domingo, 11 de janeiro de 2015

O Festim da Mestiça


Sensual carta anônima

“Amada minha,
Os raios vermelhos e púrpuras arranham os céus como dedos crescendo em diferentes direções, movendo-se incessantemente através da noite esperada.
Sob um luar de nuvens violetas dançamos envoltos de vestes nobres com pedras de ametista e sardônico, com máscaras escondendo nossas expressões de amor, ódio e esperança.
Mas para iniciar o ritual, seu corpo será despido como no dia do seu nome, deitada com braços abertos e pernas estendidas, com o vinho do cálice escorrendo sobre seu corpo.
Nos quatro cantos você será amarrada, mas seus gritos serão de luxúria e desejo, pois você será o meu altar.
Nossos corpos se moverão numa energia sinistra e vigiada pela sombra do senhor da noite, em prazeres doces como o gosto do suor ou nos banhos de êxtase da sua presença fria...
Com um único golpe o punhal descerá pelas falésias do seu útero de sangue, porém você não sentirá dor alguma quando o beijo da escuridão cobrir sua mente.
Seus olhos serão abertos para ver minha verdadeira aparência e as correntes do amor não te impedirão de me tocar, saciando sua vontade enquanto a lua cheia ilumina seus seios entregues ao desejo da minha língua.
Aos poucos sua pele será desvelada e sua carne afundada no lago fumegante, mas apenas os seus ossos flutuarão.
Nas profundezas das águas eu estarei com você, prendendo nossas respirações no interior das densas trevas enquanto seus olhos verdes escurecem como opalas negras rachadas.
Seremos sugados para o mais fundo dos sentimentos, onde as vendas dos teus olhos serão arrancadas, vendo-me como realmente sou.
Da minha semente nascerá uma criança fantasmagórica, que é aquela que vive em seu ventre, dizendo: esta noite fui libertada!
E, na calada da primeira luz que rasga os céus, nós veremos juntos a intensa aurora nascer.
Seu nome será um rugido aos meus ouvidos e uma nuvem negra que paira sobre a minha alma.”

sábado, 10 de janeiro de 2015

Herdando o Vazio Gelado


Sensual carta anônima

“Amada minha,
Frias são as promessas que fiz ao teu espírito, pois é com ele que eu converso na madrugada.
Os teus olhos carnais não veem, mas dentro de você há uma criança encarcerada pedindo para ver um último amanhecer.
Os demônios que você tanto despreza, são os seus guias, e a garota que você não ouve chorar, são os seus pensamentos ocultos.
A sua mente foi extirpada por chuvas malignas que cegaram a sua visão, fazendo com que sua essência fosse dizimada e lançada fora como um sentimento vazio por alguém.
Essa energia que te consome quando você se encontra consigo mesma, são os gritos de desespero, as vozes que sopram pelos templos lunares, onde reside a sua magnifica esfera branca do amor.
Mas para deixá-la você precisa saber como libertar-se daquilo que inutiliza sua espiritualidade e cessa o contrato com o seu colar sagrado, pois a chave para sua liberdade não está nela.
Entenda que existem elos espirituais que se desfazem quando escolhemos um caminho oposto àquele que nos foi destinado, mas o que é o destino, se não uma esperança ardente?
Você já parou para pensar por que eu continuo presente na sua vida?
Ou por que os mares não atravessam o limite das margens e os céus não permitem que o universo nos congele?
A verdade parece está sempre estampada diante dos nossos olhos, mas aquilo que vemos é uma ilusão dela, uma mentira que se faz de verdade.
Portanto o que digo não é o que quero dizer, e o que faço não é o que desejo fazer, são apenas distrações para o que realmente está sendo dito e feito.
Assim como uma tempestade chega sem avisar, assim são as palavras da alma assassina quando me são reveladas.
O sangue dela é o meu vinho e a sua voz, a canção das minhas noites...
Mas se isso é verdade, então por que me sinto tão vazio?”

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma Bela Noite Negra


Sensual carta anônima

“Amada minha,
Durante o dia ouço vozes que dizem: siga para o paraíso, mas durante a noite elas me chamam para o inferno.
Estes sonhos que obstruem minha esperança continuam ardendo como chamas negras inextinguíveis, como um lobo que vaga lentamente sem rumo, buscando um lugar quieto para descansar.
Apesar de tudo isso, os meus dedos continuam a procurar a beleza das palavras que possam conquistar seu coração, onde a bênção do sangue dos deuses lhe foi concedida.
Você é a flor que recebe o favorecimento do senhor da noite... e em troca, dá o seu perfume.
Pois é olhando para o crisol da lua que sinto o seu cheiro fascinante levando-me numa vontade infernal de uivar!
O seu boreal de esmeraldas é refletido no meu olhar, vendo em mil noites um único momento de junho, onde debaixo de um céu vermelho sem nuvens nossos corpos se encontraram num afável beijo eterno.
Queria eu poder voltar naquele intrínseco instante, sentir teus lábios como gelo derretido e sua língua brincando de fugir da minha, seus olhos abrindo e fechando enquanto sorria...
Naquela noite eu te abracei como se fosse minha e nada mais importasse, o seu corpo tão quente enchia-me de desejos inexprimíveis e sua pele cor-de-rosa, arrepiava-se.
Tal era o sentimento que sentia, indizível e fora do alcance da razão, pois nem em minhas maiores inspirações poderia descrevê-lo.
Ali nós estávamos envoltos pelas intensas chamas de excitação incandescentes que se apagaram tão rapidamente quanto acenderam.
Você partiu para os braços de algum estranho qualquer em terras distantes, porém eu fiquei petrificado no tempo daquele lugar.
Uma bela noite negra que valeu mais do que uma vida inteira, estive lá e parti ao amanhecer, sem dizer adeus ao dia anterior.”

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Marés Proibidas

Sensual carta anônima

“Amada minha,
Em seus olhos de jade um reflexo das águas mornas me convidou para um mergulho.
Nadando na escuridão dos seus pensamentos, encontrei a pureza e malícia flutuando juntos na margem dos seus anseios secretos.
Tão profundamente eram os tons de verde que se moviam na lagoa fria dos seus amáveis olhos de sereia.
Tentado pela doçura do teu corpo áspero e intenso, os desejos além dos sentidos me levaram a contemplar sua beleza interna coberta pelos lençóis luxuriosos.
A textura dos teus seios quando vi, o teu cheiro como parte de mim, o sabor da sua boca...
Quase me fizeram afogar, mas o teu toque era leve e calmo como o som das águas paradas me chamando para as profundezas da sua libido incansável.
Seus gemidos, eram soprados pelo hálito de romã e pomares saborosos, enrolando-me no pecado inflamado da tua língua.
As ondulações da noite nos enchiam com a sensação do momento, fundindo nossos corpos num eterno êxtase enquanto as estrelas olhavam para baixo como se fossem olhos curiosos.
Os teus lábios eram corados pelo meu beijo gelado e as tuas vontades por meus deleites selvagens.
Uma noite maravilhosamente maliciosa e excitante, mergulhados na morna água do prazer.
E, perto da meia-noite, eu mordia tua pele como pêssego, escorrendo teu sangue pelo meu corpo e descendo como serpentes velozes, famintas pela tua nudez.
O dia belo e luminoso chegaria, mas nossas mentes ainda estariam no calor das silenciosas ruínas do amor.”

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Fantasma da Incerteza

   O espectro do inverno começa abrangido pelo silêncio. A lua cheia me observa com olhos ardendo em chamas brancas, mas seu brilho é hera venenosa, lançando o elixir vermelho mais doce que minhas veias possuem... o vinho das intensas sensações para descongelar o passado como o gosto que acaricia minha língua. O perigo escondido na névoa mais uma vez se revela como um suspiro que emana serenidade, trazendo uma alma feita de vidro, olhos como lagoas verdes e cabelos lápis-lazúli. Os ventos sopram dentro e fora dos caminhos onde ela cruzou suas dores e ilusões, tão sozinha, cercada e movida por sombras, quando o vento canta sua música triste ela sente o gosto das lágrimas que sufocam sua garganta. Seu corpo descansa no escuro entre a dura verdade e desilusão, porém além de um poema glacial suas palavras expressam a dor que carrega em cada pétala que desprende da sua vida efêmera. Ainda assim, é em seus olhos vazios o meu abrigo, eu sempre estive ao seu lado como um espectro esperando seu retorno para levá-la ao sonho incandescente do amor. O fio vermelho do destino nos puxa para os abismos do prazer e nos lança de volta para sentir os leves aromas escondidos na pureza da alma... intensa aurora, você pode não ver, mas minhas palavras chegaram até você com a força de um milhão de sóis nesta realidade mística através de delírios, poemas e cultos nebulosos. Em todos os cantos indizíveis onde as sombras tentaram me cobrir, eu senti seus lábios frios caindo entre minhas mãos como grãos de areia, mas para cada grão foi escrito uma palavra, condenando as ilusões da perfeição sobre as ruínas do meu pensamento, dias e noites, temendo o que poderia encontrar, com a única certeza de que não desistiria de você em um futuro incerto. Dentro da suja realidade, eu estou tão exausto quanto você que se deixa afligir pela impureza que a perturba, no entanto, a divergência secreta te consome a cada instante. Eu poderia ouvi-la gritar: "imagino se há algum significado para o que estou fazendo desde o início, pois tudo parece não passar de uma ilusão", então, por favor... não cometa o mesmo erro, nossas vidas são como uma pedra lançada... a incerteza em um último beijo, a dor por dentro, que nos faz queimar, os pensamentos afligidos de uma noite sem fim, a promessa de amor eterno... tudo descansa agora em seu sono, pois a pedra que não acerta o alvo é esquecida na mesma velocidade que foi lançada. Abra seus olhos e me veja uma única vez, pelos seus olhos, eu poderia escapar de mim. A sua ausência me fez sentir o sol do paraíso, mas eu sabia que era um sol nascente caído, aquele que brilha no inferno da noite majestosa. Minha única amada, eu poderia forjar um sorriso apenas para fazer você sorrir, mas não consigo entender por que em minhas mentiras lamentáveis o seu sorriso é sempre agradável. Eu fui seu escravo enquanto estava constrangido, mas agora eu poderia sorrir ao ver você chorar, por que como poderia aceitar ser atacado por seus desejos e vencido pela vaidade permanecendo ao seu lado? Disto não tiro proveito algum, pois você é como a brancura de um vale coberto de neve, com os olhos fechados eu posso ouvir o seu chamado, a dor dentro deste seu maçante coração é escura como as trevas que te enviei com o meu beijo, mas mesmo na morte, eu ainda posso sentir você. E de joelhos, eu oro pela piedade divina, vendo o mundo consumido por chamas de decepção, lamentando quando pus meu coração no mais fundo dos abismos e provei o sangue da besta.

Cronologia