quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Choro dos Pássaros

   Como o céu lá no alto, nenhum início e nenhum fim, as nevascas começam a soprar através do vento e os dias passam como uma corrente do mar fluente, me pergunto se os ventos ouvem a sua voz; vozes que soam como o silêncio e as ouço com o coração. As ouço com a alma, sofrendo a cada palavra por nem sempre saber o que dizem. O céu está cinzento e pesado, uma calmaria que curvou minha mente às divagações. Deleitado e encantado com o seu poema, brevemente sonhei que a sentia como nos dias de outrora, então uma enfermidade caiu sobre mim, quando as cordas se tornaram pontos na minha boca. Eu ouço seu chamado, sua voz tão clara, porém não a compreendo, eu olho o lugar que costumávamos passear pensando nos tempos passados e no frio da sua partida. Na escuridão da noite as flautas soam com a ventania trazendo sensações arrepiantes, sentimentos que inflamam dentro de você, como folhas vermelhas que espalham-se deixando o lar e tudo que conhecem para trás. A escuridão permanece em meu coração antes que o sol possa brilhar outra vez, enquanto cada flor encara e assiste, e o impetuoso vento noturno me leva para os cheiros que sentia quando estava ao teu lado. Tão frio, seus dedos gelados ao redor do meu pescoço parecem implorar para eu provar e ver, sabendo que sua vinda perverterá todas as respostas... eu odeio saber que eu falhei com você... minhas palavras parecem tão vazias, meus lábios falam em vão como assobio nas águas... mas de que vale cobrir todo o vazio interior com desejos irreais que deturpam as memórias? Esqueça as vozes que você escuta, elas não são nada agora, mas você ainda pode reconhecer as feições do meu rosto. Sua imagem está fragmentada em minha mente, você sempre pareceu dizer que para convalescer a partir da mágoa vazia, alguém tinha de gritar profundamente, mas acho que sou um homem louco como o fio em torno dos meus ossos, construindo paredes de sonhos solitários em pinturas sobre o chão. Embora não haja estação neste lugar chamado solidão, eu gasto todo meu tempo pensando em você, pois para satisfazer seus pensamentos, lancei uma sombra avermelhada entre estas palavras para mudar sua mente e coração. Agora estão acabadas as minhas razões, o relógio pesa no sentido contrário, estou quase sem segredos para saciar seus ouvidos sedentos, estou contando os segundos entre a distração e o momento, apenas para dizer, respire esse amor e salve-o à medida que voamos juntos.

sábado, 24 de maio de 2014

Memórias Cor-do-céu

    A lenda diz que dois amantes dançavam entre espuma e corais; a noite era bela e as crianças gritavam sua loucura. Através do espelho das águas, o casal apaixonado à beira-mar despertava paixões em um sussurro mortífero, soando o coro violoncelista das cerimônias de um ritual antigo. Essas cenas passam em volta da minha mente, mas antes de levar-lhe à fantasia, deixe-me dizer as palavras que tingiram sua realidade: você perdeu seu destino, sua mente era a verdade tentadora. A julgar por sua vida ser um sonho imperfeito, seus segredos ainda estão em minha mente, na noite perdido, eu vi um caminho escuro e nele você estava chorando. Seu coração está a ficar frio e seu brilho da cor do gelo. De acordo com a história, você é a amante de pele jovem e bonita e sua mão se excita com a morte. Além da obscuridade há um lugar onde seus gritos tornam-se o silêncio completo, este é o segundo amante, em que você não pode confiar, quando os seus conselhos são mentiras. Você confia em... memórias... mantendo estreita a sua despedida, a sensação de onde está o céu, agora? Basta ver os olhos dela, quando morreu sua liberdade, dizendo: “Oh, você vem despido, seu silêncio tenta controlar minha mente. Não pare! Você despe meu corpo enquanto eu lambo seus segredos, nós estamos matando nossa solidão, eu sinto que você está tão quente. Não pare! Nunca! Não pare!”. Aquela noite, nós éramos estes amantes, mas em suas mãos uma adaga apunhalou minha tristeza no equinócio de outono, a lamentação de meus ossos estremecia seu corpo. A brisa da liberdade beijava seus sonhos e tomava meu conhecimento, numa cama gasta com seu tempo. Ainda assim, vivia por você, meus dias, minhas noites, estas águas tão escuras iluminavam meu amanhã, até o dia em que você se afogou presa no seu medo. Aquele verme te traiu cinco vezes, com os olhos no chão, mantinha segredos escondidos. O fim de uma canção! As sombras o receberam em baixo, a voz rouca balançando, com a sentença. Ele sente tamanho vazio quando a chuva borra suas lágrimas, e ela dar-lhe um último beijo... folhas caem, e você vai para aquela rua, sem saber seu caminho. O verão está quase no fim, o sofrimento foge de seus corações e o tempo é lento demais para te impedir de encontrar outro. Tarde demais, tarde demais! Quando poderei olhar esses olhos... eu estou ansioso para sentir seus lábios, mas você esqueceu-se de mim. Em minha tristeza lamento, por causa da raiva que me superou, eu me enchi de timidez e as árvores prestam atenção, testemunhando o amor e seus mistérios.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Tentação


    Perdidamente caminhava naquelas ruas escuras à procura de um lugar secreto. A visão da noite levava-me por muitas portas trancadas, mas era o caminho cheio de escadas e vozes em um corredor sem vida... esperando chegar a tempo para vê-la passear nos jardins da lua. Seus olhos eram misteriosos cristais de ametista e seus cabelos, cachos castanholas. O vento batia em seu vestido trazendo-me a beleza da sua chama pela lei, tão inteligentes eram seus passos que se apressavam a fugir do poético desconhecido. Desta e outras luas, era esse o meu anseio de conhecer sua verdadeira motivação, a ternura do seu sorriso desvanecendo minhas forças e impedindo-me de encontrar a sua voz, de voar na brisa de um céu rubro como uma lua de sangue desejando acordar com a alegria de que o tempo nunca existiu ou que a esperança seria revivida na serenidade da sua presença. O seu olhar tornou-se o meu pensamento do dia, tentando ouvir na ventania os sons do seu lábio rosado e petrificado, tão cheios de desejos esquecidos. Ser levado pelo cheiro que emana dos teus cabelos cacheados, levando-me às graciosas fantasias da sintonia com a lua crescente, aonde as paredes brancas vêm do mais íntimo para absorver minhas palavras sem resposta: uma garota livre vivendo em harmonia com sua juventude, mas sou eu como um lobo vagando na escuridão, sem rumo e sem esperança. Os fantasmas que falam na minha cabeça são como um espectro que desconhece seu próprio relento, vendo o entusiasmo que uma criança faz ao acordar mais um dia da sua existência, caminhando pela grama recém-cortada numa manhã sem sol e ainda cego para acreditar em iradas memórias. O frio das mãos e do coração, o cérebro tão enfraquecido, descansando dentro de futuros arruinados, isto é, da parte de trás do além – a voz interior que não consegue lembrar meu próprio nome. O tempo passa e ainda estou escondido na mais valiosa cripta da alma, clamando aos céus por uma nova chance de recomeçar, de sentir o paraíso da existência mais uma vez. As cores do meu pecado tornaram-se escuras manchas que cegam minha visão como se tudo o que eu tocasse passasse a se corromper e ser encoberto pela escuridão dos meus anseios, como se eu estivesse separado da dimensão da vida e fossem poucas as pessoas que me vissem. Essa é a sensação que trago em meu caótico e atormentado coração, de não fazer parte do seu mundo e ser visto como uma sombra nas árvores.
    Quando a vi passar nos jardins da lua o arco-íris do céu mergulhou no preto e branco da nitidez dos meus olhos, os prédios ficaram coloridos e tudo à minha volta ganhou a cor de gelo brilhante. Durante a noite tentava te encontrar para sentir essa mesma energia, enxergar uma misteriosa luz surgindo das nuvens em tua direção guiando-me ao desconhecido. Eu precisava chegar mais perto e esperava sua porta se abrir todas as noites, escondendo minha presença nos cantos que me permitia te olhar de longe como uma neblina invisível borrando sua imagem do meu pensamento, assim a escuridão do meu coração era preenchida pela radiante luz do seu sorriso. Muito acima onde as águias voam no céu eterno ou abaixo onde as serpentes se rastejam para sobreviver, percebo que há algo dividido entre o puro e impuro: o amor verdadeiro e a cobiça. Mas como posso amá-la se sequer sei quem você é? Como posso cobiçar quando você não possui amante? Sendo assim, estou livre da lei do pecado, onde mulheres passadas me levavam à tentação de suas inocências como uma névoa avermelhada e fingida, com o espírito de luxúria e dor, algemadas ao pedaço de carne que o mal respira. O vislumbre através do seu sussurro me libertou das correntes da maré negra como uma lua negra pairando sobre a lamúria ou como árvores cantando cânticos apaixonantes de deuses antigos. O inverno brilhou nos galhos tortos, gelando minha língua na noite pálida... e o silêncio caiu sobre minha alma com vapores brancos. As rosas negras do meu interior são como dentes de uma serpente desejando beber seu sangue, são como a neve que cai sobre o mar, como a fumaça que passeia sobre a brisa, como a geada que se derrete diante do sol. Agora as estrelas negras sobem e muitas luas circulam através do silêncio da noite, através do lado escuro da montanha, onde campos de fogo aguardam o despertar da alvorada. Você consegue entender o que eu quero dizer? Nós nunca parecemos significar uma palavra do que dizemos, nunca permanecemos tempo suficiente para enxergar o que o outro quer nos mostrar. Estes seis meses profundos desde que a vi pela primeira vez, uma neve de primavera caia sobre mim, sentindo-me como uma criança recém-nascida batizada em fogo e gelo, eu aceitei a realidade de quem eu sou, com veias inchadas o meu prazer tornou-se a minha dor, mas essas palavras não saem de mim, a dor que dilacera meus membros e alma, aí há sabedoria. Você é diferente de nós e jamais fará parte desse mundo, sensibilizada pelas torturas de sua raiva, uma vida perfeita que não posso fazer parte. Fora da água é onde você está, onde o vento atinge sua velocidade e arrepio, e as tempestades da loucura te levam acima dos que governam essa terra. Tão grandiosas quanto o céu, elas foram embora desse lar! O lar que carregava seus destinos, seus amores, suas mortes...

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ondas Sereias de Inverno

    Na aluminífera imagem de uma garota guardando o seio dos sonhos na alusão de que a sua alma assassina perdeu as ânsias serenas e românticas apenas para preencher o vazio, por um longo e infinito instante achei que jamais voltaria a estes brilhantes raios de agonia. Descem em fúria pelo meu corpo e preenchem minhas veias, ascendendo aquela vontade de lembrar-se das passagens escuras que deixou minha fraqueza exposta e libertou minha mente da sua tortura. Sendo assim, eu posso sentir o fogo queimando dentro de mim, ouvindo profundamente o que começa com uma simples declaração se transformar em algo valioso. Os dias de azul se mostram cinzas, essas sensações no ar que revelam que o fim está próximo... mas há outro lado que você irá ver, perdido na sua mente e escondido atrás do seu disfarce, um sonho que nunca foi tão surreal ao toque, pois a tristeza é a cor desse sonho. A claridade do dia cega meu caminho por medo de saber onde você está, presa no escuro por toda eternidade. No que a natureza usou para responder as chamadas do meu silêncio quebrado, levou minha vontade de entrar nesse círculo para extinguir o sangramento no altar dos meus pecados. Quando olho aquele rosto do céu, sombras crescem ao redor da lua cheia e as almas esperam a chave da vida. Trancado em um mundo escurecido é onde ficam os sonhos que você procura, são como histórias do passado de uma doce criança na inocência. Dentro da sua mente consciente o translúcido véu das vésperas de esperança surge como as notas de um violino, trazendo de volta ventos da tempestade e destinos nebulosos. Aos meus ouvidos mergulhou-se o som da sua voz a sentir os tons de azuli do mar preenchendo o meu ser, a canção do seu espírito invadindo o meu corpo com o encanto do seu pecado, tão belo e incandescente como um fogo descendo nas águas, tão profundo como as ondas que emergem minha consciência a perder-se na insanidade do seu desejo. Queria fluir da sua boca e saborear os sentimentos que traz na sua canção, enxergar sua essência na mais intensa psique das emoções que surgem nos gemidos inexprimíveis da sua vontade, movendo meu corpo nos mistérios profundos da sua alma, na velocidade de emergir para dentro sem medo de afogar-me na sua intensa agonia. Sua voz é para mim como um brilho através de um véu com o vento tornando as imagens lindas sombras descortinadas, desenhos da sua imaginação transcendendo a opus melancólico de sua essência que experimentei nos teus lábios em um passado dimensional esquecido.  O buraco da minha alma revela a dor que é deixar um amor torna-se pedra, suas cores são de um cinza afundado em águas silenciosas, em um mergulho que meus braços se esforçam para descer aos segredos do oceano, onde as sereias guardam a purificação arcana. O que passei ou a vida que esvaiu de minhas mãos, as areias do mar escondem e me fazem ver que os pensamentos sempre renascem, que o que fazemos se refletirá em algum momento e deixará de ser o que era, como folhas de uma árvore banhada pelo inverno ou como a falta que uma pessoa faz quando buscamos o sono no travesseiro. No amanhã poderei olhar o nascer do sol sem viver uma apagada memória de amargura desvanecendo minhas últimas forças. Sem a maldição que me estuprou e acorrentou minha vida em objetivos fúteis e diabólicos, sem a sombra que cobriu meus ossos e escureceu meus olhos, sem as amadas de cartas anônimas e sem os espíritos que se divertiam com falsas emoções, enterrando suas motivações no mar negro da minha mente.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Raízes da Sombra

    Nos poucos dias que passam os pequenos traços de memória fantasmagórica ainda se atrevem a invadir meu breve pensamento. Quando entrego meus olhos à luz do céu profundo ou às sombras de árvores verdes e castanhas, o que sinto é ávido perante todas as coisas que me transformaram naquilo que sou, embora a verdade seja indiferente a essas flutuantes sensações de atravessar linhas e mais linhas para encontrar uma resposta e de nada servir, pois palavras são vento. Ao menos uma noite seria o bastante para sentir aquela presença fria como gelo, os olhos como chamas verdes e a voz a mais doce canção dos templos da lua. A visão que trago são das brancas e rosadas pérolas espalhadas por sua pele como nuvens de um céu esquecido. O seu perdão tornou-se para mim como o sol que ilumina as tardes de fevereiro, como a clara palidez da lua que ao longe manifesta as lembranças que carrego. Eu poderia dizer que essa obsessão diabólica e destemível de chegar ao seu encontro e coagir com os seres espirituais para sentir o cheiro da noite, o teu cheiro, o puro aroma dos encantos de uma donzela virgem... faria de mim como trevas ao meio-dia, mas as vezes o que digo parece tão confuso, sendo o oposto do que você entende como deixar de nadar em um rio e se afogar ou como saber voar quando não possui asas. Desde que meus dedos tocaram-te os lábios, sua boca se fechou, quando minha sombra tampou-te a visão, seus olhos cegaram. Seria eu como uma criança perdida na escuridão e amamentada pela mãe dos demônios, como um espírito atormentado pela canção muda de uma estrela vinda do desconhecido? Como as chamas que te consomem ou os demônios que perseguem a sua alma? Oh, teme que sou guiado por espíritos imundos para conquistar seu coração? Não pense isso de mim, enxergue o ser humano que sou: o homem que descansa durante o dia por que a madrugada o chama. Que se perde em pensamentos abstratos quando seus sonhos são vazios e seus objetivos uma estrada sem rumo. Que descobre fantasias e nunca acorda na realidade, por que o sono mais profundo é aquele que deixamos de sonhar. Sou o homem que arrancou os próprios olhos para que ninguém se sentisse seguro ao meu lado. O deus do meu universo interior, mas que sabe que há outro me vigiando nas sombras.

terça-feira, 11 de março de 2014

O Inferno da Aurora

    Olhando as cores escuras da noite nas desviadas visões de cada pedaço de nuvem que desaparece no céu negro ou dos espíritos que voam colidindo seus servos e vestem a ordem de seus olhos, no caminhar lento e ainda, petrificado a cada passo, a devasta cor bege escurecida dos assentos que nos esperam no templo da impureza é para aqueles que não sabem o que procuram com seus rubros disfarces. As palavras, estas palavras, as que de alguma maneira distorcem seus significados numa confusão vaga e passageira, quando o que realmente querem dizer não é visto por olhos nus. As mãos, estas mãos, tão vermelhas como o sangue que desaparece lentamente quando a carne do morto já tornou-se em ossos. O mundo é grande demais para que caibam nele, estas vazias palavras e estas mãos sujas que nada mais podem fazer do que tomar o sono do inocente, e assim desvanecem como areia ao vento. Eu poderia acordar mil forças lamuriosas e infestadas de feitiços noturnos, mas, ainda assim, somente eu as veria: minha loucura tornou-se infungível quando a necessidade de preencher o branco com toda a negritude já não é pela razão, mas o tolo vê aquilo que não é do seu alcance, os seus movimentos tornaram-se como uma verdadeira peste fantasmagórica e elevada a pensamentos que estão além do seu entendimento. Deste modo, a espiritualidade das trevas é a sua verdadeira luz. Estou certo de que valeria a pena recomeçar quando todos os que me viam já fecharam seus olhos, quando o chão que eu piso tornou-se em poças sombrias e a mão que me toma pelo pescoço não aperta antes que eu fale.
    Na insuficiência de tudo o que passei e dos dias que eram apenas cânticos ao dia seguinte, a tortura de olhar para os cantos apagados da casa e fazer de conta que a vida surgiria de alguma brecha com o brilho oculto que a chuva ofuscava nas gotas da janela ou da esperança de que o sol se tornasse frio, eu percebo o quão pobre e moribundo eu fui, a tremula onda de pensamentos suicidas que não valiam mais do que minha própria existência, permanecido quieto e silenciado. A oração despiu-se no interior e de nada valiam aqueles deuses; envergonhado tornou-se aos seres que ouviam a sua voz, falo de mim, as chamas que eram ascendidas quando ninguém além de si mesmo estava lá, em uma interrupta alusão infinita. Mas as respostas eram sussurros de sombras que já não existiam, os murmúrios, pesadelos de uma época estranha. Eu não poderia culpar aquela pálida e doce menina como mel de primavera, embora fosse dela, seus rubros cachos foram diminuindo a cada quinzena, sua voz, tornou-se como um fio de escarlate e sua vida, a inexistência do tempo. A destruição que causei em seus anos foram enchentes de palavras que se desprenderam do meu ódio, oh maldição, por que não posso seguir meus dias em paz e olhar para as folhas que caem das arvores, ouvir os gritos que uma criança faz ao correr pelas ruas ou sentir o vento que me espanca friamente em noites chuvosas? O que parou minha vida, oh, foram os caminhos que segui? O que destruiu minha esperança, oh, fora o pecado que me fundi?
    Esta noite você estará liberta de sua prisão astral, mas não me ouvirá lamentar como um garoto que chora quando tropeça no chão gelado. Ouça minha voz, mas também ouça as minhas palavras – lâminas ardentes por corações libertinos – que perseguiu sua alma nas longas noites de inverno. Enquanto se manteve longe de mim, as cores da vida tornaram escuras manchas que se espalham como mãos negras pela parede, mas continuo sendo o desconhecido de olhos desconfiados acusado de ser controlado por forças do abismo... ninguém me vê como o ser humano que sou, pelo mesmo ar que respiro ou pelas costas de um pássaro sem asas... um estranho me tornei quando tudo o que tento ser é esquecido. São nessas horas que busco um sentido para abrir os olhos pela manhã e fechá-los quando a madrugada se resume ao som da chuva. Um parasita vivendo fora dos sonhos e da realidade, então, para quem irei gritar minha voz rouca e falha, sem forças, onde é que estou, se não para você? O meu você poderia valer mais do que uma única pessoa, mas estas palavras se destinam somente a mim... dos meus olhos cansados que nada saem, estou tão seco que a dor é algo que se manifesta com abandonos repentinos, o jogo mortal e suas cartas, as mulheres de dias luxuriosos que me fizeram reconhecer quem realmente eu era.

Cronologia