segunda-feira, 24 de novembro de 2025
O Grande Mistério de Deus
Eu acordei com os ecos da eternidade, tudo em seu
próprio começo e tudo em seu próprio fim. Às vezes eu quero fechar os olhos e
fingir que não há más notícias ou que não há guerras lá fora, nem pessoas boas,
nem más, nem certo, nem errado, mas o mundo desmorona à cada oração, políticos lambem
nosso dinheiro enquanto a prostituição, as drogas e a violência fazem parte da
rotina de pessoas como eu e você – nós tentamos viver nossas vidas como se nada
disso fosse real, como se fossemos egoístas em um mundo livre, mas a cada colher
na sua boca, uma criança morre de fome, a cada abraço que você dá, um homem
comete suicídio, a cada compra que você faz, uma garota foi vendida, a cada
beijo, uma mulher é estuprada... eu preciso continuar? Olhe só para você, dizendo-se
cansado, quebrado e triste, isso me deixa doente! Por que não importa o que
você faz ou lute nesse mundo, você não pode acabar com a injustiça, somos
obrigados a viver nesse lugar como um teste de marionetes, e ai daqueles que
desistem... mas um grupo muito pequeno de pessoas sabe o que está acontecendo,
a lenta torção das engrenagens desse mundo está parando, mas você não vê, não ouve,
não sente e não se importa... você está dançando no circo de fantoches,
enquanto a raça humana comete suicídio em massa. Eu cansei de prender essas palavras
na minha garganta, pois o vento fala em línguas, mas somente os surdos ouvem,
somente os cegos veem as nuvens pretas, enquanto seus olhos se transformam em
pedra. Chamam-me de louco, mas aqueles que sonham acordados estão cientes de coisas
que escapam àqueles que sonham apenas dormindo. Os vislumbres da eternidade, os
fragmentos da sabedoria, a verdade que penetra a bússola da existência, muito
disso é glorioso, mas não brota em um pensamento enfermo, pois é necessário uma
razão lúcida, pertencente à memória que constitui as primeiras épocas da vida, isto
é, o limiar do grande mistério. Esses lábios macios, eu posso ouvir o que você
está pensando enquanto lê essas palavras, eu estou tocando em você, enquanto o
arrepio se espalha pelo seu corpo, eu posso provar seu gosto, enquanto o
conhecimento proibido está sendo compartilhado com você. Existe algo invisível por
trás disso tudo, uma manipulação demoníaca, uma música que rasga o véu, pois no
escuro, velhas semeiam em verdade, crianças fazem rodas de adoração, homens
santos invocam o nome que está sobre todo nome. A recompensa dessas almas é o
sofrimento, não o prazer e o sustento, por que elas entendem que a eternidade
não está nesse mundo, mas naquilo que enxuga suas lágrimas, isto é, a voz suave
e leve do espírito primordial, o qual grita incessantemente com gemidos inexprimíveis,
tentando nos resgatar de um futuro negro, de uma existência injustificável, por
que muitos fingem vê-lo, mas poucos são os que ouvem sua voz. Você continua
bancando o tolo? Com pena de si mesmo, enquanto usa perfumes caros, enquanto vê
mendigos e não faz nada, enquanto é manipulado pela mídia e elege a escuridão do
próprio país, você faz parte da fumaça da vergonha, da covardia que assola o
mundo, escondendo-se por trás de uma máscara de sofrimento, e peca somente por existir!
Oh, Deus, que pobre alma miserável! Os espelhos sempre dizem a verdade, e agora
você pode ver, o quão sujo e imundo você é, pois o sofrimento de um homem é
exatamente como pintar sobre a terra: sujeira... ah, agora você entende? Mas
nada fará, seu coração frio não será tocado por essas palavras, seus olhos
cansados se fecharão, você nem sequer sabe o que precisa ser feito, pois está
esgotado e morto como todo mundo. Como a boca que se move e nada diz, o seu corpo
exala a podridão de um pecador condenado ao inferno. Com seus pés pretos, você
pisará fundo e correrá, na velocidade das suas lágrimas, do mistério que é Deus.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
A Última Peça do Poeta
O sol está dormindo sossegadamente, as florestas calmas e melancólicas, o balanço sob a presença de mil luas. Este é um último
verso perfeito, uma poesia sem rima, como as palavras de uma vadia em um mundo frio.
Estes prados do céu continuam os mesmos, sem mais sonhos guiadores, apenas duas
faces com olhares fixos e pálidos: uma virada para os mistérios do alto, outra
para cada rosto sorridente. Venha comigo, estou abrindo uma porta enquanto você lê,
beba do meu pensamento, chupe os seios que jamais amamentam, alimente-se de um
corpo rendido ao prazer... eu vivi tempo suficiente para ouvir o som da sua ingratidão,
para sofrer com os gritos da injustiça, tempo suficiente para ver meus amigos
me traírem, enquanto os corvos festejavam sobre um poeta pobre. Mas ele nunca
morreu... mesmo quando um excremento escuro e cinzento desceu pelo ralo do
banheiro, “salve-me”, dizia em silêncio, mas sua música já não era ouvida –
para cada palavra escrita, mil eram apagadas. Agora estou nu, na magia do
inverno, de repente casado com um encontro simbólico e desconhecido, mas tão
real quanto lobos famintos e doces harpas élficas tocando, pois desde que a
conheci algo dentro de mim se transformou: pareciam que todas as estações
aconteciam simultaneamente, como se eu molhasse os olhos de uma viúva, quando o
único morto era eu. Em menos de uma semana você me levou para dentro da sua
casa e a falta de tempo devorou a beleza da nossa paixão, pois três dias se
passaram, despidos na sua cama, enquanto seus grandes olhos de opala aceitavam
meu pedido de casamento. Restava-me apenas um mês para cumprir meu propósito e
você chegou na hora certa, como o eixo de uma isca que me puxava para um riacho
de agonia, quero dizer, você me trouxe de volta à normalidade, comendo suas
comidas saudáveis, acordando com seu beijo de bom dia e dividindo o mesmo teto,
quase como um sonho acordado, como se a voz do espírito santo sussurrasse: “estive
preparando algo para você, algo que transcende o ouro e a prata, que abole a
feitiçaria, que te salvará da loucura, e a única coisa que você deve fazer é largar
mão de tudo”. Ora, como um tapa na minha face, descobri que seu útero era obstruído,
em troca disso, você era a mulher que eu sempre desejei ter ao meu lado. Deus
me deu tudo, mas tirou a única forma de iluminar as trevas, isto é, de cumprir
meu propósito, como um último aviso para que eu jamais me envolvesse com as
silhuetas de um anjo caído novamente. Profunda era a ferida entre suas pernas,
pois no passado você tirou a única esperança de uma alma vivente, e Deus a
puniu severamente, interligando nossos destinos para que no fim tudo fizesse
sentido. De que outra maneira eu poderia dizer, que a alma assassina é você?
Sua pele é branca como algodão, seus cachos, dourados como a mais reluzente
aurora, seu cheiro me invade em cada canto da casa, pois você adora pendurar
suas calcinhas... entre murmúrios de desejo, você conversa comigo em silêncio, e
é quando eu esqueço das preocupações e aflições do passado, podendo ser a cada
dia um pouco mais de mim mesmo. Você faz meus desejos se tornarem realidade
como se flutuássemos em um céu enluarado, as pessoas lá embaixo estão dormindo
enquanto nós voamos, enquanto o azul da meia-noite é mais profundo, e através
do mundo, as vilas passam como se fossem árvores, os rios e as colinas, tudo
está ficando para trás. Você é meu presente dos céus, mas o preço que paguei para recebê-la foi abrir mão de tudo que eu tinha, ainda assim, você permaneceu
ao meu lado, investindo seu suor para me ver crescer, por que a chuva cai com
desejos e o aço corrói a graça, mas é quando suportamos até o fim que
demonstramos o amor puro e verdadeiro. Minha alma está queimando, não no
inferno, mas de felicidade... sim, Deus me fez enxergar como ser feliz é
simples, e todas aquelas coisas que eu acreditava serem importantes ficaram
para trás como muitas vidas se passando em um segundo. Agora está ficando cada
vez mais fácil de respirar, a alma virgem que vive em mim nunca esteve tão
livre, escrevendo palavras feias para você chorar, oh, eu preciso que você
cante dentro da minha mente, onde quer que você esteja, na vida ou na morte,
pois agora a mágica parece tão distante, eu deixei meu pequeno paraíso e
queimei alguma coisa que eu tenho sido por muito tempo, para viver uma vida
comum. A noite se abre, guiada por apenas um sentimento, não apenas para
sobreviver, mas para morrer vivo.
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