segunda-feira, 5 de junho de 2023

O Selo da Promessa

      O excesso de tempo que me resta vem trazendo o motivo do meu nascimento, pois no momento que coisas importantes transbordam, é quando o relógio rouba meu amanhã, dia após dia buscando por uma promessa que não se realiza como se as portas do céu tivessem se fechado para mim. Ainda assim, eu murmuro meu obrigado e dou um sorriso gentil, esperando que esse tipo de esperança me traga alguma satisfação futura. Esta é uma dor pacífica, porque ninguém é páreo contra o grande unificador, aquele que confunde as mentes e as torna mais sábias, que transmite pelo silêncio os gritos que não podem ser ouvidos no sono dos justos. Até aqueles que não o conhecem, o temem, pois ele está sempre em um lugar íntimo e livre, na cidade onde as flores não nascem e onde os pássaros não cantam, frágil como areia, no mar que se cruza entre a desilusão e o lapso, porque através do seu profundo e santo sangue, a canção da sua história fez um eco por mais de dois mil anos, até que a primeira flor florescesse na esquina, desde que as lágrimas dos justos regassem o jardim do sonho pesaroso, para que o sentido da sua morte não se perdesse e sua imagem nunca se afastasse dos nossos corações. Que maravilhosa anátema! – as pequenas mãos que realmente querem se agarrar a vida, nunca perdem completamente essa esperança, por que qual seria o significado da vida ou da existência da dor, se não houvesse um cordeiro para pagar a dívida? A impressão é que nenhuma esperança permanece quando vivemos sob a inconsciência e o pulso, é como os adeptos da lei da atração afirmam que o Universo é como um mecanismo irracional, seguindo apenas as vibrações das nossas emoções: assim eles se comunicam com as coisas divinas, esperando se forçar a ter bons sentimentos para atrair o bem! Se houvesse ao menos uma centelha de verdade nisso, por que crianças inocentes seriam sequestradas e mortas a todo instante? Por que pessoas boas tirariam a própria vida por não conquistarem o ideal dessa sociedade corrompida? Há realmente quem acredite que elas atraíram isso para si mesmas? Ora, isso não chega nem perto de toda maldade que engole o mundo, então perdoe o meu ceticismo, adeptos do grande nada! Eu não nego que se manter numa ilusão de estar bem seja melhor do que se entregar ao negativismo, porém ao nosso redor a fumaça escura do mal está a espreita, e não estamos livres de sermos intoxicados. É muito fácil estender os braços para cima, deitar os joelhos no chão e falar palavras bonitas como se fossemos tocar o coração dos anjos, mas não somos nós quem separamos o joio do trigo, uma canção trágica de felicidade tem o mesmo efeito de uma melancólica, porque a vida foi eleita para que vivêssemos um sonho tranquilo dentro de uma existência proibida, quase como se nossos corpos tivessem nascido por engano. Não é comum que às vezes nos sintamos estranhos em nosso próprio corpo, olhando para as mãos e se perguntando por que estamos aqui? Esse estado de consciência pode nos levar por dois eixos: no primeiro, nós nos esquecemos do que aconteceu e, de repente, voltamos ao estado anterior, apesar que frequentemente somos lembrados por um número repetido do relógio. No segundo, nós permanecemos fixamente nesse estado e não nos deixamos levar pelas distrações da vida material, então enxergamos a ruptura entre os dois mundos, isto é, entre o que podemos ver e o que está oculto aos nossos olhos. Portanto, ser iluminado não tem a ver com ser bom, mas estar consciente a todo instante. Se estamos conscientes do bem, nós fazemos o bem, se estamos conscientes de que praticamos o mal, nós revertemos a situação para que façamos o bem. Esta é a lógica de Deus, porque no momento que estamos despertos e conscientes, nós acendemos o espírito divino dentro de nós, que muitos acreditam ser o espírito santo – é por isso que somos instruídos a orar e vigiar, porque no momento que fechamos os olhos e deixamos nos levar pela sedução terrena, o espírito adormece, e somos guiados pela biologia dos nossos corpos, sofrendo dores internas que acreditamos serem espirituais, mas que na verdade é o completo oposto do mesmo. De outro modo, um ser humano não poderia viver no estado consciente o tempo inteiro, afinal é para isso que recebemos esses corpos, para sentir todas as sensações possíveis e aprender algo com elas: os aprendizados que nós temos na vida, quando não estamos conscientes, alimentam quem nós somos, de maneira que quando estamos despertos nos sentimos mais responsáveis pelo que somos ou o que iremos nos tornar, até alcançarmos um novo estado de consciência. Parece simples, mas é na simplicidade dessa afirmação que eu digo ser verdade. Certa vez perguntei ao meu irmão se ele conseguia ver o ser que me acompanhava, pelo qual ele me respondeu: “Se nossos pensamentos carregam energias, elas atraem forças consoantes àquilo que vibramos. Pensamentos bons, amorosos e de caridade, atraem os espíritos bons e de luz. Do contrário, pensamentos autodestrutivos, de ódio e amargura irão atrair, inevitavelmente, espíritos das regiões do baixo astral. Olhe para si mesmo e você verá aquilo que te acompanha. Conhece-te a ti mesmo e isso revelará você. E o que te acompanha é aquilo que você é. Nosso inconsciente são as expressões do nosso eu, do eu inferior e do eu superior. Aquilo que vejo em você e suas respostas ao exterior, mostra aquilo que te acompanha. E essas vibrações sutis do astral, poderão ser modificadas com mudanças de hábitos, pensamentos e ações práticas”. Somente anos mais tarde eu pude compreender as palavras do meu irmão, e do que realmente representava a Alma Assassina para ele. Hoje apenas um fluído do seu dom me acompanha, desde que o exorcizei na cruz de fogo, porém ainda que uma faísca da sua presença estivesse aqui, como meu irmão afirma, enquanto eu permanecer o mesmo aquilo que me acompanha permanecerá sendo o que eu sou. Concluo disso que nossos demônios nascem ou são atraídos pela nossa falta de consciência, e tudo que nós somos ou nos rodeia reflete infinitamente nosso interior.

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