quarta-feira, 23 de abril de 2014
Raízes da Sombra
terça-feira, 11 de março de 2014
O Inferno da Aurora
Olhando as cores escuras da noite nas desviadas
visões de cada pedaço de nuvem que desaparece no céu negro ou dos espíritos que
voam colidindo seus servos e vestem a ordem de seus olhos, no caminhar lento e
ainda, petrificado a cada passo, a devasta cor bege escurecida dos assentos que
nos esperam no templo da impureza é para aqueles que não sabem o que procuram
com seus rubros disfarces. As palavras, estas palavras, as que de alguma
maneira distorcem seus significados numa confusão vaga e passageira, quando o
que realmente querem dizer não é visto por olhos nus. As mãos, estas mãos, tão
vermelhas como o sangue que desaparece lentamente quando a carne do morto já
tornou-se em ossos. O mundo é grande demais para que caibam nele, estas vazias
palavras e estas mãos sujas que nada mais podem fazer do que tomar o sono do
inocente, e assim desvanecem como areia ao vento. Eu poderia acordar mil forças
lamuriosas e infestadas de feitiços noturnos, mas, ainda assim, somente eu as
veria: minha loucura tornou-se infungível quando a necessidade de preencher o
branco com toda a negritude já não é pela razão, mas o tolo vê aquilo que não é
do seu alcance, os seus movimentos tornaram-se como uma verdadeira peste
fantasmagórica e elevada a pensamentos que estão além do seu entendimento. Deste
modo, a espiritualidade das trevas é a sua verdadeira luz. Estou certo de que valeria
a pena recomeçar quando todos os que me viam já fecharam seus olhos, quando o
chão que eu piso tornou-se em poças sombrias e a mão que me toma pelo pescoço
não aperta antes que eu fale.
Na
insuficiência de tudo o que passei e dos dias que eram apenas cânticos ao dia
seguinte, a tortura de olhar para os cantos apagados da casa e fazer de conta
que a vida surgiria de alguma brecha com o brilho oculto que a chuva ofuscava
nas gotas da janela ou da esperança de que o sol se tornasse frio, eu percebo o
quão pobre e moribundo eu fui, a tremula onda de pensamentos suicidas que não
valiam mais do que minha própria existência, permanecido quieto e silenciado. A
oração despiu-se no interior e de nada valiam aqueles deuses; envergonhado
tornou-se aos seres que ouviam a sua voz, falo de mim, as chamas que eram
ascendidas quando ninguém além de si mesmo estava lá, em uma interrupta alusão
infinita. Mas as respostas eram sussurros de sombras que já não existiam, os
murmúrios, pesadelos de uma época estranha. Eu não poderia culpar aquela pálida
e doce menina como mel de primavera, embora fosse dela, seus rubros cachos
foram diminuindo a cada quinzena, sua voz, tornou-se como um fio de escarlate e
sua vida, a inexistência do tempo. A destruição que causei em seus anos foram
enchentes de palavras que se desprenderam do meu ódio, oh maldição, por que não
posso seguir meus dias em paz e olhar para as folhas que caem das arvores,
ouvir os gritos que uma criança faz ao correr pelas ruas ou sentir o vento que
me espanca friamente em noites chuvosas? O que parou minha vida, oh, foram os
caminhos que segui? O que destruiu minha esperança, oh, fora o pecado que me
fundi?
Esta noite você estará liberta de sua prisão
astral, mas não me ouvirá lamentar como um garoto que chora quando tropeça no
chão gelado. Ouça minha voz, mas também ouça as minhas palavras – lâminas ardentes
por corações libertinos – que perseguiu sua alma nas longas noites de inverno.
Enquanto se manteve longe de mim, as cores da vida tornaram escuras manchas que
se espalham como mãos negras pela parede, mas continuo sendo o desconhecido de
olhos desconfiados acusado de ser controlado por forças do abismo... ninguém me
vê como o ser humano que sou, pelo mesmo ar que respiro ou pelas costas de um
pássaro sem asas... um estranho me tornei quando tudo o que tento ser é
esquecido. São nessas horas que busco um sentido para abrir os olhos pela manhã
e fechá-los quando a madrugada se resume ao som da chuva. Um parasita vivendo
fora dos sonhos e da realidade, então, para quem irei gritar minha voz rouca e
falha, sem forças, onde é que estou, se não para você? O meu você poderia valer mais do que uma única
pessoa, mas estas palavras se destinam somente a mim... dos meus olhos cansados
que nada saem, estou tão seco que a dor é algo que se manifesta com abandonos
repentinos, o jogo mortal e suas cartas, as mulheres de dias luxuriosos que me
fizeram reconhecer quem realmente eu era.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
A Perdição da Aurora
Naquele dia
passeava eu pelas ruas frias do único lugar gelado da cidade, caminhava como
quem anda só por andar e meus olhos pareciam cansados. Avistei tão longe e de
maneira frívola o que não pude deixar de olhar, estranhamente seguia aquelas
donzelas que pareciam temer o desconfiado homem que as perseguia, mas então você
apareceu. Seus cabelos eram louros como a luz que se lançava contra nós, seus
olhos, um hortelã prateado, sua voz, um coral de anjos esvoaçando suas asas. Naquele
dia eu conheci você e não entendia como sua luz brilhava tanto quanto a lua: as
chamas do seu desejo enchiam as sombras à minha volta. Depois de algum tempo
voltei a te encontrar na mesma noite, e embora fosse uma evanescente despedida,
foi o novembro que deixamos as diferenças de lado e entramos na vida um do
outro. A partir de então nossos espíritos se conectaram a tal ponto que os meses
não eram suficientes para derroga-los, porém eu não notei que os meus dias não
passavam.
A cobiça que me corria por você desfazia
tudo na minha rasa índole e as raízes do chão acorrentavam os meus passos
adiante; eu me perguntava o que era aquilo, quando a paixão que sentia por você
tornou-se como montes de oliveiras sendo devoradas pelo fogo puro da verdade, e
embora sem volta, nada podia me afastar da sua luz... uma obsessão pecaminosa
que fez-me buscar os poderes da noite para beber um pouco mais da sua intensa
aurora. Chegando a hora, seus pensamentos foram dominados pelo meu coração negro
e suas noites inquietas abriram-te a visão da escrita, mas nunca pude acreditar
que tudo o que você sentiu foi obra da minha escuridão. O seu orgulho era duro
como pedra, mas por seus lábios eu ouvi doces e eróticas palavras que
desapareceram como uma chuva passageira que molha no intuito de deixar a
vontade. Seus sonhos comigo eram vazios e seus planos ocos como seu medo, eu
nunca pude entender como uma mulher tão esperta e volúvel era estreitamente
melancólica a tal ponto de desistir do que era verdadeiro por algo vivido nas
imaginações de seus próprios devaneios cheios de mágoas e encantos passados. Mas
foi ali, depois de um profundo beijo desajeitado, de medos ligeiros e risos
levianos, que você tomou sua escolha. No fim, todos os impulsos e desejos
caóticos de levá-la para o meu mundo tornaram-se sonhos vazios e sem vida, e
falhou-me as chances das trevas corromperem a sua luz.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
O Despertar da Aurora
Sobre o meu indescritível sentimento de ressurreição, o que irei despertar hoje à noite não são canções de donzelas felizes ou poemas de folhas douradas no outono, não são estradas para se caminhar durante a alvorada ou parte de uma deleitosa e doce fruta para se comer, o que vem para você esta noite é a única e inexpugnável idolatria ao ser que nasceu no inconsciente malévolo de minha essência, dos segredos que corroem pelas indomáveis veias negras do meu corpo e não precisam mais serem envergonhadas; do indestrutível, indômito e insuperável demônio astral já renascido... seja bem-vindo à sua casa, alma assassina!
Na silhueta de uma manhã que logo parte, os corvos observam os incautos se aglomerando em sua volta, uma doce mulher, mas melhor é que se atirem de um precipício e o tempo os pare no ar, para que no refletir de suas mentes sonolentas acordem no maior dos sonhos... a vida fora de seus desejos, pecados e pesadelos. A magia destas palavras é tão poderosa quanto um trovão que desce e nada pode pará-lo, porém tão fraca quanto à do seu pensamento, o que significa que sua consciência é a minha força. O jogo da escuridão começa agora e se você souber jogar, venha comigo para um paraíso diferente de tudo o que sempre ouviu, um inferno que é mais puro do que uma romã partida, um vazio preenchido por suas dores e medos e rasgado pela sua liberdade, um monumento que você escreverá seus sonhos e será respondido, o lugar que a dúvida não existirá quando sua alma for sugada pela maldição dos encantamentos ou o túmulo de todas as suas vozes e gritos sufocados. Estou te chamando para morrer, minha intensa aurora, morra comigo e renasça em um universo desconhecido, morra comigo e desperte.
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