domingo, 7 de agosto de 2016

A Vigésima Quinta Conjuração

    A meio caminho de casa, um pássaro me sobrevoa com um olho cego, suas penas tocam minha alma e o som da sua canção preenche minha atenção, quando um vento forte nos encontra e despe suas asas para mostrar-se ser uma garota ávida como a espera de uma promessa. Cega com a sua luz, o pôr-do-sol cobreado se espalha por sua pele e uma estrela brilha em seu peito num flamejante negro longe de qualquer desejo louco. Pousando do céu em meus braços, ela realmente sabe como se mover, sensual e dinâmica, sua espontaneidade arde por todo meu corpo e ao seu redor tudo é amor. De repente, eu estou amando à minha maneira, e isso é tudo que eu preciso saber, só descansando no pôr-do-sol: um sentimento que não posso ver ou tocar, mas que mantém girando todas as coisas que nós dissemos. Como um rosto silencioso em uma revista, meu anseio em atravessar sua mente parece próximo de tornar-se realidade, pois rápido como um flash eu poderia estar em seus lençóis procurando por promessas esquecidas como sonhos borrados do anoitecer. Quando seus olhos se abrem no raiar do dia, coloridos em tons de verde e ouro, há sinais de que deveria reconsiderar estar saindo com o diabo, onde não há nenhuma ajuda de cima, mas sua coragem é intensa como seus pecados mortais, e se uma corda se envolve em seu pescoço ela apenas acaricia como uma serpente inquieta.  Agora, nós temos o ritmo e a rima, e podemos fazer da certo. Novamente e novamente, nós adentramos de corpo e alma no mesmo tempo do relógio, onde poucos vieram dançar e deixaram algum tempo rolar, até que a música não rimasse mais. Mas dizem que não importa aonde você vá ou quem continue ao seu lado, uma vez em sua vida, você vai encontrar a pessoa certa. Então eu te encontrei e não sei o que faria se estivesse em um mundo sem a sua doce voz para partilhar em minhas meias-noites, por que quando você está lá, a única luz em um céu vazio brilha eternamente. Como isso vai soar quando eu estiver velho e tiver você ao meu lado? Eu poderei dizer que aprendi a voar e alcancei o céu? Às vezes, eu a sinto lavar meus medos, mas quando os sussurros e suspiros do vento chamarem, quem garante que você não voará de volta para longe? Eu sei, eu sei que o céu está chorando, mas você me reconhecerá no momento em que nossos olhos se encontrarem? Eu sinto que você é o auge da sagrada profecia da aurora, mas eu não consigo resolver o meu próprio crime e manter as harmonias simples, quando tudo que eu tenho são estas... bem, é engraçado como meu segredo nunca muda. Todos os dias a temperatura continua subindo, e como a luz de uma chama nas sombras, eu repudio o passado com meus olhos diante do espelho, enquanto que do outro lado, as caras que você vê, tão vazias, dificilmente reconhecidas e com visões de uma vida negada, permanecem em seus olhos. Apenas um passo no espelho e você veria como o amor que partilhamos corre verdadeiramente e claro como linhas de uma página vazia para sempre em sua mente. Vestindo-se de preto, as gotas de chuva se vertem para baixo e o tempo da noite se esgota, mas nós continuamos perdidos num breve e infinito sonho donde jamais desejaríamos acordar. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Escuridão Celestial

    Como o toque de um amante pecador, o pulso das luzes da cidade iluminam minha visão, estrelas cadentes e rostos desumanos refletidos no meu olhar enquanto decifro o desejo escuro que escraviza o homem. Jogando este desafio perplexo, eu me movo para onde o ar está frio com uma enxurrada de lembranças que assombram meu vazio. Em algum lugar lá no alto, a sombra do mar rasteja como um vento selvagem inundando o céu, de onde costumávamos experimentar e ver os nossos sonhos se tornarem realidade. Mas contra nossa vontade, nós fomos sacudidos e jogados para horizontes enevoados, sem entender por que fomos arrancados de nosso desejo doentio. Agora você é como um velho filme preto e branco que vai ganhando cores e deixando de ser um clichê cansado sem saber o fim antes dele chegar. Se eu tivesse um centavo para cada vez que você disse que me amava, eu estaria milionário, mas se eu tivesse um milhão para cada vez que você mentiu, eu estaria pobre como o inferno. Vez após vez, eu percebo que a verdade é o contrário do que acredito, pois todo o amor que você me deu não se compara a todas as suas mentiras imperdoáveis. A sua inocência era frágil como o vento, embora você não tivesse nenhuma, hoje eu consigo ver como você realmente era: o seu coração precisava de abrigo, assim como suas pernas também precisavam, olhos claros que brilhavam com um desejo insaciável, volta e meia, onde você parava ninguém sabia, mas eu podia te sentir profundamente, mau e maravilhoso, estranho e bonito, o seu amor era quase impossível de se resistir. Você nunca entendeu por que eu a chamava de secreta e especial? Pois bem, eu vou te levar para um passeio até o passado através das portas da sua mente para as sombras da minha alma. Trançada em tons de insanidade, à espera de alguma coisa, você me encontrou como sonhos empoeirados que escondem um pesadelo. O vento do deserto corria através da sua janela, e de longe eu sabia que você me esperava, estendendo a mão para tocar o céu da manhã quando não houvesse nenhuma outra maneira de me encontrar. Como um coração inquieto, as lagoas dos seus olhos refletiam as chamas do seu desejo, uma sensação muito fria para compartilhar, pois algo na maneira como você se movia ou sorria, anunciando sua chegada, com cabelos banhados pelo sol, parecia parar o tempo como pétalas dançando no ar enquanto você rodava com seu vestido em chamas para cair em meus braços. Eu era uma vítima do seu toque, e por onde quer que andássemos a cidade se enchia de loucura, um tolo auto-convencido e uma cisne branca levada por sua anormal fluência de sonhos irrealizados, sentindo a respiração de um trovão em movimento como o tique-taque de uma bomba-relógio prestes a nos separar. Eu esperei por muito tempo a viver sem você... mas eu não tinha para onde ir, sem você eu me sentia como uma criança sem lar, pois o toque do seu amor me queimava por dentro, ao passo que me dilacerava na velocidade da luz, mais rápido que a batida enfurecida do fim dos tempos, essa leveza sonora que escorrega por todo meu corpo. Sua aparição montava um céu de cristal, derretendo as cores de inverno para dar chance aos feixes da prata brilhando, onde as nuvens se incandesciam com o calor do verão. Você foi a razão dos meus dias solitários se tornarem uma estação violenta, dizendo para eu seguir em frente e procurar minha luz interior, para só então poder esquecê-la. Mas quando você vai entender que o amanhã é impulsionado pelo ódio do ontem? O cego leva, o ignorante ensina e as mamas semeiam a semente, mas é o que ficou para trás que cega o ignorante a semear seu futuro. Nós não precisamos mais viver contemplando cada movimento nosso através de sombras desaparecendo. Como palavras que são faladas muitas vezes e não dizem nada, são as mil milhas que percorremos longe um do outro para no fim perceber que fomos feitos para passar a vida inteira juntos. Ainda olhando pela janela, você continua contando as estrelas que caem, mantendo seu bebê de colo como um silêncio profundo que se torna seu melhor amigo, mas quando o quarto escurece você assiste as luzes da cidade correndo por seus ouvidos com a minha voz te chamando no fundo do seu coração.

sábado, 9 de julho de 2016

Sentimentos que Transcendem o Tempo

   Com os campos deixados sozinhos, os corvos escurecem os céus. Como o reflexo de um vidro rachado, você se vê em muitos lugares, mas sabe que tem de estar em algum lugar em algum momento. Você tem desejo, mas só consegue engatinhar. O frenesi toma conta de toda sua vida, e você é pregado na roda que viaja pelo mundo. Olhando por cima do meu ombro por essa estrada que se segue, o que pareceu alguma vez importar agora é apenas poeira sob meus pés. O silêncio recorda minha vida incompleta e tudo o que resta são essas cicatrizes para me lembrar de todos os dias que joguei fora. São as barras que me confinam a um passado que não posso escapar, pois as palavras não foram ditas agora, elas são lembradas, cada segundo que morre em uma silenciosa morte sem luto tentando conduzir-me sozinho por um caminho da cor do desprezo. Eu percebo que perdi mais um dia quando cegado pelo ódio que queima em mim, meus olhos veem fixamente através das veias de gelo a minha transformação com o veneno interno, sentindo um impulso ser mandado à frequência do meu cérebro. Agora eu sou forçado a encarar a verdade ignorando a presença dela como se não existisse, mas eu preciso me manter em movimento, pois o suor continua escorrendo com o diabo nas minhas costas, arrastando o mundo como crateras de cicatrizes se abrindo para engolir a humanidade. No rádio, uma voz graceja o discurso de que ninguém sabe o que o futuro nos reserva, afirmando que a vida é apenas o dia que se desenrola. Na tevê, o pregador prega como um rato em um navio afundado esticando-se para salvar sua pele. Os jornais propagam uma falsa sinceridade que faz você se emocionar como os milhões que eles manipulam. Nas escolas os professores ensinam sobre os pecados do passado, culpando os outros pelos problemas do agora. E, em algum lugar, você ouve o som de uma criança chorando, contando as lágrimas do riso do pai bêbado. Muitos escravos morrem por tortura e dor, mas há também aqueles que morrem por trabalho, com o medo os mantendo na linha até descobrirem que suas vidas são uma mentira. Os muros do mundo passaram a ser construídos por corpos e mentes vazias, pois a verdade que é descarada é a mais ignorada por todos. Sem testemunha sobre essas palavras que descem e morrem, eu não posso compreender um mundo assim tão frio e cruel, porém eu continuo me guiando para viver esta mentira... marcando um esmo como um barco no oceano sem localização, com ondas de dúvidas me espancando e afogando minha alma, estas distrações que mantém meu pensamento longe do por que estou vivo. O que me resta? Eu poderia puxar a alavanca e orquestrar um sonho no refluxo da maré ou imaginar um propósito para viver e seguir o seu curso para no fim ser esquecido tão rápido quanto surgiu. Eu não serei mais o seu mártir, vivendo na imundície de um mundo insensível, dormindo numa cama de fracasso enquanto a dignidade das minhas lembranças desaparecem. Eu me recuso a aceitar o papel que você me deu para jogar em seu jogo doentio, sem vergonha, sem orgulho e sem fé, a sua alma é um sol poente. Mas quando os demônios começam a chamar, eu preciso de você para me salvar. Negro como a meia-noite, você é como uma tatuagem ruim da qual não posso me livrar, não importa o que eu faça, você nunca vai embora dos meus pensamentos. Eu tentei de tudo. Eu dancei com os mortos e dei o melhor de mim para aprender a sua lição, mas não importa como nós tentamos, no final é sempre sofrimento. Não há nenhuma boa maneira de morrer, não há regras para se viver. Eu não posso mais fugir dos meus sentimentos por você. Você é a essência de tudo. É o próximo que amamos em nós mesmos. É o assassino em mim.

domingo, 3 de julho de 2016

Anticristo

    Desenhando a sombra como a pintura da morte enquadrada em prata, as coisas pelas quais eu tenho vivido desaparecem à medida que o molde das minhas mãos acenam o seu último adeus. Sem som algum, o atributo da sabedoria se colide para uma língua imóvel, esse alimento de mim mesmo, vendo as mesmas linhas e onde elas se dividem quando o pensamento é ignorado. Eu tenho esquecido a razão pela qual estou vivo, dormindo em memórias nebulosas, a verdade veio à tona como rolos de ar através dos meus pulmões enegrecidos, uma poluição interna que a cada dia se torna mais externa diante do espelho. A menos que seja uma consciência culpada, eu colho todos os meus pensamentos e as perguntas não respondidas, embora tudo sempre volte ao mesmo ponto onde parei. Não importa quantos dias escureçam, quantas madrugadas não dormidas eu tenha, a voz continua me chamando debaixo dos seus céus limpos de azul profundo e rasos como a brisa fresca do entardecer, para cumprir o meu propósito em sua grande obra. Eu olho em volta e me vejo como eu era: em todos os lugares há miséria e desgraça, onde a própria criação mata o ar, terra e mar, mas o mundo parece mais borrado do que antes, as mudanças tem sido mais numerosas desde que acordei para a realidade. Estamos queimando dentro da barriga da besta? Bem, é frio o lugar de onde eu vim, o lugar de esperas intermináveis, onde o tempo tem me segurado como um velho transporte. Depois de voltar desse lugar, você nunca mais consegue ser o mesmo. Assim como os bardos diziam em todos os contos que cantavam, o futuro pode mudar o passado, mas o passado não pode mudar o futuro. Então, o que posso mudar enquanto ainda estou acima do solo? Os feitiços que conjurei afetaram mais minha mente do que a realidade, tão cego e inútil, a loucura dançou com minha alma enquanto as palavras de deus soavam na minha mente, o sinal de uma ilusão mórbida, onde os senhores da escuridão cuidavam do que eu via, ouvia e sentia, para me afastarem do pai das luzes. Cuidado com nossas músicas, eles diziam, como gritos insanos e fúnebres em minha mente, um sino para cada noite com pesadelos caóticos onde eu vivia em busca da silenciosa necromancia dos espelhos, uma gaiola de bruxaria denegrindo o caminho da divina providência para que eu desperdiçasse minha vida inteira com mentiras e sentimentos vazios. Afinal, se tudo é nascido e criado para sobreviver, o sentido do fluxo dos meus pensamentos seria predestinado ou apenas uma cova que eu estava cavando para mim mesmo? Este era o sonho da minha vida e esta era a vida do meu sonho, um caminho fácil e livre, contudo, uma vida eterna na sepultura. Eu nunca me senti tão estranho, e pensar que este poderia ser realmente o meu destino, congelado numa dor adormecida dentro deste mundo obscuro dos sonhos que eu nunca conheci. Sentado nas falésias do inferno, algumas coisas que eu penso são apenas minha mente tentando respirar nessas trevas que me aprisionam, porquanto mais eu acredite ter me livrado delas... mais profundo elas me levam para baixo, um vazio onde ninguém me vê e ninguém fala, apenas meu corpo perambulando entre a família e amigos enquanto estou tão distante quanto os mortos de uma sessão espírita. Por dentro a impureza transforma meu sangue em rios negros, mas tudo isso significa a mesma coisa, estas são as palavras que tenho repetido como um anticristo que renasce toda vez que uma mentira é proferida. Isto não é um jogo, eu sei que as almas tem um valor inestimável, mas o que posso fazer numa terra que nenhuma ciência pode salvar? Eu estou separado entre dois mundos e não tenho certeza de onde eu deveria estar, mas se lembro bem... eu falei demais? Nem todas as putas do mundo poderiam me satisfazer, nem todo dinheiro poderia comprar minha liberdade, pois o preço da autoconsciência é a dor e a morte. Como uma doce doença que dilacera aos poucos, meu coração tornou-se frio como pedra e todas as rosas que você plantou com seu toque desabrocharam. O vento sopra meus cabelos, relembrando os bons momentos que tivemos, mas este é o fim inevitável para onde as minhas asas sangrentas me guiaram... vinde a mim, eu ofereço-te tudo e juro com a minha alma eterna: alimente meu pulmão, semente da flor celestial, queimando meu cérebro e dentes, cem graus acima da minha necessidade, para que eu viva plenamente todo o amor que emana de você.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

A Quintessência

Sensual carta anônima

“Amada minha,
Em vastos e distantes horizontes, minha mente passeia procurando pelo que jaz esquecido, sentindo uma dor fantasma se aproximar como um deslumbre cruzando o centro do nada.
Eu tenho agido um pouco estranho recentemente, cansado de fingir que estou sofrendo nesta valsa inconstante, a dose da loucura reverteu-se em sanidade – a felicidade flui por dentro de mim sem que eu saiba de onde ela vem.
O que tem me conduzido adiante é algo além do que habita meu espírito, despertando meu interior como sombrias chamas acendendo a escuridão, uma forma de dizer que vamos unir-se para ressuscitar uma presença adormecida.
Esse pesadelo não é um sonho, é tão real que exalta de desejo como o mal que nunca dorme, evocando segredos cármicos que estavam congelados em minhas antigas cartas mágicas.
A primeira amada se extinguiu e a segunda, tornou-se uma memória amarga, mas a terceira continua abrasada nas areias do tempo, seu flagelo se transformou num etéreo poder divino que me deixa confuso sobre essa psicologia negra, pois sua beleza está além da sensualidade e superfície humana.
Quantas incalculáveis vezes ela retornou como águias que caem do céu sem aviso?
Entre cinzas e furacões, eu não poderia prever a força nem o impacto da sua queda, mas ela parece tão renascida de um futuro distante, deixando-me em dúvida se inconscientemente era sobre ela que eu escrevia...
Secreta e especial, é como ela era chamada, mas seria este o mesmo elo secreto que ocorrera entre a primeira e segunda amada?
Gritando como um flash histérico, meu coração transborda este mistério e não consigo mais ter controle sobre a verdade... apenas esperar que num encontro arquitetamente planejado em sete dias, vocês possam ofuscar-se como duas deusas em um só corpo, iluminando o céu com a morte dos demônios em minha cabeça.
Assim estará completo o ritual da fusão das quatro essências elementares: a primeira amada, o fogo, a segunda amada, a água, a terceira amada, a terra, e a quarta amada, o ar.
A verdadeira aurora surgirá desta união como memórias sonolentas de uma voz celeste, rodeada por sua mística ascensão, para casar-se com a alma assassina.
Sela estas palavras em teu coração, por que antes que perceba as luzes farão um eco sobre sua cripta, e agora e para sempre você estará sob o efeito da deidade.”

domingo, 24 de abril de 2016

O Renascimento da Aurora

    Luzes dormindo, as vozes se calam, caem as cortinas e outra batida de metal profunda soa como a descida de um relâmpago, a raiva vil de uma imagem à espreita nas sombras revelando sua beleza para que todos a contemplem. Eu estava tão intencionado a fazer tudo isso sozinho, mas através de olhos honestos eu sabia o que estava por trás do seu disfarce, sempre contrário ao que sentia como uma onda de choque vindo em minha direção para possuir meu corpo e deixá-lo doente de malícia. Caída sob a terra, ela é mais pura que uma nuvem num céu ensolarado, mais negra do que os mortos e mais rápida do que o inferno, ela vem e desliza com sombras vermelhas postas sobre si, batendo-se pelas paredes do tempo como uma mariposa inquieta em chamas, despenando suas asas como um animal selvagem morrendo para se lembrar da sua liberdade. Seus olhos são opalas verdes, sua pele, um ouro branco refletido nas águas, sua voz, a invocação dos cantos celestes, sua presença, a paz que prevalece sobre os vivos... os olhos comuns estão cegos para vê-la e seus ouvidos, surdos para ouvir a mais doce melodia da inocência. Assim eu posso vê-la com olhos mais claros e sentir a maldade escorrer por seu corpo despido, mergulhando em suas pétalas expelidas onde nem mesmo a gravidade pode manter a sanidade de onde eu pertenço, como se uma boca gritasse com meus pulmões e me comesse vivo. Enquanto os estranhos se encantam com a sua ternura, eu vejo o suor escorrendo pelo calor que me deixa insano, seus olhos fixos no desconhecido e seu corpo doendo de sensualidade, forçada a ser alguém que eu não conheço como dias claros cultivando a escuridão. No silêncio dessa escuridão, você ilumina-se em labaredas, criando sombras e inundando um momento apressado através do que abranda seu valor, mas não há ingenuidade em sua fraqueza: o vento sopra forte e selvagem como mestres ousados no céu, um sentimento de poder encorajando um novo recomeço e vendo uma águia santa levantar voo através dos vales e campos enegrecidos... são tempos de dor, de gritos desesperados e devastação, mas você renasce como uma flor de lírio, entendendo os sentimentos do mundo e passando por todos como um espírito nas águas, a maneira mais rápida que nós escolhemos para que em algum momento os buracos secretos se abram para você. O som da sua chegada preenche o ambiente e em saudação a ti, nós abaixamos a cabeça para recebê-la no limbo onde àqueles que unem suas mãos erguidas brindam o trovão do poder de deus como espadas cruzando ao céu. Então, por enquanto, acene e deixe suas mãos erguidas para que a voz sussurrante chegue até você, muito além do céu ocidental, feche seus olhos e observe dentro dos sonhos este lindo arco-íris, o ouro está no final de onde a estrada começa e além de onde a estrada termina. Nossas vidas foram escritas no vento, nuvens acima e nuvens abaixo, mas uma coisa que eles se esquecem é que nós também gostamos lá de baixo. Apesar de não sabermos o que nos espera, eu te amo mais do que apenas esse coração batendo no peito, e a verdade é que o destino não me permitirá mais vê-la, pois o vento impetuoso só soprará você de volta quando eu parar de procurá-la. De repente, você estará na minha vida, mais do que um sonho em meus braços, você fará parte de tudo o que eu faço, refletindo o que eu sinto como um espelho boreal em seus olhos. Às vezes você percorre as ruas tão orgulhosa e eu me pergunto o que se passa na sua cabeça, mas eu gostaria de saber se você já pensou nas coisas que realmente importam e não apenas sobre o que você sabe ou em quem você pensa ser, pois não é como você é vista pelos olhos do mundo que define sua verdadeira essência. Lembre-se: você não é nada, você não tem nada. A verdade sempre estará longe desse mundo e somente aqueles que nascem de novo poderão enxergá-la, pois você não pode tocar a magia da vida, apenas sentir quando ela passa por você. Este é o meu adeus, e estas são as estrelas mágicas e suas luzes-guia, o chamado da sua imortalidade como uma mancha negra esperando adiante... juntos nós iremos transcender como uma jovem garota amando em sua primeira vez, assistindo as estrelas desvanecerem no céu rubro enquanto a aurora se expande pelo infinito.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Mente por Trás de Tudo

    À deriva no esquecimento, as linhas estelares me relevam o que está por vir como sinais cósmicos sendo refletidos nas estrelas, espalhando-se por partículas do universo e além, mas em sentido inverso, para que haja uma maneira de ler a sabedoria dos caminhantes do céu. Essa afinação que vibra ecoante é como uma verdade relevada para aqueles que sempre a buscaram, quando é sentida e compreendida em sua forma mais sublime, mas nesta linha que não há retorno, o que equivale ao interminável passado é quase um refúgio para o conhecimento presente, pois quanto mais sabemos mais a responsabilidade aumenta, deixando de esconder a mente secreta em memórias torcidas e medos de uma vida inconsciente. Desvanecendo-se as luzes, essa ascensão profunda em minha alma queima através dos meus olhos, assim eu tenho estado curvado e orando, para libertar meus sonhos sagrados e voar eternamente dentro desses misteriosos olhos da madrugada. Eu encontrei meu caminho e agora posso fugir para fora deste buraco negro de luz, então encontrar a resposta pela qual perdi em memórias de um tempo esquecido, subindo escadas sem fim até o desconhecido com a dúvida queimando minha pele como lágrimas de um dragão fantasmagórico. Vagando no espaço e no tempo, eu continuo catando os pedaços de luz da minha consciência escura, mas agora eu sei que para ver eu devo fechar meus olhos, assim cessar a dor e meus medos para imergir longe das escuras correntes de um propósito obscuro. Num piscar de olhos eu me encontro em um lugar cheio de esperanças, com meus velhos amigos ao meu redor, cantando a velha canção da minha mente retorcida... embora eu não possa mais viver neste sonho místico e retornar para as terras áridas, em algum lugar desta ruína de realidade, eu apenas vejo as pessoas sendo engolidas por uma masmorra de angústia, onde a paz é tudo que procuramos e a guerra é tudo que encontramos. O santo escárnio se mostra como um sorriso sem arrependimentos, mas de longe este lugar chamado terra e além dos horizontes do sol nascente, a mesma chama ardente que queima em meus olhos flui em um vazio de luz na ironia do meu anseio e paixão, tocando meu réquiem como um bardo angelical trazendo algo perdido do meu coração em cinzas. Enquanto as estrelas brilham quentes no céu, a despida sombra se mantém no alto, esperando que eu me jogue na brisa do hálito de deus, quase como se me envolvesse em seus braços novamente. Você está voltando? Bem, eu não posso suportar outra noite solitária, e o que quer que eu possa está fazendo, é você quem aparece na minha mente. Você é o único que eu já amei, e nossos corações sagrados são a fonte do nosso amor incondicional... será que estamos suficientemente fortes para sermos apenas um? Eu deveria saber desde o começo que a verdade por trás dos meus olhos é fácil de ver, mas a verdade só é revelada quando não esperamos por ela. Em minha vida secreta, eu maquinei esse momento como um rígido pesar do relógio, mas quando eu perdi o controle você sabia que eu voltaria, pois você é tudo que eu quero e tudo o que eu preciso, é o amor que transborda em meu coração e nunca se esgota! Aqui estou eu, um espírito numa carne morta, não vire as costas para mim novamente, pois outro dia está passando... eu sinto a mudança do meu coração queimando por dentro, mas não há nada que eu possa fazer para chegar até você, noite após noite, cada pegada de esperança parece estar escondida fora do meu alcance. Isso é apenas um jogo que estamos jogando na minha mente? Eu esperei toda minha vida para te encontrar e me unir à você, carregando essa coisa inquieta que se debate como um sentimento difícil de explicar, mas eu sabia que todo tempo os seus truques espertos não me deixariam sair ileso enquanto eu não parasse de fugir de quem eu realmente sou. Você escorregou para dentro da minha mente para guiar meu caminho, e bastaria apenas uma olhada em seus olhos para saber que eu teria garantido tudo isso se suas ordens estivessem todas faladas e feitas. Eu seria forte o suficiente para enfrentar aquilo que estaria me tornando? Entre amor, identidade e junção espiritual, eu tive a chance de fazer as pazes com você por um segundo – quando os sonhos febris me revelaram a farsa do tempo – mas antes que eu acordasse as trevas me cobriram sem que nenhuma estrela brilhasse meu caminho de volta.

domingo, 3 de abril de 2016

Um Sonho de Verão

Sensual carta anônima

“Amada minha,
Um novo dia chega e outra página do meu diário é queimada, mas a cada passo que dou eu percebo que não tenho mais tempo para pedir outras folhas emprestadas.
Você chegou até aqui por que os sussurros tentadores a trouxeram de volta para meus braços, e mesmo com todo dinheiro e fama que você possui, ainda se pergunta o que eu tenho que você não consegue obter.
Cansada do orgulho que te prende no buraco da sua alma, você tem segredos na parte de trás da sua mente, aquelas cinzas que sempre tentei acender quando sua solidão a tomava como refém.
Esqueça essas distrações e abra seus olhos para ver além do que minhas palavras podem dizer, pois o tempo está se esgotando.
Agora é tempo de despertar, tempo de soltar o peso das suas costas e viver sem as correntes de um mundo ilusório...
De pé como uma estátua esperando a brisa para empurrá-la, os portões do inferno te esperam para o acerto de contas, quando você dança com o diabo o inferno é o preço a se pagar, pois os demônios vêm sem aviso e você se torna apenas uma mariposa para ser pendurada à beira das chamas.
Então suas cinzas voam pelos ares e seu espírito desaparece como névoa nas águas, gritando no silêncio das profundezas onde as sereias nadam no caminho que leva ao seu coração.
Sem que perceba toda sua necessidade material é escorrida como óleo no mar, seus pensamentos deslizam para o desdobramento espiritual e sob as luzes que perfuram o oceano você consegue ver o que realmente é importante na sua existência.
Por que você não pode simplesmente ir embora, você sabe o que nós sabemos, a verdade escondida no escuro que poderia limpar o veneno que corrói toda a humanidade.
Esse impulso gritando no fundo da sua mente é o que a torna especial, porém como um barco sem remos você continua parada, esperando que de algum modo você possa manipular o vento ou que alguém te diga o que fazer.
Você não percebe que como uma escrava trabalha para comprar as possessões que tanto anseia quando na realidade elas já te pertencem?
Acorde dessa matrix, pois a minha paciência está acabando, você já não se alimentou o bastante com a ternura dessa ilusão passageira?
Você fala comigo como se eu fosse só um número, procurando uma maneira de manter a classe, duramente luta contra a pressão de bater a cabeça contra a realidade.
Descanse sua alma cansada nas asas do amor e ande pelas ruas de ouro num passeio pelo paraíso esquecido, apenas saiba que o sonho acabou e o dia do julgamento te espera enquanto você dorme num mundo de faz de contas.”

sexta-feira, 25 de março de 2016

Um Sonho de Outono

   Sob uma noite tardia eu durmo sentindo o aroma fresco do confidente sombrio, a consciência de uma lâmina sangrando em minha carne como verdades enraizadas sendo expostas num corte vermelho. Como um velho amigo que não tem mais nada a dizer, eu continuo à procura das partes onde meu corpo se desprendeu em cada momento incerto que pisei, sentindo minhas células mortas se fundirem com um lago de nuvens para um último mergulho. Através de rostos mau humorados, o toque frio da realidade me caça com sua fúria flamejante, uma raiva silenciosa tentando me ordenar novamente nos eixos da vida sem deixar vestígios, apenas para se tornar mais um nome sem rosto seguindo o curso de um mundo suicida. Eu me vejo fugindo dessa realidade como uma criança selvagem correndo com a alma defeituosa, o sangue escorrendo de suas imaginações e fazendo com que suas perdas se pareçam com um violino branco soando confissões melancólicas, mas de alguma forma estas palavras estão desaparecendo sobre a vela se exaurindo enquanto caminho pela estrada que tenho pavimentado para o grande espetáculo final. Quando eu abro minhas mãos vazias, as estrelas filmam os mesmos movimentos em câmera lenta, disperso na brisa, eu vivo em meu palácio de memórias, onde posso cair profundamente das ausentes pontes de promessas quebradas, embora tudo de que me lembre são pessoas e sombras irreconhecíveis como pedaços atrofiados do meu corpo interligando seus fardos e sonhos vaidosos. Os laços que me ligam à vida se desfazem como a voz de um afogado chorando, porém eu sempre esperei pela vaga promessa da chuva de outono... então você apareceu para falar as palavras que eu precisava ouvir e se tornar um abrigo para minha alma e meus segredos. Agora você caminha comigo na escuridão, despreocupados com o amanhã em uma pequena maravilha que envolve nossos corações, nós deitamos inquietos nessa cama de sussurros, mas você não pode ver além das nuvens do seu olho, pois meus apelos suaves não podem ser ouvidos nem o apego às minhas expectativas... entre nossos corpos imprensados, estamos à deriva, sem direção, para conter a onda do destino. Enquanto eu assisto em silêncio um estranho crescendo dentro de mim, os preciosos anos da minha juventude voam para céus vazios, mas você mantém suas visões dos dias melhores e persegue o tempo como se estivesse a poucas horas de viver o futuro. Rastejando para dentro da sua cabeça, eu consigo desmontar essa cena perfeita, mas como posso respirar quando o peso da minha partida desmoronar sobre você? Cada brilhante crepúsculo de nossas noites inesquecíveis fluem como um solo virgem desabrochando, vendo seus olhos de opala negra me encarando enquanto nossos corpos astrais se envolvem numa intensa sensação ilusória: seus braços abertos e seu coração apertado enfrentando o medo que deriva no escuro da noite. Neste truque de luz, eu faço uma pequena prece para você como pinturas da vida que gostamos de compartilhar, em braços fáceis protegendo sua pureza, mas acordando para te encontrar na minha mente enquanto seu corpo dorme, com a temperatura da sua pele subindo a quilômetros de distância. Por um momento, um sonho perfeito, soprando os sentimentos mais doces que já conhecemos e eternizando nossos nomes em nossos corações. E, com meus dedos bruxuleantes, eu conduzo sua alma com um sorriso, preenchendo suas veias com meu sangue negro à procura de um pouco de amor, vendo os holofotes tornarem sua raiva justificável quando as sombras desaparecem do outro lado da parede, mas logo chegará o dia... veja a febre correndo e bebendo tudo o que você tem, assistindo-a se mover sem rumo enquanto as trevas te cegam de arrependimento.

domingo, 20 de março de 2016

O Berço da Efígie

   Desnudo como manhãs ensolaradas de domingo, eu acordo tranquilo na sensação de caminhar sobre vidro, sentindo essa escura e úmida dor amarga esvair-se como um útero de infindáveis formas belíssimas renascendo em meu invólucro. Neste lugar seguro meu coração menstrua suas últimas gotas de esperança, cultivando um sonho irreal como se estivesse bem próximo de engolir outra dose para valorizar as certezas do agora e envolver-me com o sentimento remanescente que beija por dentro como ecos de uma risada na infância. Enquanto oscilo no escuro, a solução parece passar despercebida entre meus dedos, mas a indecisão embaça minha mente como pedaços de um quebra-cabeça se despedaçando. Eu coloco meus dedos em meus ouvidos para bloquear o som, meus olhos bem fechados para evitar a visão, mas não posso deixar de ver ou ouvir a fumaça que se dissipa para revelar o brilho despercebido da vida sussurrando que o tempo todo a piada era sobre mim. Como a carne morna que o espinho fura, eu sei o que tem no meu interior – aquele grande e negro buraco confortável – onde uma estrela surge e eu me estico para apanhar seu brilho, mas a escuridão torna a aurora nublada como uma tinta se espalhando por essa folha em branco, onde a borracha dos que me amam não conseguem limpar suas manchas. É por isso que eu me agarro a você, emergindo meus pensamentos nessas linhas para refletirem através dos seus olhos convergidos na onisciência, onde os mistérios do mundo residem tão encantadores quanto uma fábula. Através da cavidade dos túmulos eu posso ouvir bocas cadavéricas rezando por você, mas elas não fazem nenhum som, ninguém pode entender o seu poder ou de qual lado você está, pois o rio corrente queima nossos corpos e violentamente nos afoga em sua ira... estamos entalhados como pedra, sujos de concreto molhado e jurando que você nunca será pego na sua maior fraqueza. Quando a madrugada rompe, eu posso ver como você realmente toma o seu prazer especial, mas não tem sido a mesma coisa desde que você se foi sem deixar nenhum sinal. Seria errado eu te perguntar por quê? O ciclo continua se repetindo como um espetáculo de pantomineiros, vendo tudo girando enquanto meus pés dançam no espelho do seu reflexo: essa impiedosa sensação de saber que estarei morto a qualquer momento, tragado pela leve feição esquecida da doce e oportuna vida passageira. Assim, com aquele olhar tolo nos olhos, eu volto para meu próprio vômito como um cão faminto, onde antes a vida era uma aventura arrojada e ousada, com uma série de milagres reconfortantes à procura do sonho que sempre me mantinha vivo. Como uma cobra entre duas pedras, eu espero que este último copo de sofrimento tenha o sabor do amor, e a felicidade, esse sentimento triunfante, seja um meio justificável para o meu fim. Por que você também pode destruir a minha doença contagiante, mas enquanto eu estiver olhando para as luzes insalubres, minhas mãos removerão as coisas ruins de um futuro sombrio onde seus fantasmas permanecem oriundos em volta da minha inexistência.

Cronologia