A Palavra Original
Enquanto
o tempo passa melancolicamente, minha pele enferrujada é coberta por folhas de
ouro, decorando meu corpo com uma obscura vaidade. Ainda que estas palavras
sejam como o fantasma da minha vida adormecida, eu posso dizer que ainda restou
tinta para escrever meu último desejo. Profundamente nas geleiras mais fundas, há
uma luz sagrada que absorve tudo e reluz o ambiente em prata, os sinos de outra
terra ressoam no vazio, vagando em um universo rasgado a partir do que meus
olhos podem ver: altos muros que protegem minha vida como asas brancas de um
anjo guardião, onde a água é clara e as terras são de largura, mas por trás há
um arrependimento tardio pelos lugares deixados com linhas de contos ainda para
serem escritas. Ali o sabor infernal preenche o espaço e nada foge do seu
abraço dolorido, porém essa é a beleza dos passeios no escuro – o que não se
pode ver é apenas imaginado. O tempo continua escorrendo como sangue de uma
virgem deflorada, carregando todos aqueles sonhos puramente baseados no medo e
escavados pela vergonha, na esperança de ter a sensação que todos falam até descobrir
que nada é como parece ser. No mais negro tom da luz é onde está o
desvanecimento da verdade pelo cultivo das mentiras, nomeando-se com ela. Assim,
para domar o mundo novamente, é necessário destravar as correntes que depravam
a alma, que nos tornam pontos colididos pelo declínio dos céus, quando todas as
notas que tocamos são reorganizadas e nos mantém existentes na criação
perfeita. Agora a brisa fantasma é naufragada em um tempo perdido, caminhando
pelo mais longo corredor da mente, para encontrar onde fomos deixados para
trás. Através da desgraça e do riso, é tempo de tomarmos o futuro em nossas
mãos, não semeando o arado de um deus ameaçador, mas deixando que o sol brilhe
ao seu favor, enquanto a velocidade do vento ressoa a melodia de uma garota cantando
pela primeira vez, correndo em campos verdes como uma criança seguindo os
passos do pai, dançando para sempre no sentimento de está seguro e cercado por pessoas
honestas, por que esta é a verdadeira essência que perdemos no meio do caminho.
É tempo de virar as páginas e roubar as rédeas do violonista, pois cada alma
possui uma voz linda para ser ouvida, olhos brilhantes para admirar a natureza,
bocas para saborear a doce fruta do amor, ouvidos para ouvir a canção dos
pássaros, mãos para abraçar, cabelos para soprar no vento... ó, deus das inúmeras
estrelas testemunhas! Salve-nos dos engenhosos séculos de mentira, dos santos
livros reciclados e do falso senhor em nossos corações... venha e desça com teu
fogo purificador para queimar nossas impurezas, por que toda dor que sentimos é
manifesta como o germinar de uma
semente. Nós queremos paz no romper da aurora, névoa na costa, brisa nas ondas
do mar e mais flores brilhantes perfumadas com tons de verde, queremos água da
fonte mais pura e mais amor à medida que avançamos em uníssono, com memórias de
felicidade e amigos menos ausentes, recebendo dez por cento da terra, para
preencher a gordura do nosso coração em uma sociedade baseada em fundamentos
sólidos. Aqui neste verdadeiro vórtice meu eu começa a mostrar a carne da
fragilidade humana, pois parte de mim estava fascinado pela crueldade, quando o
medo anulou a dor infligida pelo ciclo interminável. Nos templos astrais, eu
estarei ajoelhado e temente diante a ti, por que todas essas mudanças nós
iremos testemunhar juntos... eu finalmente compreendo, pois eu vi um homem e eu
sabia que seu rosto era muito similar ao meu. Minha mente começava a duvidar
sobre o que meu coração já sabia, mas agora o motivo da rima faz sentido, pois
essa cor celestial é diferente do que eu via em um mundo moribundo.
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