Longe de
casa como os sons distantes das águas, estou correndo no que deveria ser minha
liberdade, mas farto das pessoas e do pequeno espaço onde vivo, a liberdade,
por fim, tornou-se minha segunda prisão. Todas as grandes planícies agora são
iluminadas pelo fogo, as montanhas nebulosas tornaram-se morada de corvos, as
ruas atraem pensamentos de que eu não pertenço a este lugar. Meus olhos estão
doendo pelo esforço de olhar, dia após dia, o que costumava ser belo, em ouvir
as palavras faladas de uma conversa sincera, porém a transpiração
está drenando minha mente, essa forma noturna de substância como um pastor guiando
as ovelhas enquanto a risada dos deuses
é ouvida. Em meu longo silêncio, nenhuma lágrima se esforça para cair,
pois enquanto observo o sol se pondo, eu tento encontrar uma razão, um
sentimento genuíno para continuar aqui – essa piscina de sangue e miolos – que
é minha mente, lar e coração. É uma vergonha retornar e continuar sendo o mesmo
homem sorridente que esconde, por trás das nuances do véu mental, as mãos no
volante do que é irreal. Pense sobre isso... se olhares pudessem matar, a
maneira como me sinto seria transmitida pelos meus olhos? São ilusões nascidas
no ar, mas que concretizamos como verdadeiras, como o puro e doce núcleo de uma
flor de lótus, emanando sua divindade, mas sabendo que pode ser arrancada do
solo a qualquer momento. É assim que eu me sinto, uma espécie quente de
cor com sentimentos mortos, embora esta sensação assemelhe-se à um câncer,
deteriorando o que algum dia foi real para tornar-se um macio cobertor de nada.
Dói, porque eu quero que você permaneça, e eu sei que você pagaria todos os prazeres da
vida apenas para me ter ao seu lado, mas entre os dias que desaparecem ao
amanhecer, nós estamos chegando perto de um vale, uma saída para os perdidos,
cegos para a ameaça e longe de tudo e de todos,
embora você seja tudo e todos! Oh, minha intensa negritude, você está em toda
parte! Eu não consigo desviar o olhar, pois as memórias nunca desaparecem e
você sempre está onde quer que eu esteja. Você é o chão que eu piso, as paredes
que eu toco, o ar que eu respiro, a paisagem da janela quando a noite clareia!
Se você atravessasse minha alma esta noite, então entenderia que todas as
surpresas da sua vida já estão prontas, e entre as rachaduras há
apenas o preenchimento do que restou do nosso amor. Você drena minha força vital com suas
incansáveis fobias sensuais, porém quando o líquido prata finalmente se espalha, eu
percebo que um pedaço da minha alma está faltando, pois da última vez que a vi,
mediante o terceiro olho, eu estava irreconhecível! Eu estou entrando em um mundo
onde nenhuma outra alma se arriscaria a descer: as negras escadas do seu ser, embora para alcançar a gloriosa luz que queima no seu
interior, tão almejada pela morte... ela só queira brincar e
manipular o que você pensa, pois o espiritismo é o véu que cobre seus olhos. Dentro,
abismalmente, é onde está a tão idolatrada quintessência, como um feto ainda
recém-nascido, esperando seu despertar para destruir toda vergonha do seu
passado! Somos loucos em nosso próprio entendimento, mas dormentes nessa agonia da realidade, somente nós podemos nos afogar nos sonhos do destino para que da morte reavivemos. Estes são os meus sinais do amor: eles se parecem muito com
as linhas das minhas mãos, pois quando digo que estou preso a você, é porque
estamos muito perto de alcançar a luz do favorecimento. Um presente da alma da
ternura, onde lágrimas de ficção se tornam realidade, e com muitas vidas
virando as páginas, eu vejo o dia prometido – você vai ver, você vai ver quando
ela começar a se formar, quando começar a chamar pelo seu nome! Agora você pode ver, pois nós estamos envelhecendo juntos, mas tentados pelo cheiro do tempo, nós possuímos a injeção da eternidade, sabendo que valerá a pena quando todos os rostos tornarem-se pedra e
sorrirmos para a face da morte.