Mais leve do
que a brisa do pôr-do-sol uma serena voz de esperança soa como poros harmônicos
movidos pela natureza, inundando meu ser num translúcido lago em branco e
transbordando como linhas de aprendizagem dos elementos divinos, num
efeito tão congelante que meu corpo jaz dormente em sua magnificência. Tudo o que
sempre quis e sonhei está se desintegrando, o som dos tambores chamando e o
brilho da juventude sendo atirado para fora da escuridão, uma contagem, branca
e desenhada, com paisagens pálidas rasgando além das minhas simulações da
mente, amplamente num lugar conhecido como o espelho da minha alma, onde
discretamente meus segredos são revelados e a música ninar soturna é tocada...
sons ameaçadores e selvagens descrevendo a triste poça sangrenta escancarada
nos pincéis que mancham a realidade, num solene lugar cheio de sonhos molhados desafiando-me
a tocar a chama tremulante do deleite sombrio, sem se acovardar na viagem
profundamente interior do último olhar frio da noite, sentindo o estalido
arrepio sob os pássaros medonhos e o solo cantante das nuvens espirituais, levando-me numa torção de sombra como frágeis fagulhas
estilhaçando-se no universo para contemplar a plenitude. Correndo com os pés fundos na neve, eu sinto que estou dentro de um sono cinza neutralizando meus olhos para
enxergar novos horizontes, sabendo que algo estava faltando enquanto eu apenas
brincava com o tempo. Ao meu redor, sinto os vestígios do esplendor enviado
pelos tenebrosos olhos que brilham como o raiar do sol, uma energia infinita e
imensurável, crepitando sobre o telhado, mas isso não é a chuva, embora para
mim deveria ser como uma encharcada e sombria cortina aveludada que pendura-se
sobre mim, guiando meus sentimentos para longe desse mundo ignorante. Eu
assistia a neve caindo de olhos fechados, esperando por uma
chance para me redimir dos dias em que a negação se tornou como a cova de toda
esperança, não obstante, um doce néctar sob meus lábios, dançando a valsa da
escuridão enquanto provava minha amarga existência. Vejo agora como é o latejar de
uma vida mecânica, após um esplêndido banquete transformado pela eterna beleza
das esferas negras, habitei no tempo em que o relógio me mostrava cada fardo
situado na minha sombra, roupas para noite, mas feitas apenas para sujar a
noite, pois em meu rosto não havia nada, somente o vazio da isca noturna num
veludo de trevas. Posso dizer que o tempo é um abismo profundo como mil noites
e um passo a mais que nada vale no ritmo da calma meia-noite, por que o curso
mais terno dos lamentos e dos longínquos suspiros da felicidade são compartilhados
numa silenciosa mistura, na qual a luz está escondida, gentilmente, na serena e
harmoniosa natureza. O orvalho perfumado que floresce é um reflexo momentâneo das
formas instantâneas em que os elementos filtram-se através da fumaça do ar e seu
cheiro é sentido como palavras ditas silenciosamente, evocando pensamentos como
traços de translucidez acendendo a diurna seráfica que as mentes imaturas
demoliram, mas eu digo isso por razões à mim esquecidas, numa consonância que
ouso expressar pela graça de deus, e ainda assim cego e vislumbrado pelo sol
lá no alto, de onde vem uma brisa errante e de boa vontade, transformando minhas
palavras numa disfarçada oportunidade de passar adiante o conhecimento que os perdidos julgam sem valor, pois na tortura que os envolve numa prisão
embriagante, seus olhos estão quase mortos, eles ficam na escada rindo de seus
erros.