quinta-feira, 30 de março de 2017
Fragmentado
Em um
aperto torturante minha alma marcada cai no sono, afogando-se em um mar de insensatez,
ela sente o corpo sacudir com uma dor imaginária enquanto lentamente minha persona se divide. Sendo uma necessidade indispensável, minhas mãos se
erguem para o sacrifício de louvor, uma adoração interna, porém cruelmente
sujeitada a uma vontade confinada. Esta
dor atemporal não é fácil de esquecer, pois esses pensamentos deturpados, essas
atitudes irracionais, são como um declínio emocional causando a miséria
opressiva à beira da extinção. As palavras infiéis oprimem o que língua tenta dizer, por que quem tolera a obediência está totalmente sujeito a ser
enganado. Os meus planos fracassam por
falta de conselho, pois apesar de possuir uma alta sabedoria, todo pensamento é
mantido em cativeiro. Afinal, por que manter esse título, se nada mudou? Essa
estagnação de larvas parasitas sugando meu cérebro para esquecer o meu real
propósito neste mundo mostra que a negação é uma traição difícil de conciliar. Passividade e descontração, esta é a vontade do meu corpo,
mas quando abro meus olhos sou curado da letargia debilitante, vendo aquilo que
sempre esteve diante da fratura do mundo: nada menos do que uma realidade
defeituosa. Ah, terna manhã, que transforma o ar nublado cheirando a câncer em
um sentimento de percepção, talvez eu precise que você projete essa imagem do fragmento da minha espécie sendo condicionada ao lapso de um
futuro incerto. Todas essas variadas delícias abundantes em uma terra escondida
do som, são coisas que não consigo conceber, pois a escuridão é ofuscante,
assombrosa e manipuladora. Eu assisti meu
interior sendo tocado por uma inclinação ou ficção que alimentava minha carne, uma
ousadia engolindo cada palavra escrita, para rejeitar à divindade
intencionalmente inconsciente, numa solidão que me arrastava para a morte, pois
a partir da habitação do silêncio, a tristeza me fez permanecer em um conforto
ilusório na ausência do espírito sagrado. Assim, a vida ignorante continua
cumprindo seu papel, preparando-me para toda perfeita vontade de um mundo
manifestado por um tormento verbal. Mas a minha existência
é real, eu estou aqui para conciliar e fazer novas ligações com um destino
desencadeado sobre este vazio, por que isso é algo que não pode diminuir pensamentos fúteis, mas enquanto meus
ossos apodrecem, vergonhosamente aquém das expectativas, todo aquele que
encobre os erros do seu caminho tem um objetivo maior, algo que não pode ser
compartilhado, pois a morte persegue a língua que fala alto sobre o que não deve
ser dito. Em algum
lugar a minha mente está petrificada no tempo, esperando a graça solenemente do
meu retorno, pois se muitas sombras me rodeiam é por que eu emito luz. Agora
tudo o que minha mente parece guardar são agressões de uma visão manchada,
estimulando palavras que possam dar assistência à uma vida dura e amarga
produzida pela sociedade. Retido em compaixão, eu não estou sinalizando
fraqueza, apenas dizendo que o acesso ao arrependimento é absolvido pela
justificação da fé, pois se o esforço fornecesse expiação, o homem não precisaria
escapar do juízo eminente. Oh, condenada natureza humana, o poder é depravado e
a finalidade projetada a ser cumprida! Como pensamentos intermitentes de uma
vida passada, o meu jugo foi destruído, submetendo uma infiltração mental pelas
cordas da aflição e apelando aos desejos fatais da carne, pois a depravação da
alma é apresentada por um ganho injusto de ambições egoístas que formam um
feto desnutrido.
domingo, 20 de novembro de 2016
A Nova Era da Aurora
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
Mausoléu
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
O Superestimado Anjo Caído
No
primeiro som havia apenas trevas. Nas águas um espírito pairava forçado a olhar
para o céu, vendo uma luz no escuro entre a natureza do amor e poder absoluto. Ele
vinha do alto, erguido em linha e caindo como uma pedra, fazendo a passagem
para as almas despertarem com sua força mística. Ao longo dos anos seus entes
queridos traziam a lembrança dos gritos enfraquecidos que coagulam no seu
sangue como mil facas rasgando sua glória. O seu sangue era como a mancha
vermelha do sol refletido no mar, um assassino das profundezas, com olhos
pretos e um coração de gelo. Abastecido por pura ganância, ele mantém o fogo
queimando, a fome em seus olhos parecem ecos de misericórdia, mas seus
ouvidos são ensurdecidos e sua visão cega, engolido pela culpa de suas
projeções, a sua dança é torcida
pelo desespero, imagens mentais grotescas desfazendo sua personalidade
delirante, com vozes infernais e violentas ilusões da sua fobia destrutiva pela
fragmentação do ódio. Sonso e disposto, o mal goteja de sua língua como lama de porcos se espalhando por onde anda, coberto pelo arrependimento vago
que, por sua vez, é desumanizado. Esperando dentro deste lugar atemporal, como
pode viver ou escapar do seu destino, quando simplesmente não tem uma chance
para se redimir? Ele é apenas um mensageiro da morte em busca do carnaval de almas
para alimentar seu corpo sem forma e corromper-se pelo ressentimento ao gênero
humano? Ele vê e sabe as coisas que você nunca viu, pois os pecados são como
pêssegos em sua boca mastigando suas imperfeições. Quem saberia o que está
escondido por trás do seu disfarce luminoso? Você é ingênuo demais para achar
que seus pecados estão encobertos aos olhos dele? Hoje você fala com deus e ele
diz que está envergonhado de você. Amanhã você fala com o diabo, mas ele jura
que você não é culpado. Certo ou errado, eu mal posso dizer, o lado justo do
inferno ou o lado errado do céu? Em algum momento você precisa enfrentar o seu
verdadeiro eu sem deixar que o mundo inteiro passe por cima de você. Todos os
lugares onde esteve e todas as coisas que viu, um milhão de histórias que
compunham sonhos destruídos e rostos que nunca voltarão a aparecer novamente.
Por que é quase como se o céu tentasse nos manter para fora da pureza da
criação, com nossas memórias sendo naufragadas no esquecimento, este é o preço
a se pagar por quem seguimos? O inferno simboliza as cinzas do que algum dia nós
fomos, desprezados por um ontem que nunca existiu, a tensão constrói
constantemente um cérebro vazio e híbrido impulsionado por um relógio que nos
obriga a manter os olhos bem abertos. Esta ebulição dentro de nós que julga
nossas intensões destrutivas, mas que não nos leva a nada, é uma teia conjunta
para um labirinto de mentiras, deixados como órfãos famintos no núcleo vital da
existência desaparecendo entre os abutres do palco. Nós estamos fartos e
cansados. Em todos os infernos e mundos e em todos os espaços e lacunas
flexíveis, esta auto-condenação precisa se desvanecer de nossas consciências,
pois como um presente impresso nós iremos engolir nossos pecados e se libertar
da culpa, assim como aquele que desafiou as raízes profundas da sua cabeça tão
alto quanto as estrelas, destemidamente brilhante, enfrentando o vento das
narinas divinas antes de curvar-se para o chão novamente. Para o calor forte do
sol dourado seu corpo foi lançado, mas antes de todas as coisas renascerem,
todos nós nascemos da explosão desta estrela caída, pois através do frio, com
os olhos abertos, a força da vida se expandiu para manter o mundo sob seu
domínio, então você aprende dolorosamente por que tudo foi criado a partir da
noite. Obedeça a regra da luz e todas as coisas lhe serão acrescentadas, não
são estas as palavras sagradas dos lugares mais elevados? Daqui de cima ele vê
uma queda sem estrelas para seu lar, onde nós projetamos nossos maiores medos
sobre a morte e esquecemo-nos do que é eterno, longe do estado superior da
consciência desperta e da luz do mundo vindouro... todos os esforços para
ignorá-lo são inúteis, pois este sangue e os batimentos cardíacos que você
chama de vida são os quatro elementos do seu corpo em colapso um com o outro.
Abra seus olhos e veja: você está morrendo, mas eu acho difícil acreditar que
este quadro na parede é tudo, por que você pode espalhar minhas cinzas ao vento
e até enterrar um pouco debaixo do solo, porém eu ainda continuarei vivo. Esta
é uma outra dimensão para almas renascidas, nós estamos deixando este mundo de
mentiras. Não tenha medo, não há nenhum calor para sua pele. Funda-se ao buraco
negro desta forma misteriosa sob as ondas pesadas de concreto onde a procissão
engatinha para purificar o mundo. Chamas, eu digo, um fantasma pálido ardendo e
reunindo suas forças como um vórtice flutuante queimando árvores e toda criação
deste cortejo fúnebre. Paredes de pedra agora se tornam água, estão nos levando
pela mão enquanto o grande olho fala, eu finalmente vejo o destino pelo qual
estávamos tão assustados, baleias nadando no céu, o planeta oceano está em
chamas! Dentro deste mar de lágrimas e luz, louvado seja o sol, a matéria mais
pesada e luminosa no coração da escuridão respirando seu silêncio dourado.
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
Além dos Azuis Rasos
Contra
o céu os fluxos de luz gritam por um estimulo, juntando os pedaços de nuvens para formar um novo começo. Pelos olhos de alguém que desconheço, eu sinto que
ninguém pode se identificar com uma bola de carne que muda de formas, a ranhura
da pele envelhecendo, os olhos que assistem a grande ilusão, os pés que
levam os insensíveis para um lugar simplório. Preso em um mundo sem luz e tempo,
nós suportamos a solidão dentro do espaço de um vazio inexistente, apenas
poeira na eternidade que passa como um sonho de vigília. Por que dentro do que
eu escavo, tudo é lembrado, meu passado é encontrado, mas eu olho no espelho
apenas para achar a face de um estranho: eu comercializei essas mentiras apenas
para matar a dor que corrói meu peito. Agora todos os dias o sol se põe
e a lua sempre cai, dando a impressão de que o final simplesmente não
importa. Assim, eu posso ser definido
pelas coisas que não pude ser? O vento
da esperança sopra frio, eu continuo tentando encontrar o que preciso
para sobreviver, porém como procurar por algo que não existe? Alguém se importa com o que estamos fazendo? Alguém se importa aonde estamos indo? Com
justificativas desperdiçadas, eu percebo duas realidades diferentes – aquela
que posso viver de olhos fechados numa ilusão paradisíaca e aquela de olhos
abertos onde expresso todos os sentimentos que me tornaram o que sou e atento-me
ao fato de que uma amarga sensação de apreensão toma conta do mundo em que eu
vivo. Não há uma terceira linha, não há um meio-termo. O fio tênue entre a
verdade e a mentira é fino como a distância entre uma mente ignorante para uma
consciência desperta. Em segundos, a visão do mundo se torna abstrata, e todas
as coisas que você acreditava se tornam apenas crenças vazias. Apenas um passo
no escuro, o que você está esperando? Se você acredita que o seu caminho é o
único caminho, então você é somente mais um tolo que nasce para morrer. Você
realmente acha que as portas do paraíso estão lhe esperando? Quando você chegar
do outro lado, a verdade lhe espancará como a brisa quente do inferno em seu
rosto, e fora deste buraco de ilusões, além dos laços que te prendem, você verá
a face do criador diante de um espelho cósmico, refletindo a sua verdadeira
essência, mas não se engane, não é você quem controla, apenas diga-lhe como se
sente por viver uma mentira e então, grite, você sabe, suas memórias não foram
apagadas, o vazio apenas aumentou em algum lugar diante das estrelas enquanto
você estava quase em casa. Se eu pudesse curar as suas cicatrizes e mostrar o
que você é, então talvez você não ignorasse essas palavras de sabedoria, pois
quando estamos à deriva de uma maré cruel e amarga preferimos voltar para as
margens rasas do que mergulhar profundamente. Afinal, o que é ser e o que é se
tornar? Todas as nossas mentiras não servem a ninguém além de nós mesmos, elas
escurecem a chama da verdade e passamos a enxergar a ilusão que cada um cria de
si mesmo, um mundo de mentirosos iludindo-se uns aos outros. Eu não posso
entender ou compreender, onde nós erramos? Será que não há mais e temos ido
longe demais? Por que agora mais do que nunca o que menos precisamos é que o
amor transforme o obsceno em algo bom ou bonito e um mundo cheio de guerra e
destruição em um lugar emocionante para os idiotas. Estão todos cegos para
enxergar o mundo como ele estava destinado a ser? Eu não posso continuar
fingindo, simplesmente não posso continuar fazendo o papel de um homem que se
olha no espelho e não sabe quem é, pois há vidas sendo destruídas, há
corrupção, medo e morte em cada parte desse lugar que respiramos. Não está tudo
bem, eu me agito e viro no espaço mais apertado da cama, sufocado pela
entorpecida dor que é viver neste mundo, mas não posso encontrar o meu valor
abrindo os ouvidos para todo bobo com uma opinião e línguas perversas que
reescrevem a história. Como uma música desafinada, você não pode manter a
verdade contida, não pode rasgar o véu da fraqueza, apenas escorregar na
perturbação de um céu que nos reflete com um sorriso escuro.
sábado, 1 de outubro de 2016
O Grande Final: A ascensão da Alma Assassina
Quando o mundo está quieto, nossos corpos
inalam o perfume profano como uma penugem elétrica oscilando para aflorar a
pele, celebrando uma mística ascensão enquanto os corações batem rápidos e fazem
o momento durar. Hoje é a noite em que você deve ficar em casa e trancar suas
portas, rindo em negação quando sabe que o fim está próximo, pois as
testemunhas caladas nunca alcançam os sussurros da justiça. Este surreal fardo são
como velas pretas escancaradas diante do espelho, refletindo cada pintura preservada
em um olhar desanimado e revelando verdades por meio de mentiras como hinos
fúnebres de mortos-vivos. A mancha obscura é incarnada, vozes escuras vindo da
floresta, ligando sua alma com o azedo prazer do ninho dos ímpios: seus cânticos
enegrecem seu coração, enluarando de prata os tons negros que vestem o céu e
moldando sua carne seca para acasalar com um fantasma espúrio. As formas do seu
ventre são como cálices cheios de sangue impuro, espalhando um veneno
permanente como um efeito de droga anestesiando sua mente, mas a inesquecível e
amarga lembrança da vida preservada é desmanchada com um sombrio deleite, repetindo
a rima que revela o seu disfarce e reflete de volta seus arrependimentos. Como
uma rosa moribunda num vaso de ouro, vagarosamente os pedaços restantes da sua
história são riscados do livro da vida e a intenção de renascer apenas
demonstra que o fogo reescreve suas linhas. A sombra da lua brilha sobre você,
declinando sua alma para o desprezo e cedendo às tentações do senhor assassino,
mas você é uma criança religiosa, dimensionando seu mundo sobre uma pedra que
rasteja para o abismo bíblico, onde a verdade que você inala te sufoca com a escuridão
desse mundo. Adeus grande ilusão, como acima, assim abaixo – uma pária de
graças aos banidos e exilados, empalados na superfície da completa abominação. Como
as impressões de um sonho, o sedutor cortesão noturno traça o feitiço na sua
mente, banhando-se com seu suor enquanto os demônios rasgam sua carne até os
ossos, com frios, mortos e secos dentes alimentando-se da sua carne mortal. Em
êxtase diabólico, a saliva do seu beijo úmido goteja sobre o que resta da sua pele
desnuda, um olhar tristonho e um sorriso maldoso, contemplando sua verdadeira aparência
espiritual, pois é melhor ser odiado pelo que você é do que amado pelo que não
é. As sombras tem crescido lentamente entorno de você, mas
todos os dias você convida o sol ardente, esperando por sua preciosa aurora
como um brilho profético do céu... se continuar insistindo nisso, eu sinto dizer que nunca viverá esta promessa vazia, pois amanhã será o dia em que abriremos uma nova porta e
eu te arrastarei para dentro do desconhecido desejo de amor que fez você vender
sua alma, conduzindo-o para a realização da sua glacial liberdade
fraternal. Assim, eu derramo meus rasgos sobre seu coração. O inverno está se
aproximando como da última vez, mas o anseio pela presença do amanhecer é maior
do que todos os novembros tingidos de preto. Nossa busca chegou ao fim ou
apenas começou? Ao longo dos próximos anos, a névoa da manhã irá acariciá-lo
com os sons estáticos de uma amante à beira-rio como beijos suaves da natureza,
lembrando-lhe que nada dura para sempre. As árvores respiram pesadamente, transportando
seus crimes negros e consumindo cada momento da sua juventude infeliz, mas suas
feridas continuam expostas para que todos vejam a sua vergonha.
Confissões Profanas
Sensual e Última Carta Anônima
Fim das Cartas Anônimas, Novas Cartas Anônimas, Secretas e Especiais Cartas Anônimas
“Amada minha,
Antes de começar essa história, permita-me contar os sussurros que não foram ditos nas antigas cartas.
A vida é tão fria, uma estrada solitária com um objetivo difícil de encontrar ou um lugar surreal para se ver quando penso em todos os lugares que não pertenço.
Quando as estrelas da noite me emprestam sua luz, as cartas me mantêm aquecido, uma onda de calor que acompanha o clima cantando essas palavras imortais para você.
Às vezes, eu olho em direção ao céu buscando por respostas, mas tudo que eu ouço é a voz do silêncio, uma ressonância invisível que vibra através do som inexistente, sangrando pelos ouvidos e mordendo a mão que me alimenta: o segredo dessas palavras obscuras.
Elas nunca me pertenceram, pois elas não saem de mim, apenas refletem meus sentimentos através do que suas canções expressam.
Então, qual é a sensação de saber que as minhas palavras são música para seus ouvidos?
Eu percebo que o espelho nunca tenta esconder de mim quem eu realmente sou, mas a vergonha pulsa no meu peito, essa sensação de que estou sendo condenado sozinho.
Uma parte de você ainda me ama?
Por você, eu tenho o meu próprio livro de histórias, então para que minhas intenções sejam conhecidas deixe-me dispor de um breve momento para que você conheça-me pelo nome.
Essa tristeza mergulhada profundamente no meu sangue me abriga nas sombras, sentindo o peso do pecado me conduzir à perdição e levar-me para um holocausto mental.
Braços inertes, essa sensação me satisfaz, envolvendo-me numa clemência indesejada, com sentimentos animalescos despertando minha carne enquanto vivo reprimindo meus instintos.
Livrando-me de toda dor que é ser um homem, estes olhos não verão o mesmo depois do dia da profecia.
O amanhã pode não chegar, mas está tudo bem, eu sempre fui verdadeiro e sempre esperei tanto apenas para vir lhe abraçar como as raízes de uma árvore eterna.
Antes de acabar essa história, eu poderia arrancar meu coração bem em frente aos seus olhos, para que você comesse enquanto eu lambia o fio de sangue que escorre pela sua alma.
Pois a minha maior tragédia foi dar mais valor as minhas palavras do que àquela que me inspirou a escrevê-las.”
Fim das Cartas Anônimas, Novas Cartas Anônimas, Secretas e Especiais Cartas Anônimas
“Amada minha,
Antes de começar essa história, permita-me contar os sussurros que não foram ditos nas antigas cartas.
A vida é tão fria, uma estrada solitária com um objetivo difícil de encontrar ou um lugar surreal para se ver quando penso em todos os lugares que não pertenço.
Quando as estrelas da noite me emprestam sua luz, as cartas me mantêm aquecido, uma onda de calor que acompanha o clima cantando essas palavras imortais para você.
Às vezes, eu olho em direção ao céu buscando por respostas, mas tudo que eu ouço é a voz do silêncio, uma ressonância invisível que vibra através do som inexistente, sangrando pelos ouvidos e mordendo a mão que me alimenta: o segredo dessas palavras obscuras.
Elas nunca me pertenceram, pois elas não saem de mim, apenas refletem meus sentimentos através do que suas canções expressam.
Então, qual é a sensação de saber que as minhas palavras são música para seus ouvidos?
Eu percebo que o espelho nunca tenta esconder de mim quem eu realmente sou, mas a vergonha pulsa no meu peito, essa sensação de que estou sendo condenado sozinho.
Uma parte de você ainda me ama?
Por você, eu tenho o meu próprio livro de histórias, então para que minhas intenções sejam conhecidas deixe-me dispor de um breve momento para que você conheça-me pelo nome.
Essa tristeza mergulhada profundamente no meu sangue me abriga nas sombras, sentindo o peso do pecado me conduzir à perdição e levar-me para um holocausto mental.
Braços inertes, essa sensação me satisfaz, envolvendo-me numa clemência indesejada, com sentimentos animalescos despertando minha carne enquanto vivo reprimindo meus instintos.
Livrando-me de toda dor que é ser um homem, estes olhos não verão o mesmo depois do dia da profecia.
O amanhã pode não chegar, mas está tudo bem, eu sempre fui verdadeiro e sempre esperei tanto apenas para vir lhe abraçar como as raízes de uma árvore eterna.
Antes de acabar essa história, eu poderia arrancar meu coração bem em frente aos seus olhos, para que você comesse enquanto eu lambia o fio de sangue que escorre pela sua alma.
Pois a minha maior tragédia foi dar mais valor as minhas palavras do que àquela que me inspirou a escrevê-las.”
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Mundo Flutuante
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
O Castigo da Glória
Nosso
sol está se pondo, nosso dia já se foi, mas o vento frio sopra o riso das
crianças ecoando através das paredes. Quando olho para cima, o silêncio das
estrelas esconde tudo, e pergunto-me: onde está a luz que brilha tão clara? As
sensações mudam, mas nós continuamos os mesmos, com nenhum dos nossos feitos em
vão, pois todo momento solene é guardado na memória como um vento silencioso
apagando uma vela. Ajoelhado, eu rezo coragem para essas almas vivendo em
corações destemidos, deixando a dor vendada com a neve chorando suas lágrimas
de inverno e enfraquecendo a luz muito além daquela estrela brilhante. Nós
sentimos a escuridão enfraquecer o sol da manhã nascendo, os sentidos se
entorpecem e enervam as mentiras que contam para nós, um flash de luz clamando
pelos escolhidos, o coração celeste, a sabedoria, a voz que chama de dentro, mas poucos são os que dão ouvidos. Logo o tempo esquecido vem outra vez, trazendo
o rastro da tristeza marcado na memória, andando sozinho em sonhos amorfos,
pois cada pequeno instante é um milagre nessa terra devastada onde o calor do
sol parece tão longe. Sem destinatário para dar sentindo ao que estou dizendo,
eu estou andando como uma bomba relógio sem fusível, apenas tripas e sangue
coagulando, com poderes fantasmagóricos controlando o meu novo gênese
espiritual, onde os espíritos voam livres e escolhem seus próprios destinos,
unos com o vento e defensores da criação. Voar alto, para amenizar a dor
ardente, com as cores borrando através da chuva no fim do arco-íris, onde um
clarão na noite e uma viagem pelo tempo nos guarda na proeza e vontade de
sobreviver para sermos liderados pela luz guia que nos acorrenta na chama
eterna. Unidos, ficamos juntos. Cumprindo nosso destino, estamos atendendo ao
chamado da grande obra de deus: os portões de sombras marfim se abrem e nós
caímos em devaneios, onde tudo que você vê são seus sonhos realizados e as
palavras faladas em um momento sóbrio, pois a liberdade não vem daquilo que
você possui, mas do conhecimento e da confiança em si mesmo para
recomeçar novamente. Veja o bandido sozinho sob o sol ardente, você acha que
ele sabe o que está fazendo? As terras hostis agora são o seu lar e não há
nenhum sinal de vitória, pois ele perdeu a sua liberdade. O perseguidor de
todos os perigos veio cobrar seu pedágio, e na calada da noite ele surge como
um fora-da-lei fugindo da lua radiante, renegando seu pecado e andando na
terra da sombra sem som como um impressionante réptil feroz e traiçoeiro.
Arrastando-se através do vale de chuva e trovoada, o dragão, isto é, a serpente
jaz sangrando, com o castelo do éden a observando silenciosamente de cima,
enquanto a escuridão a cerca. Nós olhamos através dos olhos do mundo, e sabemos
que há um estranho entre nós, aguardando um sinal de cima para conquistar o seu
poder e a sua glória. Venha, feche seus olhos e aproxime-se de mim, sinta minha
respiração sob sua pele e seja puxada pela mão assassina para quebrar essas
correntes e voar, pois ninguém pode negar que o nosso futuro está definido a
chegar além dos céus. Acima da glória nós vamos continuar, mas o campo de
batalha está brilhando vermelho com o sol iluminando os mortos. Enquanto eu
cubro a trilha atrás de mim para ficar fora da luz, eu sei que há algo vivo na
escuridão, eu posso sentir o seu poder e a sua força: não há lugar para ele no
céu, condenado a cavalgar aqui para sempre, este será o seu último lugar para morar.
Com vulgares moscas e corvos a chorar, sem estrelas brilhando no céu escuro,
seus olhos vermelhos se transformam em preto, e ele é
abandonado pela criação perfeita. Como uma luz num beco vagarosamente indo
embora, ele se torna uma lembrança despedaçada, e se antes brilhava com todo
seu esplendor, agora as trevas o aprisionam em cadeias eternas. Orgulhoso de
seu reino por intervenção divina, o gosto do sangue e doce vingança parecem
amargos na sua boca, então, o morcego acorda de seu sono profundo. Rendendo sua
alma, rendendo seu orgulho, você quer que eu volte e lute por quem eu sou? Nós
não sabemos, nós não sentimos, nós não vemos, nós não falamos, nós não ouvimos. Estas são as suas
três tentações escritas: a luxúria da carne, a luxúria dos olhos e finalmente,
o orgulho da vida. Possuindo sua alma, essas tentações encobrem os demônios que
influenciam, atirando sombras na luz para construir uma terra de caos trazida do
abismo que reflete aquele que nos governa. Há somente puro mal e indiferença
sobre seu nascimento, mas na tumba dos mortos, um homem respira sozinho,
escurecendo seu trono na espera do grande dia final.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Origem do Ínfimo
Batendo
os pés contra a poeira do tempo, eu passo uma noite inteira na companhia de
ladrões, mendigos e prostitutas, vendo a morte apenas como um olhar em uma
sala. Na hesitação, um silêncio desagradável, mas eu só preciso de uma amante e
de um amigo, lábios baratos, olhos suaves, como o frio de um sono profundo
puxando o gatilho para esvaziar a memória das inundações de uma ilusão vivida. Todos
os dias eu vejo o número de mendigos e indigentes aumentando pelas ruas, e a
minha raiva só aumenta, pois eu também vejo uns comendo alimentos mais caros
que as roupas que eu uso. Eu posso dizer que o peso destas palavras é como a
requintada arte de esquecer, uma devoção limpa enchendo cada buraco do peito
sem nenhum amor ou coração de vidro para ficar partido. Entre falhas e
fraturas, eu tenho me dedicado a ser mais presente onde tenho de estar, mesmo
que não queira mais estar aqui, pois para a morte é fácil escrever as palavras
e sílabas que podem esmagar em um instante, porém cada um paga o seu próprio
preço, como dias negros cumprimentando-os com os dentes à mostra. Em um piscar
de olhos, os minutos voam como anos, e quando você menos espera a vida entra em
rigor com uma reviravolta trágica para alterar seu destino, onde a
lógica não se aplica, pois quando esquecemos, a vida lembra. Numa ardência de
sinais que surgem na velocidade do som, eu me torno a vítima do meu próprio
jogo, alimentando-me com as mentiras de uma manipulação obscura, embora eu sabia que a
minha decisão já está tomada há muito tempo. Forjando a minha própria força
de determinação, eu tenho sobrevivido tanto tempo sem vontade, mas conviver é
diferente de observar os momentos presenciais de uma pessoa ausente. Houve
momentos em que eu questionei minhas razões, parecia a mão de deus segurando
minha cabeça debaixo d'água, numa busca por respostas que só me levavam a mais
perguntas. Mas quando se trata do meu jeito, eu não preciso voltar atrás, pois a dor
tem me preparado para este momento a vida toda. É tempo de rasgar a corrente do
meu pescoço, aprender com meus erros e seguir em frente, abrindo as comportas e
surtos para encontrar um novo poder, algo grande demais para esconder. Você não
sabe, você não pode ver através dos meus olhos, você não me conhece. A
intensidade que cresce dentro de mim e as reflexões da minha dor, são os
caminhos das minhas veias para onde eu vou criar ou destruir o mundo. Venha e
olhe para dentro, eu espero que você goste do que vê. Eu sinto seus olhos me
testando, me julgando, mas você deveria saber que a forma como as pessoas me
julgam é a forma como julgam a si mesmas, afinal quem me condena ao inferno já
está dentro dele. Se você não sabe o
motivo da sua existência, então não questione a minha, pois antes de saber quem
eu sou, volte-se para saber quem você é. Seu rosto só serve para me lembrar daquilo que eu
não quero ser como a poeira de um vidro atingindo meu olho. Quando você coloca
o lixo em frente à calçada, ele deixa de ser seu e passa a ser público, e qualquer
um que passar e levá-lo consigo estará fazendo um favor à sociedade. Da mesma
forma, quem é você que lança uma sombra sobre todo pensamento que eu penso,
ecoando na minha cabeça e amarrando minhas mãos preguiçosas? Você não sabe nada, mas continua me julgando, tornando minha pele rachada pelo vento
do deserto, sussurrando meu nome enquanto caminha com a foice do ceifeiro. O crepúsculo faz do seu olhar um rosto pálido, mas você enche o copo até a borda para que a espuma
escorra pelo chão, olhos cansados, um coração pesado, mas eu continuo
segurando, esperando pela minha terra prometida desde o dia em que eu nasci. A
besta inquieta dentro de mim está esperando por sua vez desde que o senhor
virou as costas para mim, por que eu sou uma semente do mal, um mentiroso e um
trapaceiro, trazendo uma bala com meu próprio nome no bolso. Afundado no vazio,
a minha alma é deixada para sangrar e tudo aquilo que eu pensava ser sagrado,
tornou-se negro. Quando a última luz da aurora brilhar, então eu apertarei
algumas cicatrizes que não jazem mais dor, esperando pela aparição da alma assassina enquanto estou indo para baixo em grande estilo.
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