Um Sonho de Outono
Sob
uma noite tardia eu durmo sentindo o aroma fresco do confidente sombrio, a
consciência de uma lâmina sangrando em minha carne como verdades enraizadas sendo
expostas num corte vermelho. Como um velho amigo que não tem mais nada a dizer,
eu continuo à procura das partes onde meu corpo se desprendeu em cada momento
incerto que pisei, sentindo minhas células mortas se fundirem com um lago de nuvens para um último mergulho. Através de rostos mau humorados, o toque frio da realidade me caça
com sua fúria flamejante, uma raiva silenciosa tentando me ordenar novamente
nos eixos da vida sem deixar vestígios, apenas para se tornar mais um nome sem rosto seguindo
o curso de um mundo suicida. Eu me vejo fugindo dessa realidade como uma
criança selvagem correndo com a alma defeituosa, o sangue escorrendo de suas imaginações e fazendo com que suas perdas se pareçam com um violino branco soando confissões melancólicas,
mas de alguma forma estas palavras estão desaparecendo sobre a vela se
exaurindo enquanto caminho pela estrada que tenho pavimentado para o grande
espetáculo final. Quando eu abro minhas mãos vazias, as estrelas filmam os mesmos movimentos em câmera lenta, disperso na brisa, eu
vivo em meu palácio de memórias, onde posso cair profundamente das ausentes pontes
de promessas quebradas, embora tudo de que me lembre são pessoas e sombras
irreconhecíveis como pedaços atrofiados do meu corpo interligando seus fardos e
sonhos vaidosos. Os laços que me ligam à vida se desfazem como a voz de um afogado
chorando, porém eu sempre esperei pela vaga promessa da chuva de outono...
então você apareceu para falar as palavras que eu precisava ouvir e se tornar
um abrigo para minha alma e meus segredos. Agora você caminha comigo na
escuridão, despreocupados com o amanhã em uma pequena maravilha que envolve
nossos corações, nós deitamos inquietos nessa cama de sussurros, mas você não
pode ver além das nuvens do seu olho, pois meus apelos suaves não podem ser
ouvidos nem o apego às minhas expectativas... entre nossos corpos imprensados,
estamos à deriva, sem direção, para conter a onda do destino. Enquanto eu
assisto em silêncio um estranho crescendo dentro de mim, os preciosos anos da
minha juventude voam para céus vazios, mas você mantém suas visões dos dias
melhores e persegue o tempo como se estivesse a poucas horas de viver o futuro.
Rastejando para dentro da sua cabeça, eu consigo desmontar essa cena perfeita, mas
como posso respirar quando o peso da minha partida desmoronar sobre você? Cada
brilhante crepúsculo de nossas noites inesquecíveis fluem como um solo virgem desabrochando,
vendo seus olhos de opala negra me encarando enquanto nossos corpos astrais se
envolvem numa intensa sensação ilusória: seus braços abertos e seu coração
apertado enfrentando o medo que deriva no escuro da noite. Neste truque de luz,
eu faço uma pequena prece para você como pinturas da vida que gostamos de
compartilhar, em braços fáceis protegendo sua pureza, mas acordando para te
encontrar na minha mente enquanto seu corpo dorme, com a temperatura da sua
pele subindo a quilômetros de distância. Por um momento, um sonho perfeito,
soprando os sentimentos mais doces que já conhecemos e eternizando nossos nomes
em nossos corações. E, com meus dedos bruxuleantes, eu conduzo sua alma com um
sorriso, preenchendo suas veias com meu sangue negro à procura de um pouco de
amor, vendo os holofotes tornarem sua raiva justificável quando as sombras
desaparecem do outro lado da parede, mas logo chegará o dia... veja a febre
correndo e bebendo tudo o que você tem, assistindo-a se mover sem rumo enquanto
as trevas te cegam de arrependimento.
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