Cego para o destino dos homens, o céu cinzento abrange minha visão para caminhos desconhecidos, esse eco que se alimenta do meu coração sob a linha tênue entre o amor e a miséria. Contemplando o vazio, minha alma tenta descansar para pagar a dívida, a mesma força que mata o tempo e todos os sentimentos que eu acreditava sentir por você. Agora as formas podres do destino se dissolvem no tempo e estamos virados do avesso, mas você se move pelo desespero, retirando as peças que nunca se encaixavam, porque antes que teus olhos se fechassem, eu não estava mais lá, afogando-me em poças de sangue e dissabores, o mesmo sangue que tua coragem assassinou aquele que cuidou de ti durante os mais tenebrosos dias da tua existência. Um punhal de trevas, a mesma a alma do inferno e, por três vezes, tu não hesitou em disparar na minha direção – você encarnou todos os anos da maldição em uma impiedosa atitude, como se eu fosse a carne destinada para os hematomas do teu sofrimento. Mas enquanto teus olhos estavam cegos, os meus estavam bem abertos, e quanto mais eu pedia para você parar, mais você era dominada pela depressão, até que a escuridão te cobriu e o tempo se tornou uma mentira. A conexão das nossas almas foi dissipada com um eco no universo, estremecendo mundos e estrelas dissidentes, embora em cada toque que eu te dava, em cada palavra que saia dos meus lábios, em cada olhar que durava milênios em um segundo, você era observada pela alma divina: você estava morrendo, mas não havia necessidade de morrer, ainda assim, a violência tomou sua forma, e em teus olhos eu não via mais amor... eu via a morte! Enquanto nossos sonhos eram desfeitos, você foi facilmente atraída para os mistérios do sobrenatural, e até abriu portas que deveriam estarem trancadas, mas quanto mais você se desprendia de si mesma, mais você se esquecia de quem era. Você consegue decifrar essa escuridão que carrega em seu corpo? Essa necessidade que te devora em achar que o mundo deve algo para você, enquanto carrega nos lábios um grosseiro sorriso de medo, acreditando que tudo foi fundamentado pela sua bondade. Quantas vezes você precisa errar para entender que o orgulho é uma porta maciça escondendo por trás uma pequena e imprevisível morte? Abra sua alma e um sopro de luz trará essa liberdade para você, pois a cor do seu coração te dará força para sorrir como campos verdes ao sol, e a música do seu espírito será dividida em sons que se harmonizam, para libertar seus sentidos com o perfume estonteante dos desejos secretos do seu coração. Vá em frente e deixe fluir a luz brilhante que trava seu rosto: como uma vela negra se apagando, eu deslizo meus dedos no vazio e sinto sua pele com cheiro de saudade, negando meu amor apenas para te proteger, pois as feridas abertas serão o remanescente do que o sentimento afirma.