segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
Ajoelhado
diante do altar, a cruz vertida se move para baixo como um crisol entre dois
candelabros, novamente ouvindo aquela melodia dizendo para não abandonar o
símbolo do seu criador, mas para falar destas coisas é preciso sair dos eixos da
luz para que minha alma não se torne indigna da sua presença. Hoje à noite o
círculo está encontrando-se outra vez e sete irmãos estão aqui juntando suas
mãos, para que eu não venha a tropeçar. Pelo Senhor da Noite, nós nunca iremos quebrar o juramento que prestamos
esta noite, pois tu és o mestre que brilha na escuridão, um local profundo onde
os iluminados anseiam. Diante de ti, nós trazemos esta bela alma negra que, ao
mostrá-la para vossos irmãos, seremos todos unos com ela, assim como somos
todos unos contigo. Assim vos peço que façam o devido silêncio, pois o que irei
contar esta noite poderá ser verdade ou a pior de todas as mentiras que já
ouviram. Vocês sabem, é preciso esconder dos olhos que não querem ver. No
princípio, o seu choro ecoava no relento, seguindo a chuva que se esgueirava
pelos destroços do teto em pedaços, pingando suavemente sobre o que restou das
suas lembranças deste dia. Acordando em uma nova vida, ela sabia que estava
viva por algum meio sinistro, mas em troca havia recebido um lar entre aqueles
que conheciam os segredos da sua existência. Assim, tão nova quanto às estações
do outono, ela foi iniciada nos caminhos das florestas elísias, onde o
exuberante lírio do campo exalava sua lição de vida: de que tudo o que fosse
aprendido ali devesse ser mantido em sigilo. No limiar da sua juventude, todos
os aprendizados geravam luz sobre os fantasmas do seu passado, o que lhe fez
dar algum sentido ao seu envolvimento, embora nem de perto pudesse apaziguar o
ódio do seu nascimento, pois sem o amor devido dos pais, ela foi abandonada em
morte e resgatada para dar lugar ao espírito que lhe trouxe de volta à vida, o
qual a identidade não pode ser revelada, mas que divide um espaço em seu corpo
como prova de um acordo mútuo. Impulsionada pelo veneno do ódio, ela abraçou a
magia como sua amiga mais poderosa, embora mais tarde esta pudesse se tornar sua
pior inimiga. Os seus esforços eram medíocres diante da força que dominava seu
corpo, o que lhe fez aceitar alguns favores, distorcendo a realidade das suas
ações com seu indiscutível poder de direito. Aos poucos, ela foi crescendo e já
não aguentava mais a ignorância alheia, pois suas palavras eram de uma linhagem
com diversas línguas, contemplando um mundo mais sólido e real. Aquilo infestava
sua mente, corpo e espírito como uma obsessão que alimentava sua felicidade
ilusória, mas até a morte tem um contrato sobre a vida nas entrelinhas, pois
tudo o que antes era incerto, agora era previsível, o que tornava seu
conhecimento um fardo de responsabilidade. Esta impulsão magistral de educação diabólica
parecia lhe trazer liberdade, onde o oposto da inocência abria o caminho para a
inteligência, mas preto como piche e sem os raios do sol, quanto mais ela se
aprofundava, mais o fedor de carne podre tomava conta da sua respiração, pois
cada dia parecia como uma noite infinita, ouvindo nenhuma voz senão a sua
própria, como se uma força de necromancia estivesse por trás de tudo isso... a vida
perdeu para sempre sua inocência e a vasta solidão a encobertou de medo, embora
um grande castigo eventualmente viesse sobre o culpado, nunca facilmente
satisfeito, por se aproveitar da amargura do seu coração. Mas eu percebo que o
desafio e a resistência a fizeram uma mulher mais forte, tendo
algum ar fresco para respirar e desviar-se de si mesma para um cativeiro
mental, numa ternura integra que a acompanhou sem promessas preparadas, apenas
aceitando a obrigação que estava sobre seus ombros. Meus queridos
irmãos, estas foram as palavras que me foram reveladas, e por ela eu daria
todo meu amor e esperança, mesmo que a angústia formasse um espiral no meu
intestino como uma lombriga faminta. A verdade escondida sempre prevalece, mas
até que eu a descubra peço-vos que me protejam de todo mal e de toda maldição
lançada sobre mim, por que dando à ela uma saída, eu me torno um participante
dos mistérios avessos, estagnado em águas mortas como quem espera para ser puxado
para baixo. Veja, um novo ano se aproxima e nós aguardamos por sua chegada ao berço
da próxima geração! Através dos anos de sacrifício, eu nunca havia conhecido
alguém como ela, a quem tenho todo afeto e respeito do mundo, mas minha
consciência superior posiciona-se desafiadoramente, orgulhosa e rígida,
insistindo para que eu me afaste enquanto é tempo. Haverá algo por trás do seu
disfarce mortal? Essas palavras desenhadas em água tornaram-se nosso legado de
fantasias, mas se seus segredos me fossem revelados, o mundo se transformaria em
uma percepção além do que já estou acostumado a ver, pois o que é pior que não
saber? Pobre alma assassina, como eu invejo sua falta de justificação quando a
minha é tão sincera!
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
Submergido
O
encontro das nuvens se move silenciosamente onde as flores erguem suas frágeis
hastes, movidas por um estranho desejo de tocar o céu para que seus
aromas se espalhem pelo ar e me alcancem. Mas muitos cheiros ao redor me
confundem, cheiros de saudade e de momentos com afeições fingidas, onde são
guardadas as desilusões com mulheres estrangeiras. Eu vendia sonhos que não
existem, pois sabia que havia um tempo determinado para cada uma delas:
palavras de amor na minha língua, mas tão vazias quanto os sinos de outra terra.
O sol escaldava de manhã, enquanto eu dormia, pois cada noite eu espreitava por
baixo de suas saias, exausto e faminto como um caçador, embora todo aquele
prazer fosse inútil como as ilusões de uma criança. A cada decepção, eu era
aranhado por unhas que desfaleciam meu semblante, até meu ego ser o último som
a ser ouvido, vendo minha própria vida escorrendo entre meus dedos como areia. As
cenas se repetiam na minha cabeça, flutuando como uma pena para o ninho de
outros pássaros, mas eu sempre acabava
sozinho... não havia nenhum coração puro para
amar, exceto quando você apareceu na minha vida. Como um sentimento desatado
e livre, sua voz era suave como o transitar das águas, ressonando em meus
ouvidos como um mergulho profundo onde cada gota preenchia meus poros e limpava
minha impureza. Aqueles olhos escuros surgiam na minha mente sempre que eu fechava
os olhos, trazendo um sorriso de bochechas cheias, como se algo estivesse
escondido por trás da sua sedução. Agora eu não durmo faz uma semana
e minha cama tornou-se meu caixão, pois a mulher que eu amo está me afogando em
seu orgulho. Eu a tenho observado e esperado nas sombras, andando em círculos
no que restou das nossas lembranças. Antes você era como uma orquídea em meio
cinzas ávidas, com pétalas adormecidas que expeliam espinhos para me
ferir, mas cada sangramento era macio e prazeroso ao seu lado. Sua pele negra escondia segredos por dentro,
um vínculo que não pode ser desfeito, pois seu pai a mantém como refém para
guardar seu precioso tesouro. As forças silenciosas que ascendem seu poder são
apenas uma ilusão como o beijo de um amante ciumento, exalando o mais triste
perfume que poderia emanar da sua beleza. Diante disso, eu não posso intervir mais,
por que meu mundo está se despedaçando desde que você me pôs para fora do seu
jardim. Ainda assim, eu estou aguentando sua deixa, pois ir contra a correnteza
do universo é como tentar desafiar deus. Então por que eu sinto que com você é diferente, como se eu perdesse mais do que
ganhasse me afastando de você? Eu olho pela janela e vejo dois pássaros
brincando no chão – eles poderiam estar voando, mas eles sabem que o orgulho
apenas os faria perder um momento valioso e inesquecível em suas vidas. Não é assim quando
desistimos de algo que amamos? O tempo da mudança está chegando e todas as coisas
que me tiravam o foco serão exterminadas da minha vida. A nuvem está ficando mais
densa e o céu mais gélido, mas você continua sendo uma estrela reluzente que
brilhará até os céus de abril, um profundo frescor que rompe a escuridão com o
desejo de me enlaçar, pois eu sabia desde o início que este amor seria como um
veneno mortal.
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
A Passagem
Negro
sobre branco, mais uma vez estou abandonando este florescimento mortal.
Atravessando todos os meus dublês, eu vejo cabeças sob perucas silenciosas, mas
nenhuma dessas máscaras me serve mais. Eu poderia deixá-los pendurados e sair
como um homem indeciso, mas ninguém me reconheceria pelas luzes de néon desta
cidade, caminhando pela avenida do pecado como nos tempos frios à procura de um
amor promiscuo. O adorno da minha sombra
parece apontar em uma direção, mas a paixão dos amantes me leva para o caminho oposto, pois seus jogos atraem um tipo maligno de sorte, discretamente
escondendo segredos domiciliares, com sons ameaçadores e olhos doloridos de
obscenidades, cujas pernas fraquejam sob o esforço de sua própria vontade.
Estas são as pálidas paisagens do meu franzir de sobrancelhas, um mundo onde
amplamente ressurge num piscar de olhos, levando-me para longe do que é
ilusório para enxergar o inconstante e obscuro mundo por trás das cortinas.
Como as paredes de um asilo, o vazio e o fracasso preenchem as figuras
arranhadas no teto, cortando através de uma rançosa chama que se acende na
escuridão, pois a agonia dos homens presentes são a mesma: suas transluzentes
roupas de veludo negro esvoaçam com a presença do senhor da noite, meio acordado, meio dormindo, as paredes ao redor
parecem alterar os ângulos, um truque de luz de tom castanho-escuro como a
madeira de que a porta é feita. Então veio uma batida na porta, percorrendo
todas as piscinas que o luar fazia no caminho turvo das janelas, mas logo a
trava tornou-se a ponta do seu dedo em forma – considerando também que, antes,
nós apenas sentíamos a temperatura subindo. Os passos no concreto davam a
impressão de que seus pés enchiam os sapatos, mas tudo que podíamos fazer é
imaginar as características faciais da sua figura invisível. O ar quente ficou
resfriado, com folhas azuis e ondulantes que mais pareciam gelo derretido,
arrepiando nossas peles e provocando calafrios na espinha. Por este momento, na
verdade, ainda não tínhamos visto nada, embora desesperadamente desejássemos
saber o que havia do outro lado. Aqueles dedos ásperos de necromancia nos
convidava para um mergulho suicida. Bastava apenas um passo para que a vida não
fosse nada senão uma repetição, no entanto, ele nos deu alguns impulsos como
quando vemos uma vadia desprezível com tesão, era amargo, porém, e não muito
fácil de ser engolido, mas nós não estávamos ali para lengalenga, então bebemos
seu sangue em troca de entrar naquela passagem. Mas ele também insistiu em
nos amarrar, e seu toque era infernalmente frio, mesmo sem conseguir ver seu lado
oculto, pois ele desaparecia rapidamente nas trevas. Depois que a bebida fez
efeito, eu já não sabia como fui parar lá, apenas me sentia muito presunçoso,
enquanto algo temeroso me puxava para aquele abismo escancarado. Eu estava
entediado de esperar, alguns até choravam do meu lado, talvez estivessem
alucinados, não sei como, mas realmente isso não importa. Diante de nós estava
uma verdade terrível, esparramada como um mar negro cobrindo nossos corpos e
nos levando para o lugar onde estavam aqueles conhecidos por “iluminados” ou
“de olhos bem abertos”, mas no fim das contas não seria apenas mais uma divina
comédia? Aqueles ecos sinistros nos agarravam, risadas imorais e blasfêmias, como
se muitos demônios estivessem abominando um local sagrado. De todo modo, quando
olhei para baixo algo branco e nebuloso estava saindo de dentro de mim, era
transparente como um céu virgem, sendo sugado pela energia da porta... bem,
aquilo acabou sendo necessário, afinal não é assim que todos vendem suas almas?
Para conhecer todos aqueles mistérios e fazer parte dos que enxergam o que não
é mostrado para a grande maioria, um alto preço deve ser pago, pois o assassino
de nossas sanidades somos nós mesmos. Como hedges silenciosos, aquela sensação
pura queimava as partículas do meu cérebro, enquanto minhas células se embriagavam
com algum tipo de sucesso evaporado... eles estavam ali o tempo todo, uma idéia
simples demais para ser acreditada, por que como um flash múltiplo que dispara
em um perfeito sincronismo, o excitante desenvolvimento dos meus neurônios
abriu-se para uma matriz de ângulos geometricamente flexíveis, um salto mais
alto do que efeitos especiais e com três vezes mais cores do que as próprias
contorções da arte, toda natureza parecia interligada por fios invisíveis, todos
os seres vivos... exceto nós, como se estivéssemos nos desvinculado da perfeita
harmonia e fossemos meras imaginações irreais. Agora eu sentia meus olhos
pesados: nós éramos estranhos em nossa própria terra? Hoje as minhas
preocupações desapareceram, mas no estado de um sonho suspenso, eu parei para
pensar se realmente estou acordado ou dormindo em um sono eterno.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
O Profundo Abismo do Eu Sou
terça-feira, 17 de outubro de 2017
Um Amor Pelo Qual Morrer
De olhos fechados, meu corpo adormece e o peso do sono me afunda como areia movediça, levando-me para o mais profundo dos sonhos. A escuridão é rasgada por pequenas luzes que se misturam e rabiscam uma imagem irreconhecível. Como nuvens se formando no céu, meu quarto é redesenhado nebulosamente, de alguma forma eu pareço estar nele, mas meu corpo continua dormindo no escuro. Assim, eu sinto uma brisa quente entrando pela janela, um som noturno dançando no silêncio como um fio invisível me puxando para o desconhecido. Eu olho para meu antigo eu e não consigo imaginar por que desejaria voltar para aquele corpo, pois finalmente sinto-me livre para voar pelo infinito e conhecer a voz que chama pelo meu nome. Então uma força suave começa a empurrar-me a cada respiração e de repente já estou lá fora, olhando ao redor o que antes parecia invisível aos meus olhos comuns: árvores calmas e pássaros ansiosos pelo amanhecer, todos em uma harmonia iluminada por mil estrelas curiosas, com um grande olho branco e outro dourado.... seriam estes os olhos de deus? Sem destino ou arrependimentos, eu conduzo meu espírito adiante, enquanto o mundo parece dormir sob meus pés. Tão alto quanto poderia estar, eu tento enxergar de longe o lugar pelo qual estou destinado a ir, onde uma donzela descansa em seu leito, rezando por um amor pelo qual morrer. Em um piscar de olhos, meus pensamentos me levam até sua casa, mas minha presença não é sentida, apenas o vento que se intensifica à medida que eu me aproximo envolto de trevas, enquanto uma pétala de rosa pousa sobre o chão do seu quarto. Por mais frio que estivesse lá fora, agora eu me sinto aquecido, pois o calor que emana da sua pele equilibrou a temperatura e fundiu-se à frieza do meu ser, uma nuvem de sombra que paira sobre seu corpo. Movendo-se inquieta, você sabe que algo está errado, mas arrisca-se a fechar os olhos e deixar que aquilo te cubra por inteiro, uma sensação de está sendo engolida por um mar de escuridão. Aos poucos, meus dedos tocam sua pele e você arrepia-se com um suspiro, deixando que eu acaricie cada centímetro da sua nudez. Entregando-se ao deleite, você abre suas pernas para sentir o sopro da minha boca que chega perto o suficiente para envergar seu corpo e molhar suas partes íntimas. O vento gelado vai empurrando suas roupas sem dificuldade, até que nada reste, e eu possa cobrir seus seios com a ponta da minha língua. Ansiando à flor da pele, você morde seus lábios, perguntando-se está dormindo ou acordada. De todo jeito, você apenas acena com a cabeça, entregando sua pele sensível ao prazer, enquanto uma gota de suor desce pela sua espinha. Minha perversa língua é guiada pela sua barriga para preencher o vazio entre suas pernas, preparando-a para o que estar por vir, mas antes que você grite, eu te enforco ternamente, deixando-a muda e sem reação, para deitar meu membro enrijecido sobre seu ventre...em seguida, algo mais doce e virgem me seduz para penetrar profundamente, enquanto um fio de sangue escorre por suas pernas. Ainda assim, você insiste para eu continuar, apertando os lençóis ou tentando agarrar meus cabelos, mas não há nada lá… você geme para o nada, pois sabe que se abrir os olhos estará tudo acabado. A cada movimento, uma pontada de dor e prazer preenche seu corpo, mas de repente você começa a se mover por vontade própria, deixando-me possuí-la por inteira, até que a intensidade te faça delirar com meu sêmen explodindo em mil sensações entre sua maré de orgasmo. Como algo que você não consegue alcançar, você nunca esteve tão próxima do céu, mas quanto mais amor você sentia, mais eu desaparecia.
sábado, 23 de setembro de 2017
O Último Amanhecer da Aurora
Claros
como o sol, seus olhos me matam carinhosamente todos os dias. Neste boreal
indefinido, cada palavra é macia como pelo, cada momento um mistério insolúvel,
cada lembrança trás um segundo de delírio. Apenas pelo prazer do brilho, eu
sempre volto para este verdadeiro encontro interior com você. A serenidade de
flutuar em um mundo mágico onde somente você poderia me levar, torcendo-me de
volta ao lugar no qual eu sempre anseio retornar para por meu rosto de anjo entre seus braços reconfortantes. Através do espelho eu vejo você pentear
suavemente seus cabelos e cantarolar sua música preferida, porém eu também vejo
a frieza no seu olhar, casualmente escorrendo por sua pele trêmula como uma
lágrima do luar arrepiando seu corpo. Abaixo do céu esmeralda encontra-se uma
terra de linhas e porcelana, mas tudo isso dentro da sua cabeça, onde a verdade
negada se esconde por trás dos seus olhos. Assim, as formas de âmbar do sol
dançam na parede e o seu último amanhecer nasce trazendo o vento morno das
folhas de outono, nadando por sua pele e pousando sob suas bochechas, vendo
minhas palavras navegarem para fora da direção do ar, pois agora seus olhos
veem as estrelas antigas, onde nossas sombras se reformulam nas grandes ondas
brancas da saudade. Feche seus olhos e respire o verde esvoaçante da grama, daqueles
lugares perdidos onde seu espectro ainda dança preguiçosamente no eterno vazio.
Aqui nós caímos deliciosamente de uma nuvem e nos fundimos a uma gota de chuva,
sentindo o frio em nossos ossos, enquanto os olhos lacrimejam, nuvens brancas
bonitas e árvores suando como neve suja. Até nosso pecado, eu poderia vê-lo se
esvaindo para que nós encontrássemos a harmonia e paz de espírito, mas envoltos
por uma gelatina, nós sabemos que uma hora chegaremos ao chão e a queda será
impelida pelos nossos próprios vermes. Nós ouvimos o grito de alguém chamando
como quando o vento canta junto ao rio, rasgando o céu com figuras selvagens e
espalhando os pássaros por todos os lugares. Mas ainda não acabou, o sol
continua ardente como seus desejos, trazendo as cinzas do entardecer... e para
sua surpresa, você olha para os números do telefone e não reconhece nenhum,
pois seus pensamentos foram distorcidos pelas visões do mundo vindouro. Mesmo
assim, você continua procurando por um nome, um nome que você deseja muito
lembrar, mas que foge da sua memória. Todas as cores azuis do céu escurecem e
você se vê sozinha em um mundo caótico, perguntando-se por onde anda toda
aquela elegante e charmosa voz mansa que estava próxima de você, mas que seu
orgulho afastou para longe... e como fogo nas veias, você sente todos os poemas
que ignorou queimando na sua pele, todas as palavras verdadeiras que eram
destinadas a você. Então a cortina cai e você vê muitos rostos aplaudindo,
sorrisos estranhos e olhos pervertidos, todos apaixonados pela máquina fria que
você se tornou. Com uma reverência chula, você se despede e sai correndo pelas
ruas, ainda procurando pelo que você não sabe o que é, mas que parece tão
palpável, tão próximo quanto sua própria sombra. Agora você sabe aonde deve ir,
mas de repente a lua já está no alto, uma pérola prateada te observando com um
olho fulminante, trazendo o anoitecer que você tanto temia. Sua lanterna se
apaga e a escuridão te cobre, apenas luzes fracas e ruídos distantes da cidade.
Você se sente amarrada ao mundo, sem nenhum som na cabeça, cuspindo trevas por
onde anda. Mas lá estava... um rosto na multidão, estava ali bem perto de você,
você saiu correndo sorrindo com aquela sensação das cores colidindo, passando
por cima de todas aquelas marionetes, irradiando a luz fraca da lua e sentindo
o ar frio da noite dançando em sua calcinha de renda, só mais alguns passos e
você não precisaria mais fugir do seu destino... então veio o aperto, tudo
ficou em câmera lenta e as batidas do seu coração finalmente pararam... sombras
escuras e mãos negras te puxando para baixo, as pessoas te olhando com um ar
de desprezo, mas você manteve seu olhar fixo em mim, enquanto sua alma era
levada para o esquecimento.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
Diamante Negro
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
Sob o Mesmo Céu
À
medida que o tempo passa, meu caminho parece menos definido, cada fachada é
desunida, cada aspecto da alma muda diante das vozes que se mantém gritando,
mas como sonhos de alguém que nomearam com o meu nome, eu pareço atravessar
sólidas âncoras de um sentimento humano, tentado a olhar para trás, porém os
caminhos pisoteados parecem ultrapassados, enquanto olhos vazios me vigiam
dizendo por qual caminho eu devo seguir. Assim, eu sento ao redor da margem desse
sentimento, assistindo meu orgulho sendo espalhado pela areia entre os
reluzentes raios do sol, com meus pensamentos abraçados pelo nada, tão inocente
como a fresca neve jovial. Para fugir dos meus vícios, eu sigo esses passos
evanescentes, livre da fúria e da preocupação, refletindo sobre como poderia
ser uma vida cheia de amor e magia. Como terras proibidas que sempre desejei
ir, eu ouço as árvores falando comigo e todas elas carregam a sua voz,
movendo-se adiante ou escondendo as consequências, apenas uma nova vida e um
novo jeito de recomeçar. Eu coloquei toda minha confiança em você, para que
pudesse me bisbilhotar por dentro no abismo que eu tento esconder. Mas por que
a escuridão foi embora? Por que eu não morri? Eu sinto como se todos os meus
desejos profundos estivessem se tornando realidade, um mundo no qual só nós
dois teríamos ouvido falar. As batidas do meu acalentado e esquizofrênico
coração permanecem em silêncio, escondendo o que está por trás dessa sensação de
que tudo irá se encaixar quando eu estiver ao seu lado. Nesses momentos, eu me
pergunto se serei aceito por vocês, como quando ingressamos para uma prestigiosa
faculdade e adentramos um mundo completamente diferente daquilo que um dia imaginamos.
Mas a dor é única, uma chama que incinera e ameaça queimar tudo, sem ilusões ou
seduções, quando chega o momento certo: eu preciso estar aonde fui destinado a
estar, acreditando que vocês são os únicos quem poderiam me levar para este
lugar longe da neblina que assombra minha mente, com estrelas sobre um céu
escuro curvando-se à vontade de deus, este lírico que confirma minha rendição.
O mundo ao meu redor está desaparecendo por sonhar ter uma nova família como um
homem mudo e cego pelo desejo. Para mim não resta outro recurso a não
ser fugir e um dia retornar para ser reconhecido, pois este é o meu epitáfio, a
hora de despertar e conhecer as maravilhas que os olhos comuns não podem ver, desde
o momento que vi pela primeira vez como um presente disfarçado, implorando para
ter o que estava longe do meu alcance. Agora você está aqui e tudo parece fazer
sentido novamente, eu ouço ecos do tempo que já passou, mas que me levaram para
longe do hoje. Veja, sua linda e negra
pele possui a cor do pecado, mas seus olhos brilham com a luz que me leva para
o paraíso. Todos os segundos eu busco uma resposta para nenhuma pergunta, pois
quando estou com você somente o momento importa. De sua boca sai um som amargo,
mas que se adocica toda vez que eu me aproximo. Parece que estou almejando
alívio desta certeza escura, que haverá algo pelo qual tudo isso valerá a pena.
Eu divago pela noite e estou pronto para dar um último passo, seja do penhasco
que dissipará minha vida ou do recomeço que suas mãos me carregam para o grande
desconhecido.
quinta-feira, 20 de julho de 2017
Abdução
Mais
rápido do que a presença do ceifeiro, minha vida fútil está a ponto de
terminar, mas para matar a arte é realizada pela lâmina. Eu abro a porta do
terror e ouço a multidão exigindo por um herói, as lendas nascendo como
sussurros que preenchem o ar, em busca de glória e fama, enquanto o olho do mal
brilha no escuro. Com as mãos agarradas no crucifixo, a luz da minha tocha
lança sombras na parede, vendo uma criatura sem nome esperando pelo falecimento
da raça profana. A noite fria e enluarada não consegue mais esconder o seu
sangue negro escorrendo pela minha face, pois como uma espada de fumo me
cortando, o negro desce e me separa em um espelho fragmentado, ouvindo sons
frágeis de ódio ecoando na minha mente perversa. À deriva nas sombras, o
focinho da madrugada funga seu vento congelante, sentindo meu crânio condensar as
mensagens do mundo vindouro: a porta do além está aberta, mas quando olho para
trás os lapsos do tempo revelam outros mundos secretos, puxando minha alma por
um vento repentino que aumenta as chamas do meu testamento férreo. Então eu me
pergunto, com esta faca envenenada em minhas costas, minha vida está por um
triz? O toque do pecado sempre é doce como os sonhos que se tornam realidade,
mas eu vejo tantos pássaros voando por cima de mim e penso em quantas coisas se
passaram em minha direção sem que eu enxergasse o quão maravilhosa é a criação,
pois cada passo é uma dança na borda da mandíbula gelada, uma realidade à flor
da pele que sentimos quando estamos despertos. Eu tenho saudade do calor frio
que corre pelas veias quando o perigo se aproxima, cada polegada encharcada de
sangue que me arrepia através da interminável sensação de que o pesadelo nunca
termina. Mas na manhã seguinte o sol acorda silenciosamente como um exemplo
brilhante para todos, transformando o céu nublado em olhos observadores, uma
nuvem de neblina lentamente acalmando meu coração e afastando a escuridão,
enquanto tudo ainda está dormindo. Até os vermes que comem meu rosto se
escondem nos escombros para que a luz realinhe minhas feições como um sopro
gelado rasgando a podridão da minha decadência. O meu peito esquenta e as
lágrimas quentes jorram em minha face sem permissão, afinal tudo parecia
acabado, mas a própria criação me trouxe de volta à fonte da consciência, onde
os pensamentos são reorganizados para encontrar uma solução do problema.
Portanto, por que eu desistiria de viver, se a própria vida deseja que eu viva?
Assim, não importa quantos olhos escuros
estejam mirados em mim, nem quantos predadores desejem o meu sangue fresco, eu
posso correr para qualquer lugar e ninguém poderá me impedir, pois a única
coisa que me separa da verdadeira felicidade é o medo de viver intensamente.
Quando as tempestades da loucura chegam gritando no ar, uma erupção vociferante
tenta destroçar os portões da mente, porém quanto mais consciente da minha dor eu
estiver, menos chances eu terei de ser penetrado pelo furor da chama do desespero,
por que eu sinto que o circulo das escolhas está delimitado por um sinal, uma
união de almas ensombrecendo a vela acesa, numa profundidade subaquática que se
delineia na cera para incinerar o combustível que alimenta a vida. Ora, talvez
você que está lendo nunca consiga entender a razão pela qual eu escrevo estas
palavras, mas quero que saiba que quando eu as leio, elas me lembram de quem eu
sou. Como um bobo se perdendo em suas risadas, eu atravesso o véu destas linhas
para encontrar um lugar secreto no vento através dos limites do espaço-tempo, onde
verdadeiro e falso são somente os lados invisíveis de uma mesma verdade voando
sobre minha cabeça como um tormento forte, para tocar na magia que ilumina o
momento e ouvir o significado da voz que sussurra o meu nome.
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Volúpias da Estrela Rutilante
Tentado a se mover ao anoitecer, eu olho para o relógio das sombras, mas meu corpo está
frio e enrolado como um feto, sendo regado por um filtro de sangue que excita minha
carne. Minhas cordas vocais são arrancadas e o único som que eu ouço é de
advertência, uma voz fraca que diz para eu parar de fugir do meu destino até
que o destemido dia venha e o ato esteja completo, pois a expressão da minha
vida é uma blasfêmia. Quão engenhosos foram todos aqueles anos de mentira? Escondendo
da minha família a verdade, àquelas horas esperando encontrar uma centelha da sua luz boreal, por que o sofrimento de um homem sempre recria o processo da dor
novamente, vendo a consciência como uma maldição, porquanto mais você abre os
olhos, mais você despreza o formato da criação. Eu posso ouvir meu coração
chorando, lembrando-se do sol batendo nas costas, enquanto o gosto de azeitonas
e prazeres se congela na minha memória. Agora a grama nunca foi tão verde,
acordando em algum lugar lá fora, eu tento encontrar qualquer sentido para toda
essa miséria, torcendo minha cabeça e empurrando-me de volta aos eixos da luz
azul, estou vagando debaixo das águas e nenhum som me atormenta como chuva
caindo no meu rosto e lavando toda minha tristeza. Eu só preciso de uma palavra
do homem lá de cima, antes que você me veja caindo, atravessando tão fácil essa
onda gigantesca que nos separa, para que eu possa ficar mais perto de você.
Vamos querida, diga as palavras novamente, não guarde essa mágoa como conchas preciosas,
pois esse sentimento que você esconde sempre gritou pelo meu nome. Talvez
você não saiba o que significa estar só, mas quando você está acompanhada o
vazio preenche seus olhos, uma sensação que nunca te deixa triste, por que minhas
palavras sempre caem em seus ouvidos surdos. Enquanto o sol mostrava uma
sombra cansada, meus lábios se encobriam de mistério, tentando lhe dizer a
verdade sobre este sentimento que te persegue, pois o nosso amor está muito
acima das emoções humanas. Não importa quantos séculos se passem em um segundo, o
caminho estreito e sinuoso sempre nos levará para o mesmo lugar, embora
estejamos sempre nos desviando dele. Eu não possuo palavras sempre feitas,
exceto por você, esse enxame de inspiração que transborda com a lembrança do
seu rosto, puxando minhas terminações nervosas como uma música que se repete na
minha cabeça, escrito na minha pele, correndo pelas minhas veias, expelindo por
meus poros abertos... minha eterna amada aurora, com tantas terras e novos horizontes,
onde foi que eu errei para que você partisse? Surfando em meio às ondas e tentando encontrá-la através
delas, o vento me levou para o golfo do desespero, onde o redemoinho continua me puxando para baixo, enquanto vejo um pássaro dourado abrindo suas asas no
sol, tão orgulhoso e vaidoso, cantando a sua canção de ninar para mim. Esse
pássaro é você? Então, por que não posso ser como você, voando tão alto como
uma pipa? Não seria melhor do que você descer para um mergulho? Venha viver comigo e me ame na escuridão, tão profundo e escuro
quanto um eclipse solar, coberto por águas de um espiral eterno. Você acha que
o céu é mais alto do que a terra? Eu te daria todas as estrelas do céu, até que
a lua estivesse completamente só, apenas para sentir seu beijo novamente, por que seus lábios transbordam todo o amor das constelações do universo e toda harmonia selvagem
da natureza, acima de qualquer sensação que eu possa descrever, uma canção que me despe de corpo e alma, aumentando a
temperatura do meu ser, enquanto flutuo acima das águas para lhe dar um abraço e cobri-la numa montanha de cristal. Como uma estrela caindo por vontade
própria, a sua luz reluz na escuridão, enquanto dançamos no salão aquático do mar negro da mente. Aos poucos eu vou cobrindo sua cabeça, esfriando no silêncio, à
procura de um refrão inovador, mas a sua canção se resume a versos que ninguém ouve
lá de cima.
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