sangue dela é o meu vinho e a sua voz, a canção das
minhas noites...
Mas se isso é
verdade, então por que me sinto tão vazio?”
Assinar:
Postagens (Atom)