O Lamento do Amante
Uma fraca luz se movia suavemente por um campo coberto pela grama recém-nascida e ecoava seus gemidos de consolação, enchendo de
tristeza os pássaros que lá sobrevoavam. Nos céus negros as nuvens abraçavam o
silêncio vagando por cenários desolados, reunindo os poderes da lua gótica
como estrelas que brilham num vale de relâmpagos, mas perdida era aquela que lamentava sob a árvore solitária por seu amado. Lá no fundo de mim, eu
sabia que a encontraria ali, vendo o tempo chorar lento como uma lamentação,
queimando meu coração preto com uma chama inspiradora que aliviava
meu desejo por uma dolorosa aflição que crescia como
um lânguido brilho lunar banhando minha pele com silenciosos ventos e canções
suspirantes, ventos que estabelecem a sinistra doçura dos tempos cheios de
magia, semeados com canções desconhecidas e arranjos melancólicos, em uma
música hipnotizante e prefixa, isto é, a poesia do amante embriagado pelo triste
som da sua perda. No ébrio da solidão eu já não temo os majestosos reinos da
morte, pois penosamente na brisa da manhã a tranquilidade acaricia meu rosto
como um manto de veludo, um sol ainda quente colorindo o céu, com prados
brilhando numa luz dourada na véspera da morna voz do verão, em esmeraldas
enfeitiçadas pela mordida da penumbra do anoitecer. É através desse lugar obscuro,
o qual chamo de solidão, que as folhas vermelhas cobrem meu corpo e pintam com
o gelo os tons decorativos da minha angústia, viajando pelos sonhos infindáveis
onde um pássaro noturno canta seu lamento, voando numa chuva gentil de lágrimas
que continuam a cair quando a noite chama pelo seu nome. É como uma má conexão
entre os opostos, como a vida inteira sem você sob um canteiro de flores
tentando alcançá-la com um sentimento sem limites nem regras, aliviado por que
a inocência ainda está lá. Com amor ardente você iluminava meu céu como as chamas
que lambem meu corpo, você se apaixonava sem se preocupar com o amanhã e
atravessava anéis de diamantes com aparências ousadas, cantando nos festivais
da noite e desfilando em seus lindos trajes reluzentes... até o momento em que
o mundo virou as costas para você e deixou-me aproximar-se, acendendo este
escuro amor secreto como um selo sobre o seu coração. Mas um coração vazio é
sempre frio como pedra, como luzes de neon vagarosamente sombrias arrastando a aurora, você carregou toda minha alegria, apenas para ter em seus braços
uma corrente de flores murchas, amores que nunca encontrarão a verdade sobre
você ou conhecerão aquela que se esconde atrás de um sorriso tímido, não verão
a luz que queima no seu olhar nem sentirão seu cheiro que abastece a noite. Do
jeito que meu corpo vibra quando estou com você, diria que meu coração é
errante, pois você é a coisa mais magnificamente linda que eu já amei neste
mundo, o jeito como você me olha, me faz desejar você mais perto, quando você
balança a cabeça para sorrir, eu desejo que a noite se torne manhã e brilhe
como num sonho rosa, com cheiro de chuva distante e gosto de água térmica, movendo
devagar pelas ondas e gargalhadas do vento, como o beijo de um homem cego, um
silêncio repentino com seu rosto girando na poeira, esperando que o dia se vá. “Eu
te amo”, diz os meus olhos negros perolados, “perdão”, diz a minha sombra num
sussurro suave, permanecendo imóvel embaixo da profunda saudade enquanto as luzes
se apagam e ouço a escuridão respirar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário