Correndo
para longe de casa, eu sinto a luz do sol ardendo na minha pele, seu brilho
rejuvenesce meu rosto, enquanto a brisa da manhã me leva para um lugar
distante. Meus pés pisam em poças profundas, e em cada passo criam-se bolhas no
ar com recordações dos meus efêmeros romances. Ainda assim, eu continuo
correndo, meu corpo não pode se cansar agora, pois eu fugi do portão do
desamparo, amaldiçoado pelas estações de agosto. Talvez fosse o vento, mas estas
bolhas continuam me perseguindo, com lembranças de amor, ódio e paixão
ardente... todas elas fazem parte de mim agora, eu não posso arrancá-las do meu
peito? Uma vez longe, mas ainda tão perto, as nuvens sombrias começam a se
reunir, e aqueles maravilhosos raios de sol são cobertos como cisnes dourados
afundando nas águas. Eu devo parar e me preencher com a escuridão, mas minhas
pernas continuam a se movimentar contra minha vontade, meu instinto me obriga a
se libertar do velho mundo. De repente, uma por uma, as bolhas começam se
chocar, e de relance eu consigo ver no espelho delas um sorriso no meu rosto.
Mas os resíduos de água se espalham pelo chão, formando uma gigantesca onda que
tenta me engolir, porém como um surfista confiante, eu desvio de todas elas,
até que a maré se acalme e a tempestade cesse. O sol brilha novamente no céu e
o mar seca na terra, mas sem misericórdia eu me despeço do meu passado. Agora
eu recupero as rédeas da minha vida e percebo que não estou mais correndo, eu
sou o dono do meu próprio destino novamente! Mas quando eu olho para trás,
daquelas águas nascem plantas e árvores florescentes, seus galhos se entrelaçam
entre si e apontam na direção do futuro – eu finalmente percebo que elas nunca
quiseram meu mal, apenas me apressavam para encontrar a felicidade. As lágrimas
congelam no meu rosto, pois o tempo todo meu único inimigo era meu próprio
ego... seria tentador voltar lá e me entregar a toda aquela natureza linda,
deixando que o orvalho pingasse sobre minha testa e derretesse nos meus lábios,
mas fechando os olhos e respirando o cheiro das amadas, eu sigo meu caminho sem
olhar para trás. Por uma vida, por deus ou por você, estou pronto para
reescrever minha história em páginas rasgadas, mas agora a tinta é forte, e a
precisão com a qual eu escrevo é a de um homem focado e destemido. Só mais um
pouco e estarei lá, na vida que eu sempre sonhei, então por que sinto que estou
cometendo mais um erro em não aceitar minha realidade? Da negação vem a
ingratidão, de maneira que eu nunca poderei ser digno sem agradecimento. Portanto,
quando a tua mão cair sobre mim, nem com todas as forças das montanhas e dos
mares eu poderei suportar o peso se não houver gratidão em meu coração.
Grandioso e único, e a todos que tu colocaste na minha vida... aos que me
fizeram sofrer e amadurecer até hoje, aos que me presentearam com momentos
felizes e compartilharam gestos de amor, risadas e traições, a todos eu só
queria dizer muito obrigado! A silhueta do lugar de onde eu pertenço começa a
surgir no céu, e eu percebo que o tempo todo estava bem ali, próximo à mim, mas
meus olhos estavam cegos para ver. Acima da minha cabeça, uma bolha ainda
brilha com os raios do sol, formando em seu reflexo um lindo arco-íris no
horizonte: obrigado a você, gentil violeta, pois você foi a única que chegou
tão perto de quebrar esta maldição – nem todos os rituais ou orações foram
capazes de fazer o que você fez, mas a ordália de deus é um peso que eu devo
carregar sozinho.
terça-feira, 27 de agosto de 2019
Uma Pedra no Céu
Correndo
para longe de casa, eu sinto a luz do sol ardendo na minha pele, seu brilho
rejuvenesce meu rosto, enquanto a brisa da manhã me leva para um lugar
distante. Meus pés pisam em poças profundas, e em cada passo criam-se bolhas no
ar com recordações dos meus efêmeros romances. Ainda assim, eu continuo
correndo, meu corpo não pode se cansar agora, pois eu fugi do portão do
desamparo, amaldiçoado pelas estações de agosto. Talvez fosse o vento, mas estas
bolhas continuam me perseguindo, com lembranças de amor, ódio e paixão
ardente... todas elas fazem parte de mim agora, eu não posso arrancá-las do meu
peito? Uma vez longe, mas ainda tão perto, as nuvens sombrias começam a se
reunir, e aqueles maravilhosos raios de sol são cobertos como cisnes dourados
afundando nas águas. Eu devo parar e me preencher com a escuridão, mas minhas
pernas continuam a se movimentar contra minha vontade, meu instinto me obriga a
se libertar do velho mundo. De repente, uma por uma, as bolhas começam se
chocar, e de relance eu consigo ver no espelho delas um sorriso no meu rosto.
Mas os resíduos de água se espalham pelo chão, formando uma gigantesca onda que
tenta me engolir, porém como um surfista confiante, eu desvio de todas elas,
até que a maré se acalme e a tempestade cesse. O sol brilha novamente no céu e
o mar seca na terra, mas sem misericórdia eu me despeço do meu passado. Agora
eu recupero as rédeas da minha vida e percebo que não estou mais correndo, eu
sou o dono do meu próprio destino novamente! Mas quando eu olho para trás,
daquelas águas nascem plantas e árvores florescentes, seus galhos se entrelaçam
entre si e apontam na direção do futuro – eu finalmente percebo que elas nunca
quiseram meu mal, apenas me apressavam para encontrar a felicidade. As lágrimas
congelam no meu rosto, pois o tempo todo meu único inimigo era meu próprio
ego... seria tentador voltar lá e me entregar a toda aquela natureza linda,
deixando que o orvalho pingasse sobre minha testa e derretesse nos meus lábios,
mas fechando os olhos e respirando o cheiro das amadas, eu sigo meu caminho sem
olhar para trás. Por uma vida, por deus ou por você, estou pronto para
reescrever minha história em páginas rasgadas, mas agora a tinta é forte, e a
precisão com a qual eu escrevo é a de um homem focado e destemido. Só mais um
pouco e estarei lá, na vida que eu sempre sonhei, então por que sinto que estou
cometendo mais um erro em não aceitar minha realidade? Da negação vem a
ingratidão, de maneira que eu nunca poderei ser digno sem agradecimento. Portanto,
quando a tua mão cair sobre mim, nem com todas as forças das montanhas e dos
mares eu poderei suportar o peso se não houver gratidão em meu coração.
Grandioso e único, e a todos que tu colocaste na minha vida... aos que me
fizeram sofrer e amadurecer até hoje, aos que me presentearam com momentos
felizes e compartilharam gestos de amor, risadas e traições, a todos eu só
queria dizer muito obrigado! A silhueta do lugar de onde eu pertenço começa a
surgir no céu, e eu percebo que o tempo todo estava bem ali, próximo à mim, mas
meus olhos estavam cegos para ver. Acima da minha cabeça, uma bolha ainda
brilha com os raios do sol, formando em seu reflexo um lindo arco-íris no
horizonte: obrigado a você, gentil violeta, pois você foi a única que chegou
tão perto de quebrar esta maldição – nem todos os rituais ou orações foram
capazes de fazer o que você fez, mas a ordália de deus é um peso que eu devo
carregar sozinho.
quarta-feira, 24 de julho de 2019
A Grande Aposta
sexta-feira, 5 de julho de 2019
A Herdeira da Promessa
Abaixo
do luar pálido estou petrificado como uma rocha ancestral, vendo fases
infinitas do sol nascendo e se pondo, enquanto vivo sob o
vidro como uma doença que nasce no passado para se estilhaçar no futuro. Assim eu posso falar do meu imenso senso, pois
cada fase forma uma dobra no tempo, cada metro distorce a linha sutil dos
sonhos aveludados que não posso definir. Eu olho pela janela, mas não sei
distinguir qual cor estou vendo: o sino está tocando distante na mesma
frequência do meu coração, porém é um som pesado de edifícios caindo, o mesmo
som do impacto de quando meu irmão pulou nos braços da morte. Se ele ainda
estivesse entre nós, então eu arrancaria meu coração para que ele vivesse um
pouco mais, apenas mais cinco minutos da sua música clássica ressonando em meus
ouvidos, sentindo sua dor fúnebre em cada tecla do piano ou sua esperança
vindoura em cada promessa de deus. Agora meu estado de espírito está instável,
pois além do luto inesperado, a aurora ajudou a despedaçar o que restou das
minhas forças... pela primeira vez eu a vi bêbada como um tolo sofrendo pela
desgraça, incriminando-me por um crime que não cometi e importunando minha
essência sagrada. Mesmo quando pousei minha cabeça sobre o travesseiro, minha
mente foi atacada astralmente por pastores negros que tentaram me aprisionar em
um sonho de trevas, porém com o poder do amor eu consegui escapar e retornar
para meu corpo. Do ponto de vista cristão, estas acusações são graves, mas
houve um dia em que o mesmo pastor que apareceu em sonho tentando me destruir,
veio até minha casa, e eu contei-lhe sobre o sonho, sem revelar sua identidade.
Apesar de se mostrar surpreso, ele reagiu de modo estranho, e apenas disse que
já sabia o que o sonho significava, enquanto saia apressado da minha casa! Ele
nunca mais voltou a falar sobre o assunto, mas lembro-me nitidamente de que, durante
o velório do meu irmão, ele ficou observando minhas feições atentamente, sem
dizer nada, como se estivesse esperando que algo tivesse me afetado mais do que
deveria. Eu não posso acusá-lo diretamente sem provas, pois na
escuridão do sonho apenas sua voz era ouvida em um mar de trevas tentando me
consumir. Ora, estes fatos foram relatados aqui para o caso de algo futuramente
acontecer comigo, mas alcançando um ponto sem retorno, o gelo crescente corta
os juncos desses acontecimentos e a tristeza nunca cessa: estes são os fatos
que eu tenho que aceitar, ouvindo palavras de que o amanhecer trará a cura, mas
como minúsculos cristais caindo de nuvens lentas e cheias, eu percebo que
minhas escolhas se tornaram um fardo para mim, tão pesado quanto uma cidade de
corruptos, e nem com todas as forças que possuo poderia reerguer esta cidade!
Pois para desejar todas as noites cheias de antecipação, antes destas palavras
serem escritas, eu ainda estava procurando pela quintessência que evaporou como
um sol definhando. Em todos os lugares ela me ignorou, mas está tudo bem,
quando eu vejo a cor desconhecida invadindo o céu acima, nossos encontros de tela
em tela desvanecem, e tudo se torna apenas uma nuvem passageira. Afinal, de
trás para frente eu continuo espreitando entre as ruas estreitas atrás daquela
que será minha redenção – quando eu encontrá-la, seu primeiro toque será como
areia macia e branca, por que ela será livre como a natureza, trazendo sinais da
promessa por toda sua pele! Transbordando de felicidade, meu passado ficará
para trás como as lembranças de um último suspiro, pois quando meus olhos se
abrirem novamente, ela será meu mundo vindouro.
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
O Caçador de Sonhos
Numa
existência vaga e vazia, o sofrimento me encontra novamente, sua dor é como a
ferida aberta de um animal esperando ser arrebatado, mas como um enxame de
moscas lambendo seu sangue, as línguas negras penetram em meus ouvidos, deixando-me surdo para as vozes humanas. Eu nunca mais poderei dormir calmamente, pois nada
pode me fazer esquecer os horrores que se escondem atrás das estrelas antigas
que me vigiam. Mas todo dia é uma desculpa, a consequência que desdobra meu
tempo e me paralisa com o desejo da morte. A fealdade eleva minha cabeça ao inferno, escurecendo minha alma como veneno sendo injetado nas minhas veias. Estou
perdendo minha fé e forçando-me por um caminho de reconhecimento, mas por trás
das cortinas há somente um pobre homem escondendo-se da luz do sol,
atravessando a sombra do seu rosto para que o sonho se realize. Os demônios
fantasiados são alimentados pelo som da sua voz, sugando o que restou da sua sanidade
para que a vida não seja desperdiçada. Como um martelo quebrando seus dentes, a
podridão se espalha pelo seu corpo, destruindo todas as facetas criadas pelos
anos de hipocrisia. Isso me assombra, por que não sei quem eu sou, tão pouco quem
eu era – esse impulso repetitivo que não posso fingir sem um decreto. Mas as
pessoas normais não agem desse jeito? Isso poderia servir como um filtro para
meu cérebro, comprando e vendendo a mesma dor dos vícios da sociedade. Contudo,
até os humanos me abandonaram, e meus amigos me veem como um estranho, pois minhas
palavras se tornaram sem valor, minhas ações como uma navalha em meu próprio
pulso, e eu já não posso mais encarar o dia, sufocado em minha máscara enquanto
perco minha fisionomia. Ai de mim! Que coberto pela escuridão achou-se moradia,
e em todos esses anos apenas uma luz brilhou em meus olhos, arrefecendo meu
coração com ar quente, esforçadamente intimado pelos sonhos vazios que
desapontava minhas expectativas. Agora tudo o que eu sentia por dentro está
morto, todos aqueles sentimentos perfeitos apagados como cinzas de cigarro, sem
nenhuma vítima para meu prazer perverso. Minha moral foi ensanguentada como
porcos banhando em lições imorais sujas e implorando pelo mais imundo dos
pecados terrestres, porém, enquanto eu fujo cegamente do que é real, eu
cubro meus olhos para não olhar o arame farpado que me separa de você, pois na
noite escura surgem prazeres, levando-me a escrever cartas anônimas com saudade
e amargura. Pare de procurar uma razão e reflita: você consegue ver a sombra deitada, enquanto
as flores dormem em um mundo completamente solitário? As velhas e poderosas
árvores nos observam de onde os antigos pais encontravam sua paz, e aonde os
pensamentos de tristeza conduziam a vontade de chamar pela chuva, formando
nuvens escuras movidas pelo desejo sinfônico de curar o mundo. Essa serenidade
vinha como passos invisíveis na neve ou como pássaros voando na geada
noturna, uma sensibilidade que eu sentia apenas quando estava com você, vivendo
em uma ilha sem nome, onde mergulhávamos profundamente no anseio dos nossos
corações. Parece ontem quando você estava aqui e tudo era tão perfeito,
a luz do sol brilhava nos prédios como um espelho de cristal, e eu saltitava feito
uma criança despreocupada, sem perceber quando meu glamour sombrio nos conduziu
para a danação eterna.
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
O Paraíso Perdido
Meu
aniversário passou como um intervalo entre duas vidas, vendo visões dos dias
negros imaculados, enquanto me sentia como um inverno viciado em chamas
definhando no que restou da minha sanidade. Enterrado de maneira superficial,
eu fui perdendo tudo o que realmente importava para mim, como se o universo
estivesse me preparando para algo maior. Lamentar não era uma escolha, pois os
faróis queimavam em minha direção como dez navalhas de luz cravadas no meu
peito. As sombras na areia mostravam um caminho preparado para mim, um enredo
selvagem em um pó de ouro, afundando meus pés no desconhecido. Mas o diabo
tinha roubado a chave com sua beleza disfarçada, cada dia sua respiração aumentava
no meu pescoço, dizendo que no final nada poderia me livrar da maldição. Houve um
tempo de silêncio onde eu pude sentir os diferentes ciclos da natureza,
flutuando em uma torrente de tristeza como uma sucata de admiração, mas eu
nunca poderia ser preenchido novamente, por que quando você se foi, rasa de
tudo, eu desvaneci como vidro quebrado, ansiando realizações que nunca passaram
de ilusões. Agora eu sou apenas um fantasma vagando pelo seu quarto, esperando
encontrar o que um dia nunca me pertenceu. Faça-me acreditar que isso é real,
pois eu perdi você neste lugar de pesadelos que gritam na minha cabeça, vendo
bailarinos sem rosto dançando ao meu redor e te cobrindo no palco do desprezo. Eu
levanto minhas mãos e estou manchado de escuridão, deteriorando por fora como um
cadáver polindo os próprios ossos, consumido pela tela de fumaça que te
transformou em lembranças. Você era minha fruta favorita, pois seu sabor não
era sentido pela boca, mas pela sensação de ser pensado por você – uma energia
que fluía da sua mente para a minha. Quando seus pensamentos se ligavam aos
meus, bastariam poucas palavras para você me ter por completo, por que meu
corpo sempre se arrepiava com a nossa conexão astral. Cada pequeno segundo era
uma eternidade com você, pois cada segundo valia mais do que uma vida inteira
sem você. Eu achei que nunca mais amaria novamente, até conhecer você, um sonho
de garota que eu sempre imaginei encontrar. Por que a vida real é tão teimosa
em nos dar quem mais combina conosco astrologicamente
e nos completa infinitamente? Nós tínhamos tudo e não precisávamos de
mais nada: é difícil acreditar que fomos amantes queimados vivos por nossas
vontades. Se eu dissesse adeus, seria apenas um obrigado pelo que você tem me
dado, mas se o inesperado nos unisse, eu estaria agradecido por você me amar. Nosso
navio tem naufragado através da fantasia, mas esta não é a nossa bela memória
do que vivenciamos juntos? Quando cortamos a névoa da vergonha, as nuvens se
abrem e ainda enxergamos o paraíso que construímos juntos... está lá, esperando
por nós, um lugar que podemos encontrar nas profundezas das nossas mentes. Esqueça
o que fizemos, mas proteja o que construímos, por que o dom que perde seu
sentido nunca foi percebido na realidade.
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
A Grande Cerimônia
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
O Amante Astral
Entediada e sozinha, uma mulher vê formas caminhando pelo quarto, mas o lugar para
onde deseja ir só existe na sua cabeça. De olhos fechados, ela pode ser
quem quiser, pois não há limites para sua imaginação: seus olhos esmaltados de
verde e seus cabelos rubros como o entardecer se misturam com o negrume dos
pensamentos, formando pequenas dobras em sua mente, até a realidade ser
descartada com um suspiro. Os ruídos da casa desaparecem e o calor arrefece o
ambiente, mas com um truque de luz, ela pisca os olhos como um
ator roubando a cena diante de todos os pensamentos que luta para esconder. O
tempo para lá dentro, mas lá fora é apenas um instante, ainda assim, o mundo se
torna um jardim perfumado, onde todas as razões para continuar invadem seus
ouvidos com um sorriso de prazer. A noite fria e úmida se torna uma silhueta
imaginária, mas ela percebe que está flutuando, quando algo escapa dos seus
dedos, embora não saiba o que é. Com luzes azuis-celestes, seu corpo é puxado
por uma força ternamente pulsante como uma melodia que a carrega para céus
distantes. Branca como uma nuvem de algodão, a pureza reluz em sua pele, mas
quem poderia salvá-la dos seus desejos mais profundos? Ela sabia que um dia deveria
enfrentar aquele que visitava seus sonhos de adolescência, pois agora é uma
mulher-feita, não mais uma garotinha que nada e se afoga, mas pronta para mergulhar nos mares profundos da mente humana. A fragrância que
sentia era natural como cheiro de pele, e quanto mais ela se aproximava, mais
uma luz queimava por dentro do seu santo éden. Uma força mágica a submergia na
estranha sensação de perigo, desejando experimentar um pedaço do proibido em
seu íntimo, só mais um beijo da sombra em sua alma, um sentimento além do que
seus olhos podem ver ou palavras podem dizer, apenas a certeza de ser acolhida pelo
anseio das batidas do seu coração. Então, por que você hesita, se ela é você
e a sombra sou eu? Aqui, a noite nunca acaba, mas por que você está chorando? Eu
vejo lágrimas escorrendo do seu coração, enquanto ouço as batidas
desaparecendo, e tudo que almejo é fazer com que volte a descompassar o ritmo de
antes, quando sua voz era valorizada e suas mãos tocavam a música na sintonia
do amor. Como um rastro sangrento secando na areia, você abandonou seus dons,
mas nossa busca incessante está apenas começando... você consegue ouvir esta
melodia suave de um estranho mistério nos envolvendo, enquanto as estrelas
brilham com o seu destino? Talvez você esteja muito surda para ouvir o som
invisível das minhas palavras, mas o viajante sempre tem uma breve passagem
como uma estrela cadente, desenhando uma forma perfeita para abrir seus olhos e
você enxergar a árvore virgem que está nascendo em seu coração. Eu me sinto
feliz só em saber que você existe, em lembrar-se de nossas aventuras quando
você bebeu o suco da minha essência ou tornou-se poeira estelar, fundindo-se ao
que restou de mim. Deixe que minha mão fria toque seu íntimo e minha respiração
quente rasteje pelo seu pescoço, por que no final apenas fragmentos permanecem,
e o amor mortal não é suficiente para preencher o vazio da existência. Uma vez
que nossos gritos atinjam o alto, nossos corações danificados crescerão
distantes, absorvendo a verdade que me faz acreditar que você seja a tão esperada
quintessência. Sob o olhar do vigia, você não precisa mais se esconder, pois quando
usamos a misericórdia como isca, há uma chance de compensar e varrer as cinzas
que esperamos como prêmio.
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
A Palavra Original
domingo, 3 de junho de 2018
Selvagem
Escondido
da vista, um cão raivoso corre cegamente pela floresta, seus latidos são como
vogais macias que imploram por uma abordagem, mas ele se apressa para chegar onde reside
sua identidade secreta. Agora um homem surge do covil: é muito difícil manter-se
de pé naquele corpo esguio, mas alguém o espera em casa e seu atraso poderia
levantar suspeitas. Alimentando a noite, ele retorna pelo mesmo caminho por
onde veio, pois é mais fácil enganar uma pessoa estando próximo dela do que distante.
Enquanto atravessa as divisões lunares, um pássaro preto se senta, possivelmente o único que sabe quem ele é, mas quem compreenderia o
crocitar de um corvo? Inclinado para frente, ele ignora o olhar acusador e retira
as mãos dos bolsos, desejando que suas unhas estivessem limpas. O homem não tem
mais aquela camada de pelos para protegê-lo do frio, e a lufada de ar fresco
que penetra em seus ossos o faz enrijecer, quase como se mergulhasse em uma
piscina de gelo. Nu como em seu nascimento, ele não sabe onde foram parar suas
roupas, mas ninguém consegue vê-lo perambulando entre os arbustos da cidade
apagada. Ele vê moças estrangeiras conversando com homens perigosos, as quais
jazem em lençóis mortos antes do amanhecer, pois seus lábios vermelhos também atraem
predadores. O caminho está forrado com árvores, ele sente a selvagem respiração
do vento, enquanto uma pequena folha escova seu ombro e reflete a sombra dos
raios da lua em suas transbordantes recordações, memórias que chegam como um
murmúrio do passado e invadem sua visão, porém como a vidraça de uma janela, ele fragmenta seus pensamentos, apenas ouvindo os passos daquelas pessoas
ressonando na estrada. As estrelas se tornam brilhos estranhos na escuridão, e
seu instinto sofre intensivamente, vendo sombras em movimento ao longo dos
gritos de lares destruídos, uma obscena ruptura do silêncio da meia-noite, onde
o sangue goteja de lábios gananciosos e atrai mentes violentas, congelando
cadáveres com o pulso estrangulador da morte. O odor das trevas se mistura com
a segurança que as famílias acreditam ter, enquanto estremecem e seus pés
flutuam, dormindo sem ouvir os demônios que espreitam ao derredor e assistem
suas vidas patéticas. Perto de casa, o silêncio se torna uma voz lamuriosa,
ondas oscilantes emaranhando-se e agredindo sua mente, por onde a eternidade do
tempo está passando infinitamente nos confins da sua vida sem sentido. A
colisão parece programada, carregando suas cicatrizes como lágrimas brancas que
escorrem secas pela ventania. Lá, num espaço tragado pelo tédio, um amor
cego o espera com ramos dimensionais que atravessam sua liberdade. Com um
doloroso vazio, o homem galopa pela janela e sua esposa está deitada, suas
pálpebras piscam e se abrem lentamente, mas seu sorriso é como uma lâmpada
torta. Seu cheiro de flores o puxa como imã para cama, e ela se embala
gentilmente em seus braços, sem desconfiança, pois o amor é tudo que transborda de seus
lábios abertos. A brisa noturna e o olho da lua espreitam pela janela, mas a
voz da tentação sussurra em seu ouvido, vendo as sombras dos galhos se transmutarem
em diferentes formas como asas invisíveis na parede. O mundo lá fora se
desmorona e o silêncio é engolido pelos gemidos da sua amada, enquanto sua
tristeza é transformada em bondade.
terça-feira, 22 de maio de 2018
Pássaro Azul
Por
onde eu ando, meu corpo sente seu campo magnético, suas pegadas delineiam meu
caminho, tornando o ar mais leve como céus azuis de dor. Enquanto a lua gelada
ilumina a terra, eu afundo meu silêncio onde a lama sangrenta cobre meus pés, mas
posso sentir o toque profano da sua visita, passos delicados como o andar fino
de um doce amante, trazendo benefícios celestes em seu olhar inocente, embora
por trás da pureza você esconda um pequeno sorriso assustador. Quando eu olho
para você, percebo que sua beleza vale mais do que todo ouro do mundo, mas que
não posso ter nenhum dos dois agora. Eu planejei, a partir daqui, um sonho
vivido ao seu lado, até notar que minhas palavras não tinham mais poder sobre
você. As imensuráveis promessas que fiz, de que elas valem após sua partida? As
lembranças são tudo o que guardo comigo como um homem que é exilado da sua
terra natal e se contenta com uma nova vida medíocre. Ah, se eu pudesse...
apenas mais uma vez, olhar as pérolas radiantes do teu olhar, sentir o cheiro
gelado da tua aspereza, ouvir a voz descompassada dos teus lábios, devolver aquela
rosquinha que você me deu um dia antes de brigarmos e tudo mudar para sempre.
Ó, aurora, maldito sou eu e as palavras que saíram da minha boca, por que elas
te puxaram para um céu distante, onde nem a torre mais alta seria suficiente
para alcançar o teu perdão. Um começo feliz, um triste fim, não é sempre assim?
Para cada minuto da história, nossas vontades são quebradas e curvadas, nossos
registros mantidos em porões escuros, nossas vidas decididas por escolhas
imaturas. Como um tapa de veludo, eu rodopiei mil vezes até aceitar que a cena
não é mais o que costumava ser: você cresceu e só deus sabe o quão bela você se
tornou, por que a beleza não é só aquilo que mostramos por fora. Os anos se
passaram para você, não para mim, pois eu fiquei preso nesta separação cruel
esperando pelo seu apelo, mas toda vez que eu ouço uma mulher chorando, eu me
lembro de você, do que eu causei em você... palavras ferem mais do que um
hematoma... palavras... isso é tudo o
que eu tenho? Por quanto tempo eu fiquei aqui, escrevendo e esperando, enquanto
a vida passava? Como um frágil covarde, eu via o chão murcho sob meus pés, e
fui mantido neste lugar por mais tempo do que meus próprios anos, dando fôlego
a uma presença escura que me acompanha como minha sombra, enquanto a loucura tentava me
guiar para a borda do abismo. Você ainda se lembra das suas primeiras palavras?
Aquelas sobre o negro divino, onde você disse que havia um espinho por dentro
evaporando como um fluído sem prefixação... ora, se o mesmo deus que nos uniu
ainda planeja nosso reencontro, então eu rezo para que esse espinho ainda
exista dentro de você, por que eu jamais amarei alguém como amo você, jamais
olharei para alguém como olho para você, jamais escreverei para alguém como
escrevo para você. Esse sentimento está além da minha compreensão, além do espaço
e do tempo, além da vida e da morte. Quantas vezes mais eu me despedirei de
você, até aceitar que nunca esteve aqui? Como um pássaro impetuoso, você voa
para bem longe, mas eu permaneço acenando do meu túmulo.
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