Naquele dia
passeava eu pelas ruas frias do único lugar gelado da cidade, caminhava como
quem anda só por andar e meus olhos pareciam cansados. Avistei tão longe e de
maneira frívola o que não pude deixar de olhar, estranhamente seguia aquelas
donzelas que pareciam temer o desconfiado homem que as perseguia, mas então você
apareceu. Seus cabelos eram louros como a luz que se lançava contra nós, seus
olhos, um hortelã prateado, sua voz, um coral de anjos esvoaçando suas asas. Naquele
dia eu conheci você e não entendia como sua luz brilhava tanto quanto a lua: as
chamas do seu desejo enchiam as sombras à minha volta. Depois de algum tempo
voltei a te encontrar na mesma noite, e embora fosse uma evanescente despedida,
foi o novembro que deixamos as diferenças de lado e entramos na vida um do
outro. A partir de então nossos espíritos se conectaram a tal ponto que os meses
não eram suficientes para derroga-los, porém eu não notei que os meus dias não
passavam.
A cobiça que me corria por você desfazia
tudo na minha rasa índole e as raízes do chão acorrentavam os meus passos
adiante; eu me perguntava o que era aquilo, quando a paixão que sentia por você
tornou-se como montes de oliveiras sendo devoradas pelo fogo puro da verdade, e
embora sem volta, nada podia me afastar da sua luz... uma obsessão pecaminosa
que fez-me buscar os poderes da noite para beber um pouco mais da sua intensa
aurora. Chegando a hora, seus pensamentos foram dominados pelo meu coração negro
e suas noites inquietas abriram-te a visão da escrita, mas nunca pude acreditar
que tudo o que você sentiu foi obra da minha escuridão. O seu orgulho era duro
como pedra, mas por seus lábios eu ouvi doces e eróticas palavras que
desapareceram como uma chuva passageira que molha no intuito de deixar a
vontade. Seus sonhos comigo eram vazios e seus planos ocos como seu medo, eu
nunca pude entender como uma mulher tão esperta e volúvel era estreitamente
melancólica a tal ponto de desistir do que era verdadeiro por algo vivido nas
imaginações de seus próprios devaneios cheios de mágoas e encantos passados. Mas
foi ali, depois de um profundo beijo desajeitado, de medos ligeiros e risos
levianos, que você tomou sua escolha. No fim, todos os impulsos e desejos
caóticos de levá-la para o meu mundo tornaram-se sonhos vazios e sem vida, e
falhou-me as chances das trevas corromperem a sua luz.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
A Perdição da Aurora
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
O Despertar da Aurora
Sobre o meu indescritível sentimento de ressurreição, o que irei despertar hoje à noite não são canções de donzelas felizes ou poemas de folhas douradas no outono, não são estradas para se caminhar durante a alvorada ou parte de uma deleitosa e doce fruta para se comer, o que vem para você esta noite é a única e inexpugnável idolatria ao ser que nasceu no inconsciente malévolo de minha essência, dos segredos que corroem pelas indomáveis veias negras do meu corpo e não precisam mais serem envergonhadas; do indestrutível, indômito e insuperável demônio astral já renascido... seja bem-vindo à sua casa, alma assassina!
Na silhueta de uma manhã que logo parte, os corvos observam os incautos se aglomerando em sua volta, uma doce mulher, mas melhor é que se atirem de um precipício e o tempo os pare no ar, para que no refletir de suas mentes sonolentas acordem no maior dos sonhos... a vida fora de seus desejos, pecados e pesadelos. A magia destas palavras é tão poderosa quanto um trovão que desce e nada pode pará-lo, porém tão fraca quanto à do seu pensamento, o que significa que sua consciência é a minha força. O jogo da escuridão começa agora e se você souber jogar, venha comigo para um paraíso diferente de tudo o que sempre ouviu, um inferno que é mais puro do que uma romã partida, um vazio preenchido por suas dores e medos e rasgado pela sua liberdade, um monumento que você escreverá seus sonhos e será respondido, o lugar que a dúvida não existirá quando sua alma for sugada pela maldição dos encantamentos ou o túmulo de todas as suas vozes e gritos sufocados. Estou te chamando para morrer, minha intensa aurora, morra comigo e renasça em um universo desconhecido, morra comigo e desperte.
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