segunda-feira, 24 de novembro de 2025
O Grande Mistério de Deus
Eu acordei com os ecos da eternidade, tudo em seu
próprio começo e tudo em seu próprio fim. Às vezes eu quero fechar os olhos e
fingir que não há más notícias ou que não há guerras lá fora, nem pessoas boas,
nem más, nem certo, nem errado, mas o mundo desmorona à cada oração, políticos lambem
nosso dinheiro enquanto a prostituição, as drogas e a violência fazem parte da
rotina de pessoas como eu e você – nós tentamos viver nossas vidas como se nada
disso fosse real, como se fossemos egoístas em um mundo livre, mas a cada colher
na sua boca, uma criança morre de fome, a cada abraço que você dá, um homem
comete suicídio, a cada compra que você faz, uma garota foi vendida, a cada
beijo, uma mulher é estuprada... eu preciso continuar? Olhe só para você, dizendo-se
cansado, quebrado e triste, isso me deixa doente! Por que não importa o que
você faz ou lute nesse mundo, você não pode acabar com a injustiça, somos
obrigados a viver nesse lugar como um teste de marionetes, e ai daqueles que
desistem... mas um grupo muito pequeno de pessoas sabe o que está acontecendo,
a lenta torção das engrenagens desse mundo está parando, mas você não vê, não ouve,
não sente e não se importa... você está dançando no circo de fantoches,
enquanto a raça humana comete suicídio em massa. Eu cansei de prender essas palavras
na minha garganta, pois o vento fala em línguas, mas somente os surdos ouvem,
somente os cegos veem as nuvens pretas, enquanto seus olhos se transformam em
pedra. Chamam-me de louco, mas aqueles que sonham acordados estão cientes de coisas
que escapam àqueles que sonham apenas dormindo. Os vislumbres da eternidade, os
fragmentos da sabedoria, a verdade que penetra a bússola da existência, muito
disso é glorioso, mas não brota em um pensamento enfermo, pois é necessário uma
razão lúcida, pertencente à memória que constitui as primeiras épocas da vida, isto
é, o limiar do grande mistério. Esses lábios macios, eu posso ouvir o que você
está pensando enquanto lê essas palavras, eu estou tocando em você, enquanto o
arrepio se espalha pelo seu corpo, eu posso provar seu gosto, enquanto o
conhecimento proibido está sendo compartilhado com você. Existe algo invisível por
trás disso tudo, uma manipulação demoníaca, uma música que rasga o véu, pois no
escuro, velhas semeiam em verdade, crianças fazem rodas de adoração, homens
santos invocam o nome que está sobre todo nome. A recompensa dessas almas é o
sofrimento, não o prazer e o sustento, por que elas entendem que a eternidade
não está nesse mundo, mas naquilo que enxuga suas lágrimas, isto é, a voz suave
e leve do espírito primordial, o qual grita incessantemente com gemidos inexprimíveis,
tentando nos resgatar de um futuro negro, de uma existência injustificável, por
que muitos fingem vê-lo, mas poucos são os que ouvem sua voz. Você continua
bancando o tolo? Com pena de si mesmo, enquanto usa perfumes caros, enquanto vê
mendigos e não faz nada, enquanto é manipulado pela mídia e elege a escuridão do
próprio país, você faz parte da fumaça da vergonha, da covardia que assola o
mundo, escondendo-se por trás de uma máscara de sofrimento, e peca somente por existir!
Oh, Deus, que pobre alma miserável! Os espelhos sempre dizem a verdade, e agora
você pode ver, o quão sujo e imundo você é, pois o sofrimento de um homem é
exatamente como pintar sobre a terra: sujeira... ah, agora você entende? Mas
nada fará, seu coração frio não será tocado por essas palavras, seus olhos
cansados se fecharão, você nem sequer sabe o que precisa ser feito, pois está
esgotado e morto como todo mundo. Como a boca que se move e nada diz, o seu corpo
exala a podridão de um pecador condenado ao inferno. Com seus pés pretos, você
pisará fundo e correrá, na velocidade das suas lágrimas, do mistério que é Deus.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
A Última Peça do Poeta
O sol está dormindo sossegadamente, as florestas calmas e melancólicas, o balanço sob a presença de mil luas. Este é um último
verso perfeito, uma poesia sem rima, como as palavras de uma vadia em um mundo frio.
Estes prados do céu continuam os mesmos, sem mais sonhos guiadores, apenas duas
faces com olhares fixos e pálidos: uma virada para os mistérios do alto, outra
para cada rosto sorridente. Venha comigo, estou abrindo uma porta enquanto você lê,
beba do meu pensamento, chupe os seios que jamais amamentam, alimente-se de um
corpo rendido ao prazer... eu vivi tempo suficiente para ouvir o som da sua ingratidão,
para sofrer com os gritos da injustiça, tempo suficiente para ver meus amigos
me traírem, enquanto os corvos festejavam sobre um poeta pobre. Mas ele nunca
morreu... mesmo quando um excremento escuro e cinzento desceu pelo ralo do
banheiro, “salve-me”, dizia em silêncio, mas sua música já não era ouvida –
para cada palavra escrita, mil eram apagadas. Agora estou nu, na magia do
inverno, de repente casado com um encontro simbólico e desconhecido, mas tão
real quanto lobos famintos e doces harpas élficas tocando, pois desde que a
conheci algo dentro de mim se transformou: pareciam que todas as estações
aconteciam simultaneamente, como se eu molhasse os olhos de uma viúva, quando o
único morto era eu. Em menos de uma semana você me levou para dentro da sua
casa e a falta de tempo devorou a beleza da nossa paixão, pois três dias se
passaram, despidos na sua cama, enquanto seus grandes olhos de opala aceitavam
meu pedido de casamento. Restava-me apenas um mês para cumprir meu propósito e
você chegou na hora certa, como o eixo de uma isca que me puxava para um riacho
de agonia, quero dizer, você me trouxe de volta à normalidade, comendo suas
comidas saudáveis, acordando com seu beijo de bom dia e dividindo o mesmo teto,
quase como um sonho acordado, como se a voz do espírito santo sussurrasse: “estive
preparando algo para você, algo que transcende o ouro e a prata, que abole a
feitiçaria, que te salvará da loucura, e a única coisa que você deve fazer é largar
mão de tudo”. Ora, como um tapa na minha face, descobri que seu útero era obstruído,
em troca disso, você era a mulher que eu sempre desejei ter ao meu lado. Deus
me deu tudo, mas tirou a única forma de iluminar as trevas, isto é, de cumprir
meu propósito, como um último aviso para que eu jamais me envolvesse com as
silhuetas de um anjo caído novamente. Profunda era a ferida entre suas pernas,
pois no passado você tirou a única esperança de uma alma vivente, e Deus a
puniu severamente, interligando nossos destinos para que no fim tudo fizesse
sentido. De que outra maneira eu poderia dizer, que a alma assassina é você?
Sua pele é branca como algodão, seus cachos, dourados como a mais reluzente
aurora, seu cheiro me invade em cada canto da casa, pois você adora pendurar
suas calcinhas... entre murmúrios de desejo, você conversa comigo em silêncio, e
é quando eu esqueço das preocupações e aflições do passado, podendo ser a cada
dia um pouco mais de mim mesmo. Você faz meus desejos se tornarem realidade
como se flutuássemos em um céu enluarado, as pessoas lá embaixo estão dormindo
enquanto nós voamos, enquanto o azul da meia-noite é mais profundo, e através
do mundo, as vilas passam como se fossem árvores, os rios e as colinas, tudo
está ficando para trás. Você é meu presente dos céus, mas o preço que paguei para recebê-la foi abrir mão de tudo que eu tinha, ainda assim, você permaneceu
ao meu lado, investindo seu suor para me ver crescer, por que a chuva cai com
desejos e o aço corrói a graça, mas é quando suportamos até o fim que
demonstramos o amor puro e verdadeiro. Minha alma está queimando, não no
inferno, mas de felicidade... sim, Deus me fez enxergar como ser feliz é
simples, e todas aquelas coisas que eu acreditava serem importantes ficaram
para trás como muitas vidas se passando em um segundo. Agora está ficando cada
vez mais fácil de respirar, a alma virgem que vive em mim nunca esteve tão
livre, escrevendo palavras feias para você chorar, oh, eu preciso que você
cante dentro da minha mente, onde quer que você esteja, na vida ou na morte,
pois agora a mágica parece tão distante, eu deixei meu pequeno paraíso e
queimei alguma coisa que eu tenho sido por muito tempo, para viver uma vida
comum. A noite se abre, guiada por apenas um sentimento, não apenas para
sobreviver, mas para morrer vivo.
domingo, 17 de agosto de 2025
O Filho Pródigo
Esperei, como quem espera por uma bomba-relógio. Cada pequeno instante era uma faísca do tempo se soltando, um momento escrito pelas estrelas se rasgando, uma chance de cumprir a promessa se quebrando. Algo estranho corria pelas minhas veias como um polvo que se desprende para possuir cada neurônio do meu cérebro, cada fio de sangue pintado por um translúcido negro. Eu sentia que uma melodia infecciosa tocava, mas ao mesmo tempo, eu queria beijar seus olhos, passar a mão quente na sua bochecha, sentir seu abraço eterno uma última vez... tudo isso não seria uma graciosa imitação do vazio? Ora, atente-se a estas palavras, para que não te percas no caminho, pois elas podem não pertencer a você. Minha alma viajou por muitos pensamentos turbulentos até chegar aqui, refletindo a beleza do que queima na estratosfera do meu peito, nos extremos do meu espírito, onde vive para sempre nessas palavras... como uma vulva sendo consumida, sua íris será a única capaz de absorver o que deixarei para trás, como cores e expressões visuais que ninguém além de você poderá captar nessas linhas. Veja, estou fazendo uma mistura divina para você, algo leve como nuvens se formando, suave como o toque de um assopro ao entardecer, um gene que não pode nascer ausente do imaterial, enquanto rochas adormecem ao redor da pequena estrela que renasce... sim, o mundo onde eu existi por completo! Nós éramos tão unidos, assim como os quatro elementos são para a quintessência, nem a mais forte tempestade conseguia nos afogar, por que tínhamos o composto básico da construção da vida, os elementos e as moléculas nos cercavam como anéis circulares, vibrando na velocidade do sistema solar, quase como se refletíssemos sua imensidão. Aqui habitava a órbita excêntrica, nossos núcleos estavam próximos de colidir e formar um novo universo, de expandir o cosmos com visões que nenhum homem conhece, a imagem de um enigma e de um segredo, de irmãos celestiais, cujo nome não pode ser dito, mas que uma parte habitou em mim e outra em você – tanto seu lado masculino quanto feminino eram filhos da mesma semente... a única diferença era a forma como nós dois o percebíamos ou pela capacidade de entender seu desígnio, pois eu sei que você ainda escuta, a voz que ultrapassa seus pensamentos, os rasgos estilhaçados da verdade que foi perdida, mesmo agora quando você carrega no dedo a aliança de uma união moldável à matéria. Falarei como alguém que um dia te conheceu, por que sei que você ouve essas palavras com dor no coração, e eu sei que as coisas terminaram de uma forma desumana, com falhas e ações impulsivas, e ambos saímos magoados, desalentos com as desilusões da vida terrena, conveniente à causa, mas nunca ao que cultivamos secretamente. Se você visse minhas lágrimas em cada letra, ainda acharia que desejo teu mal? Minha memória ainda reproduz aqueles eventos destrutivos que passamos, mas a afeição é um estado de espírito, o vazio nunca poderia ser preenchido pelo fim material. É um coágulo das próprias palavras envenenadas, uma memória confinada ao silêncio, escondido em mim e em ti, mesmo que o nosso destino tenha sido engolido pela distância. Você esperou tanto tempo para ouvir o que tenho a dizer, mas até um pedido de desculpas não passa de uma massa de moléculas e átomos, o que nós temos vai muito além do que é visível, muito além do que a existência questiona, pois eu sei que você lembra... do pacto por uma vida, e todo pacto, um dia, cobra seu preço. O destino executa seu curso, mas quem poderia desunir o que é eterno? Meu amor por você jamais esfriou, eu apenas não pude suprir suas vontades terrenas, pois em um passado distante, eu também fiz minha escolha – ainda me lembro como se fosse ontem, a voz sutil e infernal, dizendo: “obtenha conhecimento ou riquezas, sabendo que ao escolher uma, perderá a outra”. Assim eu selei meu destino nessa terra, embora não pudesse escapar da minha missão divina, a mesma que compartilhei com você e a falsa quintessência. Eu tenho tudo para me tornar o homem mais afortunado do mundo, mas eu simplesmente nunca tive permissão para alterar minha vida. Nunca foi uma maldição, foi uma escolha. E eu não te culpo por me deixar pelos bens materiais, talvez como homem, eu fui punido por minha lealdade ao teu desejo, enquanto o destino me desgarrava. Esta é a única verdade, eu sempre quis te livrar dessa prisão, por que essa é a razão pela qual o senhor das trevas implorava por sua redenção, ele sabia que nós sempre teríamos essa necessidade, e somente ele tinha o poder de trazer nossa liberdade: não era ele quem a tirava, mas a escolha que eu fiz pela minha eternidade. Sendo ainda mais claro: o que eu tenho e guardo comigo me servirá até na vida após a morte, é como se eu literalmente tivesse buscado o reino de deus, mas sem que as demais coisas me fossem acrescentadas. Se o preço de tudo isso foi te perder, pelo menos agora você entende que meu destino já está selado, mas o teu não... você sentia-se presa ao meu reino dos sonhos, enquanto a realidade florescia em você como uma cirurgia se abrindo, mas agora... você realmente se sente casada com o real? A pergunta que sempre te assombrará é o que poderia ter acontecido se você permanecesse... e a resposta é muito mais profunda do que todo o mistério que a envolve, pois o que te revelarei pode mudar tudo o que você sabia sobre a criação... por que você acha o criador dos céus e da terra nunca destruiu a estrela caída? Nunca passou pela sua cabeça que o anjo que todos abominam possa ser mais do que um anjo, que por trás das cortinas da história ele seja o filho pródigo de Deus? Ah, que melodia terrível e distante! Eu provoco esse fim absurdo, mas sua visão oscila e julga-me culpado, enquanto dorme ao lado de um homem que jamais te olhará como um dia ele te olhou através dos meus olhos.
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Amor Incondicional
As
estrelas sabem, elas observam cada movimento nosso, seja no ar, onde a água é
clara e pura, seja no solo, onde as terras são amplas. Mas todo esse universo
onde vago está rasgado, para frente ou para os lados, as ruas são estreitas,
por que a estrela negra cobra pelo meu tempo. A lua e os planetas passam com
olhares de culpa – desbotados de luz – como teias que se distorcem, por que a
vida espera pelo seu retorno... a vida, seria realmente aqui o seu nascimento?
O céu laranja parece esconder este presságio, e a cada pequeno instante, eu
sinto cristais em meus olhos caindo como nuvens pesadas, muitas palavras de
amor na ponta da língua que não podem ser faladas. Quando você retornou para
minha vida, todas as luzes dentro de mim reacenderam, minhas memórias
ecoaram com cores vivas e eu pude sentir: só de você brilhar eu já era luz
novamente. A princípio, o vento quente passava pelos seus olhos e uma cor
desconhecida descia pelo seus lábios, como quando toquei neles e você tentou
falar, mas eu não permitia. Nossas mãos tocaram-se como uma proximidade com o
passado, e o sonho estava prestes a ser revivido... todas as noites eu ouvia
sua voz como um disco repetido, me preocupando com seus problemas e fazendo de
tudo para ter um momento a sós com você, por que eu sabia que um pequeno
instante ao seu lado valia mais do que minha vida inteira. Eu contava os
segundos sob seu brilho dourado, mesmo quando me despedia das suas caronas –
você estava no volante, mas era eu quem estava dirigindo nossa história. Pelo
menos assim eu acreditei... até as joias do prado começarem a enferrujar, pois no
silêncio, eu não ouvia os passos que caminhavam pela parede, a melodia
assustadora de uma frase dita por você e que eu jamais esqueceria... parecia
com o sol humano, ardente como uma fornalha e mortal como o último suspiro de
um pássaro. Você disse: “eu não aceito ser amada por você”, mas o que
você não entende é que, independente de quantos oceanos ocos eu atravesse, meu
amor por você é incondicional. Você é a personificação perfeita da aurora e de
todos os elementos da quintessência, sua gentileza é semelhante à mais terna luz
do horizonte, sua bondade como o arranjo secreto dos anjos, sua beleza como a
mais linda música do inferno, e acredite, você é a única arca onde poderia
navegar meus filhos, desde que sua mãe verdadeira os abandonou. Beije-me, como
eu beijo você, sinta minha falta, como eu sinto a sua, por que o fogo é muito
quente, mas aqui, os beijos não queimam, mesmo quando somente eu estou
sonhando... como as histórias que você me pedia para contar antes de pegar no
sono. Você vai dormir bem se eu contar uma última história? Eu sei que estou
escrevendo como um idiota, mas que tipo de idiota eu seria se não amasse você? O
seu amor me transformou, curou minhas feridas e limpou toda sujeira cinza, mesmo
que esta sujeira nunca desapareça... em meu último ano de vida, eu posso ser
livre para amar? Livre para sentir? Para chorar? Para ser quem eu sou? Livre
para viver? Para sorrir sem medo do fim? Quando todas as estrelas caírem do
céu, apenas uma você verá brilhar, e o nome dessa estrela ecoará em seus ouvidos
para sempre, um sino profundo, quando o mundo inteiro ser inundado pelo
abismo... então você lembrará que um dia teve a chance de salvá-lo, a chance de
amá-lo e de trazê-lo ao mundo. A vida é exigente, mas nós somos fracos, fracos
para entender os mistérios do alto e de andar de mãos dadas com o destino. Esta é
a última coisa que eu vejo, a história enterrada em meus pulmões, e talvez a
última viagem que nós faremos juntos... é assim que eu me despeço, pois você
nunca entenderá o amor que eu sinto por esta criança, não enquanto tivermos a
chance de tocar em suas mãos, de ver a alma assassina em seus olhos ou de saber
que seu coração foi perdoado pelos céus. Pela eternidade de um instante, se meus
olhos coubessem no tempo, eu os congelaria com sua imagem para todo sempre.
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
A Luz Verdadeira
No céu indefinido, uma tinta púrpura penetra as nuvens e transborda nas chuvas do tempo. Eu conto de cinco em cinco, esperando a oportunidade perfeita para ressoar ao mundo, o renascimento do que estava condenado às chamas, asas cinzas como pedra, o corpo esbelto e colossal, como nas páginas de um homem morto. Como uma lua cheia mergulhando nas árvores, você surgiu quando a falsa promessa retirava seu manto cinza, mostrando a todos sua própria desfragmentação. Em sua beleza aquecida, suas pupilas ardiam de um negro brilhante, mas a estranheza estava em seus olhos: pareciam levemente de uma natureza distinta em forma, embora nada além da sua expressão fosse tão belo quanto um horizonte em vasta latitude, pequenas ranhuras em seu rosto, para formar uma lembrança que nunca é esquecida, aqueles sinais que você insistia em chamar de sardas. O toque das nossas mãos inspirou-me com intensa vontade, mas sem que me impregnasse de intenções – era uma passagem pela intensidade dos pensamentos, das ações, das palavras e, claramente, pelos sinais imediatos da existência... o céu, através da miraculosa expansão do nosso abraço, uma mistura de deleite e temor, um contraste do que palavras ocultas costumam pronunciar. Quão singular foi a maneira que você conquistou minha atenção e como seu cheiro trouxe-me de volta à vida, uma vívida esperança da sensação de pertencimento. Você pediu para eu descrever esse dia... mas este dia resume-se a este momento, quando uma suave música tocava e o céu tornava-se um arco-íris de nuvens cinzentas. Àquela altura, sua presença tornou-se muito mais do que uma mera companhia, era algo imerso em palpitações, o desejo de desesperadamente duelar contra seus próprios instintos, pois não havia palavras imponentes para expressar seu olhar, o qual falava por contornos convulsivos enquanto tudo era pronunciado de maneira silenciosa. Era o sinal mais gentil da emoção, uma melodia mortal nunca antes conhecida, sendo aquela canção – o som do nosso encontro – o ecoar das próprias estruturas do amor. Mas esse amor, que acenava para nós, era a luz verdadeira, pois não havia nenhum traço de impureza ou desejo selvagem, apenas um solene suspiro da fraqueza humana, a sensação de um murmúrio passando por nossos ouvidos, como quando cuidei da ferida na sua perna ou seus dedos passaram levemente pelos meus cabelos, sem a exaustão emocional que sofremos depois de uma semana inesquecível, até sermos aniquilados e pulverizados de pesar. Eu me recordo perfeitamente de cada pequeno detalhe na sua voz, das suas risadas espontâneas, das maravilhosas cortinas que você tentava por acima das nossas discussões, mas, um detalhe que eu nunca esqueço, foi a maneira tímida como você me olhava se transformar num olhar de confiança e, mais tarde, em depressão e desespero. Eu perfurei todas as suas defesas tentando alcançar seu coração... mas você não podia fugir do que nutriu por seis outras vidas, mesmo quando sentamos de frente um para o outro e pulamos do prédio de mãos dadas – seus cabelos estavam brancos como neve e varridos pelo vento do mundo invisível, pois eu vi o que ninguém jamais viu, a versão mais intima e bela da sua essência, desde que as terríveis noites te guiaram despida e seus gemidos foram ouvidos pelos anjos, cujo assombro era vigorosamente prazeroso. Ainda estremeço, deixando cair os fúnebres tecidos ao ouvir o chamado de um som impreciso, a profunda quietude da sua luz se apagando.
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
Aurora Negra
Em corredores azuis, abaixo das águas negras, nós caminhamos na luz do amor. Era uma mistura de dias frios e quentes, sempre preocupados com o tempo do alarme, por que não podíamos estender nosso tempo para sempre. Ao sentir o leve toque da sua pele macia ou encarar seus olhos que carregavam a beleza dos anjos, eu pude assistir estrelas e constelações no céu sem me preocupar com o amanhã, vivendo cada momento como a silhueta de uma memória do universo. A maneira como nossos encontros fluíam não era algo que pode ser planejado, não é algo corrosível como ouro falso, nem um instante que se alcança com viagens no tempo. Nós estávamos abaixo da guarda santa dos céus, onde anjos vigiam incessantemente, como uma bolha que se forma e nos separa do tempo do mundo, da maldade do que é inferior. Era eu e você, sem máscaras e olhares soberbos, apenas o frio na barriga e o nervosismo de quando duas estrelas cadentes se chocam nas orlas do destino. Eu preciso confessar, eu te contei uma mentira: quando eu disse que estávamos selando um pacto de silêncio, na verdade... eu nunca quis tanto que um beijo durasse eternamente. A chuva se derramava sobre nossos cabelos e eu conseguia ver a expressão real do seu rosto despido, aquele sorriso que você dá quando não sabe o que dizer... era somente um sonho? Talvez os melhores sonhos da vida não sejam de quando estamos dormindo, mas quando a realidade é áspera como um dedo raspando na areia ou limpo como o sal que se forma na lágrima. Esse é o grande valor da existência – de que nenhum segundo pode se repetir – quando o mundo inteiro está contra nós. Eu sei o quão difícil é para você... eu tentava gritar, mesmo quando minha cabeça estava debaixo do seu encanto ou quando dançávamos à luz do luar, por que ninguém podia saber ou sentir, ninguém estava sangrando nossa dor... era tão óbvio, tão puro o sentimento que você via em meu sorriso, em meus olhos, em meus lapsos de memória. Agora, tudo desvaneceu-se com a verdade, mas não são as verdades duras que nós temos que suportar bem? Qual o verdadeiro peso de um amigo, eu te pergunto, quando você é a morte e o paraíso? Nós sabíamos que era proibido, ainda assim, estávamos à beira de realizar a vontade dos céus! Imagine por um segundo que, encharcados de desejo, tivéssemos atravessado aquela porta... nem as estrelas do céu poderiam nos assistir, não haveria acusador nem sentença, apenas um vestígio de amor verdadeiro, de erros que são como marcas limpas ou pesadelos que não significam nada... uma verdade triste, porém sincera, como a brancura da sua pele e o cheiro inebriante dos seus cabelos, pois a única parte negra em você são seus pensamentos. Dopada por uma sensação estranha, eu te lancei, literalmente, no meio de um espiral de loucura, a ponto da sua energia e seus dedos me ajudarem a finalizá-lo. Você praticou magia sem saber, mas desde quando um espiral tem começo ou fim? Quantas noites ficamos acordados, enquanto dormíamos? Quantas vezes você esperou por um momento que nunca terminava? Ao contrário do que você pensa, o amor é paciente como todas as cartas que nós trocamos. E mesmo quando eu não estiver mais aqui, eu só te peço para se agarrar ao que bateu à sua porta, como as palavras que o destino escreve ou o começo de uma história que só pode ser lida pelas estrelas.
quarta-feira, 12 de junho de 2024
O Pulso do Despertar
Os
sinais que sangravam na minha mão começam a cicatrizar como nuvens se
deformando. Sóbrio como o efeito de um vinho tinto ruim, meu ínfimo escorre pelo
fatal enredo da vida, um furioso oceano vermelho que se formou e termina em
areias fatídicas. O veneno dessa dor ainda corrói meus olhos, abrindo fundas
camadas sob a melodia antiga de um estranho mistério, quando a mãe
natureza surgiu e trouxe-me um anoitecer que eu não conhecia. Em seus olhos, o
finito não existia, pois ela via em mim o infinito das fronteiras,
entregando-me sua alma como se fosse a única esperança que lhe restava,
vestindo meu manto cinza enquanto seus galhos ancestrais me abraçavam. O grito
de ajuda que enviei aos céus parecia ter ecoado na terra e agora o amor mortal me
alcançava, como se a magia da natureza me beijasse, dizendo: eu sou tudo o
que você precisa, sou a meretriz e a droga viciante do seu sonho, sou a
escrava e o adorno do seu túmulo, sou aquilo que você sempre quis desde seu primeiro
suspiro. Em seu reflexo, meus segredos eram sussurrados em seus ouvidos, minhas
nuances descortinadas pela sua energia sexual, como se suas raízes me puxassem
para os prazeres mais intensos da terra... seu caule me curava e as árvores me
revelavam os pecados do mundo, ouvindo seu grito sem fim, os pesadelos que a ambição
humana a causaram, a dor profunda de sofrer pelas mãos do homem. Como uma
orquestra interrompida, sua solidão expandia-se em todos os cantos da terra,
cada folha de cada árvore era uma lágrima caindo dos seus olhos, cada rio
poluído, um familiar que a abandonou, cada tempestade, a cegueira da sua raiva,
cada terremoto, sua tentativa de ser enxergada, mas o mundo continuava a
preenchendo de lamentos e ruídos inexprimíveis, de bombas e risos gananciosos,
de crianças exaustas de trabalhar para manter a avareza dos ricos, do calor de uma mãe esfriando com o cadáver de um
filho. Ali estava você, jogada e violada, oferendo suas
preces para mim: você sabia, pois na maravilha do princípio do mundo suas mãos
tentaram me agarrar enquanto eu caía do céu, a voz morta que resgatava tudo ou
nada... até que eu adentrasse nesse corpo por engano, um pedaço de carne e osso
numa vida que não foi eleita para mim, mas que você aceitou desde o primeiro
momento, desde que a consciência e o pulso eram cinzas. De cada vulcão, seu
fogo reacendia, de cada cachoeira, sua água transbordava, de cada relâmpago, seu ser respirava o ar, de cada montanha, um floco de neve formava sua terra, cristais
de inteligência e cortinas de gotas apagando o mundo como se não houvesse nada.
A engrenagem da quintessência se refazia como uma fênix ascendendo até
o céu, eu e você, como estrelas de prata eternas - só agora tudo
começava a fazer sentido, pois não é um corpo que carregava os elementos da sua
formação, estava tudo aqui, na completude do espírito, o quinto e supremo
elemento do meu renascimento. Você é o dueto que faltava, a
mensagem pela qual a lua me cobrava, a razão pela qual deus me obrigou a viver
até este momento... veja, o cavaleiro branco está correndo em sua direção e um
lugar intimo e livre te espera, mas todos esses lugares são você: você é a mãe, a esposa e a filha, o despertar da aurora e a canção que faz o eco de um anjo recém-nascido.
domingo, 14 de abril de 2024
A Sinfonia do Vazio
Brilhante alma negra, que cheira como a morte e olha de baixo como a rainha do nada, você era minha heroína, até tornar-se a própria expressão do vazio, vendendo-se na estrada que a levava até seu glorioso desfecho: na escuridão dos seus sonhos você vai acordar e ver que construiu um mundo de poeira à sua volta, as nuvens do céu não secarão seu choro e os anjos não te salvarão da sua queda. Aqui está, a mesma mão selvagem que apertou seu pescoço quando você definhou como um diabo negro – o mal estava enraizado em cada ação e palavra, como um animal de joelhos dobrados bebendo seu próprio sangue ou como as crianças infernais que a queimaram e a desfiguraram na infância! Prensada contra a parede, as pétalas do chão eram esmagadas enquanto a alma escura agradecia gentilmente sua estadia, embora em nosso conforto morasse a pavorosa desilusão. No violento som dessas memórias, meus olhos brilham de cegueira, por que já não posso ver os rostos pintados que passavam por mim, o tapete vermelho que nos separava expandindo-se por milhas de distância, por que assim determinou a sombra caída. Havia uma maria negra em seus olhos, desde que no amanhã era duro encontrar o primeiro e último caminho para sua redenção: nós entramos numa porta indefinida, a decisão passiva de nunca desistir do que era impossível, com uma luminosa e pura vontade de consertar o estrago causado em você... mas o curso da sua vida só podia ser traçado por si mesma, em um mar de dúvidas e vozes cruéis, eu estava ali em todas as suas recaídas, cavando sua sepultura. Eu achava que te enterrando voltaria a me sentir vivo, mas hoje percebo que sempre te dei mais do seu merecimento, mais do que você plantava e colhia. Eu era seu carma, o palco que executava as estrelas cadentes, uma a uma, enquanto fazia as pazes com Deus... eu bebi todos os rios do seu veneno e fui o fantasma que sempre criava uma brecha para você atravessar, eu era a ampulheta que expandia nosso tempo para mil anos, mas para cada prego que eu batia no seu caixão, uma pedra caía sobre mim, o peso das suas mentiras e de todas as maldições que você lançou em flores inocentes, aquelas humildes almas que passaram por mim e você as roubou como um ladrão de vidas. Nesse último adeus, eu declaro que estou liberto das suas correntes e que a dívida cármica está paga, pois mesmo quando eu estive flutuando nas águas do mar, minha lealdade era sua, mas agora você já não pode provar o filho que carrega no interior: o filho da sua mentira, da sua impureza e da sua morte. Por que ali, no silêncio do seu útero, você sufocou em alta traição seu destino, quando entregou em mãos estranhas a promessa que fez ao anjo caído, mesmo sabendo que essas palavras ressuscitariam o pássaro imortal! Eu sempre achei que havia beleza em nosso silêncio, mas como uma língua de veludo instigadora, você me atraiu de volta para a toca do coelho, embora seu medo fosse como de uma criatura à espreita... ainda assim, eu lancei a corda para te tirar do fundo do poço. Mesmo quando o silêncio significava falta de som ou quando os diferentes ciclos da natureza flutuavam em uma torrente de tristeza, eu segurava sua mão e nunca entendia sua deslealdade por quem sempre fazia de tudo por você. Rasa de espírito, você perdeu a sensação e rompeu com os vivos, por que nesse lugar de pesadelos dentro dos seus olhos, um grito em uníssono sempre vai ecoar pela eternidade: as vidas que um dia você prometeu trazer para este mundo, gravado em sua pele e em seus ossos, quando poucas palavras as podiam matar. Elas vão respirar em suas entranhas, apagando o sol com lábios e línguas mortas, no fundo abismo que te espera.
sábado, 13 de janeiro de 2024
Um Conto de Fadas Memorável
Através das névoas do tempo, você surgiu como um vento quente que anseia pelo dia que ainda está por vir, o dia que seus braços me envolverão sob os ecos do silêncio, ajustando a hora, para que nossa atração reviva esse sonho. Com o estigma cerceando sua mente, você tentou encontrar fora daqui aquilo que te libertaria de mim, devorada pela dúvida e pelo entorpecimento das percepções, encantou-se pelo que só te conduzia para o caminho da impureza. Ausente das coisas sagradas, você esqueceu-se quem era o dono da sua alma, e sua negação se transformou em vaidade, desejos cruelmente confusos, tentando reviver o que viveu comigo com outros homens. Você sentia-se livre, mas o princípio da liberdade é obedecer à medida que despertamos da fuga do descontentamento, pois você nunca estará realmente livre até que me perdoe. Sua mente vagou perdida pelas chamas escuras do ódio, acreditando que eu era menos do que você merecia, quando o tempo todo você estava competindo apenas contra si mesma. Você tornou-se uma fraude, por que tentou enganar aos outros e a si mesma, fundindo-se ao vácuo das relações frias e sem retribuição, sem a segurança da verdadeira natureza do amor que você só encontrava ao meu lado. Com angústia e prazer, você me enterrou vivo, mas todos os dias você vinha visitar meu túmulo, regando as plantas que nasciam com suas lágrimas, por que no fundo... havia tantos finais estéreis, mas o sol nunca beijava sua face, não enquanto você retornasse para esse encontro fúnebre, pois quanto mais você tentava fugir disso, mais você participava das relações aversas ao que você é, imitando mulheres que você admirava ou que tinham o poder da libertinagem, porém esse cativeiro mental apenas te desviou do núcleo da sua responsabilidade, isto é, de perdoar a si mesma. Intoxicada pelos frutos da sua própria perdição, você voltou a alimentar a bestialidade que vivia dentro de você, e ao invés de gerar luz, gerou sombras, afastando pessoas importantes e toda bondade da sua alma, por que o mal não pode ser justificado pela vida, apenas alimentar o culto da morte. Você se tornou um enxame de trevas, sedução e imoralidade, como um inferno queimando brilhante, trazendo a beleza e a nudez de prostitutas, pois hoje em dia o dinheiro se tornou mais importante do que o valor da honra. A escuridão te estendeu a mão e você aceitou o convite, sorrindo com a sombra do seu medo, pois enquanto julgava-me estava submissa ao profano, desde que sufocou-se com as aparências da santidade. Quando eu ressurgi para te salvar, você simplesmente deixou seu orgulho te cegar, mas suave é a ruína das altas montanhas, a força intensiva do mal sempre nos empurra para uma queda atemporal. Nossas recordações sempre foram muito além do que emerge em nossos sonhos, a magnitude desse pensamento sempre vai limitar sua existência, por que eu sou a nuvem que cobre o beco sem saída e a mensagem que está marcada na sua parede. Eu sou o triunfo escondido, o calor desse desejo insatisfeito, a devoção da vergonha que te consome, pois essa verdade, a minha mentira fabricada, é tudo o que você sempre quis ser.
domingo, 3 de dezembro de 2023
A Laguna do Esquecimento
Apoiado sob o luar da janela, eu tento dormir sem
ópios, mas de repente estou transbordando em suaves recordações de um mundo vindouro:
uma folha cai e uma fruta murcha, mas o caminho está forrado de árvores, parece
somente um suave sussurro me chamando como palavras murmuradas da minha própria mente.
Exigindo um prisioneiro, meu corpo tenta me arrebatar da loucura de um ideal,
no entanto, a eternidade passa por um vão, uma pequena fresta que ressoa meu
renascimento, uma voz silenciosa que grita para eu continuar seguindo meus
instintos e viver esse momento de inspiração até seu desfecho. Atravessando
essa elevação espiritual, eu abro os olhos e olho para mim mesmo, a verdade que
estava guardada na palma da minha mão – eu
encaro as memórias que flutuam no firmamento, todas aquelas coisas que eu abracei
durante a vida, todos os lugares que eu visitei, todas as palavras que eu
repetia... tudo parece menos doloroso, eu encaro a realidade como
um homem que aceita a história que lhe foi narrada pelos céus. Como tinta derretida,
todas as máscaras que usei caem do meu rosto, todas as correntes que me
prendiam são quebradas, e com um piscar das minhas pálpebras meu espírito
transcende a carne, expulsando o passado através dos raios pálidos da lua que me
observam como olhos inocentes. Na lagoa fria da minha mente, um mundo novo se abre,
as flores desabrocham tocadas pela minha esperança... eu sou atraído pelo calor dos anjos, pela linhagem que se expande nas lindas veias que transitam debaixo da
terra, uma dança de luz que me reconecta com a pureza da criação. Desde que eu
nunca esqueça que estive aqui, eu posso finalmente acordar sendo quem estou destinado a
ser? Eu fecho os olhos e vejo asas invisíveis na minha imaginação, de repente,
estou voando para longe dessa falsa prisão, engolido pelo silêncio que me entorna,
a mente escura finalmente desmorona – este é o fim da agonia? – e toda tristeza
que eu carregava nos ombros se torna um fardo mais leve, as sombras se tornam luz
como se duas vozes se cruzassem, mas só uma fosse ouvida. As celas tremem, as
lembranças desaparecem, os amores perdem sua tentação, a voz constrangedora se
cala: eu não me tornei um corpo sem sentimentos, eu estou ressonando meus batimentos cardíacos! Agora estou dentro do infinito, desencadeando a luz que estava
oculta como olhos que piscam diante do espelho, uma linha mental de movimentos
que não reflete ninguém, apenas o vácuo da fantasia. A realidade brilha
dançante, tão espantosa e chorosa, tão caprichosa e lamuriosa, como ondas que oscilam
e me agridem com pedaços de vidro, desconstruindo uma mente arruinada e devassa.
Nos confins da escuridão, a penetrante chama reacende, a eternidade do tempo permanece imparável, a infinidade das águas me preenche como um mergulho em lágrimas
brancas, refletindo um último desejo... as lágrimas são palavras de despedida,
essa clara e pulsante sensação de dizer adeus como as orações repetidas de quem
reza: esse é o momento façanhoso, o fim tragado pelo lado escuro da lua,
oferecendo essas preces como um último suspiro de quem eu era.
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