terça-feira, 18 de abril de 2017
Realidade Artificial
Em
algum lugar o tempo parece me ultrapassar, ondas sonoras que vagam no silêncio
e se misturam com os ruídos que me cercam, como se outro eu estivesse vivendo e
movendo-se na mesma realidade, mas com escolhas e caminhos diferentes. Assim,
uma vez ou outra, eu sinto já ter vivido aquilo que estou vivendo ou faço
coisas que já tinha feito em outra reencarnação, porém a indefinição da vida e
da morte perturba os elos que me enlaçam na realidade fixa, por que as memórias
de uma consciência morta são apagadas com o tempo. Logo, aquele que está do
outro lado está vivo, buscando contato comigo ou com todos os outros que possam
existir sem o nosso conhecimento. Mas como saber que realmente há outros ou
nenhum? Não é incomum sentir que estou sonhando acordado, vivendo um teatro
falso e dramático, onde as pessoas procuram algo indefinido, algo visceral e
fundamental que nunca se coloca em palavras, mas que é bastante palpável. Quem
quer que mantenha os olhos bem abertos consegue ver uma sociedade completamente
degradada e corrompida, onde o instinto de procriação mais primordial da
humanidade tem sido banalizado, pervertido e explorado a ponto de perder toda a
sua beleza. Mas, o que isso realmente muda? O meu outro eu, por acaso, vive em
mundo melhor? Um mundo onde o arco-íris brilha com as verdadeiras cores da primavera,
sem uma cortina mística escondendo a coreografia ensaiada de marionetes
dançando numa libertinagem barata. Esse vazio que me assola, bem, eu acredito
que todos devem senti-lo nas entranhas, corroendo cada célula e entupindo cada
veia de sangue em um constante vai-e-vem de prazer e dor, atração e repulsão,
que é a verdadeira essência das coisas naturais. Nós não somos forçados a
descobrir o lado escuro e destruidor de nós mesmos, apenas fomos condicionados
com as mesmas imagens e palavras que nos transformam em estranhas aberrações
escravizadas por um circo de demônios, cantando e pulando sobre nossos
cadáveres, enquanto acreditamos estar vivendo nossas vidas sem nenhuma intervenção.
O dinheiro e o poder daqueles que estão no topo os fizeram esquecer de suas
purezas quando eram apenas um bebê nos braços da mãe, embora alguns deles sejam
abusados sexualmente e obrigados a assistir sacrifícios explícitos de humanos e
animais, a fim de que sejam dominados até o último suspiro. Os que conseguem
escapar são, no pior dos casos, assassinados sob uma justificação enganosa
dentro de uma data cerimonial para que sirvam de oferenda àquele que os rege
das trevas. Luz, eles dizem, por que a felicidade que desfrutam é farta, mas
tão ilusória quanto suas almas que desaparece até o corpo tornar-se oco, sem
que possam recobrar suas consciências. Desta forma a maldade se torna um
alimento saudável e insaciável, e eles
bebem a iniquidade como água, sustentando-se através do esforço dos pobres, por
que a manipulação
monetária é tão diabólica que o endividamento cresce através do crédito e cria
uma conta vazia onde é depositado todo o dinheiro inexistente. Sendo assim, por que
continuamos vivendo como pilares de um castelo de fantoches? A religião
pregaria que eles já possuem o seu galardão, como se pudesse existir algum
preço à altura de toda maldade que acontece no mundo. O dualismo insistiria que
para um rico existir, um pobre também deve existir, tal como a luz e as trevas,
mas esse argumento é tão sem sustento que serve apenas como proteção para com
os que dominam a terra. O que eu digo é que não existe
justificativa para a corrupção e que todos que se ajoelham colaboram com o caos
que se disfarça de bondade. Ora, a natureza é muda para o hipócrita. É por isso
que a peste, a fome, a guerra e a morte prevalece, pois para manter o
equilíbrio dos que estão no poder é necessário forjar uma saída justificada, enquanto a humanidade assiste de braços cruzados em um poltrona apodrecendo e uma grande tela com um rabo em formato de tridente, sempre pronta
para distraí-los e leva-los para outra realidade paralela que nunca existiu e
nunca existirá.
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