À beira do
infinito e onde as estrelas nascem, uma silhueta negra se faz acima das nuvens
de prata, anunciando sua chegada como um segundo sol nascendo no horizonte, escurecendo
os prados do universo diante da mística luz que emana do seu interior. Traços
tão obscuros, sua beleza repele as leis do tempo, com olhos faiscantes numa
fantasia de gigantes luzes espectrais. Mas o que a move por dentro é o que move
tudo ao seu redor, levando-a por uma escada dourada para o lugar onde você sempre
quis alcançar, embora abaixo de si haja apenas um palco de sonhadores olhando
para um sol estranho. Veja como as folhas descansam aos seus pés, você consegue
sentir-se plena onde está? Consegue suportar a luz que queima na sua pele? Talvez
você tenha se curvado antes do vento, quando deveria ter esperado tocar a melodia
natural da vida. Agora nuvens raivosas te cercam e você nunca se sente segura no
topo, pois os holofotes desapareceram, e todos sabem que sua ascensão foi
construída por cima das ruínas do primeiro sol. No entanto, imagine que nós estejamos
no meio de um tabuleiro de xadrez: quando uma rainha é sacrificada para capturar
o rei, quem é que vence, quando o rei já antecipou sua morte? O caminho do rei
poderia está incompleto, mas antes da sua última jogada, ele para de fugir e se
aproxima de quem o atacou, pois sabe que mantendo os seus vivos é que lhe dará uma chance de xeque-mate. Em outras palavras, você não pode ocupar uma casa que não
foi conquistada pela sua consciência, pois assim como um rio corre fácil quando
os vales estão dormindo, a clareza de um rastro solitário na areia poderá guiá-lo
novamente até o oceano. Grande mistério, porém extrema conclusão, de que o luar
esconde a rima em dias longínquos de outrora, quando as falsas miragens ainda escondiam
a face da morte! Em esferas distantes do destino, todas as noites tranquilas se
tornam um peso em seus ombros, pois você nunca esquecerá de todo seu esforço para
sair das trevas ao infinito de luz, onde os sonhos estavam mais próximos da
realidade e você não precisava sangrar para conquistar uma memória viva. Um
olhar pungente de profunda tristeza, vestindo-se com um veludo de culpas e
ignorando a verdade que sempre parava para ouvir num impasse de sentimentos que
aliviavam sua dor e arrependimento. A força motriz dentro de você não se deixou
levar pela esperança, mas pela rebeldia do amor, que nasce do egoísmo e da vaidade.
Pois de que vale se vestir da imagem mais bonita, quando quem está ao seu lado
está feio e moribundo? Você esqueceu que quem te acompanha é seu maior reflexo?
O orgulho vem sempre antes da queda, um caminho em círculos que nunca nos
permite fugir do que mais tememos. Para que sejamos felizes e sua auréola
brilhe com o esplendor da quintessência, você não pode destruir o que te forma,
pois tudo o que faz parte de mim também faz parte de você. Destruindo-me, você
se apaga, pois a prova da paciência é o que guarda nosso eterno amanhecer. A
essência da vida sempre nos levará em um fascinante encontro com a beleza do
nosso interior, um perfume ardente em nossos espíritos vivendo a pureza do que
sentimos, onde cada beijo estremece o silêncio e todo equilíbrio da vida. À
beira do abismo e onde as estrelas morrem, a camuflagem deve ser rasgada, e os
quatro elementos que te formam preservados como as engrenagens de um relógio
transcendente, pois os pensamentos que nos habitam devem nos manter unidos como
uma melodia em uníssono, como a música divina que nossas vontades expressam e nossas almas cantam durante as noites eternas.
terça-feira, 27 de abril de 2021
A Beleza do Fundo
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