sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A Palavra Original

    Enquanto o tempo passa melancolicamente, minha pele enferrujada é coberta por folhas de ouro, decorando meu corpo com uma obscura vaidade. Ainda que estas palavras sejam como o fantasma da minha vida adormecida, eu posso dizer que ainda restou tinta para escrever meu último desejo. Profundamente nas geleiras mais fundas, há uma luz sagrada que absorve tudo e reluz o ambiente em prata, os sinos de outra terra ressoam no vazio, vagando em um universo rasgado a partir do que meus olhos podem ver: altos muros que protegem minha vida como asas brancas de um anjo guardião, onde a água é clara e as terras são de largura, mas por trás há um arrependimento tardio pelos lugares deixados com linhas de contos ainda para serem escritas. Ali o sabor infernal preenche o espaço e nada foge do seu abraço dolorido, porém essa é a beleza dos passeios no escuro – o que não se pode ver é apenas imaginado. O tempo continua escorrendo como sangue de uma virgem deflorada, carregando todos aqueles sonhos puramente baseados no medo e escavados pela vergonha, na esperança de ter a sensação que todos falam até descobrir que nada é como parece ser. No mais negro tom da luz é onde está o desvanecimento da verdade pelo cultivo das mentiras, nomeando-se com ela. Assim, para domar o mundo novamente, é necessário destravar as correntes que depravam a alma, que nos tornam pontos colididos pelo declínio dos céus, quando todas as notas que tocamos são reorganizadas e nos mantém existentes na criação perfeita. Agora a brisa fantasma é naufragada em um tempo perdido, caminhando pelo mais longo corredor da mente, para encontrar onde fomos deixados para trás. Através da desgraça e do riso, é tempo de tomarmos o futuro em nossas mãos, não semeando o arado de um deus ameaçador, mas deixando que o sol brilhe ao seu favor, enquanto a velocidade do vento ressoa a melodia de uma garota cantando pela primeira vez, correndo em campos verdes como uma criança seguindo os passos do pai, dançando para sempre no sentimento de está seguro e cercado por pessoas honestas, por que esta é a verdadeira essência que perdemos no meio do caminho. É tempo de virar as páginas e roubar as rédeas do violonista, pois cada alma possui uma voz linda para ser ouvida, olhos brilhantes para admirar a natureza, bocas para saborear a doce fruta do amor, ouvidos para ouvir a canção dos pássaros, mãos para abraçar, cabelos para soprar no vento... ó, deus das inúmeras estrelas testemunhas! Salve-nos dos engenhosos séculos de mentira, dos santos livros reciclados e do falso senhor em nossos corações... venha e desça com teu fogo purificador para queimar nossas impurezas, por que toda dor que sentimos é manifesta  como o germinar de uma semente. Nós queremos paz no romper da aurora, névoa na costa, brisa nas ondas do mar e mais flores brilhantes perfumadas com tons de verde, queremos água da fonte mais pura e mais amor à medida que avançamos em uníssono, com memórias de felicidade e amigos menos ausentes, recebendo dez por cento da terra, para preencher a gordura do nosso coração em uma sociedade baseada em fundamentos sólidos. Aqui neste verdadeiro vórtice meu eu começa a mostrar a carne da fragilidade humana, pois parte de mim estava fascinado pela crueldade, quando o medo anulou a dor infligida pelo ciclo interminável. Nos templos astrais, eu estarei ajoelhado e temente diante a ti, por que todas essas mudanças nós iremos testemunhar juntos... eu finalmente compreendo, pois eu vi um homem e eu sabia que seu rosto era muito similar ao meu. Minha mente começava a duvidar sobre o que meu coração já sabia, mas agora o motivo da rima faz sentido, pois essa cor celestial é diferente do que eu via em um mundo moribundo.

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