sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Uma Bela Noite Negra


Sensual carta anônima

“Amada minha,
Durante o dia ouço vozes que dizem: siga para o paraíso, mas durante a noite elas me chamam para o inferno.
Estes sonhos que obstruem minha esperança continuam ardendo como chamas negras inextinguíveis, como um lobo que vaga lentamente sem rumo, buscando um lugar quieto para descansar.
Apesar de tudo isso, os meus dedos continuam a procurar a beleza das palavras que possam conquistar seu coração, onde a bênção do sangue dos deuses lhe foi concedida.
Você é a flor que recebe o favorecimento do senhor da noite... e em troca, dá o seu perfume.
Pois é olhando para o crisol da lua que sinto o seu cheiro fascinante levando-me numa vontade infernal de uivar!
O seu boreal de esmeraldas é refletido no meu olhar, vendo em mil noites um único momento de junho, onde debaixo de um céu vermelho sem nuvens nossos corpos se encontraram num afável beijo eterno.
Queria eu poder voltar naquele intrínseco instante, sentir teus lábios como gelo derretido e sua língua brincando de fugir da minha, seus olhos abrindo e fechando enquanto sorria...
Naquela noite eu te abracei como se fosse minha e nada mais importasse, o seu corpo tão quente enchia-me de desejos inexprimíveis e sua pele cor-de-rosa, arrepiava-se.
Tal era o sentimento que sentia, indizível e fora do alcance da razão, pois nem em minhas maiores inspirações poderia descrevê-lo.
Ali nós estávamos envoltos pelas intensas chamas de excitação incandescentes que se apagaram tão rapidamente quanto acenderam.
Você partiu para os braços de algum estranho qualquer em terras distantes, porém eu fiquei petrificado no tempo daquele lugar.
Uma bela noite negra que valeu mais do que uma vida inteira, estive lá e parti ao amanhecer, sem dizer adeus ao dia anterior.”

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Marés Proibidas

Sensual carta anônima

“Amada minha,
Em seus olhos de jade um reflexo das águas mornas me convidou para um mergulho.
Nadando na escuridão dos seus pensamentos, encontrei a pureza e malícia flutuando juntos na margem dos seus anseios secretos.
Tão profundamente eram os tons de verde que se moviam na lagoa fria dos seus amáveis olhos de sereia.
Tentado pela doçura do teu corpo áspero e intenso, os desejos além dos sentidos me levaram a contemplar sua beleza interna coberta pelos lençóis luxuriosos.
A textura dos teus seios quando vi, o teu cheiro como parte de mim, o sabor da sua boca...
Quase me fizeram afogar, mas o teu toque era leve e calmo como o som das águas paradas me chamando para as profundezas da sua libido incansável.
Seus gemidos, eram soprados pelo hálito de romã e pomares saborosos, enrolando-me no pecado inflamado da tua língua.
As ondulações da noite nos enchiam com a sensação do momento, fundindo nossos corpos num eterno êxtase enquanto as estrelas olhavam para baixo como se fossem olhos curiosos.
Os teus lábios eram corados pelo meu beijo gelado e as tuas vontades por meus deleites selvagens.
Uma noite maravilhosamente maliciosa e excitante, mergulhados na morna água do prazer.
E, perto da meia-noite, eu mordia tua pele como pêssego, escorrendo teu sangue pelo meu corpo e descendo como serpentes velozes, famintas pela tua nudez.
O dia belo e luminoso chegaria, mas nossas mentes ainda estariam no calor das silenciosas ruínas do amor.”

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O Fantasma da Incerteza

   O espectro do inverno começa abrangido pelo silêncio. A lua cheia me observa com olhos ardendo em chamas brancas, mas seu brilho é hera venenosa, lançando o elixir vermelho mais doce que minhas veias possuem... o vinho das intensas sensações para descongelar o passado como o gosto que acaricia minha língua. O perigo escondido na névoa mais uma vez se revela como um suspiro que emana serenidade, trazendo uma alma feita de vidro, olhos como lagoas verdes e cabelos lápis-lazúli. Os ventos sopram dentro e fora dos caminhos onde ela cruzou suas dores e ilusões, tão sozinha, cercada e movida por sombras, quando o vento canta sua música triste ela sente o gosto das lágrimas que sufocam sua garganta. Seu corpo descansa no escuro entre a dura verdade e desilusão, porém além de um poema glacial suas palavras expressam a dor que carrega em cada pétala que desprende da sua vida efêmera. Ainda assim, é em seus olhos vazios o meu abrigo, eu sempre estive ao seu lado como um espectro esperando seu retorno para levá-la ao sonho incandescente do amor. O fio vermelho do destino nos puxa para os abismos do prazer e nos lança de volta para sentir os leves aromas escondidos na pureza da alma... intensa aurora, você pode não ver, mas minhas palavras chegaram até você com a força de um milhão de sóis nesta realidade mística através de delírios, poemas e cultos nebulosos. Em todos os cantos indizíveis onde as sombras tentaram me cobrir, eu senti seus lábios frios caindo entre minhas mãos como grãos de areia, mas para cada grão foi escrito uma palavra, condenando as ilusões da perfeição sobre as ruínas do meu pensamento, dias e noites, temendo o que poderia encontrar, com a única certeza de que não desistiria de você em um futuro incerto. Dentro da suja realidade, eu estou tão exausto quanto você que se deixa afligir pela impureza que a perturba, no entanto, a divergência secreta te consome a cada instante. Eu poderia ouvi-la gritar: "imagino se há algum significado para o que estou fazendo desde o início, pois tudo parece não passar de uma ilusão", então, por favor... não cometa o mesmo erro, nossas vidas são como uma pedra lançada... a incerteza em um último beijo, a dor por dentro, que nos faz queimar, os pensamentos afligidos de uma noite sem fim, a promessa de amor eterno... tudo descansa agora em seu sono, pois a pedra que não acerta o alvo é esquecida na mesma velocidade que foi lançada. Abra seus olhos e me veja uma única vez, pelos seus olhos, eu poderia escapar de mim. A sua ausência me fez sentir o sol do paraíso, mas eu sabia que era um sol nascente caído, aquele que brilha no inferno da noite majestosa. Minha única amada, eu poderia forjar um sorriso apenas para fazer você sorrir, mas não consigo entender por que em minhas mentiras lamentáveis o seu sorriso é sempre agradável. Eu fui seu escravo enquanto estava constrangido, mas agora eu poderia sorrir ao ver você chorar, por que como poderia aceitar ser atacado por seus desejos e vencido pela vaidade permanecendo ao seu lado? Disto não tiro proveito algum, pois você é como a brancura de um vale coberto de neve, com os olhos fechados eu posso ouvir o seu chamado, a dor dentro deste seu maçante coração é escura como as trevas que te enviei com o meu beijo, mas mesmo na morte, eu ainda posso sentir você. E de joelhos, eu oro pela piedade divina, vendo o mundo consumido por chamas de decepção, lamentando quando pus meu coração no mais fundo dos abismos e provei o sangue da besta.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Fração Absoluta

   Nascido para o vislumbre dos sentidos, as possibilidades estão se desvanecendo sem deixar vestígios. A passagem do tempo é como batidas do coração, questões que se deitam na superfície de uma consciência alimentada cuidadosamente pela realidade. O momento está passando por mim, lentamente girando em um contento passivo, cegando-me por um maravilhoso mundo onde a beleza vale menos do que a canção de um raio. Eu aceito que algumas coisas nunca mudarão, mas isto deixou-me com uma dependência química pela insanidade, uma mente que magnifica minha agonia ou a harmonia do que é respirar para sempre em campos onde a grama cresce alta como tapetes de ouro que incham e sussurram as eternas lágrimas que caem da chuva, um amanhecer aberto como uma ferida que sangra novamente ou como flores que murcham no sol do meio-dia, decorando a paisagem. O céu é lilás e os meus olhos vermelhos aqui dentro. Eu posso sentir eles se aproximando dos meus frágeis sonhos, através da minha resistência em mantê-los como cicatrizes abertas no meu coração, entregando minha alma ao que verdadeiramente parece real ao meu corpo mortal e inútil. Procurei a noite inteira para descobrir o que estava acontecendo, então de alguma forma eu sabia que havia algo de errado naquela luz paradisíaca que me cobria por dentro... a escuridão escapava sem nenhuma palavra saindo dos meus lábios, apenas um beijo dourado, silenciado por aquele olhar cinza-esverdeado e a pele madrepérola como um deserto jardim branco incessantemente esquecido. Na borda do universo, ela era como uma distração de verdades que eu não ousava encarar, a alma assassina viu, através dos olhos do céu, em uma ilusão sonolenta... e transfixa, como se ao menos por pensar nela as trevas me cobrissem. No vazio contemplava o destino de uma luz morta em presunções espirituais de campos elísios como sendo o caminho que eu percorria, em outras palavras, a minha escuridão era você. Esta é a beleza de uma realidade distorcida: outra revelação gloriosa intensamente como a morte do sol, dançando com as sombras, em uma memória perturbante da intervenção da luz verdadeira, este véu de suicídio... pobre intensa aurora, em seu enigma à luz do luar de um abraço pálido, bem no interior do silêncio somando os seus segredos, a fração que te domina como a risada que flutua na brisa do mar, subindo e caindo e morrendo dentro de mim, a luz que vem das ondas para conhecer o espaço da mente... porém há uma tempestade se aproximando entre memórias meio esquecidas, deixando-me à deriva por sentimentos que me chamam vindos de você. O verão amanhece escuro em minha memória e perdido no fundo da minha alma em um lugar cercado por eras de esquecimento, tudo o que eu sentia se foi, mas o meu espírito ainda respira, eu não vejo sentido em continuar, um estrangulamento da realidade gritando dentro de mim, então... aguentando apesar das dúvidas, eu sempre recordo que ninguém pode me encontrar aqui, escapando das leis das dores inexplicáveis como ecos atormentados de um éden sucumbido. Eu desejei intensamente a sua beleza e o seu amor, mas tudo que consegui foi sucumbir na escuridão em busca de esperança. A solidão me deixou cego pela ausência da minha alma-gêmea, esse é o meu final? Está ficando tão frio... as sombras diminuem e aumentam, o meu sangue escurece como o interior de um drácula... você ainda está petrificada nessa eterna fração de segundo?

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Atração Perigosa


   Um dia a luz me trouxe você. Não foram minhas roupas enegrecidas ou meus olhos polidos de sílex, eu recordo-me bem daquela noite, a luz divina que acendeu no meu peito e a fez aparecer, brilhando como uma lua de outono, a água em seus olhos dizia que estávamos ligados. Naquele dia, o poder divino trouxe-me você por algum motivo, abriu meu coração para lindas palavras surgirem em antigos escritos de sangue, palavras leves como uma névoa ancestral destinadas à você. Aurora, a sua doçura era como um câncer, mas sendo eu libra, via o modo como a obscuridade desapareceu com a sua chegada, como nosso laço era fiel comparado ao arco-íris que retorna para manter sua promessa. Esta noite a razão da luz é novamente recuperada, um despertar onde o gelo brilhará numa grande explosão de sentimentos despedaçados em nuvens de chuva. Nesta tão sonhada noite nossas correntes se partirão e livremente voaremos como pássaros felizes, resgatando os nossos dias escuros e frios, os dias em que a nossa essência era manifestada com um único sorriso inalcançável, tão verdadeiro, assim por muito tempo esperando através da possessão. Este é o dia escolhido, o último passo para minha iluminação, o estado de expectativa que atravessará todos os seus círculos espirituais, mas não seja eu um lugar aonde a luz nunca chegou, agora eu entendo de quem é essa luz, em profundidades além dos meus gritos e pensamentos encobertos, gritos que caem caladamente e pensamentos como pressões em veias sufocantes... a luz divina que nunca se apagou em meus olhos, milhares de cores pintando a sua paisagem, libertando-me do espaço que borrava meu rosto pálido como uma água fria que me cobre. Ó, amada minha, este é o meu poema de lamento... eu confiarei nessa luz e saberei que em poucos dias ele não estará mais entre nós. Sete luas, lembra? Em sete dias você retornará e dará um sinal de amor verdadeiro. Sete dias para que eu possa me enforcar em minha própria loucura.

Cronologia