Quando a vi
passar nos jardins da lua o arco-íris do céu mergulhou no preto e branco da
nitidez dos meus olhos, os prédios ficaram coloridos e tudo à minha volta ganhou
a cor de gelo brilhante. Durante a noite tentava te encontrar para sentir essa
mesma energia, enxergar uma misteriosa luz surgindo das nuvens em tua direção
guiando-me ao desconhecido. Eu precisava chegar mais perto e esperava sua porta
se abrir todas as noites, escondendo minha presença nos cantos que me permitia
te olhar de longe como uma neblina invisível borrando sua imagem do meu
pensamento, assim a escuridão do meu coração era preenchida pela radiante luz
do seu sorriso. Muito acima onde as águias voam no céu eterno ou abaixo onde as
serpentes se rastejam para sobreviver, percebo que há algo dividido entre o puro
e impuro: o amor verdadeiro e a cobiça. Mas como posso amá-la se sequer sei quem
você é? Como posso cobiçar quando você não possui amante? Sendo assim, estou
livre da lei do pecado, onde mulheres passadas me levavam à tentação de suas
inocências como uma névoa avermelhada e fingida, com o espírito de luxúria e
dor, algemadas ao pedaço de carne que o mal respira. O vislumbre através do seu
sussurro me libertou das correntes da maré negra como uma lua negra pairando
sobre a lamúria ou como árvores cantando cânticos apaixonantes de deuses
antigos. O inverno brilhou nos galhos tortos, gelando minha língua na noite
pálida... e o silêncio caiu sobre minha alma com vapores brancos. As rosas
negras do meu interior são como dentes de uma serpente desejando beber seu sangue,
são como a neve que cai sobre o mar, como a fumaça que passeia sobre a brisa,
como a geada que se derrete diante do sol. Agora as estrelas negras sobem e
muitas luas circulam através do silêncio da noite, através do lado escuro da
montanha, onde campos de fogo aguardam o despertar da alvorada. Você consegue entender
o que eu quero dizer? Nós nunca parecemos significar uma palavra do que
dizemos, nunca permanecemos tempo suficiente para enxergar o que o outro quer
nos mostrar. Estes seis meses profundos desde que a vi pela primeira vez, uma neve
de primavera caia sobre mim, sentindo-me como uma criança recém-nascida batizada
em fogo e gelo, eu aceitei a realidade de quem eu sou, com veias inchadas o meu
prazer tornou-se a minha dor, mas essas palavras não saem de mim, a dor que dilacera meus membros e alma, aí há sabedoria. Você é diferente de nós e jamais
fará parte desse mundo, sensibilizada pelas torturas de sua raiva, uma vida
perfeita que não posso fazer parte. Fora da água é onde você está, onde o vento
atinge sua velocidade e arrepio, e as tempestades da loucura te levam acima dos
que governam essa terra. Tão grandiosas quanto o céu, elas foram embora desse
lar! O lar que carregava seus destinos, seus amores, suas
mortes...
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Tentação
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