Sensual
carta anônima
“Amada minha,
No flutuante lago sem forma da sua canção, sua voz
atraiu-me amorosamente para dentro dos seus olhos.
A luz verde brilhava em seu rosto, enchendo os que te
rodeavam com o mais belo brilho da meia-lua dolorida, amarga e triste.
Como a sombra de um amante faminto eu transava com
seus olhos cantantes, arrepiando-me como um sentimento que transformava seu corpo
em pecado.
Cada batida do seu coração era cansada, mas seus
olhos efêmeros eram cobertos por uma esmagadora tristeza como rostos sujos de lama, amenizados pelo calor incandescente de um auxilio inconsolável.
Em silêncio eu observava numa nuvem de memória, meus
olhos brancos e secos choravam um rio de escuridão, sentindo calafrios em cada
verso da sua melodia até perceber que não havia espaço para mim, pois você
sempre me tratou como uma doença mortífera.
Durante anos eu me perguntei, o que eu via em você ou
nas outras amadas?
Fizeram-me entrar em colapso e esquecer de que as
trevas ocultam a luz do conhecimento, arruinando minha vida com palavras
torcidas e mentiras que me levaram direto para um mergulho no lago negro.
É imensamente hediondo da sua parte achar que esta
carta foi escrita somente para satisfazê-la, afinal encantado pela aurora que emana
da sua beleza, o que eram minhas palavras além de ilusões de um olho nu ou
fantasmas deitando no piso do seu quarto?
Eu finamente vejo por que eu me apaixonei por você,
agora eu vejo, o que você realmente significa para estes olhos vazios que estão
olhando de volta para mim.
Com um lenço eu sinto a dor desta última ferida como uma
falsa fixação nas suas costas segurando minha vida pela pele dos seus
dentes.
O que me resta é limpar a mente de um sentimento morto
para ser invadido pela mancha escura que escorre num quieto desespero em meus lascivos
sonhos.”