Sensual
carta anônima
“Amada minha,
Durante o dia ouço vozes que dizem: siga para o
paraíso, mas durante a noite elas me chamam para o inferno.
Estes sonhos que obstruem minha esperança continuam
ardendo como chamas negras inextinguíveis, como um lobo que vaga lentamente sem
rumo, buscando um lugar quieto para descansar.
Apesar de tudo isso, os meus dedos continuam a
procurar a beleza das palavras que possam conquistar seu coração, onde a bênção
do sangue dos deuses lhe foi concedida.
Você é a flor que recebe o favorecimento do senhor da
noite... e em troca, dá o seu perfume.
Pois é olhando para o crisol da lua que sinto o seu
cheiro fascinante levando-me numa vontade infernal de uivar!
O seu boreal de esmeraldas é refletido no meu olhar,
vendo em mil noites um único momento de junho, onde debaixo de um céu vermelho
sem nuvens nossos corpos se encontraram num afável beijo eterno.
Queria eu poder voltar naquele intrínseco instante, sentir
teus lábios como gelo derretido e sua língua brincando de fugir da minha, seus
olhos abrindo e fechando enquanto sorria...
Naquela noite eu te abracei como se fosse minha e
nada mais importasse, o seu corpo tão quente enchia-me de desejos inexprimíveis
e sua pele cor-de-rosa, arrepiava-se.
Tal era o sentimento que sentia, indizível e fora do alcance
da razão, pois nem em minhas maiores inspirações poderia descrevê-lo.
Ali nós estávamos envoltos pelas intensas chamas de
excitação incandescentes que se apagaram tão rapidamente quanto acenderam.
Você partiu para os braços de algum estranho qualquer
em terras distantes, porém eu fiquei petrificado no tempo daquele lugar.
Uma bela noite negra
que valeu mais do que uma vida inteira, estive lá e parti ao amanhecer, sem
dizer adeus ao dia anterior.”
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