“Amada minha,
Durante a noite os meus olhos filmam você dormir,
esquecendo-se de te amar, eles adoram seu corpo pintando as cores mais belas da
sua nudez.
Como uma virgem aquecendo seu amante sua voz se move lentamente me chamando, cenas de azul escuro e marcas de garras nas minhas costas, o sangue se alojando na minha cabeça...
Nós tivemos nomes mais íntimos, nomes profundos e
verdadeiros, mas que nunca nos permitimos desfrutar, pois eles eram sangue para
mim e poeira para você.
Quando você chegava muito perto de se sentir a salvo,
eu me tornava a sombra debaixo da sua cama, ouvindo seus gemidos e palavras
sonolentas, enquanto minha boca saboreava o vinho que a brisa dos seus
sentimentos trazia.
Você sempre foi tão interessada em correr na frente
deixando lascas do tempo e espaço para trás, mas a grama que cresce rápido e
cobre suas pegadas uma hora se fecha em silêncio e suas rotas desertas são apagadas.
Não há luz e nem caminho de volta, apenas a beleza da
sua juventude te fazendo rir como uma mulher apaixonada, vivendo numa
ilusão vazia naturalmente como o vento – a viagem construída no interior dos seus
sonhos – sabendo que não importa o que aconteça, eu sou o seu câncer, sua praga
e sua cura.
Eu sou o lugar e o motivo no qual, eu e você temos
que morrer, pois enquanto você encara seus medos e finge ver seu rosto
verdadeiro, você sabe que há uma figura que se esconde na escuridão.
Esta figura dorme dentro do seu útero e vive dentro
da sua pele, esperando pelo dia que você despertará para sermos levados ao lugar onde pertencemos. ”