Esta noite encontro-me sonolento e frio. Abaixo das
nuvens nebulosas meu coração é tocado por uma estranha melodia. Em aflitos tons
de cinza alguém desaparece nos nevoeiros e apenas flashes da sua aparência permanecem,
congelado na frieza da minha alma, como se me levasse ao mesmo destino. A
estrada parece estar se encerrando por trás e os sinais me levam a um caminho
que não posso ver, imagens distorcidas da minha vida e pensamentos obsessivos
que me chamam aos corredores sufocantes, ventos estranhos soprando meu castigo
iminente, um vínculo imortal, vazio na extremidade do que permanece como o cadáver
de um demônio. Essa agonia dissolve-se em um brilho no vácuo da sombra de um
segundo, um indesejado estado de espírito, que me faz ver como no interior da
minha mente o destino é somente uma forte expectativa. Onde está a luz?
Apagou-se e minha mente tornou-se vazia como uma caverna, escura como um túmulo
nefasto, queimando, tornou-se cinzas, e as cinzas voam com o vento para
arrancar o meu fôlego, sufocado, estou perdendo a vida, perdendo meu lindo
vermelho, meu escuro sangue deixando minhas veias... sem ameaças, sem medos,
esse lindo vermelho é tudo o que vejo, pingando... estou sangrando e me sinto
bem, só um corpo pingando até a morte, só uma alma achando seu caminho. Olhando
para o céu e a lua cheia, do jeito que sussurro minhas últimas palavras, elas parecem
desaparecer, uma vez que tomei minha decisão há muito tempo atrás. Ninguém sabe
quem eu sou, ninguém me perderá. Tão esquecido como águas geladas de um córrego,
sou apenas metade em meu corpo e posso sentir, a alma assassina morrendo... eu
suponho que não há ninguém igual a ela, mas não posso deixar que controle o meu
corpo, nem a minha mente, nem a minha língua, como você esteve perto de mim a
vida inteira. Deu-me sentimentos profundamente fortes, mas o que esperava
ganhar? Eu suponho que você esteja muito bonito adormecendo e deixando de
viver, alma assassina, agora eu posso
viver como realmente devo, matando a mim mesmo para voltar à vida. Mestiço da luz e escuridão, ela
respondeu, você não pode ser o que não é.
Então, dentro de mim, minha alma adormeceu e por um instante pude sentir-me
tão morto quanto uma rocha sólida, antes que ela tomasse sua parte e desfizesse
o nosso contrato. Assim
disse a alma assassina: corre
pássaro, sem as tuas asas. Corre,
corre, um pouco mais. Haverão
céus para te consolar ou asas para que possa voar? Os meus
olhos ardiam, desafiando-a, sem olhar para trás, eu corri o máximo que meus pés
aguentavam, mas de alguma maneira ela parecia ainda mais próxima. Sua voz soava
caótica como sua cor: corre,
mensageiro do medo avistado! Reza
ao pai, vagando na loucura que reside. Corre,
perdido, perdido! A verdade
doía tanto, agora, os anos perdidos eram como ruínas possuídas, rastejando em
uma assombrosa mentira. No fim, ela voltou para dentro de mim. Morto, conseguia sentir. Somos um, a voz demoníaca cantava, somos um, somos um, a dor silenciosa sem luz,
somos um, somos um, somos um. Foi assim que a alma assassina
calou-se, mas eu não saberia dizer quem estava morto. Eu ou ela?
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Ruínas do Anoitecer Rubro
Ao redor da lua, ela vinha com seu vestido flutuando em seu precioso éden, onde jaz profundamente seu amado, amarrado e perdido no seu encanto, um cadáver como eu, girando sob a cadeira à espera do seu sereno e áspero corpo com o véu retirado, para deleitar seus assíduos gêmeos do prazer, sua respiração abafada em um grito, caindo... profundamente, em sua teia, os fios se emaranhando conforme sua vontade: paralisada e entorpecida, as palavras como arrepios, crescendo em uma frenética intimidade. Seu perfume como a neve, derretendo meu inverno interior e encontrando purezas nos intensos desejos, mas a noite é maldita e ainda chove, e ela não está aqui... apenas vozes gritantes soando em meus ouvidos, barulhentas e nubladas... fazem-me ver que manter o silêncio trouxe-me um longo alívio, atrás de mim a raiz de um passado em poeiras e cinzas, onde a dança das estátuas congeladas unem-se em lágrimas, faces inexpressivas estagnadas no vazio, apenas esperando uma gota de sangue na correnteza para lavar a dor e aceitar os arrepios do horizonte sombrio como palavras profundas que ferem através de um vidro translúcido. Na luz da alvorada, quando a manhã chora e suas teias brilham como fios de prata, o passado é esquecido sob o túmulo abaixo das flores e minha alma é liberta de sua aurora. Este é o meu lado piedoso, “uma sombra lançada sobre meu coração”, escurecendo nossas gélidas lamentações, serenas como um córrego congelado desejando uma luz prateada, com o anoitecer em meus olhos, levando escritas sangrentas sobre tua beleza pálida que flui através da escuridão indesejada.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
O Choro dos Pássaros
sábado, 24 de maio de 2014
Memórias Cor-do-céu
A lenda diz que dois amantes dançavam entre
espuma e corais; a noite era bela e as crianças gritavam sua loucura. Através
do espelho das águas, o casal apaixonado à beira-mar despertava paixões em um
sussurro mortífero, soando o coro violoncelista das cerimônias de um ritual
antigo. Essas cenas passam em volta da minha mente, mas antes de levar-lhe à fantasia, deixe-me dizer as palavras que tingiram sua realidade: você
perdeu seu destino, sua mente era a verdade tentadora. A julgar por sua vida
ser um sonho imperfeito, seus segredos ainda estão em minha mente, na noite
perdido, eu vi um caminho escuro e nele você estava chorando. Seu coração está
a ficar frio e seu brilho da cor do gelo. De acordo com a história, você é a
amante de pele jovem e bonita e sua mão se excita com a morte. Além da
obscuridade há um lugar onde seus gritos tornam-se o silêncio completo, este é
o segundo amante, em que você não pode confiar, quando os seus conselhos são
mentiras. Você confia em... memórias... mantendo estreita a sua despedida, a
sensação de onde está o céu, agora? Basta ver os olhos dela, quando morreu sua
liberdade, dizendo: “Oh, você vem despido, seu silêncio tenta controlar minha
mente. Não pare! Você despe meu corpo enquanto eu lambo seus segredos, nós
estamos matando nossa solidão, eu sinto que você está tão quente. Não pare!
Nunca! Não pare!”. Aquela noite, nós éramos estes amantes, mas em suas mãos uma
adaga apunhalou minha tristeza no equinócio de outono, a lamentação de meus ossos
estremecia seu corpo. A brisa da liberdade beijava seus sonhos e tomava meu
conhecimento, numa cama gasta com seu tempo. Ainda assim, vivia por você, meus dias,
minhas noites, estas águas tão escuras iluminavam meu amanhã, até o dia em que
você se afogou presa no seu medo. Aquele verme te traiu cinco vezes, com os
olhos no chão, mantinha segredos escondidos. O fim de uma canção! As sombras o
receberam em baixo, a voz rouca balançando, com a sentença. Ele sente tamanho
vazio quando a chuva borra suas lágrimas, e ela dar-lhe um último beijo... folhas caem, e você vai para aquela rua, sem saber seu
caminho. O verão está quase no fim, o sofrimento foge de seus corações e o tempo é
lento demais para te impedir de encontrar outro. Tarde demais, tarde demais! Quando poderei olhar esses olhos... eu
estou ansioso para sentir seus lábios, mas você esqueceu-se de mim. Em minha
tristeza lamento, por causa da raiva que me superou, eu me enchi de timidez e
as árvores prestam atenção, testemunhando o amor e seus mistérios.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Tentação
Quando a vi
passar nos jardins da lua o arco-íris do céu mergulhou no preto e branco da
nitidez dos meus olhos, os prédios ficaram coloridos e tudo à minha volta ganhou
a cor de gelo brilhante. Durante a noite tentava te encontrar para sentir essa
mesma energia, enxergar uma misteriosa luz surgindo das nuvens em tua direção
guiando-me ao desconhecido. Eu precisava chegar mais perto e esperava sua porta
se abrir todas as noites, escondendo minha presença nos cantos que me permitia
te olhar de longe como uma neblina invisível borrando sua imagem do meu
pensamento, assim a escuridão do meu coração era preenchida pela radiante luz
do seu sorriso. Muito acima onde as águias voam no céu eterno ou abaixo onde as
serpentes se rastejam para sobreviver, percebo que há algo dividido entre o puro
e impuro: o amor verdadeiro e a cobiça. Mas como posso amá-la se sequer sei quem
você é? Como posso cobiçar quando você não possui amante? Sendo assim, estou
livre da lei do pecado, onde mulheres passadas me levavam à tentação de suas
inocências como uma névoa avermelhada e fingida, com o espírito de luxúria e
dor, algemadas ao pedaço de carne que o mal respira. O vislumbre através do seu
sussurro me libertou das correntes da maré negra como uma lua negra pairando
sobre a lamúria ou como árvores cantando cânticos apaixonantes de deuses
antigos. O inverno brilhou nos galhos tortos, gelando minha língua na noite
pálida... e o silêncio caiu sobre minha alma com vapores brancos. As rosas
negras do meu interior são como dentes de uma serpente desejando beber seu sangue,
são como a neve que cai sobre o mar, como a fumaça que passeia sobre a brisa,
como a geada que se derrete diante do sol. Agora as estrelas negras sobem e
muitas luas circulam através do silêncio da noite, através do lado escuro da
montanha, onde campos de fogo aguardam o despertar da alvorada. Você consegue entender
o que eu quero dizer? Nós nunca parecemos significar uma palavra do que
dizemos, nunca permanecemos tempo suficiente para enxergar o que o outro quer
nos mostrar. Estes seis meses profundos desde que a vi pela primeira vez, uma neve
de primavera caia sobre mim, sentindo-me como uma criança recém-nascida batizada
em fogo e gelo, eu aceitei a realidade de quem eu sou, com veias inchadas o meu
prazer tornou-se a minha dor, mas essas palavras não saem de mim, a dor que dilacera meus membros e alma, aí há sabedoria. Você é diferente de nós e jamais
fará parte desse mundo, sensibilizada pelas torturas de sua raiva, uma vida
perfeita que não posso fazer parte. Fora da água é onde você está, onde o vento
atinge sua velocidade e arrepio, e as tempestades da loucura te levam acima dos
que governam essa terra. Tão grandiosas quanto o céu, elas foram embora desse
lar! O lar que carregava seus destinos, seus amores, suas
mortes...
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