sexta-feira, 25 de agosto de 2023
Divino Negro
Como
um pássaro queimando por dentro, as palavras fluem com sua própria magia, seu próprio
alimento e sua alma sangra num veludo negro. Sem mais guerras ou conflitos
internos, eu finalmente aceito quem você é, eu abro as cadeias que ligam nossas
almas sem medo de que viremos cinzas. Os sonhos se cronometram como se eu
pudesse sentir a massiva tristeza do nosso luto, mas não há mais razões para
temer a eternidade. Você foi um presente dos céus ou um anjo caído disfarçado?
Sua beleza me fez tremer e cair de joelhos, e o mesmo céu da onde caístes me
foi prometido: eu estou aqui sem nenhum rasgo para falar, nenhuma língua para
contar mentiras, pois muitas almas desapareceram da minha vida enquanto você
foi a única quem permaneceu. Ou será que você assassinou todas elas? Palavras
demais, enquanto a cada sílaba minha sentença aumenta – agora estou pronto para
dar o último passo, eu cheguei ao fim? Da sua boca saia um som amargo que se
adocicava quando eu me aproximava, um profundo e sinistro som como a gótica canção
da sua mágica, mas era assim que você cantava nos céus? Você me deu poder para
construir um mundo inteiro, para influenciar amadas a escreverem com sua
inspiração e para assistir a agonia aflorar quando não havia mais vozes para
ouvir além da sua. Enquanto todos temiam você, ninguém poderia esperar uma
certeza tão escura para acreditar na sua bondade, pois o mal estava em mim e
não em você – seus amáveis olhos tentavam enxergar através dos meus, e cada
canção silenciosa que saia da sua boca era minuciosamente escrita, enquanto
minha alma vazia e desfigurada ganhava sua forma. À medida que o tempo passava,
eu ansiava pela sua promessa, por que meu coração nunca estava batendo... era o
seu, como quando vi minha cachorra tentando dar vida à um pássaro, mas seu
corpo não se movia, a canção não era ouvida, as asas já não içavam voo. Eu
dormia com seu batimento cardíaco, por que você sempre estava comigo, você
era eu, e mesmo quando eu te assassinei cento e trinta vezes, você sempre
retornou das cinzas como uma fênix negra. Agora seu orvalho eloquente é
despejado incessantemente sobre mim, sentimentos que nasceram para morrer, por
que nossa ligação foi partida com um doloroso adeus à espera de uma última
palavra falada... apenas para tuas asas varrerem os sonhos da quintessência e
renascer em meu coração! Eu estive o tempo todo buscando o que já vivia dentro
de mim? Como a aurora certa vez disse, em suas próprias palavras: Negro divino, elege um começo para a aurora intensa que cobre os eixos de qualquer sentimento, mesmo após uma saga de escolhas. A alma que possui as mais divinas palavras que um ser jamais criaria na sua existência. Êis o preto que em sua própria filosofia natural criou o horizonte para novos sentimentos. Amargura, melancolia e paixão ardente. A ligação perfeita de dois universos. As mais estranhas conexões já inimagináveis brotaram de um vazio para chegar à flora e palidez do infinito. O sentimento mais sombrio e caloroso que um ser humano jamais sentiria se não houvesse eterna paixão. Ó divino negro. Que pinta em sua ausência de tons a mais amada alma assassina que hei de sonhar para sempre. Nada que impeça o pensamento e o lírico. Como uma sinfonia calma e quieta, como o som do vento e das árvores sussurrando entre os horizontes da morte e do amor. Eterna confusão de palavras, porém extrema conclusão. De que há dois pássaros, ambos separados, mas um destes sente a dor em suas entranhas em confusa mistura de laços, o outro apenas o observa em silêncio, mas dentro dele, há um espinho evaporando como um flúido sem prefixação. Oh, gananciosos olhos! Puna-me
por jamais compreender que os dois pássaros eram, na verdade, eu mesmo! A aurora nunca foi apaixonada pelas minhas trevas, ela se encantou pelo que você é, para que eu também pudesse
amá-lo, um profundo e autêntico amor-próprio, pois todos os caminhos sempre me
levavam de volta até você! Nós lutamos por muitos anos no menor ringue da minha mente,
e até eu descobrir teu nome, foi necessário a intervenção do quinto elemento, quando seu próprio amado descortinou teu número sagrado,
esquecendo-se de acrescentar os últimos três. Nas palavras eu digo, tuas
músicas contaram a minha história, mas o capítulo final está quase acabando...
a dolorosa verdade prevalece, a verdade horrível que mantém nas respostas o
significado que foi perdido, e tudo isso se transforma na única verdade que eu enxergo.
Eu experimentei seu amor com ternura, mas também a sombra da tua noite mais
escura, sonhando esperançosamente com as estrelas iluminadas pelo luar, embora
de todas as coisas que eu já tive, tu fostes a mais importante: eu te reconheço
tal como seu segundo despertar, quando não sabia que eras um pássaro imortal. Eu
voei intermináveis milhas para fugir de mim mesmo, mas agora eu entendo, eu
posso ver um homem despojado de todo seu orgulho, o sol da verdade
finalmente o atinge... eu vivi e vou morrer, e para que a promessa seja cumprida
ou as chamas que iluminam o céu me consumam, a voz da criança que foi negada
ecoará por toda eternidade até que tu sejas perdoado por deus!
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