quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Descanso no Suicídio


Sensual carta anônima

“Amada minha,
Por um longo tempo eu tive o sentimento de que você estava despertando meus sentidos, mas agora quando estou muito longe para conseguir pensar, eu continuo encontrando apenas a outra parte de mim.
Debilmente como alguém que assume o controle, a alma mestre está assinando com a mão egoísta o contrato para possuir minha mente, inteira.
Olhe para as sombras nas paredes, o sopro que foge para fora do candelabro queimando até as cinzas, assim como essa vela eu estou perdendo minha vida.
Nos dias claros observei o nascer do sol e as cores que ele trazia, esperando pelo pássaro negro que era meu anjo por dentro, mas ele nunca retornou.
Assim, aqui estou, mas não posso explicar-me, pois penso que escrevi mil palavras e nenhuma delas poderia dizer o que eu sinto.
Durante a madrugada eu enxergo rosas pretas e folhas brancas, tão pálidas quanto seu rosto, e suas pétalas sobem à luz, desvanecendo profundamente em meus sonhos, balançando minhas memórias como a água gelada que corre em seus olhos.
Neste naufrágio, com minha alma tempestuosa possuída pela vontade de lhe encontrar, eu espalho sementes para desenrolar meu próprio desfecho.
Mas embora eu saiba que tudo isto seja em vão, o tempo passa e ainda estou respirando através dessa caverna sem a intervenção da luz.
Todos parecem tão distantes de mim agora, todo esse tempo eu estive me escondendo no escuro?
Minha alma se transformou em cinzas e o meu otimismo, em dor, desenhando a cortina com a lâmina nascente.
Quando a noite abraça a orla com suas mãos frias e escuras, ó, não se desespere, eu sou a tua luz na alegria e na tristeza, eu sou a tua fantasia, diz a alma mestre, cante por todos os amores que você perdeu, por todos os amigos em que você costumava confiar!
Na beleza de uma realidade distorcida, eu continuo dançando com as sombras em um caos tranquilo, vendo em meus olhos apenas o rígido pesar da obscuridade.”

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