Imaginei-me
invadindo desesperadamente um mar de apêndices, sentindo a massa de ossos
correndo lentamente pela frente do meu corpo, enquanto minha alma ficava para
trás. Deitado no falso paraíso, eu te encontrei ao meu lado, você parecia respirar
o ar sem esforço, e eu podia ver o futuro através dos seus olhos. Todas as
coisas pareciam possíveis ao seu lado, tudo isso no começo, antes da luz do seu
coração desaparecer suavemente, pois mentindo para o mundo, você decidiu que
precisava se esconder, mas eu sempre achei que você guardava dentro de si
encantos inestimáveis. Você era como uma borboleta radiante, pronta para içar
voo a qualquer momento, mas nosso romance ficou alinhado e rotulado em pequenas
correntes, pois através dos selos e cadeados, você sentiu uma mão no seu
pescoço, palmas e dedos agarrando seus ombros e esmagando-a com intermináveis cobranças.
Você estava presa em um pequeno declínio e precisava se libertar da sombra de
uma lenta decadência provinda da sua própria casa, mas apesar de ser tão
difícil admitir isso, eu falhei em tentar ajudá-la quando quebrei o silêncio
que nos mantinha separados numa eterna saudade. Agora estou há dias sem dormir
ou comer, por que minha mente não pode descansar enquanto a argila se forma
sobre meus pés, virando-se para enfrentar a gargalhada através dele... você
sabe, o maior inimigo do nosso amor está dentro de mim e não fora. Mas quem
poderá impedi-lo de moldar-me a seu bel prazer, sabendo que este corpo lhe
pertencerá aos meus trinta e três anos? Como sulcos titilantes no céu, nós não
podemos fugir da tempestade que nos persegue, mas podemos construir um abrigo
para nos proteger de suas investidas fatais. Os meus últimos anos nesta terra,
eu quero viver ao seu lado, pois como células negras que representam uma terra
estrangeira, quando você pisa nessa terra, as cores começam a colorir as partes
imundas, e os espectros com dedos finos fogem da sua presença. Com você as
reflexões parecem tão nítidas, mas eu não estou tentando questionar sua decisão:
em minha opinião, você fez uma excelente escolha, pois não quero colocar dúvida
na sua mente, eu estou feliz que você finalmente encontrou sua voz interna! Mas
acho justo você saber por que a Alma Assassina nunca nos quis juntos... você
está preparada para a verdade? Então segure em meus dedos esqueléticos e venha,
entre nesta nuvem azul flutuante, pois eu irei te revelar tudo agora. Ora, tudo
começou quando completei meus dezoito anos e tive meu primeiro relacionamento.
Ela era como uma porta escura, pois o som das suas mentiras calmas era oculto
atrás da porta. Assim, após o término, pela primeira vez eu conheci a magia de
perto, mas eu era um completo ignorante, utilizando das forças das trevas para
obter dinheiro e conseguir minha primeira amada de volta. Ali nasceram as duas
maldições: o tempo determinado para que ficássemos juntos foi o tempo que todos
os meus relacionamentos futuros durariam, assim como nenhuma porta de emprego
se abriria para mim, exceto quando meu pai resolveu me contratar, mas tal
trabalho durou somente dois meses como a maldição do amor, mesmo que meu pai tivesse
planos futuros para nós dois na empresa. A escuridão me cobriu como uma noite
sem estrelas, e em minha insanidade eu continuava buscando o senhor do obscuro,
cuspindo em nome sagrado para que fosse reconhecido. Diante disso, o satanismo
acabou tornando-se algo aceitável, até eu conhecer a segunda amada, que era
como um lago de cristal me puxando para um mergulho em suas lágrimas de
empatia. Ela me fez recobrar a consciência e me afastar das trevas, mas assim
como a primeira, ela foi arrancada de mim no momento que retornei para a luz,
porém eu continuei mantendo-as vivas através das cartas anônimas, as quais eu
escrevia incessantemente com o poder mágico provindo da Alma Assassina. Então
veio a terceira amada, o meu maior pesadelo – por mais efêmero que fosse nosso
romance, com ela parecia que eu estava correndo em um jardim bonito com o vento
do verão espancando meu rosto, mas antes que se formasse um sorriso nos meus
lábios, as flores começaram a apodrecer e o ar escorregou frio como um
fantasma. Foi necessário que eu fizesse outro ritual, mas desta vez eu não
estaria invocando seres de dimensões infernais, mas transferindo o que estava
dentro dela para dentro de mim. Até ali, a Alma Assassina era somente alguém de
quem se ouvia falar, pois ainda estava sendo criada pelo fogo da primeira amada
e purificada pela água da segunda amada, para formar-se através do elemento
terra da terceira amada. O enorme preço que paguei foi o da depressão, que
paralisou minha vida durante muitos anos. Eu achava que não tinha mais jeito
para mim, pois até meus relacionamentos à distância acabavam em dois meses. Foi
quando eu conheci a aurora, que é a quarta amada, simbolizada pelo elemento ar:
ela foi, sem sombra de dúvidas, o sopro que deu fôlego à Alma Assassina, a vida
que lhe era predestinada dentro de mim.
Mas ela era um amor não recíproco... e isso me feriu muito, pois eu acreditei
que ela era a tão sonhada amada que se casaria com a Alma Assassina. Meus anos
agora passavam como um sono de vigília, e de repente nem a magia fazia mais
sentido para mim. Contudo, eu sabia que não tinha acabado ainda, pois aquela
promessa tinha sido feita pelo próprio deus! Por fim, eu conheci a gloriosa
quintessência, a mais bela e perfeita fusão dos quatro elementos, a quinta
amada, que me fez ter os dois melhores meses da minha vida. No entanto, por
mais que nossos mapas astrais combinassem, ela já fazia parte de uma grande
bolha de sete anos, na qual preferiu continuar lá dentro ao invés de se
entregar a um novo amor proibido sob a sombra da Alma Assassina. E
mais uma vez eu fiquei sozinho. Todas as esperanças haviam se dissipado, e eu
dizia a mim mesmo que, aquela que durasse mais de dois meses, seria destinada
a se casar comigo. Eu lembro que às vezes você falava sobre querer casar comigo, e eu achava tudo
tão estranho, por que no fundo eu sabia que você seria arrancada de mim também.
Mas o real motivo para que a Alma Assassina não nos quisesse juntos é por que o
amor enfraquece nossa magia, e depois de tanto tempo sofrendo, sendo lançado no
lamaçal das minhas próprias decisões, eu finalmente consegui amar novamente, e
não te darei nenhum título de sexta ou sétima amada, pois estou cansado disso
tudo, eu só queria... ser feliz com quem eu amo antes de partir deste planeta
solitário. Essas palavras devem servir apenas para torcer a faca, mas perdida
no mundo obscuro da minha mente, você enfrenta a crucificação do meu eu
soberbo, sem saber quando suas asas alcançarão os céus.
Correndo
para longe de casa, eu sinto a luz do sol ardendo na minha pele, seu brilho
rejuvenesce meu rosto, enquanto a brisa da manhã me leva para um lugar
distante. Meus pés pisam em poças profundas, e em cada passo criam-se bolhas no
ar com recordações dos meus efêmeros romances. Ainda assim, eu continuo
correndo, meu corpo não pode se cansar agora, pois eu fugi do portão do
desamparo, amaldiçoado pelas estações de agosto. Talvez fosse o vento, mas estas
bolhas continuam me perseguindo, com lembranças de amor, ódio e paixão
ardente... todas elas fazem parte de mim agora, eu não posso arrancá-las do meu
peito? Uma vez longe, mas ainda tão perto, as nuvens sombrias começam a se
reunir, e aqueles maravilhosos raios de sol são cobertos como cisnes dourados
afundando nas águas. Eu devo parar e me preencher com a escuridão, mas minhas
pernas continuam a se movimentar contra minha vontade, meu instinto me obriga a
se libertar do velho mundo. De repente, uma por uma, as bolhas começam se
chocar, e de relance eu consigo ver no espelho delas um sorriso no meu rosto.
Mas os resíduos de água se espalham pelo chão, formando uma gigantesca onda que
tenta me engolir, porém como um surfista confiante, eu desvio de todas elas,
até que a maré se acalme e a tempestade cesse. O sol brilha novamente no céu e
o mar seca na terra, mas sem misericórdia eu me despeço do meu passado. Agora
eu recupero as rédeas da minha vida e percebo que não estou mais correndo, eu
sou o dono do meu próprio destino novamente! Mas quando eu olho para trás,
daquelas águas nascem plantas e árvores florescentes, seus galhos se entrelaçam
entre si e apontam na direção do futuro – eu finalmente percebo que elas nunca
quiseram meu mal, apenas me apressavam para encontrar a felicidade. As lágrimas
congelam no meu rosto, pois o tempo todo meu único inimigo era meu próprio
ego... seria tentador voltar lá e me entregar a toda aquela natureza linda,
deixando que o orvalho pingasse sobre minha testa e derretesse nos meus lábios,
mas fechando os olhos e respirando o cheiro das amadas, eu sigo meu caminho sem
olhar para trás. Por uma vida, por deus ou por você, estou pronto para
reescrever minha história em páginas rasgadas, mas agora a tinta é forte, e a
precisão com a qual eu escrevo é a de um homem focado e destemido. Só mais um
pouco e estarei lá, na vida que eu sempre sonhei, então por que sinto que estou
cometendo mais um erro em não aceitar minha realidade? Da negação vem a
ingratidão, de maneira que eu nunca poderei ser digno sem agradecimento. Portanto,
quando a tua mão cair sobre mim, nem com todas as forças das montanhas e dos
mares eu poderei suportar o peso se não houver gratidão em meu coração.
Grandioso e único, e a todos que tu colocaste na minha vida... aos que me
fizeram sofrer e amadurecer até hoje, aos que me presentearam com momentos
felizes e compartilharam gestos de amor, risadas e traições, a todos eu só
queria dizer muito obrigado! A silhueta do lugar de onde eu pertenço começa a
surgir no céu, e eu percebo que o tempo todo estava bem ali, próximo à mim, mas
meus olhos estavam cegos para ver. Acima da minha cabeça, uma bolha ainda
brilha com os raios do sol, formando em seu reflexo um lindo arco-íris no
horizonte: obrigado a você, gentil violeta, pois você foi a única que chegou
tão perto de quebrar esta maldição – nem todos os rituais ou orações foram
capazes de fazer o que você fez, mas a ordália de deus é um peso que eu devo
carregar sozinho.
As
fogueiras pontuam o alto da colina com grandes sombras dançando, ecoando a
memória do tempo com imagens flutuando lentamente para lugar nenhum, mas como um
relâmpago silencioso cortando o horizonte, um feixe de luz se abre no céu
enevoado e um olho radiante me encara fulminante. Lá em cima muitos
pensamentos vagam inquietos, mas eu sei que todos eles me pertencem, pois o
olho continua me cobrando pelo tempo desperdiçado: nada pode me fazer escapar
do meu juramento, nem todas as minhas conquistas podem afetar a órbita do meu
destino, por que o que sinto nas veias sempre me puxará de volta para o lugar
onde tudo começou, e quanto mais eu tento escapar disso, mais meu corpo é
destruído – a vida que me foi dada já não me pertence mais, pois o grande
merecedor, aquele que me presenteou com todas as respostas, deve completar seu
desígnio neste corpo. Agora o sol amarelo está se pondo na lápide, enquanto o
vento e a poeira atrasam minha respiração, mas por um intrínseco instante, eu
sou a semente plantada no rio, tudo o que eu toco se transforma em pedra, pois
a reflexão do que era sonho, agora é realidade, e todas as meias-verdades se
tornaram verdades absolutas. A ilusão não é mais uma mentira, por que há mais
para ver aqui fora do que todas as imaginações juntas poderiam criar! Assim,
para dividir estas sensações, eu gostaria de fazer um convite especial... nesta
hora, eu sou o deus do meu próprio rito, comerciando sonhos em meio a um barulho
doentio de tambores, enquanto as lágrimas ácidas descem por sua maquiagem,
mostrando todo delírio, seu pecado original. O chão é espancado por cacos, pois
montada você chega para me receber, queimando como uma aparição verde, você é
do jeito que eu quero te amar, e na mesma cor do céu violeta, seus cabelos voam
ao olhar para cima, você sabe... o grande olho ainda está lá, como um fantasma
guiando nossos corações. A delicadeza no seu olhar me faz sorrir com a sua
chegada, eu posso ver os sinais brilhando incandescentes na sua pele, e toda
emanação do tempo desaparece, pois para você o tempo não existe. Ao seu lado,
um segundo é um milênio, uma vontade que me faz querer navegar para sempre no rio dos seus prazeres! Mas isto não é uma celebração, as memórias de muito
tempo atrás e os sentimentos estranhos continuam tirando-me do meu santuário,
vagando com sombras como uma criatura trancada por dentro – este seria o preço
que pagamos por uma admissão noturna? A noite está chamando, mas é nela que
nossos corpos se envolvem como águas transitando, um amor que arrepia todo meu ser,
que me faz sentir-se preenchido antes da primeira luz da manhã. A noite
continua chamando, mas você se torna minha possessão, os problemas do mundo
podem ficar para depois, você é tudo que eu preciso nesta hora proibida, pois
o prazer nunca se tornará dor, o sentimento sempre será o mesmo! Nossa dança é
interminável, nosso amor é eterno, mas quem sabe quanto tempo dura uma
eternidade? O presságio está sempre submerso e intocado dentro de nós, e quando
o vulto da lua se projeta, nós podemos não ser mais aquilo que acreditamos ser,
não sabemos com quem estamos, nem o mundo que vivemos, pois o sentido da vida
se perdeu, o propósito da existência foi esquecido.
Abaixo
do luar pálido estou petrificado como uma rocha ancestral, vendo fases
infinitas do sol nascendo e se pondo, enquanto vivo sob o
vidro como uma doença que nasce no passado para se estilhaçar no futuro. Assim eu posso falar do meu imenso senso, pois
cada fase forma uma dobra no tempo, cada metro distorce a linha sutil dos
sonhos aveludados que não posso definir. Eu olho pela janela, mas não sei
distinguir qual cor estou vendo: o sino está tocando distante na mesma
frequência do meu coração, porém é um som pesado de edifícios caindo, o mesmo
som do impacto de quando meu irmão pulou nos braços da morte. Se ele ainda
estivesse entre nós, então eu arrancaria meu coração para que ele vivesse um
pouco mais, apenas mais cinco minutos da sua música clássica ressonando em meus
ouvidos, sentindo sua dor fúnebre em cada tecla do piano ou sua esperança
vindoura em cada promessa de deus. Agora meu estado de espírito está instável,
pois além do luto inesperado, a aurora ajudou a despedaçar o que restou das
minhas forças... pela primeira vez eu a vi bêbada como um tolo sofrendo pela
desgraça, incriminando-me por um crime que não cometi e importunando minha
essência sagrada. Mesmo quando pousei minha cabeça sobre o travesseiro, minha
mente foi atacada astralmente por pastores negros que tentaram me aprisionar em
um sonho de trevas, porém com o poder do amor eu consegui escapar e retornar
para meu corpo. Do ponto de vista cristão, estas acusações são graves, mas
houve um dia em que o mesmo pastor que apareceu em sonho tentando me destruir,
veio até minha casa, e eu contei-lhe sobre o sonho, sem revelar sua identidade.
Apesar de se mostrar surpreso, ele reagiu de modo estranho, e apenas disse que
já sabia o que o sonho significava, enquanto saia apressado da minha casa! Ele
nunca mais voltou a falar sobre o assunto, mas lembro-me nitidamente de que, durante
o velório do meu irmão, ele ficou observando minhas feições atentamente, sem
dizer nada, como se estivesse esperando que algo tivesse me afetado mais do que
deveria. Eu não posso acusá-lo diretamente sem provas, pois na
escuridão do sonho apenas sua voz era ouvida em um mar de trevas tentando me
consumir. Ora, estes fatos foram relatados aqui para o caso de algo futuramente
acontecer comigo, mas alcançando um ponto sem retorno, o gelo crescente corta
os juncos desses acontecimentos e a tristeza nunca cessa: estes são os fatos
que eu tenho que aceitar, ouvindo palavras de que o amanhecer trará a cura, mas
como minúsculos cristais caindo de nuvens lentas e cheias, eu percebo que
minhas escolhas se tornaram um fardo para mim, tão pesado quanto uma cidade de
corruptos, e nem com todas as forças que possuo poderia reerguer esta cidade!
Pois para desejar todas as noites cheias de antecipação, antes destas palavras
serem escritas, eu ainda estava procurando pela quintessência que evaporou como
um sol definhando. Em todos os lugares ela me ignorou, mas está tudo bem,
quando eu vejo a cor desconhecida invadindo o céu acima, nossos encontros de tela
em tela desvanecem, e tudo se torna apenas uma nuvem passageira. Afinal, de
trás para frente eu continuo espreitando entre as ruas estreitas atrás daquela
que será minha redenção – quando eu encontrá-la, seu primeiro toque será como
areia macia e branca, por que ela será livre como a natureza, trazendo sinais da
promessa por toda sua pele! Transbordando de felicidade, meu passado ficará
para trás como as lembranças de um último suspiro, pois quando meus olhos se
abrirem novamente, ela será meu mundo vindouro.
Numa
existência vaga e vazia, o sofrimento me encontra novamente, sua dor é como a
ferida aberta de um animal esperando ser arrebatado, mas como um enxame de
moscas lambendo seu sangue, as línguas negras penetram em meus ouvidos, deixando-me surdo para as vozes humanas. Eu nunca mais poderei dormir calmamente, pois nada
pode me fazer esquecer os horrores que se escondem atrás das estrelas antigas
que me vigiam. Mas todo dia é uma desculpa, a consequência que desdobra meu
tempo e me paralisa com o desejo da morte. A fealdade eleva minha cabeça ao inferno, escurecendo minha alma como veneno sendo injetado nas minhas veias. Estou
perdendo minha fé e forçando-me por um caminho de reconhecimento, mas por trás
das cortinas há somente um pobre homem escondendo-se da luz do sol,
atravessando a sombra do seu rosto para que o sonho se realize. Os demônios
fantasiados são alimentados pelo som da sua voz, sugando o que restou da sua sanidade
para que a vida não seja desperdiçada. Como um martelo quebrando seus dentes, a
podridão se espalha pelo seu corpo, destruindo todas as facetas criadas pelos
anos de hipocrisia. Isso me assombra, por que não sei quem eu sou, tão pouco quem
eu era – esse impulso repetitivo que não posso fingir sem um decreto. Mas as
pessoas normais não agem desse jeito? Isso poderia servir como um filtro para
meu cérebro, comprando e vendendo a mesma dor dos vícios da sociedade. Contudo,
até os humanos me abandonaram, e meus amigos me veem como um estranho, pois minhas
palavras se tornaram sem valor, minhas ações como uma navalha em meu próprio
pulso, e eu já não posso mais encarar o dia, sufocado em minha máscara enquanto
perco minha fisionomia. Ai de mim! Que coberto pela escuridão achou-se moradia,
e em todos esses anos apenas uma luz brilhou em meus olhos, arrefecendo meu
coração com ar quente, esforçadamente intimado pelos sonhos vazios que
desapontava minhas expectativas. Agora tudo o que eu sentia por dentro está
morto, todos aqueles sentimentos perfeitos apagados como cinzas de cigarro, sem
nenhuma vítima para meu prazer perverso. Minha moral foi ensanguentada como
porcos banhando em lições imorais sujas e implorando pelo mais imundo dos
pecados terrestres, porém, enquanto eu fujo cegamente do que é real, eu
cubro meus olhos para não olhar o arame farpado que me separa de você, pois na
noite escura surgem prazeres, levando-me a escrever cartas anônimas com saudade
e amargura. Pare de procurar uma razão e reflita: você consegue ver a sombra deitada, enquanto
as flores dormem em um mundo completamente solitário? As velhas e poderosas
árvores nos observam de onde os antigos pais encontravam sua paz, e aonde os
pensamentos de tristeza conduziam a vontade de chamar pela chuva, formando
nuvens escuras movidas pelo desejo sinfônico de curar o mundo. Essa serenidade
vinha como passos invisíveis na neve ou como pássaros voando na geada
noturna, uma sensibilidade que eu sentia apenas quando estava com você, vivendo
em uma ilha sem nome, onde mergulhávamos profundamente no anseio dos nossos
corações. Parece ontem quando você estava aqui e tudo era tão perfeito,
a luz do sol brilhava nos prédios como um espelho de cristal, e eu saltitava feito
uma criança despreocupada, sem perceber quando meu glamour sombrio nos conduziu
para a danação eterna.
Meu
aniversário passou como um intervalo entre duas vidas, vendo visões dos dias
negros imaculados, enquanto me sentia como um inverno viciado em chamas
definhando no que restou da minha sanidade. Enterrado de maneira superficial,
eu fui perdendo tudo o que realmente importava para mim, como se o universo
estivesse me preparando para algo maior. Lamentar não era uma escolha, pois os
faróis queimavam em minha direção como dez navalhas de luz cravadas no meu
peito. As sombras na areia mostravam um caminho preparado para mim, um enredo
selvagem em um pó de ouro, afundando meus pés no desconhecido. Mas o diabo
tinha roubado a chave com sua beleza disfarçada, cada dia sua respiração aumentava
no meu pescoço, dizendo que no final nada poderia me livrar da maldição. Houve um
tempo de silêncio onde eu pude sentir os diferentes ciclos da natureza,
flutuando em uma torrente de tristeza como uma sucata de admiração, mas eu
nunca poderia ser preenchido novamente, por que quando você se foi, rasa de
tudo, eu desvaneci como vidro quebrado, ansiando realizações que nunca passaram
de ilusões. Agora eu sou apenas um fantasma vagando pelo seu quarto, esperando
encontrar o que um dia nunca me pertenceu. Faça-me acreditar que isso é real,
pois eu perdi você neste lugar de pesadelos que gritam na minha cabeça, vendo
bailarinos sem rosto dançando ao meu redor e te cobrindo no palco do desprezo. Eu
levanto minhas mãos e estou manchado de escuridão, deteriorando por fora como um
cadáver polindo os próprios ossos, consumido pela tela de fumaça que te
transformou em lembranças. Você era minha fruta favorita, pois seu sabor não
era sentido pela boca, mas pela sensação de ser pensado por você – uma energia
que fluía da sua mente para a minha. Quando seus pensamentos se ligavam aos
meus, bastariam poucas palavras para você me ter por completo, por que meu
corpo sempre se arrepiava com a nossa conexão astral. Cada pequeno segundo era
uma eternidade com você, pois cada segundo valia mais do que uma vida inteira
sem você. Eu achei que nunca mais amaria novamente, até conhecer você, um sonho
de garota que eu sempre imaginei encontrar. Por que a vida real é tão teimosa
em nos dar quem mais combina conosco astrologicamente
e nos completa infinitamente? Nós tínhamos tudo e não precisávamos de
mais nada: é difícil acreditar que fomos amantes queimados vivos por nossas
vontades. Se eu dissesse adeus, seria apenas um obrigado pelo que você tem me
dado, mas se o inesperado nos unisse, eu estaria agradecido por você me amar. Nosso
navio tem naufragado através da fantasia, mas esta não é a nossa bela memória
do que vivenciamos juntos? Quando cortamos a névoa da vergonha, as nuvens se
abrem e ainda enxergamos o paraíso que construímos juntos... está lá, esperando
por nós, um lugar que podemos encontrar nas profundezas das nossas mentes. Esqueça
o que fizemos, mas proteja o que construímos, por que o dom que perde seu
sentido nunca foi percebido na realidade.
Nublando
suavemente, eu me lembro de você como chuvas macias escorrendo pela minha face.
Cada pequeno sonho pingava lentamente no chão como uma grande poça se
expandindo, ligando-se de volta às águas do meu passado, pois cada pequena
história distorcia as linhas sutis que não podemos definir, onde nossos
caminhos se cruzavam entre seus encantos inquietos. Agora espíritos passam por você e sua cabeça
se enche de noções agradáveis, mas em silêncio você retorna para seu
compromisso com os padrões de uma vida desgastada: você sussurra segredos para
ninguém ouvir, mas as palavras que escapam no ar são sopradas para minha cabeça,
formando imagens irreconhecíveis que minhas visualizações não podem reconciliar.
Lá fora, no meio da multidão, você está fechada por paredes humanas, longe dos
meus olhos famintos, rejeitando amigavelmente a promessa que lhe destinada.
Através das suas fases infinitas, algo ainda permanece, embora seu mundo agora
esteja mudado por dentro – por sete vezes eu ouvi sua consciência chorar no
lago dos seus desejos, acordando-a com o amargo sabor da culpa, porém eu sempre enxugava suas lágrimas, tardes de verão com amargura e vergonha, com o calor dourado descendo pelos seus ombros, enquanto ouvíamos um sino distante
tocar repetidamente pela sua atenção de volta às rotinas diárias. Pelas noites
esquecidas, eu pintava uma pequena estampa vermelha onde escrevia um aviso por
todas as minhas falhas, e aos poucos percebi que estava andando em uma corda
bamba, espalhando-se por espaços da minha mente que nunca conheci. Quando eu olho
para o céu e escolho uma nuvem, uma forma em branco desenha seu rosto
para mim, como se o próprio deus me obrigasse a pensar em você. Poderá haver oceanos
entre nós, mas eu ainda desejarei você por perto, caindo impotente sob as ondas do
amor, arrancando todas as noites um pedaço do meu coração para entregar em suas mãos, mas você saberá montá-lo novamente? As chamas do
desejo em nossos corações são como ventos ardentes transformando-nos em cinzas,
levando-nos para um glorioso encontro com a Alma Assassina, onde sua essência
despertará o quinto elemento e sua ferida se abrirá largamente, e só então você
saberá que a gravidade nunca esteve te puxando para baixo. Você estava
rastejando no sono, tranquilizada por luzes que te empurravam para longe das
coisas ocultas, mas agora você foi resgatada para brilharmos juntos no
infinito, pois somente quando nos casarmos a centelha divina dos nossos
espíritos despertará para o favor eterno da graciosidade, conhecendo a plenitude
de uma alma-gêmea que reluz em todos os lugares e em todas as pessoas próximas,
quando estivermos transbordando a luz perfeita que emana dos nossos gestos,
sorrisos e olhares... venha comigo e dance nesta valsa desconhecida, por que os
mistérios de deus não podem ser descritos em palavras. A maravilha nos atingiu
como crianças brincando na areia, cantando as músicas que gostamos e colocando
nossos orgulhos de volta no gesso. Antes que a aurora escureça, ouça seu antigo coração e lembre-se das nossas noites secretas, pois abaixo do céu violeta existe somente a
pintura de um mundo de mentira, mas o que eu tenho para te dar está além do
perfume da terra, o sangue de uma promessa por um mundo anulado de significado.
Entediada e sozinha, uma mulher vê formas caminhando pelo quarto, mas o lugar para
onde deseja ir só existe na sua cabeça. De olhos fechados, ela pode ser
quem quiser, pois não há limites para sua imaginação: seus olhos esmaltados de
verde e seus cabelos rubros como o entardecer se misturam com o negrume dos
pensamentos, formando pequenas dobras em sua mente, até a realidade ser
descartada com um suspiro. Os ruídos da casa desaparecem e o calor arrefece o
ambiente, mas com um truque de luz, ela pisca os olhos como um
ator roubando a cena diante de todos os pensamentos que luta para esconder. O
tempo para lá dentro, mas lá fora é apenas um instante, ainda assim, o mundo se
torna um jardim perfumado, onde todas as razões para continuar invadem seus
ouvidos com um sorriso de prazer. A noite fria e úmida se torna uma silhueta
imaginária, mas ela percebe que está flutuando, quando algo escapa dos seus
dedos, embora não saiba o que é. Com luzes azuis-celestes, seu corpo é puxado
por uma força ternamente pulsante como uma melodia que a carrega para céus
distantes. Branca como uma nuvem de algodão, a pureza reluz em sua pele, mas
quem poderia salvá-la dos seus desejos mais profundos? Ela sabia que um dia deveria
enfrentar aquele que visitava seus sonhos de adolescência, pois agora é uma
mulher-feita, não mais uma garotinha que nada e se afoga, mas pronta para mergulhar nos mares profundos da mente humana. A fragrância que
sentia era natural como cheiro de pele, e quanto mais ela se aproximava, mais
uma luz queimava por dentro do seu santo éden. Uma força mágica a submergia na
estranha sensação de perigo, desejando experimentar um pedaço do proibido em
seu íntimo, só mais um beijo da sombra em sua alma, um sentimento além do que
seus olhos podem ver ou palavras podem dizer, apenas a certeza de ser acolhida pelo
anseio das batidas do seu coração. Então, por que você hesita, se ela é você
e a sombra sou eu? Aqui, a noite nunca acaba, mas por que você está chorando? Eu
vejo lágrimas escorrendo do seu coração, enquanto ouço as batidas
desaparecendo, e tudo que almejo é fazer com que volte a descompassar o ritmo de
antes, quando sua voz era valorizada e suas mãos tocavam a música na sintonia
do amor. Como um rastro sangrento secando na areia, você abandonou seus dons,
mas nossa busca incessante está apenas começando... você consegue ouvir esta
melodia suave de um estranho mistério nos envolvendo, enquanto as estrelas
brilham com o seu destino? Talvez você esteja muito surda para ouvir o som
invisível das minhas palavras, mas o viajante sempre tem uma breve passagem
como uma estrela cadente, desenhando uma forma perfeita para abrir seus olhos e
você enxergar a árvore virgem que está nascendo em seu coração. Eu me sinto
feliz só em saber que você existe, em lembrar-se de nossas aventuras quando
você bebeu o suco da minha essência ou tornou-se poeira estelar, fundindo-se ao
que restou de mim. Deixe que minha mão fria toque seu íntimo e minha respiração
quente rasteje pelo seu pescoço, por que no final apenas fragmentos permanecem,
e o amor mortal não é suficiente para preencher o vazio da existência. Uma vez
que nossos gritos atinjam o alto, nossos corações danificados crescerão
distantes, absorvendo a verdade que me faz acreditar que você seja a tão esperada
quintessência. Sob o olhar do vigia, você não precisa mais se esconder, pois quando
usamos a misericórdia como isca, há uma chance de compensar e varrer as cinzas
que esperamos como prêmio.
Enquanto
o tempo passa melancolicamente, minha pele enferrujada é coberta por folhas de
ouro, decorando meu corpo com uma obscura vaidade. Ainda que estas palavras
sejam como o fantasma da minha vida adormecida, eu posso dizer que ainda restou
tinta para escrever meu último desejo. Profundamente nas geleiras mais fundas, há
uma luz sagrada que absorve tudo e reluz o ambiente em prata, os sinos de outra
terra ressoam no vazio, vagando em um universo rasgado a partir do que meus
olhos podem ver: altos muros que protegem minha vida como asas brancas de um
anjo guardião, onde a água é clara e as terras são de largura, mas por trás há
um arrependimento tardio pelos lugares deixados com linhas de contos ainda para
serem escritas. Ali o sabor infernal preenche o espaço e nada foge do seu
abraço dolorido, porém essa é a beleza dos passeios no escuro – o que não se
pode ver é apenas imaginado. O tempo continua escorrendo como sangue de uma
virgem deflorada, carregando todos aqueles sonhos puramente baseados no medo e
escavados pela vergonha, na esperança de ter a sensação que todos falam até descobrir
que nada é como parece ser. No mais negro tom da luz é onde está o
desvanecimento da verdade pelo cultivo das mentiras, nomeando-se com ela. Assim,
para domar o mundo novamente, é necessário destravar as correntes que depravam
a alma, que nos tornam pontos colididos pelo declínio dos céus, quando todas as
notas que tocamos são reorganizadas e nos mantém existentes na criação
perfeita. Agora a brisa fantasma é naufragada em um tempo perdido, caminhando
pelo mais longo corredor da mente, para encontrar onde fomos deixados para
trás. Através da desgraça e do riso, é tempo de tomarmos o futuro em nossas
mãos, não semeando o arado de um deus ameaçador, mas deixando que o sol brilhe
ao seu favor, enquanto a velocidade do vento ressoa a melodia de uma garota cantando
pela primeira vez, correndo em campos verdes como uma criança seguindo os
passos do pai, dançando para sempre no sentimento de está seguro e cercado por pessoas
honestas, por que esta é a verdadeira essência que perdemos no meio do caminho.
É tempo de virar as páginas e roubar as rédeas do violonista, pois cada alma
possui uma voz linda para ser ouvida, olhos brilhantes para admirar a natureza,
bocas para saborear a doce fruta do amor, ouvidos para ouvir a canção dos
pássaros, mãos para abraçar, cabelos para soprar no vento... ó, deus das inúmeras
estrelas testemunhas! Salve-nos dos engenhosos séculos de mentira, dos santos
livros reciclados e do falso senhor em nossos corações... venha e desça com teu
fogo purificador para queimar nossas impurezas, por que toda dor que sentimos é
manifesta como o germinar de uma
semente. Nós queremos paz no romper da aurora, névoa na costa, brisa nas ondas
do mar e mais flores brilhantes perfumadas com tons de verde, queremos água da
fonte mais pura e mais amor à medida que avançamos em uníssono, com memórias de
felicidade e amigos menos ausentes, recebendo dez por cento da terra, para
preencher a gordura do nosso coração em uma sociedade baseada em fundamentos
sólidos. Aqui neste verdadeiro vórtice meu eu começa a mostrar a carne da
fragilidade humana, pois parte de mim estava fascinado pela crueldade, quando o
medo anulou a dor infligida pelo ciclo interminável. Nos templos astrais, eu
estarei ajoelhado e temente diante a ti, por que todas essas mudanças nós
iremos testemunhar juntos... eu finalmente compreendo, pois eu vi um homem e eu
sabia que seu rosto era muito similar ao meu. Minha mente começava a duvidar
sobre o que meu coração já sabia, mas agora o motivo da rima faz sentido, pois
essa cor celestial é diferente do que eu via em um mundo moribundo.
Escondido
da vista, um cão raivoso corre cegamente pela floresta, seus latidos são como
vogais macias que imploram por uma abordagem, mas ele se apressa para chegar onde reside
sua identidade secreta. Agora um homem surge do covil: é muito difícil manter-se
de pé naquele corpo esguio, mas alguém o espera em casa e seu atraso poderia
levantar suspeitas. Alimentando a noite, ele retorna pelo mesmo caminho por
onde veio, pois é mais fácil enganar uma pessoa estando próximo dela do que distante.
Enquanto atravessa as divisões lunares, um pássaro preto se senta, possivelmente o único que sabe quem ele é, mas quem compreenderia o
crocitar de um corvo? Inclinado para frente, ele ignora o olhar acusador e retira
as mãos dos bolsos, desejando que suas unhas estivessem limpas. O homem não tem
mais aquela camada de pelos para protegê-lo do frio, e a lufada de ar fresco
que penetra em seus ossos o faz enrijecer, quase como se mergulhasse em uma
piscina de gelo. Nu como em seu nascimento, ele não sabe onde foram parar suas
roupas, mas ninguém consegue vê-lo perambulando entre os arbustos da cidade
apagada. Ele vê moças estrangeiras conversando com homens perigosos, as quais
jazem em lençóis mortos antes do amanhecer, pois seus lábios vermelhos também atraem
predadores. O caminho está forrado com árvores, ele sente a selvagem respiração
do vento, enquanto uma pequena folha escova seu ombro e reflete a sombra dos
raios da lua em suas transbordantes recordações, memórias que chegam como um
murmúrio do passado e invadem sua visão, porém como a vidraça de uma janela, ele fragmenta seus pensamentos, apenas ouvindo os passos daquelas pessoas
ressonando na estrada. As estrelas se tornam brilhos estranhos na escuridão, e
seu instinto sofre intensivamente, vendo sombras em movimento ao longo dos
gritos de lares destruídos, uma obscena ruptura do silêncio da meia-noite, onde
o sangue goteja de lábios gananciosos e atrai mentes violentas, congelando
cadáveres com o pulso estrangulador da morte. O odor das trevas se mistura com
a segurança que as famílias acreditam ter, enquanto estremecem e seus pés
flutuam, dormindo sem ouvir os demônios que espreitam ao derredor e assistem
suas vidas patéticas. Perto de casa, o silêncio se torna uma voz lamuriosa,
ondas oscilantes emaranhando-se e agredindo sua mente, por onde a eternidade do
tempo está passando infinitamente nos confins da sua vida sem sentido. A
colisão parece programada, carregando suas cicatrizes como lágrimas brancas que
escorrem secas pela ventania. Lá, num espaço tragado pelo tédio, um amor
cego o espera com ramos dimensionais que atravessam sua liberdade. Com um
doloroso vazio, o homem galopa pela janela e sua esposa está deitada, suas
pálpebras piscam e se abrem lentamente, mas seu sorriso é como uma lâmpada
torta. Seu cheiro de flores o puxa como imã para cama, e ela se embala
gentilmente em seus braços, sem desconfiança, pois o amor é tudo que transborda de seus
lábios abertos. A brisa noturna e o olho da lua espreitam pela janela, mas a
voz da tentação sussurra em seu ouvido, vendo as sombras dos galhos se transmutarem
em diferentes formas como asas invisíveis na parede. O mundo lá fora se
desmorona e o silêncio é engolido pelos gemidos da sua amada, enquanto sua
tristeza é transformada em bondade.