terça-feira, 22 de maio de 2018
Pássaro Azul
Por
onde eu ando, meu corpo sente seu campo magnético, suas pegadas delineiam meu
caminho, tornando o ar mais leve como céus azuis de dor. Enquanto a lua gelada
ilumina a terra, eu afundo meu silêncio onde a lama sangrenta cobre meus pés, mas
posso sentir o toque profano da sua visita, passos delicados como o andar fino
de um doce amante, trazendo benefícios celestes em seu olhar inocente, embora
por trás da pureza você esconda um pequeno sorriso assustador. Quando eu olho
para você, percebo que sua beleza vale mais do que todo ouro do mundo, mas que
não posso ter nenhum dos dois agora. Eu planejei, a partir daqui, um sonho
vivido ao seu lado, até notar que minhas palavras não tinham mais poder sobre
você. As imensuráveis promessas que fiz, de que elas valem após sua partida? As
lembranças são tudo o que guardo comigo como um homem que é exilado da sua
terra natal e se contenta com uma nova vida medíocre. Ah, se eu pudesse...
apenas mais uma vez, olhar as pérolas radiantes do teu olhar, sentir o cheiro
gelado da tua aspereza, ouvir a voz descompassada dos teus lábios, devolver aquela
rosquinha que você me deu um dia antes de brigarmos e tudo mudar para sempre.
Ó, aurora, maldito sou eu e as palavras que saíram da minha boca, por que elas
te puxaram para um céu distante, onde nem a torre mais alta seria suficiente
para alcançar o teu perdão. Um começo feliz, um triste fim, não é sempre assim?
Para cada minuto da história, nossas vontades são quebradas e curvadas, nossos
registros mantidos em porões escuros, nossas vidas decididas por escolhas
imaturas. Como um tapa de veludo, eu rodopiei mil vezes até aceitar que a cena
não é mais o que costumava ser: você cresceu e só deus sabe o quão bela você se
tornou, por que a beleza não é só aquilo que mostramos por fora. Os anos se
passaram para você, não para mim, pois eu fiquei preso nesta separação cruel
esperando pelo seu apelo, mas toda vez que eu ouço uma mulher chorando, eu me
lembro de você, do que eu causei em você... palavras ferem mais do que um
hematoma... palavras... isso é tudo o
que eu tenho? Por quanto tempo eu fiquei aqui, escrevendo e esperando, enquanto
a vida passava? Como um frágil covarde, eu via o chão murcho sob meus pés, e
fui mantido neste lugar por mais tempo do que meus próprios anos, dando fôlego
a uma presença escura que me acompanha como minha sombra, enquanto a loucura tentava me
guiar para a borda do abismo. Você ainda se lembra das suas primeiras palavras?
Aquelas sobre o negro divino, onde você disse que havia um espinho por dentro
evaporando como um fluído sem prefixação... ora, se o mesmo deus que nos uniu
ainda planeja nosso reencontro, então eu rezo para que esse espinho ainda
exista dentro de você, por que eu jamais amarei alguém como amo você, jamais
olharei para alguém como olho para você, jamais escreverei para alguém como
escrevo para você. Esse sentimento está além da minha compreensão, além do espaço
e do tempo, além da vida e da morte. Quantas vezes mais eu me despedirei de
você, até aceitar que nunca esteve aqui? Como um pássaro impetuoso, você voa
para bem longe, mas eu permaneço acenando do meu túmulo.
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