Sons da Natureza Escura
Em ébrias sombras vermelhas do ocaso a
gananciosa risada dos pecadores me envolve nos fluxos negros da impureza. Eles
aparecem à noite, vindo de dentro, evitando a luz, suas vozes sussurram em
minha cabeça como um frio hálito insaciável, mas para eles minha aparência é apenas
um pedaço de suas imagens vinculadas por algum senso de silenciosas batidas, onde
meu coração toca os viciantes acordes de suas almas alojadas no miasma como fúnebres melodias de um piano preenchendo meu corpo com manchas escuras muito surdo para sentir
o machucado. A comovente voz da dor me enforca como palavras nunca ditas, nunca
ouvidas, mas que num choque de arrepio precisam ser ditas: eles estão voltando no
vapor dos meus pensamentos para me rodear como um enxame de sombras furiosas, crocitando
como corujas sem olhos em busca de quem realmente eu sou, enquanto o que
antecede meu despertar acompanha a boa forma odiosa de tranquilizar o que ficou
na incisão do meu corpo pálido. Esta noite o céu está coberto como braços que
se abrem espalhando a escuridão, um mundo adormecido no escuro onde poucos conseguem
sentir a lenta batida do avanço fúnebre das forças das trevas, lambendo os rios
onde o ar frio e arrepiante propaga seu odor lentamente nas planícies desertas
e geladas em uma nuvem de poeira, recobrindo a terra com mares de sangue num
som abafado de sinos chorando pelas almas escurecidas. Essa lassitude assombra
minha mente triste como um gosto amargo de déjà-vu, mergulhando profundamente em
agonias insuportáveis, grandes fontes de águas que vazam de olhos pretos fixos
em mim – como esculturas idílicas de pedra ou rosas abrangidas do túmulo – eu
piso neste anojo melancólico, corroendo minhas mãos coladas de sangue, mas realmente
desejo nunca ter existido quando suas presenças congelam as veias do coração, o cheiro que inalam são como
corpos inertes brincando de cavar o solo, os lagos dos céus me guardam como um
doravante prisioneiro da penumbra em suas garras frias, uma célula aonde a luz não chega, espalhando
meus sentidos num langor onde o rosto da morte me acaricia disfarçado de dor e farpas, tão fundo como o fluxo que alimenta os
córregos ou a voz do poeta que persiste, este cemitério de olhares infames
cumprimentando a meia-noite é onde sou lançado num túnel longo de
ansiedades. Os olhos lívidos se apagam lentamente à minha volta, amedrontando o
espectro do meu interior como infortúnios de um sofrimento ignorado para deslizar
lentamente no clamor do silêncio em meandros de lembranças que já não tenho. Como
o prazer elevando-se dentro de mim, meu espírito é levado a vagar pelos vivos,
minhas lágrimas são como a chuva caindo ao redor da humanidade e sendo capaz de
ler em cada mente a fuga por um sonho infinito, as marcas na minha face são os
estigmas de uma confusão profana me consumindo... uma triste corda flutuando
acima de uma pira funerária me chamando para abandonar um mundo onde sou mal
compreendido, onde homens desejam esguichar sêmen cansados de censuras e mulheres
se preocupam com a beleza de um corpo frio, pois ainda que dia após dia essas
drogas nos façam sorrir para o espelho, os pecadores continuam a escorregar
violentamente na estranha sensação de entrega e engolem o gosto amargo de seus egos insatisfeitos, conduzidos pelo ruído de satanás, aquele que a alça
da porta gira e ninguém se cega por tamanha brancura, calmamente tragados por um ligeiro vento nos acariciando como a agonia de uma criança corrompendo
sua inocência para se livrar das dores de um momento fúnebre.
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